Obra de R$ 2,2 bilhões no sistema São Lourenço aumentará só 7% da produção

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Cláudio José

Do R7

Obra de R$ 2,2 bilhões para evitar falta de água em SP vai aumentar apenas 7% da produção

Para especialista, ampliar captação é medida ineficaz sem tratamento de esgoto

Fernando Mellis

Anunciado pelo governo como grande obra para evitar problemas futuros de abastecimento de água como o que São Paulo passa hoje, o sistema São Lourenço produzirá apenas 7% do total que é consumido em 39 cidades da região metropolitana. O investimento, feito por meio de PPP (parceria público-privada), será de R$ 2,2 bilhões e, segundo a Sabesp, beneficiará cerca de 1,5 milhão de pessoas. A obra foi iniciada no mês passado.

Atualmente, os oito sistemas de captação produzem 67 mil litros de água por segundo para a Grande São Paulo. A capacidade do São Lourenço será de 4,7 mil litros de água por segundo, aproximadamente metade do que é processado em cada um sistemas Alto Tietê e Guarapiranga, por exemplo.

Para o professor da escola de engenharia da USP (Universidade de São Paulo) José Carlos Mierzwa não basta apenas buscar água. 

— Com esse mesmo investimento, de R$ 2,2 bilhões, seria possível tratar de forma avançada 10 mil litros de esgoto por segundo. Para cada litro de água que você traz, se você não tratar esgoto, contamina em média 12 litros de água limpa.

O pesquisador, que é pós-doutorado em tratamento de água pela Universidade de Harvard, também explica que “municípios do interior disputam a mesma água da Grande São Paulo porque não podem usar a do rio Tietê, que está contaminada com esgoto”.

O reaproveitamento da água é apontado pelo especialista como a forma mais inteligente de evitar crises no futuro. Um exemplo é o Aquapolo que, desde 2012, produz água de reuso para o Polo Petroquímico do ABC Paulista. A economia de água potável gerada é o equivalente ao consumido por uma cidade de 500 mil habitantes.

Lição

O governo afirma que uma crise de estiagem tão crítica quanto a que o Estado está enfrentando só acontece a cada 3.378 anos. Mas a professora Departamento de Ciências Atmosféricas da USP Maria Assunção Faus Silva Dias lembra que, em 2001, São Paulo já passou um período de seca preocupante. Segundo ela, já está dado o alerta que importantes investimentos precisarão ser feitos para evitar a escassez de água.

— O planejamento para o futuro tem que levar em conta que em 14 anos nós tivemos dois episódios de seca. Pode ser que não se repitam, mas temos que estar preparados.

De acordo com a pesquisadora, a chance do fenômeno El Niño provocar chuvas no sistema Cantareira não é alta.

— Nós estamos prevendo o El Niño para o segundo semestre, mas ele deverá provocar mais chuvas na região Sul do Brasil.

Para resolver a escassez em curto prazo, o governo apostou no uso do volume morto do sistema Cantareira e no remanejamento de consumidores para os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Presidente da Comasp já alertava em 1972

    “O engenheiro Haroldo Jezler, presidente da Comasp, calculou em 1972 a necessidade de investimentos de 100 milhões de dólares [da época] ao ano durante 20 anos para realizar as obras projetadas para a Grande São Paulo. E concluiu: “Ou aceitamos as metas que serviram de base para esses investimentos e conseguimos os recursos necessários, ou deveremos modificar as metas.”

    A Comasp – Companhia Metropolitana de Águas da Região Metropolitana de São Paulo”, planejou e iniciou a construção do sistema Cantareira até ser incorporada pela atual Sabesp.

    Naquela época Jezler já alertava sobre os riscos econômicos e ambientais do crescimento desmesurado da região metropolitana. Desde que a Companhia Cantareira foi criado em 1880, a captação de água para a Grande São Paulo cresceu 23 vezes. O tratamento de esgotos, muito menos do que isso.

    Sem planejamento – e planejamento não significa apenas aumento de produção – São Paulo vai secar o Brasil e o Atlântico!

    Planejamento pode significar racionalização do crescimento e distribuição da indústria, da população e… da água!

    Para saber mais:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/da-agua-da-bica-a-sabesp-a-seca-em-sao-paulo-e-culpa-de-quem/
     

  2. Seca e enchente

    “Para especialista, ampliar captação é medida ineficaz sem tratamento de esgoto”

    Tá explicado porque tem racionamento de água em cidade que sofre com enchentes?

  3. Seca e enchente

    “Para especialista, ampliar captação é medida ineficaz sem tratamento de esgoto”

    Tá explicado porque tem racionamento de água em cidade que sofre com enchentes?

  4. PPP como?

    Claudio José,

    Esta PPP de U$ 1 bilhão é completamente marota, assim como foram todas as UPP promovidas pelo governo de SP.

    Nenhuma notícia, de âmbito nacional ou regional, com esta dimensão escaparia deste blog, e uma PPP como esta, diretamente ligada à irresponsabilidade do desgoverno tucano, não teria como passar batida.

    Sendo $$$ público, precisaria de licitação pública – alô alô TCU QUE NÃO CONSEGUE ENXERGAR TUCANO DE SP EM SEU RADAR, a tal licitação e posterior contratação de UPP foi 100% perfeita ? 

    O Rodoanel já não tem mais limite de $$$$, a PPP do metrô deve ser considerada um verdadeiro escárnio, e o TCU a se fingir de preocupado com Pasadena, é o fim.

     

     

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