A História do Mundo – parte I, por Gustavo Gollo

O pressuposto de um mundo pré-material primevo, constituído por dissimilaridade, habitado por entes indiscerníveis, permite explicar a existência do que há hoje como fruto da semente replicadora lançada ao caos primordial.

A História do Mundo – parte I, por Gustavo Gollo

O início de tudo

Era o universo primordial, no qual tudo era dissimilaridade. E não havia nem continuidade, sendo cada momento completamente díspar, sem que nada ao menos conectasse um momento a outro.

Em meio ao caos radical da dessemelhança absoluta, surge a continuidade, a existência que perpassa 2 momentos; é o nascimento do tempo.

E o autorreplicador cuja existência perpassava o tempo gerou réplica de si, era a continuidade gerando a continuidade. Era o surgimento das entidades identificáveis, de tudo o que possui alguma perenidade, perpetuando-se por mais de um momento.

Comentários de Gustavo Gollo, Heresiarca do Rio de Janeiro

Uma verdadeira cosmogonia deve explicar o surgimento de tudo o que há, incluindo o tempo.

Conta-se que, agastado com a incapacidade de responder à pegunta que lhe era dirigida insistentemente sobre o que Deus estaria fazendo antes do primeiro dia, Santo Agostinho teria respondido: – Estava fazendo o inferno, para nele jogar quem viesse a fazer esse tipo de pergunta!

Antes do primeiro dia, tudo era dissimilaridade, não havendo sentido em nada, nem no tempo. É preciso haver continuidade para que haja algum sentido no tempo, é a continuidade que dá ordem ao tempo.

A continuidade temporal pode ser vista como um fenômeno de autorreplicação no tempo, como uma existência a replicar a si mesma no instante seguinte. O surgimento da continuidade corresponde simultaneamente ao surgimento das identidades e do tempo.

O surgimento da matéria

Em meio aos eventos únicos, protagonizados por entidades únicas, dissimilares a tudo o mais que havia, surge uma cópia. É a primeira replicação, o surgimento de uma entidade similar a seu progenitor, capaz, portanto, de gerar entidades similares, também elas replicadoras.

Enquanto se alimentam do caos ao redor, os replicadores o devoram e o extinguem, transformando toda a dissimilaridade primeva na mesma similaridade replicadora. É o surgimento da matéria.

Surgem as partículas elementares, dotadas de gravitação, como o próton e o elétron.

Comentário

De um modo, ou outro, o resultado do caos primordial pré-material foi a matéria, o conteúdo de tudo o que hoje existe.

O pressuposto de um mundo pré-material primevo, constituído por dissimilaridade, habitado por entes indiscerníveis, permite explicar a existência do que há hoje como fruto da semente replicadora lançada ao caos primordial. Surge, assim, a matéria como elemento replicador.

Universo primordial das possibilidades

Um pressuposto implícito nessa cosmogonia consiste no recuo ao universo primordial das possibilidades, situando nele o início de tudo. Embora, à primeira vista, essa possa parecer uma exigência forte, trata-se de uma tautologia, uma verdade necessária, que o que existe tenha como ponto de partida o universo das possibilidades.

Penso em uma infinidade de possibilidades tão absurdas que indescritíveis, em efemeridades sumamente instáveis de existência apenas momentânea. Penso nas infinitas formas evanescentes a se suceder e se transformar umas nas outras sem nunca se repetir.

É pensável que as grandezas físicas associadas à matéria, como a massa e a carga, tenham surgido de uma diversidade muitíssimo superior à existente hoje, tendo sido originadas a partir de uma pré-matéria anterior a tudo o que há. Pensável também que tais grandezas tenham constituído o primeiro fenômeno a adquirir continuidade no tempo, sendo essa a origem das leis de conservação, quando as propriedades conservativas substituíram toda a efemeridade primordial.

No contexto primevo de um mundo pré-material em ebulição, transformando-se de momento a momento, enquanto vai forjando a matéria primordial, seria esperada a formação de “matéria inadequada”, quase-prótons, quase-elétrons, e demais entidades similares às partículas atuais, mas ligeiramente diferenciadas, e, consequentemente, instáveis. No contexto de formação da matéria a partir da diversidade efêmera primeva, efetuava-se a infinidade de experimentações precursoras da matéria atual, como quase-elétrons instáveis portadores de massa equivalente a 3748, ou 0,9999999997 vezes a massa do elétron atual, e, em consequência de tais disparidades, sumamente instáveis, durando apenas um átimo. Também foram testados infinitos valores para o spin, diferentes de meio e seus múltiplos, assim como a infinidade de valores para tungunata, propriedade com valor fixado em 0,875 para toda a matéria existente, e tornada irrelevante por sua ubiquidade, assim como ununguoia, propriedade que também apenas possui um único valor, sendo, por isso, igualmente desprezível. Inúmeras propriedades da matéria, aliás, tiveram que ser testadas antes de assumirem os valores únicos que deram estabilidade e existência à matéria, sendo todo a infinidade restante inadequada à formação de um universo estável. (“Tungunata” e “ununguoia” são, obviamente, abstrações inventadas para ilustrar o conceito de propriedades diversas das tratadas atualmente pela física).

Dentre as infinitas conformações, talvez a única estável seja aquela em que as propriedades de cada partícula, como as do elétron, sejam exatamente as que são, tendo surgido inúmeras formações anteriores decorrentes da interação entre a pré-matéria primordial, incapazes de se manter e vingar. Em tal caso, teria sido necessária a adequação das várias propriedades, em suas medidas exatas, em uma única partícula que se tornaria a semente de toda a matéria hoje existente, interagindo com a pré-matéria diversa para gerar mais e mais dessas mesmas criaturas existentes hoje, idênticas à progenitora original.

A desordenação radical pré-temporal teria possibilitado a realização da infinidade de experimentações antes que o universo conseguisse encontrar, entre todas as infinitas possibilidades, a constante de Plank, em sua medida exata, tal que desse estabilidade aos fótons, prováveis predadores da pré-matéria original, reproduzindo-se ao interagir com ela, e impondo, desse modo, a constante de Plank, como única capaz de lhes atribuir estabilidade e, em decorrência dela, as propriedades que definem as partículas hoje existentes.

E essa é a origem da saga dos replicadores, os seres que escrevem a história do universo.

Sisudez e seriedade, forma e conteúdo

Quem acompanha meus textos descobre, com certa frequência, especialmente nos mais significativos deles, uns comentários classificáveis como bobos, infantis, ou coisas do gênero, que muitos acreditam retirar a seriedade do texto.

No texto acima, uma cosmogonia racional e original, permiti-me uma manifestação inusitada na forma:

“Comentários de Gustavo Gollo, Heresiarca do Rio de Janeiro”

de inegável tom satírico. Arroubos desse tipo, a que me permito, costumam ser criticados por retirar a seriedade do texto aos olhos de quase todos.

Talvez meus críticos tenham razão e tais comentários retirem a seriedade do texto, fazendo-o parecer brincalhão. Mesmo que seja esse, eventualmente, o caso, uma coisa é certa: embora possam retirar a seriedade do texto, é impossível retirá-la dos argumentos. Argumentos são válidos, ou não, independente da forma com que são apresentados. Certas formas de apresentação dos argumentos afugentam os tolos, no que concordo com a maioria, discordando com frequência, no entanto, sobre quem sejam eles.

Escrevo para pessoas inteligentes porque sei que os outros nem se interessarão pelas minhas ideias, nem ganharão nada lendo meus textos, por não compreendê-los.

Penso que convenha às pessoas inteligentes exercitar o próprio juízo acerca das ideias, atentando ao conteúdo dos textos, mais que à forma, e distinguindo a sisudez da seriedade. A sisudez é um tipo de roupagem, uma forma de disfarce utilizada frequentemente para afetar seriedade onde ela não existe.

A validade de uma demonstração matemática é exatamente a mesma, seja ela apresentada em uma revista técnica ou no meio de uma piada, ainda que sua seriedade possa não ser reconhecida pelos tolos, no segundo caso. O mesmo vício, aliás, o mesmo culto à forma, impõe a aceitação de argumentos inválidos se apresentados em sisudas revistas científicas, fato aliás, extremamente frequente.

A cosmogonia esboçada acima abre um enorme campo para a física ao exigir explicações não só para os valores das propriedades atuais da matéria, como a carga do elétron, como para as propriedades mesmas, além de explicar, de passagem, a existência de propriedades conservativas. Também sugere o prosseguimento da abordagem cosmogônica, via replicadores, a todo o desenvolvimento restante, a tudo o que sucede o surgimento das partículas, como as conhecemos.

Creio que o ponto de vista de que vivemos em um universo constituído e regido por replicadores seja extremamente profícuo. As páginas acima tratam apenas do início dos tempos, enquanto a saga dos replicadores prossegue, cada vez mais incisiva, diversificada e rica, aventura que pretendo narrar em texto posterior.

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Esse é um vídeo meu:

Gustavo Gollo é multicientista, multiartista, filósofo e profeta.

Redação

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