A inflação e a marcha mundial da insensatez, por Luis Nassif

Agora, a inflação se espalha por todos os poros dos Estados Unidos, enfraquecendo ainda mais as saídas democráticas.

A marcha da insensatez começa assim.

  1. O liberalismo ampliando cada vez mais as diferenças sociais e espalhando a pandemia da obsessão pelo dinheiro e acentuando a frustração de amplas camadas da população.
  2. Democracias cada vez mais cartelizadas e afastadas dos cidadãos, impedindo o Estrado de atuar como agente de equilíbrio e de promoção social..
  3. Mudanças no padrão de organização no mercado de informação, com o advento das redes sociais e dos aplicativos de mensagens criando novos padrões de participação dos cidadãos, para preencher a redução do espaço na política convencional.

Com esse plano de fundo, governantes em crise, o avanço da antipolítica abrindo espaço para a ultradireita e o grande álibi universal: uma guerra. De um lado, um governante autocrático, Vladimir Putin, levantando a bandeira do renascimento do império russo.

Do outro, um presidente fraco, Joe Biden, uma União Europeia sem protagonismo, uma organização multilateral, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) cuja única razão de existir é a guerra. E um jornalismo ocidental pró-cíclico, que dá pão e circo transformando os fatos mais relevantes em show.

Por aqui, uma das poucas decisões de bom senso do Itamarati, de acordo com a lógica histórica da instituição – a de que o conflito teria que ser resolvido via diplomática – foi fuzilada por jornalistas do show-bizz, travestidos de comentaristas internacionais.

Foram incapazes de pensar o dia seguinte, não a década seguinte, o século seguinte, mas o mês seguinte. É de uma miopia inacreditável.

No início da guerra, previmos o óbvio. No início, sob o impacto das cenas de guerra, uma multidão ululante querendo vingança e destruição da Rússia. Em um segundo momento, chega a conta, com a crise se espalhando por todos os países.

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A maldição da cobertura midiática de enfoque único, por Luis Nassif

Na Itália, a ultradireita se prepara para assumir o poder, com um discurso voltado para os trabalhadores de pequenas empresas e outros órfãos da política.

Agora, a inflação se espalha por todos os poros dos Estados Unidos, enfraquecendo ainda mais as saídas democráticas.

Aqui, um gráfico mostrando o índice geral de preços ao consumidor, a inflação descontada energia e alimentos, e a inflação de alimentos.

O aumento da inflação acaba se refletindo em outros ativos. Confira o aumento de preços de veículos novos:

Ou o salto nos custos de saúde, depois da queda ocorrida na pandemia.

Em 10 anos, houve um aumento de 32% nos custos da saúde das famílias, mostrando as injustiças do modelo de saúde americano.

O mercado imobiliário é outro que vem se aquecendo devido aos efeitos da enorme liquidez da economia e do aumento da inflação.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Para que haja o que ser roubado pelo ladrão é necessário que em primeiro alguém produza.
    O problema é o estado de ganância dos financista esquecerem do que ocorreu ao império espanhol com sua literalmente montanha de prata de Potosi, na atual Bolívia, e a perda de valor do metal precioso, e consequente fim do imponente e arrogante império. Pior: com mergulho na pobreza.

  2. “…e espalhando a pandemia da obsessão pelo dinheiro e acentuando a frustração de amplas camadas da população.” Não consigo absorver a imagem de filas gigantescas em instituições bancárias.
    Algo deu muito errado!

  3. A marcha da insensatez, prezado Nassif, teve início no sexto dia da criação.
    Duas coisas: a inflação não é uma adventícia, não é o resultado de idas e vindas do consumo, ou alta e baixa de salários. Ela é, tal como as decisões de volume de produção (especialmente de commodities, como o petróleo) o resultado de decisões bem pensadas, dentro de escritórios assépticos, com os ocupantes dos altos assentos em ternos bem cortados, em reuniões regadas a whisky, pó, e sabe-se lá mais o quê.
    O atual processo inflacionário nos EUA já se arrasta há meses; se a inflação fosse um mal universal, que atingiria a todos indistintamente, pobres e ricos, algo já teria sido feito, especialmente (e unicamente, na verdade) por esses últimos.
    Alguns setores (todos sabemos quais são) estão enchendo as burras nesse período. Afinal, ricos não se preocupam com o preço da gasolina que consomem, que dirá dos tomates e cebolas que temperam suas refeições.
    Quem se lasca é o pobre; mas tem sido assim desde o começo dos tempos.
    E a outra coisa: o problema daqueles que, como o Nassif, se angustiam ao ver as coisas degringolarem, como nos dias atuais, é julgar que existe uma entidade, ou instituição – o Estado – que se preocuparia com o bem-estar generalizado, e não apenas desta ou daquela classe. Ele até pode ser utilizado nesse sentido; embora aquele ocupante eventual dessa instituição corra o risco, especialmente aqui por essas paragens terceiro-mundistas, de terminar seus dias “suicidado” em algum palácio presidencial, ou encerrado em uma masmorra curitibana, como punição pelo crime bárbaro de incluir o pobre no orçamento.
    O nosso prezado Nassif, dentro de sua lógica humanista, generosa, insiste em sugerir que certos atores (aqueles que, historicamente, tem sido os mais frequentes ocupantes das tais instituições) correm o risco de ver manchadas sua história, ou reputação, como resultado de sua atuação em funções públicas. Não estão. A própria locupletação (e de seus pares) ocupa-lhes todo o tempo e preocupações. Depois deles, o dilúvio – e daí?
    A desigualdade vai crescer, Nassif. As pessoas comuns serão levadas a apoiar posições de força, fascistas, na ânsia de, sob um ditador benevolente, estarem livres de cair no poço mais profundo de uma pobreza que se vai generalizar, e isso sob o disfarce da defesa da moral, da família, e dos bons costumes. E esse é o maior (único, na verdade) talento de seres sub-humanos como o nosso atual presidente: convencer as pessoas de que esses assuntos, subalternos e de foro íntimo, são os assuntos e temas que realmente importam. Trata-se, no fundo, de uma farsa combinada entre o subconsciente de uns (o horror de, mais do que ser pobre, se ver cercado por pobres) e a cupidez dos homens públicos.
    E imaginar que, não fosse aquele idiota não saber engatilhar uma arma, e a vice-presidenta do país vizinho estaria morta. Aqui, dentre tantos outros idiotas que se entupiram de armas legalmente, no atual governo, há uma enorme probabilidade de que um deles, que sabe engatilhar uma arma, esteja à solta, por aí, se esgueirando na multidão.
    A inflação? Quem está preocupado com a inflação? Os pobres, suas únicas vítimas, sequer sabem o que ela é, além de imaginarem que ela prejudica a todos. Estão na fila da inocência, a caminho do matadouro. Alguns estão trajando farda e coturnos, estão armados, mas só se matam uns aos outros. Os mequetrefes estão na outra marcha, a da insensatez. E sabem exatamente o que estão fazendo, ao contrário dos que estão na fila.

  4. Basta uma pequena fagulha e se verá uma desesperada corrida dos milhões de cidadãos comuns no mundo todo às casa de câmbio querendo se livrar dos dólares que tem em casa.

    Claro que sociedades nacionais, que tem reservas em dólar, inclusive a chinesa, não vão gostar. Mas a China, por exemplo, tem valor: produção. Usarão de armas de propaganda para tentar conter a multidão. Mas se de manhã alguém foi à casa de câmbio trocar seus dólares por merreca, à tarde o cambista terá pregado um sulfite escrito à mão no guichê:

    “Não estamos comprando dólar. Favor não insistir.”

    E a pessoa comum dirá “Cansei. 1930, 2001, 2008 e agora mais essa! Chega de perder dinheiro para financiar inconsequente, imediatista terrorista!”

  5. Caro Luis Nassif,

    Apesar de todo respeito que eu tenho por você como jornalista econômico e humanista, sua posição sobre o conflito na Ucrânia me entristece e desaponta.

    O que você teria feito no lugar do presidente da Ucrânia? O que você teria feito no lugar de Biden?

    A Ucrânia não iniciou o conflito. Os militares Ucranianos não entraram em solo russo, invadiram cidades russas ou atacaram civis russos. O presidente ucraniano tentou negociar até o último minuto antes da invasão.

    Você acredita que o massacre de Bucha foi encenado? (https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Bucha). Que a Rússia tem o direito eterno de controlar o destino político e econômico da Ucrânia?

    Você diz que a OTAN existe apenas para promover a guerra; essa é uma posição parcial e desonesta. A OTAN é uma organização de defesa mutua, de associação aberta e voluntária. Porque os antigos países soviéticos (Polônia, Países Bálticos, etc.) estão tão desesperados para juntar-se à organização? Porque eles já viveram sob o jugo russo uma vez, e temem exatamente o que está acontecendo na Ucrânia.

    Putin comporta-se como o pretendente rejeitado, que decide tomar a amada a força quando percebe que ela tem olhos para outro. Mesmo quando discordamos (eu me recordo de você dizendo algo nas linhas “líderes como Lula não precisam respeitar as regras morais do homem comum”), mas sempre o respeitei como alguém comprometido com a democracia, a liberdade e respeito à soberania de cada país.

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