
No dia 27 de fevereiro passado, sob o título “O problema é o câmbio”, procurei demonstrar duas coisas?
- A taxa Selic estava alta em função do fator câmbio, e não para derrubar o nível de atividade.
- O que provocou a corrida em dezembro foi a redução do “carry trade” (o diferencial entre a taxa de captação internacional e a de aplicação nos títulos brasileiros) em relação ao México e à África do Sul. Esse fato permitiu que montagem de um movimento especulativo que fez explodir o dólar.
Depois disso, houve um reassentamento do dólar no país.
Em entrevista ao Brazil Journal, Benjamin Souza, estrategista do BlackRock para a América Latina, confirma a tese. Em sua opinião, é possível que o ciclo de alta de juros no Brasil termine com menos aumentos que o esperado, beneficiando a Bolsa e a renda fixa.
Segundo ele, “quando o ciclo de alta de juros terminar, o Brasil será um dos únicos países com uma inflação de um dígito e um juro de 13% ou mais”.

Seguindo ele, a visão da BlackRock para o Brasil é entre neutra e otimista. De um lado, a queda nos preços das ações criou valor para os investidores. As empresas estão mais baratas, diz ele, especialmente as small caps. Além disso, continua ele, o câmbio se estabilizou e a moeda continua barata, “o que é um bom atrativo para estrangeiros como nós”.
Ele admite preocupações com a situação fiscal, mas enfatiza o fato de que há valor sendo criado nas empresas.
No ano passado, muitos BC – entre eles o nosso Banco Central – estavam “hawkish” (linha dura) em razão da subida da inflação. Aí o mercado passou a apostar em altas sucessivas nos juros.
Mas, após alguns aumentos, a inflação começou a reagir, levando o BC a suavizar o tom no último comunicado. O mercado havia apostado em juros altos demais – e, por consequência, em valores menores para as empresas. Agora, terão que reavaliar.
Quando o ciclo de alta de juros terminar, continua ele, o Brasil será um dos únicos lugares com inflação de um dígito e juro de 13% ou mais. Os demais mercados, com juros elevados, também têm inflação alta, como a Argentina, Rússia e Turquia.
É curiosa a comparação entre sua opinião – mostrando a diferença extraordinária entre inflação e taxa de juros – e o mercado interno em geral.
As incertezas trazidas pelas políticas de Donald Trump, no entanto, deixam uma interrogação no ar. Não basta mais simplesmente investir em mercados emergentes, mas saber escolher em qual emergente.
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Não, Nassif.
Se você observar bem, a visão do vampiro entrevistado por você não é oposta a dos demais hematófagos financeiros.
São visões complementares.
Leia de novo o que escreveu:
Havia uma “preocupação” com a inflação, veja:
“(…)No ano passado, muitos BC – entre eles o nosso Banco Central – estavam “hawkish” (linha dura) em razão da subida da inflação. Aí o mercado passou a apostar em altas sucessivas nos juros.
Mas, após alguns aumentos, a inflação começou a reagir, levando o BC a suavizar o tom no último comunicado. O mercado havia apostado em juros altos demais – e, por consequência, em valores menores para as empresas. Agora, terão que reavaliar.
(…)”
Ou seja, a visão que determina juro como antídoto inflacionário está aí, intacta.
Eu não acho que um movimento específico de assimetrias cambiais e de títulos entre países (México e África do Sul, com Brasil) seja a única explicação do problema.
Não há uma explicação apenas, mas há, sim, uma visão política, de política econômica, que é hegemônica:
Países periféricos de tamanho razoável, México, África do Sul, Brasil, Argentina e etc são motéis de capital, onde o “dinheiro sério” e “bem casado” dos países ricos entram e saem com suas “amantes”, as altíssimas e muito maquiadas taxas de juros.
Bem, o Brasil está mais para bordel, dada a taxa de juros obscena e a existência de poderosos cafetões e cafetinas, como mídia, ministros das fazendas e corretores das elites nacionais, os nossos banqueiros que ainda estão por aqui.
Nassif é o jornalista que melhor analisa economia no Brasil, mas, como acontece com todos nós,desta vez está insistindo num erro importante, ao afirmar que não há inflação de demanda. A inflação de serviços é um indicador forte dessas pressões de demanda, sobretudo em relação à meta que o Banco Central deve perseguir. O que se pode argumentar é que daria pra conviver com ela, desde que essa meta fosse elevada um pouco, tipo para 4%, com tolerância de 1,5%. Parece mais adequado para a economia brasileira.
O aumento de preços de serviços, impulsionado por uma suposta falta de oferta, atinge um patamar restrito da população, que consome serviços.
A esmagadora maioria come, pega transporte, paga luz e aluguel, e dorme.
Só vai salão, anda de avião, paga revisão do carro, contrata empreiteiros de obras civis, contrata serviços domésticos, escolas particulares, as classes médias e altas.
O impacto é comida, transporte, luz, água e esgoto.
Com 3.300 de renda média, no máximo um cachorro quente no fim de semana, e olhe lá.