Campos Neto está para o Banco Central como Janot para o MPF, por Luís Nassif

Com Campos Neto não há conversa. Ele é suficientemente despreparado para não abrir mão de seus movimentos pavlovianos em relação aos juros

Fabio Pozzebom – Agência Brasil

É batata, e tende a se repetir indefinidamente. Pegue uma corporação pública. Dê-lhe autonomia total. O resultado será ela passar a assumir poder de Estado e, dependendo de seu alcance, a afrontar o poder eleito.

Foi assim no Ministério Público Federal (MPF), quando Lula instituiu a prática de escolher o primeiro da lista e conferir plena autonomia ao Procurador-Geral da República. Foi um desastre atrás do outro: Antônio Fernando de Souza, Roberto Gurgel até terminar em Rodrigo Janot. Quase destruíram o país e conseguiram a reação óbvia: a subsequente perda de influência e de status do MPF. Os oportunistas da Lava Jato fizeram nome, usaram a porta giratória e deixaram de legado uma instituição com escassa possibilidade de recuperar o protagonismo.

O mesmo se passa com o Banco Central: um grupo de diretores vindos do mercado, sem nenhuma responsabilidade em relação ao banco, chefiadas por um Rodrigo Janot de Tesouraria, Roberto Campos Neto.

A nota do Copom não teve nada de técnica: foi uma loa aos seus poderes de colocar o país de joelhos. A reação do mercado foi de queda das Bolsas, puxada pelo desânimo do setor varejista, com a crise que vem a galope.

Gestores de fundos criticaram, a economia real criticou. Mas ficou tudo na mesma. A estratégia do Ministro da Fazenda Fernando Haddad foi tentar um diálogo civilizado com Campos Neto. Perdeu tempo, enquanto grassa a fogueira da crise econômica.

Com Campos Neto não há conversa. Ele é suficientemente despreparado para não abrir mão de seus movimentos pavlovianos em relação aos juros.

Na nota do Copom, até crises bancárias internacionais, que estão amplamente enfrentadas pelas autoridades monetárias americana e europeia, serviram de álibi para manter a taxa Selic e ameaçar com novas elevações.

Foi claramente uma demonstração de força, sem levar em conta os efeitos da Selic elevada sobre o quadro econômico e sobre a própria inflação.

Ontem o programa Nova Economia, da TVGGN, promoveu uma debate substancioso, trazendo a professora Maryse Farhi, ao lado dos nossos debatedores semanais, Leda Paulani, Antonio Correa de Lacerda, João Furtado e Sérgio Leo.

No debate, ficam claros alguns pontos tratados dogmaticamente pela mídia.

Como explicou-se professora Maryse, em nenhum momento, os diversos documentos sobre o sistema de metas inflacionárias estabelece relações entre déficit público e inflação. Essa relação foi criada artificialmente no país, para tornar o BC um tutor dos gastos públicos: se o governo gastar demais, aumentamos os juros.

A maior prova da desfuncionalidade dessas taxas foi a própria reação do mercado à nota do Banco Central. Apesar das notícias mais tranquilizadoras vindas da Suíça, o B3 caiu. O mercado correu para atribuir a queda às críticas de Lula ao BC. Mas as quedas foram puxadas pelo setor de varejos, justamente o que tem mais sentido o impacto dos juros altos. Ou seja, caiu devido ao anúncio de manutenção de juros elevados.

16 Comentários

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  1. quem manda nesse país são os senhores da bufunfa via congresso nacional. Quando viram que o LULA ia voltar inventaram via congresso essa história de banco central independente e colocaram lá o peão que tá defendendo o interesse deles e o país que se ……exfloda

  2. Banco Central independente não é nenhuma novidade no mundo, existem há décadas, começando pelo maior de todos, o FED, o Banco Central americano, que foi fundado em 1913 já independente dos governos do país, fosse qual fosse, e do Banco da Inglaterra, que desde o século XIX sempre teve autonomia completa e uma missão básica: defender a libra.

  3. Vou repetir aqui, o causo sobre efeito psicológico ocorrido lá no Ceará. “O dono de um sítio nos arredores de Fortaleza, procurava um pedreiro para fazer um obra de emergência no seu sítio. Por indicação chegou ao pedreiro de nome Vicente, que se dispôs a fazer a obra. No entanto, como estava perto do horário de almoço, sugeriu almoçar primeiro, ao que o Sr. Girão retrucou, que em virtude da urgência, sugeriu que deixasse para almoçar assim que chegassem ao sítio e ofereceu levá-lo de carro para não haver demora. Vicente topou a sugestão e seguiram para o sítio.Entretanto, seguindo a viagem, a fome começou apertar, deixando o Vicente agoniado e olhando a paisagem, viu umas vacas pastando a beira da estrada,e pediu ao Sr. Girão parar o carro para que ele pudesse pegar um pouco de leite; mas a pressa era grande e o Sr. Girão argumentou que essa coisa de fome, era uma questão psicológica e disse para o Vicente se imaginar bebendo o leite da vaca que a fome passaria e seguiram viagem. Mas para o Vicente a fome ia apertando e o sitio parecia longe demais. Foi estão que ele avistou uns pés de manga e pediu para o Sr. Girão parar o carro. O Sr.girão voltou a repetir o efeito psicológico e que ele se imaginasse chupando manga. Seguiram a viagem. Passado algum tempo, o Sr. Girão estranhou o silencio do Vicente e resolveu para o carro para averiguar. Constatou que o Vicente ou havia desmaiado ou estava morto e concluiu: ELE NÃO DEVIA TER MISTURADO LEITE COM MANGA!

    Esse causo me ocorreu quando no início desta semana, assistindo ao Globo News, um dos comentaristas vaticinou, que o BCB não podia baixar os juros, pois se o fizesse, a consequência seria o aumento da expectativa da inflação. Ou seja: A temerária ação do BCB, provocaria um surto psicótico inflacionário. Como no causo acima, tudo não passa de uma questão psicológica. O pior, é que o comentarista é tido pelos colegas da Globo News como entendido no assunto de economia. Haja coração!

  4. Ficará o BC, o país a bordo dessa estupidez manifesta? Meio mundo espantado em saber dessa Selic, mas o sujeito só vomita a própria estupidez e irresponsabilidade!

  5. Ao contrário do dito por renato Cruz, o Federal Reserve não é independente. Basta ler um pouco a respeito e sair do dito pela mídia. Além disso, ele nunca (grifo) se exporia a dizer a um governo eleito o que ele deve fazer. Ele é uma parte do estado estadunidense e usa seu poder como extensão do poder político-militar do país. Paul Vocker fez isso na crise de 1980, quebrando o mundo para garantir o poder estadunidense. Ao contrário do dito por Nassif, Roberto Campos Neto é um quinta-coluna, um traidor dos interesses do país. é bem preparado para fazer o que está fazendo e conta com forte assessoria dos setores interessados no rumo que está dando à economia do país. Sua tarefa é inviabilizar o governo Lula e facilitar a volta ou de bolso ou de um candidato de direita (quem sabe Alckmin ou tebet). Ele está cumprindo esta tarefa com maestria até o momento. Só Haddad não compreende isso. Caberia a ele fazer a luta politica contra Campos Neto. Mas sua fragilidade e necessidade de se mostrar confiável e subserviente à elite econômica é mais forte. Haddad provocou, deu a gota d’água para junho de 2013 com essa sua postura.

  6. FED e Banco da Inglaterra existem para defender o poder de suas moedas. Não para defender a Coroa ou o Executivo; reis e presidentes passam, o poder do Capital fica. Impérios modernos e, portanto, com perspectiva histórica, sabem que é a moeda, o instrumento de troca, o fator preponderante para a manutenção do poder, da influência, e da soberania, não só dentro de suas fronteiras, como, principalmente, fora, pois o Poder é uma via de mão única, ou cresce, ou definha. O Capital é uma ambulância, só pode andar em alta velocidade, senão o paciente lá dentro – a moeda – morre. Ao Império Romano faltou precisa e inevitavelmente essa perspectiva, o que o levou a afundar-se na própria indulgência. Coisa de que os impérios de hoje fogem como o diabo da cruz. É claro que chega um ponto nessa trajetória em que se tornam necessárias certas medidas para manter o paciente com saúde e vivo: transfusão de sangue entre elas. E o sangue das moedas fortes é plenamente compatível com o das moedas “fracas”. Uma injeçãozinha de Reais, turbinados por juros lá nas alturas, e medicados por uma taxa de câmbio amiga, ajudam, por exemplo o dólar a se manter saudável, sem a necessidade de elevar taxas de juros por lá. Os especuladores são a raça de gente mais feliz e despreocupada do mundo, graças, dentre outros, ao Banco Central do Brasil. Mais uma vez, e sendo totalmente ignorante em economia, sustento que não faz o menor sentido imaginar que um país do tamanho (recursos naturais, matérias-primas, etc.) e da importância (moeda fraca e inflacionada, sem relação com a produção efetiva de bens, dígitos abundantes à esquerda da vírgula, etc., barato para comprar, cara para vender) do Brasil possa ter uma política independente em qualquer nível, ou setor que, de alguma forma, afete ou influencie a economia global, pelo menos a do dólar e do euro, e, vá lá, a libra. O bem estar de nosso povo sempre estará em segundo plano, o que, em economia, é estar em plano nenhum. Nossa elite está de costas para o Brasil, e de frente para o mar, desde que esse país existe, colônia ou independente (sic). É simples assim. Quem tentou sair desse esquema, em maior ou menor grau, e se apropriar de receitas alienígenas para prosperar, ou meteu uma bala no peito, ou morreu acidentado na Dutra, ou tomando remédios batizados lá nos pampas, ou encerrado em masmorras curitibanas. A emergência de novos poderes ou projetos de poder – na China, na Rússia, na Índia – e consequente redução na marcha das moedas dominantes anglófonas, e a ascensão de uma extrema direita sem rumo ou propósito definidos, provavelmente salvou, por vias tortas, a vida do encarcerado de Curitiba; mas sabe-se lá até quando. Afinal, é um conciliador inofensivo. E seu ministro da fazenda é daqueles que pede desculpas até a uma barata inadvertidamente pisada. Tanto faz se pessoas, que eu reputo, por isso, ingênuas, acreditem em independência (de quem?) dos bancos centrais do mundo (meros sindicatos de banqueiros, na minha opinião), o que importa é constatar a quem suas medidas e políticas beneficiam. E isso, amigos, está, sempre esteve, e sempre estará cristalinamente claro.

  7. Em nossa civilização foram criadas princípios pétreos, como em religião, “Deus é uno e onipresente”… entre outras. No caso do capitalismo atual, que é diferente do período fordiano, este princípio está no axioma “o lucro é o grande foco universal” não importa qual a circunstância, mesmo que isto represente o extermínio da civilização – econômica. O Campos Neto, é uma figura representativa disso. No meu conceito, operadores financeiros que assim procede são os parasitas – os insetos – da economia mundial. Se fosse um produtor rural com cem mil alqueires de soja, ele teria a solução, empregaria um inseticida exterminando os insetos e teria salvo sua produção. Mas para o BC não criaram ainda este inseticida e os insetos dominam…

  8. Houve um golpe de Estado em 2016. Foi este golpe que produziu garantias para,mesmo numa eventualidade de perda de poder,como de fato ocorreu,os golpstas continuassem a mandar.
    O nome que está à frente da instiuição pouco importa. Seja ele qual for,é um simples delegado dessa gente e,por isso mesmo,pouco se importa com qualquer outra coisa que não seja as ordens de seus patrões.
    Uma parte do golpe já foi desfeita e,esta outra,está com os dias contados.
    O presidente Lula vem debatendo dia a dia esta questão e não tardará que mais esta derrota seja jogada nas costas dos golpistas,ainda que,com os bolsos cheios.

  9. Tudo tem limite, inclusive a ideologia. Mas não é só ela a causa da estupidez. Aliás, não deve nem de longe ser a principal. O que esses elementos do COPOM estão fazendo, não resta dúvida, é crime contra o país. E um grupo de pessoas que comete crime em conjunto se chama o quê?

  10. Num momento como esse sou obrigado a reconhecer as “virtudes” da direita. Seria mais ou menos assim com o General Figueiredo: – filho de uma égua, faz o que tô pedindo ou eu te arrebento!
    Mas com Lulinha paz e amor, temos que aturar a “autonomia” do banco central.

  11. O principal questionamento que se levanta é muito desconfortável: estaria sendo apenas cauteloso o presidente do BCB, ou está fazendo política na condução da autoridade monetária. Uma questão importante é que o País precisa aprender a manter relações institucionais em que as Instituições devem por sua perenidade estar sempre acima de quem as ocupa. Seria de bom proveito ao País, se desde o primeiro momento os presidentes da República e do BCB mantivessem contato cordial, inclusive tendo um encontro institucional. Isso não caracteriza nenhuma interferência indevida, somente o diálogo de partes do Estado. Após a conversa entre as duas partes com demonstração de respeito mútuo, dentro de relações de alto nível adequadas ao Brasil, se o presidente do BCB e diretoria achassem oportuno colocariam à disposição do Congresso seus cargos. Provavelmente permaneceriam e não teríamos esse cabo de guerra sem sentido e deletério ao Brasil. O mercado participa dos mercados pra ganhar dinheiro. Sabe portanto que uma crise econômica é o pior cenário, pois o mercado está espalhado por diversos tipos de participação e setores. Uma leve redução apontando o viés de baixa e a interrupção de novos aumentos e demonstração de comprometimento e seriedade no trato da economia brasileira que transporta o todo econômico do País, teria sido o suficiente pra acalmar os ânimos e pedir a todos que trabalhem com confiança.

  12. Não gosto de opinar sobre tema que não compreendo, mas se os economistas do governo atual detectam algum problema na condução da ecconomia e se fizeram um diagnóstico correto, devem tomar a decisão certa.

  13. Vocês não podem duvidar que a Taxa Selic do país está muito alta, muito, mas muito mesmo
    acima do necessário para controlar a inflação. E é da própria natureza, de onde vem
    esse senhor, da turma de Guedes, que o objetivo deles é solapar os ativos do governo federal, seja na cobrança abusiva de juros, seja vendendo patrimônio público. Não duvidem disso um só instante.

  14. O XAROPE MILAGROSO DO BC

    Nos filmes de faroeste tínhamos a figura do vendedor de xarope. Ia pelas planícies americanas com seu carroção a vender xarope que servia para tudo e para todos.
    De unha encravada a males do coração a tudo resolvia, sendo que alguns “alegravam” os espíritos pela boa dose alcoólica inserta na “formulação”.
    Em “terras brasilis” se vende ao distinto público um outro tipo de “xarope milagroso”: o “farmacêutico” do BC entrega sua xaropada que tem o condão de resolver todos os males da economia brasileira:
    – inflação em queda: mantém-se a taxa Selic nas alturas,
    – demanda em contração : mantém-se a taxa Selic nas alturas,
    – sinais de recessão no curto/médio prazo: mantém-se a taxa Selic nas alturas,
    – inflação em alta : mantém-se a taxa Selic nas alturas, com viés de elevação.
    A mídia parcial e interessada vai tocando o carroção do BC por pradarias onde apenas os “operadores do mercado” andam armados; aqueles duelos “face to face” foram abandonados pela possibilidade de os economistas fora da banca sejam mais rápidos no gatilho argumentador.

  15. A maior desonestidade intelectual é afirmar que a inflação é de demanda, quando as montadoras de veículos já paralisaram as fábricas e diversas redes varejistas pedem recuperação judicial ou decretam falência.

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