Lula precisa mudar o modo de gestão, por Luís Nassif

Lula tem direito de não ter paciência para o rame-rame da pequena política. Mas não de manter esse estilo de governo

Vamos aos fatos:

  1. Falta um projeto de futuro ao governo, e o bolsonarismo cresce nesse vácuo.
  2. A estratégia de acalmar o mercado e apenas perseguir ferreamente o superávit fiscal é inviável. Levada a ferro e fogo, é caminho certo para a derrota eleitoral em 2026. Mesmo que o bolsonarismo seja extirpado do Banco Central, no próximo ano, deixará um legado de terrorismo fiscal que inevitavelmente amarrará o novo presidente. 
  3. Lula tem minoria no Congresso e a aprovação de qualquer coisa exige um corpo a corpo que ele não parece mais disposto a perseguir. E nem o condene. Depois de tudo o que passou, a vitória em 2022 salvou o país provisoriamente do fascismo.
  4. Se Lula não parece disposto a repetir o Lula de 2008, se a idade pesa, se o calvário a que foi submetido quebrou alguma mola interna, há que se pensar em outras saídas.

O caminho não é nem chutar o balde fiscal, nem seguir o realismo dos eunucos, de que nada poderá ser feito sendo minoria no Congresso, ainda mais a maioria sendo de ultradireitistas ou fisiológicos.

Então só restam dois caminhos: pedir o boné; ou definir novas formas de atuação política e de busca da mobilização da opinião pública, em ações de coordenação interna que não dependam do Congresso para sua concretização.

O caminho passa, inevitavelmente, por uma mudança na forma de gestão do governo. 

Lula tem todo o direito de não se animar mais com o dia-a-dia da política miúda, os rapapés a deputados e senadores, a maioria dos quais sem nenhum espírito público. Mas não tem o direito de paralisar o governo. Tem que definir um modo de gestão que planeje as políticas públicas e o preserve para as decisões finais do que deve ser feito.

Para tanto, o modelo é óbvio e já tem precedentes históricos. Trata-se de montar Grupos de Trabalho, interministeriais, incluindo todos os organismos envolvidos com cada meta proposta.

Só para efeito de exemplo, analise a volta da indústria naval. Sua reconstrução envolve o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, desenvolvendo o planejamento para petróleo e gás. Mas envolve também a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, o  BNDES, o Ministério da Fazenda, a Receita Federal, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). E por aí vai. 

Reuniões periódicas, definição da função de cada um, balanços periódicos, tudo isso dará uma agilidade tremenda aos projetos. Para cada GT haverá um coordenador levando as principais conclusões a Lula, que dará a palavra final e resolverá os temas mais complexos. E terá muito mais entrega a fazer, do que inauguração de obras do PAC – que dificilmente acontecerão por falta de orçamento.

Tome-se o caso dos medicamentos – já contado aqui. A meta é de produção de 70% dos medicamentos internamente. Mas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estão paralisados exames de produtos com o equivalente a R$ 17 bilhões de faturamento/ano. E tudo por conta da falta de pessoal, de uma agência que não tem concurso desde 2013.

Quem resolve o pepino? O Ministério da Saúde é que não é, nem mesmo o da Gestão, porque tudo está amarrado ao orçamento. Em um modelo de GT, todos os agentes estarão discutindo todos os detalhes do plano, tudo que é necessário para colocar a meta em pé. E o papel de Lula será definir os objetivos e resolver os impasses.

Hoje em dia, o desânimo do mercado com o governo não se prende a nenhuma dúvida sobre a parte fiscal. Qualquer analista minimamente informado sabe que a economia tem bons fundamentos. O desânimo – inclusive dos gestores externos – é com a falta de perspectivas. E a criação de perspectivas se dá com gestão rápida e eficiente, que abra espaço para investimentos em atividades produtivas.

Repito: Lula tem todo o direito de não ter mais paciência para o rame-rame da pequena política. Nas últimas décadas, foi o brasileiro que mais contribuiu para que o Brasil permanecesse no campo das nações civilizadas.

Mas não tem o direito de manter esse estilo de governo, já que um modelo moderno de gestão será o caminho mais rápido para entregar resultados e conferir a Lula o papel nobre, de quem decide as grandes questões e faz as grandes entregas.

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24 Comentários

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  1. Quando olho diagramas, esquemas e planos, lembro logo de planilhas e cabeças de planilhas.

    Lula não tem direito a rejeitar “o rame-rame da pequena política”, porque é do cuidado com o varejo que se faz o atacado político.

    Quem diz isso não sou eu, são a Dialética, a ciência política.

    A extrema direita não campeia no vácuo da chamada ausência de projeto de Lula.

    A extrema direita avança no conluio e na opção dos chamados “centristas” (direita, na verdade) em encurralar o país no medo, com o único objetivo de desossar o que resta do país nestes tempos de transição do fim do capitalismo para seja lá o que vem por ai.

    Aqui, e no mundo.

    Nassif escreve como se a direita e sua parte mais extremada não tenham sido hegemônicas desde sempre.

    Os dois maiores conflitos mundiais resultaram das disputas capitalistas internacionais, que insuflaram nacionalismos e ódio na Europa.

    As ditaduras na AL sempre foram o remédio para conter alternativas progressistas.

    E ainda são, ainda que se vote, como é o caso da situação na América Central e sim, no Brasil pós 2016.

    O que falta a Lula, Nassif, é algo que ele nunca teve: coragem.

    Capacidade de mobilizar o país para um enfrentamento que é urgente.

    A cautela em excesso também nos mata.

    E pior, nos mata sem chance de reação, inertes, como moscas na teia.

    Falta a Lula lembrar que ele é um sobrevivente, e um sobrevivente é um ser perigoso porque nada teme, como disse a bela Juliete Binoche a Jeremy Irons no belíssimo filme Perdas e Danos.

    Sem coragem, não haverá grande política.

    E, infelizmente, Lula, dentre todas as suas qualidades, não foi dotado de coragem típica dos estadistas.

    Mal comparando, quem é Neville Chamberlain nunca chega a Churchill.

    1. Pô, Chamberlain e Churchill, tem que escolher entre uma dessas duas merdas? Podia ser Deng e Mao, Gandhi e Nehru…tudo, menos um fascista, racista, aporófobo, misógino, imperialista, carrasco de mineiros de carvão…Lula jamais será Deng ou Nehru, mas dizer que igualá-lo a Churchill é fazer justiça à sua estatura (ou ao que ele foi no passado) é demais.

      1. Antônio, você entendeu…

        Neville e Lula, como dizia Churchill, achavam que poderiam negociar com o tigre com as cabeças na boca do bicho.

        Mas eu não tenho dúvida, se Hitler estivesse às portas da minha casa, eu preferiria Churchill a Lula.

        1. Entendi, prezado. É que a minha rabugice de sessentão me faz ter urticária sempre que vejo alguém apontando a “grandeza” de um homem como Churchill. Creio que você me entende, também.

    2. Gostei !!!!

      Também fiz um comentário, mas ainda não apareceu :

      Eu evito tocar o nome do Bolsonaro ou do Lula , pois o efeito é tiro no pé. Prefiro abordar os problemas e as soluções para quem ler , concluir por si , e não achar que está sendo guiado ou influenciado .
      Na Economia , ataco a teoria econômica do “liberalismo”, que acredita na “mão invisível do Mercado autorregulador” e defendo Teoria econômica Keynesiana , que adota a lógica da importância do Estado construção de uma economia desenvolvimentista , como Keynes provou no reerguimento dos países no pós-guerra.
      Também associo o “Liberalismo Econômico” diretamente às gravíssimas crises econômicas provocadas na Ásia por George Soros, da Open Society Foundation, e da crise do Subprime de 2008 em que no final , Allan Greenspan, então presidente do Fed por duas décadas, admitiu que estava errado em acreditar na “mão invisível do Mercado”.
      Assim como a desestatização e privatizações do governo Tatcher se mostraram um fiasco e as empresas têm sido reestatizadas .
      Por outro lado vemos além do sucesso da aplicação do keynesianismo nas economias do pós-guerra , também o progresso da economia chinesa , e a aplicação nos próprios EUA com o governo lançando pacotes enormes de créditos e subsídios nos seus projetos de desenvolvimento.
      Conclusão: façam o que eu ,FMI , digo , não façam o que eu faço .

    3. Eu gostei, Douglas , do seu comentário, e também postei um , mas esqueci de salvar .
      Você poderia me fazer a gentileza de me enviar ?

      1. Francisco, qual comentário você está pedindo que eu te envie?

        Confesso que, analfabeto digital que sou, não entendi, rs…

  2. O que é f*&#% é que o bolsonarismo cresce no vácuo da falta de projeto do governo, mas sem nenhum projeto, igualmente, que não o de enriquecer e entregar o país à iniciativa privada.
    O que é f*&#%, também, é que Lula não persegue mais o corpo a corpo com o Congresso, mas o Congresso segue inoculando seu veneno em todas as instâncias do governo. Como diria o Marcelo Odebrecht (ou algum outro escroque da mesma laia, não lembro), se eu não me corromper, não faço negócios com o governo. Simples assim. Porque o executivo ou não tem poder de fato, ou lava as mãos diante desse círculo vicioso, ainda que, quase sempre, leve a culpa por isso, vide mensalão e lavajato. O Brasil é um país tão singular, que aqui o corrupto às vezes se lasca, mas o corruptor continua lindo, leve, e solto. Sempre.
    Também é f*&#% que, sem querer entrar em polêmica nem ferir suscetibilidades, buscar novas formas de atuação política, e mobilizar a opinião pública é uma opção que não tem o Congresso como opositor, mas o que chamei, outro dia, de seu(s) patrocinador(es): a mídia corporativa, as Forças Armadas, e o Binômio Bancos/Corporações, de quem os políticos no Congresso são acólitos e moleques de recado. Esses são os inimigos verdadeiros, que não aparecem, ou, quando o fazem, é com o disfarce de democratas, libertários, cidadãos de bem e tementes a Deus.
    Se o objetivo de Lula, ao candidatar-se em 2022, era o de impedir que o fascismo permanecesse no poder, ele foi 100% bem sucedido. Mas, lembremos que Getúlio se suicidou, mas com isso conseguiu apenas adiar a tomada do poder pelos militares em dez anos.
    Lula, pelo visto, conseguiu o mesmo efeito, mas por apenas quatro anos.
    Só a ruptura salva. Russos e indianos bem o sabem. Cuba faz isso há mais de sessenta anos, ainda que ao preço de permanecer pobre. Pobre, mas livre. Sem cabresto. E todos tem, ou tiveram – e, certamente, sempre terão – suas quintas colunas. O Brasil é (creio eu) o único dos BRICS onde a quinta-coluna sempre manda, não importando quem esteja no poder. Poder que, aqui, é sempre nominal. O de fato sabemos onde está.
    ‘Ei, Lula, o melhor que você faz, é deixar o Brasil de lado e foge pra morrer em paz.’
    Com ou sem Prêmio Nobel.
    Só não nos deixe o Haddad como legado. Deve ter alguém melhor. Mais parecido com você, há quarenta anos. Antes de virar o ‘cara’ do Obama.

  3. Comentário profundo e abrangente sobre a inação do governo federal.
    A falta de visão de conjunto e políticas setoriais ou mesmo projetos específicos promove a dispersão descontrolada de ações e recursos escassos em todos os níveis de governo.
    Visivelmente Lula não tem mais o pique de antes mas permanece como a grande liderança política no Brasil e além fronterias.
    A definição da liderança neste trabalho é essencial e urgente formatando o grupo gestor do movimento.
    Talento e experiência nos diversos campos temos dentro do governo, universidades, empresariado instituições militares.
    Falta mesmo é pôr tudo a andar.
    Nassif deu uma bela sugestão .
    É mais do que hora de pensar além do ramerrão do dia a dia.

  4. Lógico q precisa,precisa pôr eu lá ripo um Rei aí Lula sussurra no meu ouvido e eu coloco em prática pra quê complicar é simples,sem mais obg ggn !!!
    Ons.:Nassif pfv não censure esse meu comentário distopico(nem sei se é essa a palavra certa)quem mandou vc criar um site q comenta agora tomaaa aguentaaa !!!

  5. Amigo fazem as reuniões traçam as estratégias, toma os cafézinhos e de onde vai sair o dinheiro pra implementar essas demandas prioritárias do governo?
    O orçamento já tem 43% comprometido pra pagar juros e rolar a dívida.
    Só se fizerem massa crítica e a população exigir que o governo audite essa divida pública pra sobrar parte do dinheiro. Auditoria prevista na Constituição a 36 anos. Auditar a dívida pública pra ontem. Caso contrário, não tem de onde arranjar dinheiro. Discussão política partidária não resolve nada e não enche barriga de ninguém e não faz as obras estruturantes para diminuir o custo do país. Dinheiro amigos, de onde tirar?

  6. Lula pra mim é um santo,
    Só ele pra querer governar um país em que 30% de analfabetos políticos o queriam preso e algemado, por conta de uma mesquinharia preconceituosa, oportunista ou simplesmente deficitária intelectualmente
    Só o Lula pra querer governar um país em que os grandes empresários fizeram companha contra ele, de maneira pessoal e discriminatória e que posam agora de “cobradores” do desenvolvimento
    Só Lula pra governar um país com uma imprensa golpista que não lhe dá sossego, oportunidade de ponto de vista ou uma simples análise coerente com a realidade, não, tem que ser uma imprensa esgoto pior do que os piores dias do golpe em Dilma

    Só o Lula

  7. Acontece que Lula é um sozinho.
    Está certo, tem alguns (poucos!) por ele.
    São alguns que foram a Curitiba visitar quando ele estava em ilegal cana. Pequena mídia alternativa e quase nada mais.
    E muitíssimos contra.
    Milicos chefes. Pastores de evanjegues. PIG inteirinho, Justiça de amigos dos ricos. Cambada de congressistas que só pensa em ROLEX. Classe mérdia sapatênis que se arrisca a perder tudo para manter o HB20 comprado em trocentas prestações. Uma pequeníssima classe de ricos que aspira ficar ainda mais rica e que nada tem a perder.
    Sobra para o Lula apenas o maior exército da Pátria, o dos pobres que distraidos não percebem as tenebrosas transações.
    Ao fim isso vai acabar com trocas de tiros. Inez será a primeira a morrer.
    Logo após findará a Pátria.

  8. Excerto do capítulo ‘A clivagem’, do livro A Psicologia de Massas do Fascismo, Wilhelm Reich, 1933

    Nos meses que se seguiram à tomada do poder pelo nacional-socialismo na Alemanha, aqueles que durante anos tinham dado provas da sua firmeza revolucionária e do seu espírito de sacrifício, na defesa da liberdade, duvidaram da validade da concepção básica de Marx sobre os processos sociais. Essas dúvidas resultaram de um fato, a princípio incompreensível, mas que não podia ser negado: o fascismo, que é, na sua própria natureza e objetivos, o representante máximo da reação política e econômica, tornara-se um fenômeno internacional e, em muitos países, sobrepunha-se inegavelmente ao movimento socialista revolucionário. O fato de este fenômeno se
    manifestar com mais força nos países altamente industrializados só contribuía para
    agravar o problema. Ao reforço internacional do nacionalismo contrapunha-se o fracasso
    do movimento dos trabalhadores, numa fase da história moderna em que, segundo os
    marxistas, “o modo de produção capitalista estava economicamente maduro para explodir” … Em sessões que se fizeram na Alemanha por volta de 1930, certos revolucionários inteligentes e bem intencionados, se bem que de mentalidade nacionalista e mística, como, por exemplo, Otto Strasser, costumavam fazer objeções aos marxistas nos seguintes termos: “Vocês, marxistas, costumam citar as teorias de Marx, em defesa própria. Ora, Marx ensinou que a teoria só se confirma através da prática, mas o marxismo de vocês provou ser um fracasso. Vocês sempre arranjam explicações para as derrotas da Internacional dos Trabalhadores. A ‘defecção da socialdemocracia’ foi a sua explicação para a derrota de 1914; e o fracasso de 1918 deve-se aos ‘políticos traiçoeiros’ e às ilusões deles. E, novamente, vocês têm ‘explicações’ prontas para o fato de, na presente crise mundial, as massas estarem se voltando para a direita e não para a esquerda. Mas suas explicações não invalidam suas derrotas! Passados oitenta anos, onde se encontra a confirmação prática da teoria da revolução social? Seu erro básico é que vocês rejeitam ou ridicularizam a alma e a mente e não compreendem que estas movem tudo”. Assim argumentavam, e os oradores marxistas não sabiam responder a tais questões. Tornava-se cada vez mais claro que a sua propaganda política de massas, lidando exclusivamente com a discussão de processos socioeconômicos objetivos numa época de crise (modo de produção capitalista, anarquia econômica, etc.), nunca alcançaria mais do que uma minoria, já pertencente às fileiras da esquerda. Chamar a atenção para as necessidades materiais, para a fome, não era suficiente, pois todos os partidos, e„ a própria Igreja, faziam o mesmo; e, finalmente, o misticismo do nacional-socialismo prevaleceu sobre a teoria econômica do socialismo, no período mais agudo de crise econômica e de miséria. Era preciso reconhecer a existência de uma grave omissão na propaganda e em toda a teoria do socialismo e que, além disso, essa omissão era responsável pelos seus “erros políticos”. Era um erro de compreensão marxista da realidade política; embora todos os pré-requisitos para a sua correção estivessem contidos nos métodos do materialismo dialético, eles simplesmente nunca foram levados em conta. Resumindo, os marxistas não consideraram, na sua prática política, a estrutura… do caráter das massas e o efeito social do misticismo.

  9. Continua Reich: O materialismo dialético não foi usado para compreender as novas realidades históricas, e o fascismo era um fenômeno que Marx e Engels não conheceram e que Lenin só vislumbrou nos seus princípios. A concepção reacionária da realidade não leva em conta as contradições do fascismo e a sua condição atual; a política reacionária serve-se automaticamente daquelas forças sociais que se opõem ao progresso; e pode fazê-lo com êxito apenas enquanto a ciência negligenciar aquelas forças revolucionárias que devem superar as reacionárias. Como veremos adiante, emergiram da rebelião da classe média baixa não só forças sociais retrógradas, mas também outras, de tendência claramente progressista, que vieram a constituir a base de massa do fascismo; esta contradição não foi levada em conta, e, também, não se levou em conta o papel das classes médias baixas até pouco tempo antes da subida de Hitler ao poder.
    Quando as contradições de cada novo processo forem compreendidas, a prática revolucionária surgirá em cada setor da existência humana e consistirá numa identificação com aquelas forças que estão se movimentando na direção do verdadeiro progresso. Ser radical é, segundo Marx, “ir à raiz das coisas”. Quando se agarra as coisas pela raiz, e se compreende o seu processo contraditório, então é certa a vitória sobre a política reacionária. Caso contrário, cai-se inevitavelmente no mecanicismo, no economicismo ou até na metafísica, e então a derrota é igualmente certa. Deste modo, a critica só tem sentido e valor prático se consegue mostrar onde as contradições da realidade social não foram levadas em conta. O que era revolucionário em Marx não era o fato de ter escrito exortações ou ter apontado objetivos revolucionários, mas sim de ter reconhecido nas forças industriais produtivas a principal força impulsionadora da
    sociedade e de ter descrito fielmente as contradições da economia capitalista. O fracasso
    do movimento dos trabalhadores significa que ainda não são totalmente conhecidas as forças que atrasam o progresso social e, de fato, que muitos outros fatores importantes ainda são desconhecidos.

    1. Me permita:

      O materialismo histórico foi criado para compreender QUALQUER realidade, ainda que os seus elaboradores, por óbvio, não conhecessem o futuro.

      Não é isso que se cobra do materialismo histórico, e nem poderia ser cobrado, a não ser pelos néscios ou cínicos.

      Os néscios, porque o são, e tudo mais se explica, já o cínicos sabem que é a alma dialética que impulsiona o pensamento materialista histórico, e não os determinismos e más interpretações, que são destacadas, justamente, para invalidar essa ferramenta poderosa, quando bem utilizada.

      Apesar de entender seu raciocínio, e respeitá-lo, o fato é que a conjuntura histórica capitalista, quando Marx e Engels nos deram esse legado intelectual, era muito mais autoritária, ou tão autoritária quanto agora, mas que se diferem nos instrumentos de coerção.

      O massacre da Comuna de Paris, o sufocamento das revoltas de 1848, por exemplo, se deram em contextos de uso autoritário do Estado-policial-militar (os franceses permitiram até a invasão prussiana para conter seus revoltosos, mostrando o apetite internacional do capital) que foram sustentados por apoio da sociedade da época, pelo menos, uma parte dela, alimentada pelos mesmos jargões ideológicos de hoje, mas que, sabemos, são veiculados em plataformas diferentes, em esquemas de negócios distintos.

      No entanto, entender essas diferenças não nos servirá de nada, se não compreendermos também as semelhanças na História (não repetição, claro), ou seja, o capital manipula as forças que o reproduzem dentro do aparato político do Estado e das instituições políticas não-estatais, e para tanto, utiliza a comunicação, a escola, as igrejas, etc.

      O que mudou hoje é o próprio capitalismo, que chega ao seu fim.

      Como estamos, ou estávamos acostumados com a luta política dentro dessas “normas” (jogo) capitalista de representação e disputa hegemônica do aparato de Estado (embora nunca fôssemos conseguir tal hegemonia, não nas regras capitalistas, mas não podíamos nos isentar dessa luta, claro), o fato de haver um brutal deslocamento do eixo econômico e político nessa transição que se anuncia, faz com que a esquerda fique tonta…

      Mais ou menos, por exemplo, quando explodiram a 1ª e 2ª Guerras Mundiais.

      Boa parte do esforço social democrata e socialista alemão, por exemplo, ficou sem saber como agir: apoiava a guerra nacionalista e imperialista ou desfraldava a bandeira internacionalista, sob pena de acusação de traição?

      É essa nossa permanente questão, porque nós só sabemos pensar dentro da caixinha ideológica proposta pela capital, meu caro.

      Veja, toda essa boa gente aqui, Nassif, você e tantos outros, acham que existe uma democracia a ser salva no capitalismo periférico que nos encontramos.

      Que existem, por exemplo, valores universais que devem ser respeitados.

      hehehehe…é uma pena, mas não há…

      Só a violência política resolve o problema da direita.

      Mas falar isso é uma heresia que ameaça até a publicação desse comentário, embora a direita não tenha nenhum problema em dizer isso em alto e bom som…

      “Ahhhh, mas somos diferentes”…

      Sim, somos, porque eu acredito que o uso da violência e ruptura política para aumentar dos direitos dos pobres (nós), e subtrair dos ricos o privilégio de viver às nossas custas é diferente do uso feito por eles para manter esse estado de coisas.

      Mas…enfim…

      1. SONETO 321 ESQUERDISTA (Glauco Mattoso)

        Enquanto os verdadeiros esquerdistas

        apelam pra guerrilha e pro terror,

        os intelectuais se dão valor

        apenas porque pensam nas conquistas.

        Cantores, professores, jornalistas,

        o ator, o padre, o músico, o doutor

        na feira das vaidades dão à cor

        vermelha vários tons, marchands marxistas.

        Prestígio tem aquele que se diz

        das causas populares paladino.

        Na prática, o guru se contradiz.

        Anel, carro importado, vinho fino.

        Ao cheiro do povão torce o nariz,

        mas brinda ao seu Guevara, ao seu Sandino.

  10. Gostei !!!!

    Também fiz um comentário, mas ainda não apareceu :

    Eu evito tocar o nome do Bolsonaro ou do Lula , pois o efeito é tiro no pé. Prefiro abordar os problemas e as soluções para quem ler , concluir por si , e não achar que está sendo guiado ou influenciado .
    Na Economia , ataco a teoria econômica do “liberalismo”, que acredita na “mão invisível do Mercado autorregulador” e defendo Teoria econômica Keynesiana , que adota a lógica da importância do Estado construção de uma economia desenvolvimentista , como Keynes provou no reerguimento dos países no pós-guerra.
    Também associo o “Liberalismo Econômico” diretamente às gravíssimas crises econômicas provocadas na Ásia por George Soros, da Open Society Foundation, e da crise do Subprime de 2008 em que no final , Allan Greenspan, então presidente do Fed por duas décadas, admitiu que estava errado em acreditar na “mão invisível do Mercado”.
    Assim como a desestatização e privatizações do governo Tatcher se mostraram um fiasco e as empresas têm sido reestatizadas .
    Por outro lado vemos além do sucesso da aplicação do keynesianismo nas economias do pós-guerra , também o progresso da economia chinesa , e a aplicação nos próprios EUA com o governo lançando pacotes enormes de créditos e subsídios nos seus projetos de desenvolvimento.
    Conclusão: façam o que eu ,FMI , digo , não façam o que eu faço .

    As pessoas também perguntam
    O que diz a teoria de Pavlov?
    O condicionamento clássico, também chamado de condicionamento de Pavlov, diz respeito às relações entre estímulos e resposta. Ele serve para explicar o comportamento involuntário e as reações emocionais condicionadas. Segundo Pavlov, o condicionamento é um processo básico da aprendizagem.

    Pois é : as mídias todas atraem a atenção para personagens conhecidos por estarem sempre em evidência,  seja para o bem  ou para o mal .

    A menção massiva e ininterrupta de personagens e a que eles estão ligados , através de propagandas , acabam por condicionar as mentes de quem assiste , a ter reações imediatas e quase permanentes , difíceis de apagar .

  11. Talvez não tenha entendido corretamente comentários sobre a teoria e prática do encontro da Sociologia e Economia, a construção da sociedade e o exposto no texto-base.
    Nassif foi explícito sobre “como tocar a gestão do governo federal em programas que levem ao desenvolvimento nacional”.
    Vejo Lula como centrista, cansado de lutar e sem pique para gerir grandes movimentos.
    Difícil sair do seu labirinto: lidar com um Congresso adverso recheado de nulidades e comandar uma transformação no modo de condução do governo é para poucos.
    Só um nome fora da política e sem aspirações a tal.
    Existe mas onde está ?

  12. Recado muito bom e muito bem dado, Nassif! Também gostei e achei muito pertinentes quase todos os 18 comentários anteriores.

  13. Acho muito difícil vc governar com um Congresso como este, e com um Roberto Campos fazendo de tufo para atrapalhar as ações do Governo.
    Assim que ele sair teremos pelo menos um Fator a favor qye será o destrave da Economia que com as Ações do Governo o país terá Crescimento com certeza. Como governar com juris reais absurdo como este. Vc não tem como fazer a Economia girar. Fico até admirado que está tendo algum crescimento nanico. Em relação ao Congresso acho que daqui a um ano o Governo tem que acelerar⁹ as investigações contra Boa parte deste Políticos oposicionistas. E aí veremos como ficará o Congresso em suas decisões.

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