Mire-se no exemplo de JK e entenda a importância de sonhar, por Luís Nassif

Com inflação e tudo, JK saiu do governo como amplo favorito às eleições de 1965. Foi preciso um golpe para tirar dele a presidência.

O maior ativo brasileiro são as organizações com capilaridade nacional. As Conferências Nacionais, a estrutura do Sesi, Sebrae, o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios, cooperativismo.

Com essa matéria-prima, um presidente ousado poderia recriar o sentimento de futuro, que falta ao país.

Franklin Delano Roosevelt comandou a grande batalha norte-americana contra a financeirização e individualismo exacerbado dos banqueiros e grandes grupos, manobrando o discurso da solidariedade, da união nacional.

Valeu-se das artes, da música e, especialmente, do cinema, através de filmes de Frank Capra, em que os heróis eram os empreendedores sociais, aqueles capazes de unir grupos em torno de um objetivo comum.

Recentemente, o Instituto Roosevelt constatou que a única maneira de salvar a democracia seria o seu aprofundamento. Foi buscar experiências em todo mundo e concluiu que a experiência mais bem sucedida era do federalismo brasileiro, com as Conferências municipais, estaduais e federais, os conselhos de participação. Não apenas isso. Apesar de um período intenso de ditadura no país – a escancarada, de 1964 a 1988 e a disfarçada, de 2016 a 2022 – o país logrou criar uma fantástica estrutura de movimentos sociais.

Mas falta o sonho de futuro.

Juscelino Kubitschek conseguiu criar esse sonho de futuro com obras audaciosas, como a própria Brasília e um sentimento grandioso. Dizia-me o embaixador Walther Moreira Salles que JK era irresponsável em relação ao orçamento, à dívida externa. Mas admitia – ele, Walther – que toda empresa brasileira, da pequena à grande, tinha seu plano de metas – uma visão de futuro.

Falta ao governo Lula essa capacidade de construir o futuro, de incluir o futuro no imaginário nacional. O presidente imagina que, se repetir o período 2008-2010, sairá consagrado. Na época, o que ele fez foi entrega de obras do PAC, universidades, bolsa família.

Não se deu conta de que os tempos são outros, que não haverá o boom dos commodities que lhe garantiu recursos abundantes para contentar todos os setores e ainda reservar uma parcela para políticas sociais.

Mais que isso, o futuro digital já chegou e as políticas de governo continuam as mesmas de 20 anos atrás. Hoje em dia, um aventureiro como Pablo Marçal, consegue apresentar uma visão de futuro simplesmente copiando roteiros de filmes de ficção, prometendo resolver o problema do transporte urbano com teleféricos, montar um Uber da prefeitura e vender para fazer caixa.

É um aventureiro que não se preocupa em avaliar custos e viabilidades de seus projetos. Interessa apenas criar a fantasia de um futuro que chegará. Mas seu discurso cala na alma popular.

O governo federal está absolutamente refratário a qualquer iniciativa que saia dos padrões de falta de criatividade de Rui Costa, Ministro-Chefe da Casa Civil. Há um mundo novo pulsando nos movimentos sociais, uma ansiedade de iniciativas que promovam a solidariedade, a soma de esforços de pequenos. E já há um mapeamento amplo de todos os movimentos, conferências e conselhos espalhados por todo o país.

Mas o presidente fica preso às entregas físicas, obras, mesmo sem dispor de orçamento até para a manutenção das escolas e universidades federais.

Como Lula é um político experiente, mais cedo ou mais tarde acordará para a verdadeira magia do período 2008-2010: a profusão de conferências nacionais, de conselhos que ajudaram no grande pacto contra a crise mundial.

Espera-se apenas que não acorde muito tardiamente. É a incapacidade de sonhar que faz com que o governo, mesmo com a melhora de todos os indicadores, não consiga superar a sensação de mal estar da opinião pública.

Com inflação e tudo, JK saiu do governo como amplo favorito às eleições de 1965. Foi preciso um golpe para tirar dele a presidência.

De um observador da cena brasileira

Estamos assistindo um ato de grande covardia nacional. O atrito que a chamada Imprensa Sadia tipifica como Moraes x Musk é na realidade um conflito entre Musk e a Legislação Brasileira em relação a qual ele se julga superior pelo poder de seu dinheiro. Mas Folha, Estado e Globo, só veem o falso conflito Musk Xandao…

5 Comentários

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  1. O maior ativo, me perdoe, são as pessoas, não instituições.

    É preciso cuidar das pessoas.

    JK cuidou de sua imagem, ótimo.

    Mas e as pessoas?

    A quantas estava a educação dos pobres, a saúde, enfim, como 9 Estado cuidava dos que mais precisavam?

    Creio que do mesmo jeito que hoje.

    Roosevelt?

    Bem, além de usar mão de obra escrava (presos) nas obras de infraestrutura, surfou na onda da destruição criativa do capitalismo, com a guerra.

    Sem o sacrifício de milhões na Europa, os EUA não teriam se levantado tão rápido.

    60 milhões de mortos, e por ironias, a maioria das URSS.

    Nassif, eu entendo esse seu fetiche por uma “elite ilustrada”, isso faz parte de um imaginário construído ideologicamente, que nem pessoas com sua capacidade escaparam.

    Bem, olhando assim, pergunto:

    Será que nessa ilusão não está a explicação de outras ilusões piores, como Marçal?

    Vá saber.

    Não são JK e Roosevelt, amigo, é a história….

  2. Globo, Folha, Estadão… a mídia brasileira, todas as modalidades, salvo raras exceções, sempre foi porta-voz do sistema financeiro anglo-americano. Sempre. Se ela manobrou com menos virulência contra Lula, em 2022, é porque a banca temeu pegar um super Maduro, leia-se Bolsonaro, pela frente. E à banca interessa governo fraquinho. Manipulável facilmente, seja de esquerda ou direita.
    Sobre Rui Costa… sempre o achei meio planilhista. E na função dele, ao menos visualmente, não dá para ir muito além do feijão com arroz.
    Eu ainda acredito no tirocínio do filho de D. Lindu.
    Capilaridade: perfeito.

  3. Algo que está faltando ao País é justamente o desejo de superação, de acreditar que o Brasil pode ser condutor do seu desenvolvimento. Um objetivo a ser buscado. Essa ausência, determina a falta de continuidade em relação ao que de positivo o País consegue traçar. Sempre a coisa para no meio do caminho. Por falta de objetivos que sejam comuns ao País. Todas essas conferências trouxeram, provavelmente, respostas sobre várias temáticas relacionadas a cada uma delas. Como foram utilizadas. São todas relacionadas ao Brasil e à sociedade brasileira. Tinham por objetivos melhorar as condições do País, sem dar talvez nenhuma receita pronta, mas aguçar a criatividade na busca de encontrar essas receitas. A economia do País viveu quase estagnada , e do ponto de vista competitivo, pouco ou nada evoluiu. Construir o presente olhando o futuro.

  4. Problema é que os pretos estavam nos seus devidos “lugares de cala a boca” então e JK era um médico de tradicional família amineirada distribuindo oportunidades. O Lula distribuiu com competência o boom, mas era o boom e não o nordestino pobre, portanto enxergado, visto e tido, é o “racismo de marca” (Oracy Nogueira), como preto. Agora o fragilizado mote nacional da pátria: povo e língua e território, está sofrendo ataque severo, principalmente no modo “tocar o ….-..”. Vira-latas, na versão pet, estão espumando e chutando, vide os “patriotas”, o balde. Até tal terremoto passar e as estruturas, placas étnicas, se acomodarem, o acossamento continuará… Vai passar, nem que seja por exaustão.

  5. Baita a artigo

    https://jornalggn.com.br/coluna-economica/mire-se-no-exemplo-de-jk-e-entenda-a-importancia-de-sonhar-por-luis-nassif/

    Mas é bom lembrar que antes dele teve ( JK) teve Getulio..

    Na opinião Francisco de Oliveira, Getulio quem fez e criou as grandes transformações do Brasil.. “O grande político da história do Brasil chama-se Getúlio Vargas. O que temos hoje é o que o Getúlio implantou”

    Antonio Cesar Perin

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