Nasce Bolsonaro, o pai dos pobres, por Luis Nassif

O início da recuperação da economia, tímida, permite a Bolsonaro reforçar seu discurso de que estava certo colocando a economia como objetivo central. Há dificuldades evidentes da mídia de divulgar a narrativa correta

Como previmos há semanas, a lógica política iria devorar Paulo Guedes. Era apenas questão de tempo.

Tinha-se uma situação inexorável.

De um lado, Jair Bolsonaro e seus militares da reserva sitiados, depois da tentativa fracassada de cercar o Supremo Tribunal Federal. Depois, os arroubos presidenciais corroendo cada vez mais sua popularidade. Finalmente, o inquérito das fake news e as investigações sobre as rachadinhas praticadas por seus filhos, expondo-os a prisão. E um único ponto de apoio: a renda emergencial melhorando seus indicadores de popularidade, mesmo sabendo-se de sua responsabilidade na expansão do Covid-19.

Em abril, um grupo mais racional, dentro do governo, já sabia que a saída para a crise econômica seria reativar as obras públicas e manter a renda básica. Há um viés primário da mídia, de tratar como populismo toda medida politicamente popular. Populismo, na expressão clássica, é adotar uma série de medidas fiscais irracionais, e benesses sem lógica econômica ou social, visando ganhar popularidade. No quadro atual, de crise social e econômica, a renda básica e os gastos públicos são essenciais não apenas para a retomada do emprego, como da economia. Não há irracionalidade nesse tipo de medida, que vem sendo adotada por diversas economias mundiais.

A teimosia de Guedes se deve, em parte, a seu pensamento plano, sem nuances, incapaz de visão mais complexa da economia, de análise da realidade econômica, limitando-se a ficar em relações de causalidade mecânicas, previstas na teoria ortodoxa. Mas em parte, também, a sua prepotência de não abrir mão do poder que ganhou. E seu “abre-te Sésamo” é a Lei do Teto e a ortodoxia suicida.

Blefou algumas vezes, valendo-se dos argumentos “ad terrorem” – tipo, se desrespeitar a Lei do Teto o investimento externo desaparece e o país será destruído, e outras baboseiras do gênero. Conseguiu blefar uma, duas, três vezes. Mas foi derrotado pela realidade, quando começou a se vangloriar das medidas de renda básica e apoio às empresas (dinheiro que sequer chegou ao destino). E aí ensinou a Bolsonaro o samba de duas notas só. Ele passou a repetir que o país se saiu magistralmente bem graças aos gastos públicos do período. Logo, qual o problema de seguir com essa política?

Esses dois fatores – sobrevivência política e endosso econômicos aos gastos – romperam com o dogmatismo atrás do qual Guedes se escudava.

Ontem nasceu oficialmente o novo Bolsonaro, o “pai dos pobres” ao anunciar publicamente que não aceitaria a proposta de Guedes, de eliminar programas sociais para viabilizar a renda básica.

Não se fica nisso.

O destravamento dos investimentos, a desregulação e a privatização abrem um amplo espaço de barganha para o acordo político com o centrão. Esse jogo aumenta a importância das agências reguladoras – tipo CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), ANP (Agência Nacional do Petróleo), ampliando a oferta de cargos estratégicos.

Além disso, o início da recuperação da economia, tímida, permite a Bolsonaro reforçar seu discurso de que estava certo colocando a economia como objetivo central. Há dificuldades evidentes da mídia de divulgar a narrativa correta, de que os boicotes de Bolsonaro atrasaram fundamentalmente o fim da pandemia e o início da recuperação.

O mercado irá reagir negativamente nos primeiros dias. Mas só nos primeiros dias. Os acepipes da privatização e da desregulação criarão ótimas oportunidades de negócio no curto prazo. E, para o mercado, interessa resultados.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. O que faremos para romper com o financismo, se suas raízes não são no Brasil e de fato não são em país nenhum, são transnacionais ligadas a redes de paraísos fiscais para realizar a captura financeira mundial? Qual partido ou politico, de esquerda ou direita, tem a capacidade pra tirar o Brasil do status de entreporto de levagem de dinheiro, tráfego de humanos e subserviência transnacional rompendo com esses laços? Me parece que nenhuma proposta de esquerda ou direita refletem nem o desejo nem o conhecimento dos requerimentos para se romper desses grilhões ideológicos. Seria medo legitimo de tentar romper e acordar com um porta avisoes norte americano ou ingles em nossas praias? Sem esse rompimento me parece estamos fadados a alternância de esperança e desespero, sem nunca tocar terra firme de liberdade, igualdade e ordem.

  2. Não é pai dos pobres. É país dos pobres.
    O sujeito que ocupa a presidência da República está longe,muito longe,de qualquer paternidade que beneficie os pobres.
    A narrativa midiática que finge criticá-lo,tem dois objetivos:
    1- Fazer parecer que o critica mas,ao mesmo tempo ,dá forte publicidade a essa ação mantendo assim a mídia golpista como detentora da “racionalidade e modernidade” econômica, tentando manter controle sobre parte da zumbizada que ainda acredita nisso.
    2- Ao fingir atacar tais medidas,sempre o faz em comparação com as ações dos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma, fazendo parecer que o sujeito tem a mesma plataforma política dos antecessores e,com isso,procura aniquilar de vez as chances da retomada democrática do poder pelos partidos de esquerda.
    Nesse sentido,é preciso muito cuidado ao citar este sujeito como populista e pai dos pobres.
    As propostas dele são todas em sentido contrário a isso.
    Enquanto nos governos populares o bolsa família era uma porta de entrada a cidadania,a proposta que vislumbra o golpista II é de escravização e manipulação deste segmento de forma a mantê-lo sempre amarrado sem uma porta de saída. Uma verdadeira armadilha que,junto com a extinção de outros programas sociais,garante a pobreza do país.
    Outro programa que a mídia tenta tratar como se fosse uma mera troca de nome,visando a confundir grande parte da população, é o fim do Minha Casa Minha Vida,substituindo por um programa que simplesmente ELIMINA quaisquer possibilidade do pobre ter sua casa já que não prevê nenhum subsídio a quem não dispõe de renda mínima .
    Enfim,é o país dos pobres.
    Pobres e esquecidos.

  3. É pai e mãe dos canalhas, cínicos, vendilhões, desgraçados, hipócritas, larápios, preconceituosos, imbecis, cães raivosos, fdp de toda ordem, e das misérias do povo brasileiro….

  4. “Populismo” vem de James Madison, um dos “fundadores” dos EEUU. A ideia basica era de que a vontade da maioria nao poderia atropelar as liberdades básicas da minoria. Não é difícil de entender: uma maioria de cristãos, por exemplo, nao pode decidir “acabar com a raça” de candomblecistas e umbandistas (o exemplo é do nosso dia a dia).

    Quando os americanistas Hollywood e Disneylandia reduzem tudo aa preservação do valor dos ativos financeiros, fica bem claro o que eles consideram “liberdade”.

    A ala militar já está se dando conta. Até o boçalnaro 00 já viu. Os minions da classe média (e demais) não vão enxergar nunca.

    Os pequenos e até os médios empresários, coitados…

    Todos vão se tornar cada vez mais perigosos.

    Quem viver, verá.

  5. Como já vi gente que tinha salário de 1500 dizendo que passou a viver melhor com 600,
    dizer mais o quê?

    apenas que hoje batem cabeça por aí à procura de emprego com carteira assinada, mas só para ter direito ao plano da saúde da empresa ou do escritório, nem aí para o salário

    Grande problema do pobre brasileiro, justificável pela burrice, só pode, é ele achar que se deu bem ao perder 2000 e passar a ganhar 600 sem precisar trabalhar. Reduza para 300 e ele vai continuar pulando de alegria

  6. Ou Bolsonaro derruba o DEM e Guedes ou eles derrubam Bolsonaro.
    Talvez grande parte dos chamados “progressistas” nem se deram a mínima conta, porém os principais inimigos de Bolsonaro são os neoliberais do DEM e o seu ministro o Paulo Guedes, e que um projeto de “reconstrução nacional” que exclui os trabalhadores pode ser levado por um governo de inspiração no fascismo italiano.

    Conforme escrevi a algum tempo no artigo intitulado “A política econômica do fascismo italiano” (https://jornalggn.com.br/artigos/a-politica-economica-do-fascismo-italiano/) o fascismo italiano passa por três fases distintas, uma primeira liberal, uma segunda protecionista e uma terceira de economia de guerra, que é uma agudização da segunda fase.

    Qual a importância disso? Simplesmente em mostrar que governos autoritários, SEMPRE precisam de uma base social ampla e relativamente popular para se manter. Esta característica se manteve também no Nazismo não se repetindo totalmente em países fascistas de economia mais atrasada como Portugal.
    Para que Bolsonaro se mantenha no poder ele necessariamente tem que romper com a política neoliberal implementada por Guedes e apoiada principalmente pelo DEM. Antes da pandemia chegar forte no Brasil, a popularidade de Bolsonaro vinha despencando, porém com a introdução do auxílio de R$600,00, algo que escapa completamente da política neoliberal, a popularidade voltou a crescer e por Bolsonaro não ter base nenhuma teórica mas é um político instintivo notou que ele estava em rota de colisão com o Impeachment que seria reservado a ele com a popularidade em baixa para o início de 2021, quando a câmara poderia numa eleição indireta impor outro nome neoliberal sem a mínima popularidade, mas se conservaria como Temer no poder continuando com a política de Guedes.

    Voltando à politica econômica fascista italiana, da mesma forma que não existiu nunca uma política fascista italiana clara nesse ramo, Mussolini quando viu que a política desenvolvida pelo ministro Alberto De Stefani estava fazendo o fascismo perder o apoio dos industriais italianos e de seus camisas negras, ele dá uma volta de 180 graus e passa para uma política intervencionista e estatal.

    O caminho do governo Bolsonaro se vê na mesma encruzilhada que o Mussolini teve que resolver em 1926, tendo inclusive os mesmos sintomas que o atual governo sofre, a perda de apoio de parte dos industriais que não tem a fonte principal de recursos os ganhos financeiros. Com a política liberal a lira se desvaloriza muito, que até certo ponto beneficia as exportações, entretanto devido ao aumento do custo das importações e com a concorrência dos produtos importados as grandes empresas começam a entrar em falência devido a sua perda de lucratividade.

    Para vencer isso Mussolini troca de ministro da economia, colocando um industrial no seu lugar, que aumenta os impostos em produtos primários para transferir renda para a indústria e ao mesmo tempo começa uma tentativa de aumentar a produção de trigo, iniciando a “Batalha do Trigo”.
    Várias intervenções são feitas no mercado, criando-se o Istituto per la Reconstruzione Industriale (IRI) que além de dar empréstimos as empresas com juros subsidiados, começa a absorver as empresas que falissem.

    Em resumo, Mussolini antes de chegar ao poder faz um discurso intervencionista, logo quando chega se alia ao liberais e começa a perder poder político, como perde apoio do empresariado ele gira a política num tipo de política desenvolvimentista, que o mantém no poder até 1936 onde começa uma fase de economia de guerra, a chamada fase autárquica que dura de 1936 até sua queda em 1943.

    Como no caso do Brasil, apesar do país ter uma economia mais importante do que a italiana em 1922, Bolsonaro começa seu governo na mesma direção do que Mussolini e começa a perder poder devido a política liberal, o seu necessário giro teria como seu principal opositor os neoliberais do DEM e do PSDB, como na Itália já durante a primeira virada da economia, Mussolini havia conseguido com a reforma das eleições uma maioria parlamentar, não havia uma oposição que o impedisse a mudança de direção, mas no caso brasileiro para Bolsonaro fazer o que está sendo chamado de uma linha populista ele precisará derrubar os liberais do poder sobre a câmara e senado, ou seja, ele terá até o fim do ano para fazer algo.

  7. Não levo mais a sério meu País q é o país da hipocrisia,é Moro herói do Brasil pra cá,Guedes salvador da pátria pra lá,as Instituições funcionam,militares e Bolsonaro nacionalistas(entregam td),imprensa q diz q luta pela democracia,td ficção,só aparência,pelo jeito quem presta aqui no Brasil é só eu !
    Obs:Melhor eu não escrever esta outra observação!

  8. Esta pedra já foi cantada aqui, lá no início da discussão “distanciamento horizontal x vertical”:
    Para Bo-ensaboado-naro, a menos de suas ligações Queiro-milicianas, “está tranquilo, está favorável”:
    Se a economia for mal ele vomitará: “eu não disse!”
    Se a economia voltar bem*, vomitará: “Isaaí, xaxumigu keu matu nus pêtchu! (® Fux)
    A campanha para 2022 começou em 2018, e contando…
    Pra quem pensa “deixar rolar”, que passa logo, um tal de “Adolfo” entrou pra política em 1919, tornou-se líder em 1921, tentou um golpe em 23, enrolou e tramou, mesmo sendo ridicularizado, até 1933 e só começou a cair em torno da 1942/43, lá em Stalingrado.
    Em 1945 não havia Emas (havia uma Eva) nem cloroquina (havia morfina) no bunker.
    Só cianureto…
    Um pouco acima, muito mais que na 1a. guerra, só uma Alemanha arrasada.

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