Controladores das Americanas se livram do golpe da década, por Luís Nassif

A intervenção na empresa foi tocada por escritórios de advocacia que dominam o mercado do Rio de Janeiro – e ligados a magistrados influentes.

Reprodução

O inquérito sobre o golpe das Americanas é uma das maiores fraudes corporativas das últimas décadas.

A intervenção na empresa foi tocada por escritórios de advocacia que dominam o mercado do Rio de Janeiro – e ligados a magistrados influentes.

Era de conhecimento amplo do mercado que os executivos das Americanas não davam um passo sem consultar o sócio Beto Sicupira.

O ponto central do escândalo era o chamado risco sacado. Nessa operação, o vendedor vai ao banco e saca uma quantia correspondente ao dinheiro da venda às Americanas. E ele, obviamente, fica responsável por quitar o financiamento. É como se o banco comprasse os recebíveis da Americanas. Portanto, ela é responsável pela dívida contratada pelo fornecedor.

O golpe consistiu em inflar essas contas e apresentar contratos falsos para receber a antecipação.

As Americanas não declaram em balanço e, com isso, inflavam os lucros e os dividendos distribuídos.

O argumento central dos principais suspeitos é que a diretoria escondia dos controladores, do Conselho de Administração e das empresas de auditoria as principais informações sobre o golpe. Eles teriam o mesmo grau de informação dos demais acionistas.

Esse álibi foi desmontado muitos anos antes do golpe, especialmente na Teleconferência das Lojas Americanas para reportar os resultados de 2016, com a participação de Murilo Correa, diretor financeiro e de Relações Institucionais das Lojas Americanas e Fabio Abrate, diretor financeiro e de RI da B2W Digital

Como mostrei no artigo “Xadrez das Americanas, o golpe da década sendo desvendado, em uma das assembleias de divulgação do balanço, um analista de mercado observou o descompasso dessa conta. Se um analista percebeu, como iria passar despercebido de três das maiores raposas da história do mercado de capitais brasileiro?

Ontem, foi divulgado que os ex-executivos acusam bancos comerciais de terem escondido do Banco Central as operações de risco sacado. É evidente que não esconderam. Qual a lógica da acusação? Livrar os controladores e comprometer os bancos na operação. Se admitissem que os bancos informaram sobre o risco sacado, cairia o álibi de que a informação foi escondida dos controladores.

O poder de influência da 3G – os controladores – reside nas verbas de publicidade da Ambev, e na influência sobre os tribunais.

Desde 2023, o golpe foi preparado meticulosamente.

Primeiro, houve uma fusão entre as Lojas Americanas e as Americanas S/A. Nessa fusão, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, da 3G, pediram demissão do Conselho de Administração e apenas Beto Sicupira passou a ser “acionistas de referência”).

Como relatei na matéria “Xadrez das evidências do golpe das Americanas”:

“o normal, quando um acionista troca ordinárias por preferenciais, é ganhar algum prêmio pela troca. O 3G foi generoso e abriu mão do ágio.” Sua participação acionária caiu para 29,2% na empresa combinada.

Como relatei na época:

“Ao mesmo tempo, obteve uma liminar, expedida pelo juiz Paulo Estefan, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, impedindo qualquer antecipação de pagamentos aos credores e ainda obrigando o BTG a devolver R$ 1,2 bilhão que já havia recuperado.

Estefan já era alvo de uma investigação pela corregedoria do TJRJ, depois que se descobriu que seu filho era sócio da esposa de um de seus administradores judiciais em uma cantina do Rio de Janeiro. O processo foi trancado pelo ministro Antonio Saldanha Palheiro, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Palheiro é egresso do TJRJ. 

Pelo contrato firmado com as Americanas, o foro correto seria São Paulo. O juiz não apenas aceitou o pedido como indicou para a administração judicial o escritório de advocacia Zveiter, de Sérgio Zveiter, irmão do desembargador e ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Luiz Zveiter, de uma família com larga influência nos tribunais fluminenses e, especialmente, na indústria de recuperação judicial do Rio de Janeiro”.

Em meados de 2022, a 3G chamou o executivo Sérgio Rial para assumir o comando da empresa. Rial passou todo o segundo semestre sem assumir. Assumiu no início de 2023 e alegou que só aí percebeu o golpe. Então, pediu demissão e assumiu a defesa dos sócios da 3G.

18 Comentários

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  1. Nassif, o judiciário olha para o umbigo e para o bolso. Eu, como bom ignorante, não entendo como, ou pq o executivo não propõe mudanças (do legislativo nem sonho).
    Nossos três grandes jornais apresentam diariamente como os tribunais se aproveitam da legislação para promover enriquecimento de juízes e cargos assemelhados. E não é especulação.
    Estarem associados ao poder econômico é mera decorrência.
    E vou repetir: o que tem de acontecer para o blog se manifestar? Ou o foco será exclusivamente a Lava Jato? Acesso a juízes, juristas, procuradores o blog tem.

    1. Evandro, você me desafia a me manifestar em um artigo onde justamente estou me manifestando e criticando o judiciário. Estou criticando o Zveiter, que está me processando O que você quer mais?

      1. Eu sei, mas acredito que não deveria ser pontual. É a estrutura como um todo. Como exemplo: a legalidade de todos os penduricalhos que acrescentam aos vencimentos e ficam fora de tributação; o tempo que demoram para julgar processos (me dispenso de colocar o que estou vivendo).
        Que tal comparar com o que ocorre pelo mundo? Vencimentos por exemplo. Sem esquecer que não são apenas os juízes.

  2. O Sicupira não é sócio majoritário da Light também?
    Veio um lucrão no 4o trimestre, bem anômalo. Fui ver e o lucro foi na parte financeira.

  3. Nassif nada contra bilionários mas veja q fazem mil e uma tramoias sempre concentrando poder e renda,2008 nos euaaa traíra foi assim e apreenderam o modus operandi,Thuamp agora quer repetir a seu modo a estratégia para enricar meia dúzia,aqui no Brasil através do BC tb enricam meia dúzia MUITO MAIS e sem mais obg ggn !!!Obs.INSISTO,Lula não precisa mais de ter dor de cabeça com ESTA ENCRENCA CHAMADA BRASIL deixe q se “comamos”uns aos outros aqui,outrora na pujança dos primeiros governo do Lula a elite viu a prosperidade e resolveu q ela é q ia administrar tudo e dar só um peteleco no pt pra sair fora e deu no q deu e pior num contexto REVOLUCIONÁRIO internacional !!!

  4. E quem pagou a conta dessa ROUBALHEIRA GENERALIZADA foram os acionistas minoritários da empresa. Parabéns pra justiça brasileira que ainda não prendeu esses três bandidos que continuam em pune e ainda permanecem com todo o poder controle das LOJAS AMERICANAS como se nada tivesse acontecido.

  5. Bem, parece não haver dúvidas que o delegado ex chefe de polícia civil do RJ, ex deputado estadual pelo PT, Hélio Luz, na sua famosa entrevista a João Salles, no filme Notícias de Uma Guerra Particular (na entrevista toda, não a editada no filme), estava coberto de razão quando disse:

    Crime organizado no Brasil só o jogo do bicho e o Estado.

    Com as adaptações históricas necessárias, pois a fala é da década de 90, o fato é que nada mudou, ou pior, mudou porque piorou.

    E por aqui a gente lê a ingenuidade do Nassif esperando uma “mudança” no judiciário, se agarrando em solitários exemplos de um ou outro abnegado, que com sua conduta excepcional só confirma a regra.

    O judiciário brasileiro tem que ser extinto, e recriado em outra estrutura totalmente diferente.

    Um juiz na França ganha 3.500, 4.000 euros, vai ao tribunal de transporte coletivo.

    No México os juízes passaram a ser eleitos, e o mundo, ao que me consta, não acabou.

    No Wisconsin, idem.

    Não há judiciário mais corrupto e mais caro, e mais seletivo (a ineficiência é uma forma de seletividade) do que o nosso, ou, para ser justo, talvez estejamos entre os mais corruptos.

    Esse caso da Americanas é um exemplo, mas, infelizmente, é só mais um.

    Há muitos outros, porém, não tão visíveis.

    O STF, “guardião da democracia”(que idiotice, meu Zeus) está desmontando o que restou dos direitos trabalhistas.

    Detonou os aposentados com a revisão da revisão da vida toda.

    Tem firmado jurisprudências que fariam corar Elon Musk, no que diz respeito ao favorecimento dos mais favorecidos.

    É disso que se trata.

    Tomara que esse tipo de matéria faça Nassif acordar.

    Não é possível, por exemplo, que o país que está na m#rda, com juros reais de 10 por cento ou mais, onde o ministro e o presidente do BACEN se juntem para destruírem a economia, salários, e empregos, que passemos semanas discutindo se quem pichou uma estátua mereça 5, 8, ou 15 anos de cadeia.

    Esse debate só teria sentido se TODA, eu repito TODA a cúpula das FFAA estivesse sentada no banco dos réus, pois quem cevou essa corja na frente de quartéis?

    Cadê os financiadores desse pessoal??????

    Ah, qual nada, deixa disso, né Lula?

    Vamos para o Japão vender carne para o latifúndio patrocinar outros golpes, e o que é pior, com dinheiro público, já que exportação está isenta de tributos…

    Governo de bosta.

  6. Evandro, você me desafia a me manifestar em um artigo onde justamente estou me manifestando e criticando o judiciário. Estou criticando o Zveiter, que está me processando O que você quer mais?

  7. Ainda irá rolar muitas águas embaixo dessa ponte, não fo
    ram só pequenos investidores
    que perderam,tem muito tubarão
    também,aguardaremos o grande finale desse golpe.

  8. Ainda irá rolar muitas águas embaixo dessa ponte, não fo
    ram só pequenos investidores
    que perderam,tem muito tubarão
    também,aguardaremos o grande finale,desse golpe.

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