O cartel da Faria Lima é identificado nos EUA, por Luís Nassif

Criou-se essa fábula das tais expectativas racionais: a corrida da boiada é o fator fixo. As variáveis são as explicações para cada jogada.

Robin Brooks é professor sênior do Brookings Institution, principal think tank do Partido Democrata. Anteriormente, foi economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, uma associação global que representa mais de 450 membros de mais de 70 países. E foi também estrategista-chefe de câmbio Goldman Sachs.

No X de hoje, ele traz mais evidências do poder de cartel da Faria Lima. Amparado em gráfico, diz que todo movimento negativo do mercado é sempre liderado pelos próprios residentes no Brasil. “A liderança política do Brasil não importa. Os brasileiros odeiam o Brasil de qualquer maneira”.

Há apenas uma incorreção na sua mensagem: os brasileiros, no caso, são os da comunidade Faria Lima. É mais uma comprovação forte para o Ministério Público de Contas anexar à preparação do processo contra a cartelização do mercado de câmbio no país.

Obviamente não se trata de gostar ou não do país. De um lado, é a comprovação enfática de que esse grupo não partilha do sentimento de Nação. Mas o que está em jogo é a manipulação de mercado, em movimento típico de cartel.

Ou seja, tem-se um modelo de política monetária – ao menos no Brasil – que é manipulada por um cartel. Trata-se de um fato objetivo, que compromete toda a suposta ciência que sustenta essa loucura da taxa real de juros.

A lógica é simples. Os bancos brasileiros e os estrangeiros têm o mesmo nível de conhecimento sobre essa ciência abstrata que manipula conceitos como taxa de juros neutra, PIB potencial etc. A economia não é ciência exata. É do ramo das ciências humanas. Cada país tem suas características econômicas, seu perfil de indexação, sua maior ou menor influência ao câmbio. Mas os cabeças de planilha se valem das mesmas fórmulas para todos os países, os centrais e os periféricos.

Se não houvesse cartelização, tanto os fundos estrangeiros quanto os nacionais teriam movimentos simétricos, de otimismo ou pessimismo, já que os fatos analisados são os mesmos e o padrão de análise é idêntico. Mas, conforme comprova Robin Broks, os movimentos de pessimismo são sempre comandados pelos brasileiros.

Não se trata apenas de um jogo entre vendidos e comprados – isto é, com lucros e prejuízos sendo restritos ao mercado. Essa movimentação visa, fundamentalmente, obrigar o Banco Central e o Tesouro a elevar as taxas de juros. E, com isso, afeta toda a economia, tira dinheiro de quem toma crédito e repassa para quem empresta, derruba a atividade produtiva, prejudica a geração de empregos.

E tudo isso porque é um crime sem risco, sem castigo. De um lado, uma imprensa que vive das falas dos sargentos Quinsan do mercado (para quem não se lembra, era um ajudante de ordens do Golbery, tipo caricato; mas cada declaração sua era atribuída a “fontes do Palácio” pelos setoristas). De outro, a naturalização dessa manobra.

Desde que mercado é mercado, os mais espertos criam movimentos de alta com um corte mais à frente – por exemplo, um anúncio de reforma da Previdência, a perspectiva de uma mudança na política fiscal. Quando o fato ocorre – ou deixa de existir – há uma corrida. Os condutores da boiada já venderam suas ações e a boiada sai correndo atrás do prejuízo.

Por aqui, criou-se essa fábula das tais expectativas racionais. Ou seja, a corrida da boiada é o fator fixo. As variáveis são as explicações para cada jogada. E a brava mídia financeira aceita tudo, com todos os sargentos Quinsan sendo tratados como general Golbery.

Por tudo isso, o tema do momento é como enquadrar esses movimentos de mercado no direito econômico, como formação de cartel, controle artificial de preços.

É hora de abrir a caixa preta do Banco Central, mas com graça e arte para que os terroristas não explodam uma bomba nas expectativas gerais.

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14 Comentários

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  1. “A liderança política do Brasil não importa. Os brasileiros odeiam o Brasil de qualquer maneira”. PERFEITO! Não precisaria dizer mais nada.
    Os “brasileiros”, e não os brasileiros, nos quais me enquadro.
    O ódio serve até de motivação para tratar “a sesmaria”, ou popularmente fazenda, com tal ranço e desprezo. São os colonos perfeitos: extraindo a preço de sangue das costas alheias o necessário para manter a metrópole da vez cada vez mais opulenta. E com direito até a bicidadania.
    Os ricos estão muito distantes de mim, porém, entre 2009 e 2011, VI REMEDIADOS ESPUMANDO DE RAIVA A CADA PONTO QUE O PAÍS SUBIU NO RANKING DAS NAÇÕES. A canalhice que se viu no Maracanã, na Abertura da Copa do Mundo de 2014, não foi só uma manifestação anti-presidente; foi o extravasar contra a possibilidade de o país entrar para o primeiro time. Por isso sempre digo que O BRASIL É UM MILAGRE, com esse tipo de dirigente, salvo exceções, de ponta à ponta.

  2. Para Habermas, esse sentimento de pertença de uma nação se dá à esfera pública que, lê-se: são os espaços de debates. Quem deve fazer o medium, ou meio, entre o mundo da vida e a burocracia do sistema do Estado que é fortemente influenciado pelo Capital, é o Direito. Obviamente isso num sistema avançado de Democracia, pontua, não o que acontece nos países periféricos, onde o judiciário é fortemente influcenciado pela imprensa, que faz parte da esfera pública, mas não a contém, é contida. Nossa imprensa é virulenta para com o Povo Brasileiro, como analisou o Filósofo, Jornalista, Tradutor, Poeta, Desenhista Millôr Fernandes: “A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime”.

    Sobre como se dá a formação das democracias, mas com uma fé no Direito, Habermas diz: “O princípio do discurso e a forma jurídica de relações interativas não são suficientes, por si mesmos, para a fundamentação de qualquer tipo de direito. O princípio do discurso só pode assumir a figura de um princípio da democracia, se estiver interligado com o medium do direito, formando um sistema de direitos que coloca a autonomia pública numa relação de pressuposição recíproca. E, vice-versa, qualquer exercício da autonomia política significa, ao mesmo tempo, uma interpretação e configuração desses direitos, em princípio não-saturados, através de um legislador histórico. Isso vale também para os direitos políticos fundamentais que entram nesse contexto. O princípio segundo o qual todo o poder do Estado emana do povo tem que ser especificado, conforme as circunstâncias, na forma de liberdades de opinião e de informação, de liberdades de reunião e de associação, de liberdades de fé, de consciência e de confissão, de autorizações para a participação em eleições e votações políticas, para a participação em partidos políticos ou movimentos civis, etc.”

    Infelizmente no Brasil o sistema de justiça se sente dissociado de sua população, por ser fortemente influenciado por um cartel de informação antipatriota e defensor do Capital, o que por vezes recai em decisões autoritárias, esvaziadas de um sentido Democrático, arraigadas numa tradição normativa autoritária, o que é defendido por essa mesma imprensa, e isso, também, via concessão do espectro eletromagnético, que é público, mas aceita distorções de notícias e incentivos à barbárie à tv aberta, o que contamina justamente a esfera pública do debate. Para tentar salvar o Direito, digamos assim, dessa influência nefasta, Habermas se aproveita das lições de Dworkin: “A teoria dos direitos, elaborada por Dworkin, pode ser entendida como a tentativa de evitar as falhas das propostas de solução realistas, positivistas e hermenêuticas, bem como de esclarecer, através da adoção de direitos concebidos deontologicamente, como a prática de decisão judicial pode satisfazer simultaneamente às exigências da segurança do direito e da aceitabilidade racional. Contra o realismo, Dworkin sustenta a possibilidade e a necessidade de decisões consistentes ligadas a regras, as quais garantem uma medida suficiente de garantia do direito. Contra o positivismo, ele afirma a possibilidade e a necessidade de decisões “corretas”, cujo conteúdo é legitimado à luz de princípios (e não apenas formalmente, através de procedimentos). No entanto, a referência hermenêutica a uma pré-compreensão determinada por princípios não deve entregar o juiz à história de tradições autoritárias com conteúdo normativo; ao contrário, esse recurso obriga-o a uma apropriação crítica de uma história institucional do direito, na qual razão prática deixou seus vestígios.”

    Nossa “justiça” traiu a Constituinte de 1988 que justamente a salvou das amarras de um executivo hipertropifiado. Extrai-se da notícia MACIEL PROCURA ACORDO PARA MANTER O PRESIDENCILISTA

    “… o partido (PFL-AL) apresentará uma emenda presidencialista, ao projeto do novo texto constitucional, no plenário do Congresso constituinte, dentro da tese do senador Marco Maciel de fortalecer o Legislativo e o Judiciário, transformando-os em poderes equivalentes ao Executivo.”

    1. fabrício, acompanhando o longo trabalho de boaventura santos, final anos 90 (a crítica da razao indolente, contra o desperdicio da experiencia), dá para ver que o direito (e a ciencia) usurpou o pilar da EMANCIPAÇÃO transformando as mediações possiveis na sociedade em pura REGULAÇÃO. aliás, duvidamos que o portugues hoje continuaria a ver novos paradigmas societários possíveis, como sugereiu à época. ademais, eric santner no saboroso texto “a alemanha de schreber” tb.vai na mesma via. abraço. (cadê evandro?). por favor, sr.nassif, publique este.

      1. na verdade o vaticínio é de 1987. os excertos dos textos de Habermas no primeiro comentário que são de 1992, do livro Facticidade e Validade: Contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia (título original em alemão: Faktizität und Geltung)

  3. Leio que:

    “Ata do Copom: BC defende atuação ‘firme’ e ‘vigilante’ para conter a inflação e não afasta ‘eventuais ajustes futuros’ na taxa de juros
    BC avaliou que o cenário se tornou mais ‘desafiador’, com o aumento das projeções de inflação, mesmo em um cenário de taxa de juros mais alta”.

    Para o BC, quando a inflação sobe, a taxa de juros tem igualmente que subir. Inflação e juros altos é melhor para a população, pois inflação e taxa de juros elevados acarretam a redução do consumo, o que causa o desaquecimento da economia, gerando desemprego, o qual, por sua vez, provoca a desvalorização dos salários, inibindo ainda mais a atividade econômica.

  4. Lendo a análise, eu imaginei o Brasil como um animal com um corrente presa no pescoço e amarrada a um poste de ferro (trama do mercado, dos rentistas, dos doleiros,dos golpistas e dos sem pátria). O animal Brasil, até então, é doméstico, saudável, inofensivo e cheio de vitalidade. Mas, estando limitado ao círculo traçado pelo pequeno tamanho da corrente, não pode extravasar a sua vitalidade, não consegue renovar suas forças, não lhe é permitido avançar, evoluir e se desenvolver, com liberdade e com naturalidade. Então, o planejado acontece e ele, Brasil aprisionado, começa a se estressar (direitos não atendido), a perder o humor (gritar, reivindicar), a ficar agressivo (protestar, fazer greve), perder saúde (debilitar, não reagir), adquirir doenças (sangue-sugas, trapaceiros, golpistas, criminosos, traficantes e milícias) e definhar (usar toda aposentadoria para remédios, para um consumo empobrecido e para se enterrar nos consignados dos bandidos).
    É mais ou menos assim, que eu imaginei. Uma força bruta repleta de vitalidade e condicionamento produtivo, que é limitada criminosamente pelos maiores e assaltada e violentada diariamente pelos obedientes rasos e menores.
    Nos camarotes mundanos, das três poderosas autoridades, tudo passa batido e às cegas, graças ao nevoeiro midiático que pulveriza
    omissões, enganações e distrações, do jeito que for e do jeito que der.

  5. Se o tema do momento é como enquadrar esses movimentos de mercado no direito econômico, como formação de cartel, controle artificial de preços, esqueçam. Mantenho minha opinião de que o Brasil não é palco de experimentos, tais como a doutrina do choque, e sim um instrumento para que os especuladores e investidores estrangeiros possam ganhar juros que jamais ganhariam em seus países de origem, vender produtos (como os agrotóxicos) que jamais poderiam vender lá, devido à legislação frouxa ou inexistente, desfrutar de isenções tributárias absolutamente injustificáveis, as benesses do câmbio, etc., etc., etc. E os países centrais não permitirão que o seu Eldorado lhe escape das mãos assim. Toda e qualquer reflexão sobre o destino do Brasil, e seu progresso e desenvolvimento (leia-se industrialização), que não levar em conta esse monitoramento externo e suas consequências, não tem validade. Só a ruptura salva, mas, ao contrário da Índia, da China, e da Rússia, não temos a vontade política de usar nossas assim chamadas vantagens comparativas (se é que ainda existe isso), e nem o poder objetivo (leia-se, força militar) para tanto.

  6. Parabéns Nassif. Você está tocando na ferida. Na camada profunda do controle do mercado sobre o Governo: a manipulação do câmbio. Falta ampliar e aprofundar. Uma sugestão é como se deu a aprovação da livre circulação de capitais, e o fim da exigência de que as empresas entregassem as divisas após operações de comércio exterior, permitindo que moeda estrangeira ficasse em posse das empresas nacionais, sem a anterior necessidade de entregar ao Banco do Brasil para nacionalização dos recursos. Isso retirou poder do governo em controlar o fluxo de moedas, e permitiu livre manipulação do câmbio pelo mercado.

  7. Lendo alguns artigos antigos sobre o plano Real, aprende-se que os ditos economistas sempre trabalharam com indices e tabelas, e perderam a noção da realidade quando finalmente descolaram índices inflacionários de qualquer relação com a economia real. Desde então se fixam em tudo que trabalha com o especulativo, e em algumas frases até diziam que o que atrapalha é a realidade. Em suas fórmulas, PIB e outros dados da realidade tem um peso muito pequeno diante de indices manipuláveis pelo mercado e Banco Central. A tudo isto chamam de ciência economica. E obviamente nisto eles são doutores. Mas em todos os seus trabalhos é impressionante como sempre se preocuparam em trabalhar junto com o mercado, esta entidade que o artigo demonstrar ser muito viva mas não vive aqui no país.

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