No lançamento do programa “pé-de-meia”, Lula acertou em cheio na bandeira civilizatória que precisa ser hasteada. Contra o individualismo exacerbado da ultradireita, a solidariedade, mas não apenas como bons sentimentos. Bons sentimentos separam os civilizados dos selvagens. Mas, para conquistar corações, é preciso saber o que fazer com a solidariedade. Ela pode se transformar em altruísmo ou em ação. E há muito a ganhar em parcerias, em projetos, em planos de ações, desde que devidamente estruturados.
Nos anos 90, depois do pesado período de controle militar sobre a economia, surgiram muitas iniciativas de parcerias produtivas. Pequenas farmácias montaram centrais de compra, para poder enfrentar o poder das grandes redes. Houve a disseminação de arranjos produtivos locais. O cooperativismo cresceu e surgiram movimentos sociais relevantes, como o Movimento dos Sem Terra e dos Sem Teto, torpedos tendo em comum a cooperação visando fortalecer os pequenos. Mas tudo espontâneo, sem estímulo das ações de governo, com exceção do Sebrae e do sistema S.
O discurso de Lula chama a atenção para a relevância da solidariedade. Agora, precisa trazer ideias inovadoras e colocar seu Ministério para criar programas. Hoje em dia, tem-se um Ministério com baixa capacidade de criação e nenhuma de implementação. E há um mundo de possibilidades, se o governo souber utilizar as estruturas nacionais dos bancos públicos, dos Correios, do sistema S, do cooperativismo, da agricultura familiar.
A missão é óbvia: como pensar e ajudar em formas criativas de organização de pequenas empresas. No seu tempo no governo do Maranhão, Flávio Dino criou políticas para estimular os supermercados a adquirirem a produção local. O próprio governo federal estimulou a agricultura familiar com a merenda escolar e as compras para a rede hospitalar.
Mas há muito mais a ser feito.
Nos anos 90, estimulou-se o empreendedorismo no setor público. Houve um programa de qualidade que envolveu o Banco do Brasil de todo o país. As agências eram instadas a competir pela melhoria dos processos internos. Depois, houve um grande evento, em um estádio, onde as melhores iniciativas foram premiadas e, depois, transformadas em novos protocolos de atuação do banco. Tudo isso com torcida organizada das agências favoritas à premiação.
O discurso de solidariedade de Lula comove, mas ainda não leva à ação. Se transformado em objetivo maior de governo, todos os ministérios seriam instados a buscar formas criativas de atuar, como agentes impulsionadores da organização social, seja pela premiação, seja pelo envolvimento direto do chefe-maior – o presidente da República – estimulando as iniciativas.
O que não poderia sair dos institutos federais, das universidades públicas, dos sistemas de inovação? Os 50 anos em 5 seriam conduzidos sob o prisma da gestão inovadora, algo que não afronta o orçamento, não depende de maioria na Câmara. Depende apenas de uma liderança inovadora.
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Os Correios, onde honrosamente foi o meu primeiro emprego, auxiliar e depois carteiro, é a maior ferramenta que o Estado brasileiro tem para colher demandas e disseminar projetos.
Apesar das amputações, desde Collor, é a maior capilaridade do governo. E, apesar de sensível queda na eficiência, é ainda de longe a mais eficiente. (Entreguei carta com postagem DH, depois da mala postal do dia da postagem, com menos de 48 horas de postada num bairro paulistano, em minha cidade, Sergipe; atualmente já paguei boletos com atraso, postado 13 dias antes).
É preciso perder o medo e voltar a sonhar. Obviamente cuidadoso com o serpentário, sempre à espreita para atrapalhar o progresso.