A decisão do vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin, de convocar reunião com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e representantes do Ministério da Saúde e da Justiça para tratar da regulamentação de jogos online e bets, é a primeira iniciativa saudável do governo em relação ao tema.
Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas on-line.
A posição do Ministro da Fazenda Fernando Haddad é a de que “o governo vai enfrentar a “dependência psicológica dos jogos” no país. Ele anunciou que a Fazenda vai bloquear a partir de 1º de outubro as empresas de apostas online que ainda não se regularizaram”. Como o vício não separa cassino oficializado de não oficializado, o Brasil acaba de lançar o cassino com filtro.
É curiosa essa pressão da Faria Lima sobre os gastos públicos. É um carnaval diuturno, estimulado por um jornalismo de quinta categoria, incumbido de espalhar bicho papão para a classe média. E o governo não se vê em condições de enfrentar a Faria Lima, já que tem que administrar o pior Congresso da história.
Fica-se então nesse gradualismo em que, a cada dia, derruba-se mais um princípio norteador da civilização – já que a divisão esquerda-direita não existe mais, mas resiste bravamente a frente civilizatória. É uma queda gradual e diária do país civilizado. Um dia, a antiga frente progressista vota contra saidinhas de preso, na outra, notícias de que o ex-governador Rui Costa foi campeão absoluto do campeopnato macabro de letalidade das PMs estaduais. Essas e outras concessões, somadas, matam qualquer veleidade programática para 2026. Corremos o risco de uma eleição histórica, de atraso contra atraso, onde o slogan preferido será: votem em mim, que sou menos atrasado.
Agora, com a legalização do cassino, finalmente o governo conseguiu juntar o bloco civilizatório, independentemente da cor política: todas as pessoas dotadas de um mínimo de bom senso se indignaram com essa loucura, de legalização do jogo. Foi o momento em que os evangélicos mostraram muito mais bom senso que os burocratas, mesmo porque as bets também vão afetar o valor dos óbulos.
O que se conseguirá com a legalização?
Certamente facilitará a lavagem de dinheiro. Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode. O famoso deputado da CPI dos Anões do Orçamento, que dizia ter vencido dezenas de vezes na Esportiva, mentia, mas dentro da lei: a Esportiva da Caixa é legalizada.
Apesar do Nelson Motta ter declarado que não existe corrupção no jogo, que se trata da atividade mais fiscalizada pela Receita – sabe-se lá, mas desconfia-se sobre o que o levou a essa conclusão -, lavar dinheiro com bet legalizada é simples. A Receita sabe o que entra e o que sai de dinheiro.
Mas suponha um sujeito que queira lavar R$ 20 milhões. Basta acertar com o dono da Bet, que programará o algoritmo para premiá-lo e entregar a ele o prêmio de R$ 15 milhões. O restante é comissão. É atividade de menor risco do que lavar dinheiro em igreja neopentecostal.
Mas, se for acatada a proposta de que as bets serão responsáveis pelo tratamento aos viciados, será uma festa. Veremos, do mesmo modo, milhões de famílias destruídas, lares desfeitos, é verdade, mas os louquinhos pelo jogo. agora, estarão apinhados em hospitais psiquiátricos, bancados pela benevolência das bets. Até poderão fazer publicidade: “os louquinho desse pavilhão são patrocinados pela BetTudoPorDinheiro.
Provavelmente, a terapia será submetê-los a jogos de dama. E a única aposta permitida será em torno do crescimento diário da arrecadação da Receita com o jogo.
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Que tal, de imediato, o Ministério da Saúde repetir a tenebrosa propaganda contra o cigarro, agora feita contra os jogos:
O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: O JOGO VICIA E DESTRÓI SEU DINHEIRO E A SUA MENTE.
Já é um bom caminho, além do enxugar gelo ao sol de meio-dia.
Tire o seu otimismo do caminho, Nassif, que eu quero passar com o meu realismo (e, por que não, com a minha dor). As lideranças evangélicas, a meu ver, não são movidas a bom senso. Elas enxergam nos jogos de azar uma concorrência. Quanto mais dinheiro gasto em apostas, menos dinheiro para o dízimo ou as ofertas. Como as igrejas evangélicas arregimentam seu rebanho no mesmo lugar onde as bets fisgam o seu, ou seja, em bairros pobres (onde eu também moro, ateu e visceralmente avesso a jogos de azar), a reação desses pastores à explosão das bets é expressão de uma necessidade de manter sua fatia do mercado da pobreza que sustenta todo esse parasitismo. Assim como faz a Faria Lima, que vê na suposta gastança pública um inimigo a ser neutralizado. Onde os outros vêem bom senso, eu vejo apenas o interesse próprio. Este é o meu realismo, que outros cantores chamam pessimismo. E esta é a minha dor, a dor de ver esse país caminhando para o ralo, por todas as vias principais e atalhos disponíveis.
Ao menos agora sabemos quanto se gasta com as bets. Antes não era possível saber, as apostas eram registradas no exterior. No país campeão no negócio de venda de notas fiscais, a falta dos cassinos regulamentados não será problema para lavar dinheiro. É preciso combater o mal exigindo transferência de dados das bets para a Fazenda, quem aposta e quem ganha. Se o apostador estiver o bolsa família, o valor será descontado no próximo pagamento e se inicia um processo de exclusão do benefício. As ferramentas de big data são plenamente capazes de identificar abusos.
Se houvesse seriedade, a taxação das bets deveria ser bem alta e parte da arrecadação seria destinada a um setor da Saúde, exclusivo para o tratamento dos “louquinhos das bets”. Ao menos diminuiria o imapacto social, ou estou delirando, mesmo sem apostar?
Enquanto isso o governo, qualquer que seja, faz as contas do que está arrecadando com os impostos sobre o “jogo do lixo” e outras porcarias toleradas.Tudo é aceitável se for tributável.
Se a economia estiver crescendo, os juros devem subir. Se a economia estagnar ou entrar em recessão, os juros devem subir ainda mais.
Não existe cenário em que os juros devem cair. E isso me parece muito esquisito, especialmente porque ao contrário dos caras que defendem juros altos eu não vivo de juros. Se depender deles eu posso até morrer se isso possibitar um aumento dos juros. Todavia, eu ainda não estou convencido de que eles devem morrer para que os juros possam cair. Talvez esse seja o problema: tolerar demais os abusos econômicos e lógicos de canalhas que nunca desistirão de aumentar as riquezas pessoais deles canibalisando o país inteiro.
O Nelson Motta está se referindo ao sorteio, caro Nassif, que é severamente auditado. A lavagem se dá no momento em que o dono do bilhete premiado vai buscar seu prêmio…
– “Quanto o sr. tem a receber? R$ 27 mil e uns quebrados? O que o sr. acharia se eu lhe oferecesse R$ 30 mil por esse bilhete em dinheiro vivo, mesmo, não precisaria nem abrir conta na CEF, que tal?”
– “Humm… e como eu faria?”
– “O sr. voltaria aqui com seu bilhete em meia hora, pode ser?”
E no telefone, o dono da lotérica:
– “Dr., bom dia, tudo bem? Faz favor, avisa ao deputado que o bilhete de hoje dele, o ganhador, tá aqui… Sim, com a taxa de sempre, é R$ 35 mil. Feito, uma abraço!”