Tudo começou com Cachoeira, por Luís Nassif

Como lobistas em conluio com a Veja pautaram toda a imprensa com o julgamento do Mensalão e, depois, Lava Jato

Agora, que a Lava Jato começa a ser passada a limpo, é importante reconstituir o início disso tudo, a CPI de Carlinhos Cachoeira e a revelação das parcerias entre ele e o então senador Demóstenes Torres.

As primeiras denúncias ocorreram em 14 de maio de 2005, com a revista Veja denunciando um funcionário dos Correios, sem maior expressão, recebendo uma propina de 5 mil reais.

Como se conferiu posteriormente, a gravação foi armada entre dois lobistas, Carlinhos Cachoeira e a revista Veja. A intenção era desalojar o deputado Roberto Jefferson da influência nos Correios.

Supondo que o grampo tivesse sido armado por José Dirceu, Jefferson centra fogo nele, conseguindo seu afastamento da Câmara. O tema é explorado até 2007. Mas a grande exploração política ocorreu a partir do início do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012.

Naquele ano, houve um acirramento de factoides pela mídia, liderados pela revista Veja. Inventaram grampos no Supremo, grampos imaginários de conversas entre Demóstenes Torres e o Ministro Gilmar Mendes, teorias conspiratórias.

Nesse período, no entanto, foi aberta a CPMI de Carlinhos Cachoeira. Os áudios levantados pela Operação Monte Carlos, em Goiás, foram incorporados pela CPMI e trouxeram revelações fulminantes contra a Veja e contra Demóstenes.

Constatava-se, ali, uma autêntica parceria criminosa. Cachoeira tinha interesses em setores do governo. Alimentava a Veja de escândalos, Dilma Rousseff demitia os acusados e os lugares eram ocupados por homens de Cachoeira.

Era nítido o comportamento criminoso da Veja. Nas semanas seguintes, o que se viu foi um comportamento inusitado da revista. Passou a elogiar Dilma Rousseff, o relator da CPMI, demonstrando ostensivamente o pavor de Roberto Civita, especialmente depois que foi anunciado sua futura convocação pela CPMI. Ao mesmo tempo, havia sinais de que os demais veículos – que costumavam repercutir todos os factoides da Veja – começaram a se afastar da revista.

Em abril de 2012, a revista traz de volta o fantasma do mensalão, pressionando o Supremo para colocar o tema em pauta.

A partir dali começa uma ofensiva midiática visando competir com a CPMI de Cachoeira.

Segundo a cronologia do Senado:

7 de maio: Começa a funcionar a sala que armazena os dados secretos da CPMI.

8 de maio: O delegado da PF Raul Alexandre Marques é o primeiro a prestar depoimento à CPI.

22 de maio: Cachoeira vai depor e, amparado por habeas corpus, decide ficar calado.

29 de maio: A CPI quebra os sigilos bancário, fiscal e telefônico das contas nacionais da construtora Delta.

30 de maio: CPI aprova convocações dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF), mas rejeita a convocação de Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Três das quatro pessoas convocadas para depor nesse dia usam o direito de permanecer caladas: Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Centro-Oeste;  Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como laranja do grupo comandado por Cachoeira; e José Olímpio de Queiroga Neto, acusado de ser gerente da organização. O único a falar foi Lenine Araújo de Souza.

31 de maio: Demóstenes Torres comparece à CPI e prefere se calar.

Em algum dia, logo após 31 de maio, provavelmente houve um pacto entre os jornais. Logo depois, descobriram o tema capaz de nublar o escândalo Veja-Cachoeira-Demóstenes.

No dia 30 de julho, conforme se confere no próprio Memória Globo,

“Sete anos depois das primeiras denúncias e três dias antes do início do julgamento do Mensalão no STF, o Jornal Nacional leva ao ar reportagens especiais para esclarecer o surgimento e a evolução do caso, além de destacar os fatos que ajudariam o telespectador a acompanhar o julgamento”.

No dia 2 de agosto começa o julgamento do mensalão. Dali por diante, a pauta foi inteiramente dominada pelo mensalão e, depois, pela Lava Jato.

Começava a desconstrução de um país que, menos de dois anos antes, atingira o auge da auto-estima.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. Uma vez vi uma entrevista do filósofo Paulo Eduardo Arantes, velha e honrada figura da esquerda da USP, um dos fundadores do PT, ao site Opera Mundi, em que ele atribui todos esses problemas ao que ele chamou de “fome insaciável de poder do PT”, que deveria ter saído de cena em 2010, após 8 anos no poder, e aberto caminho para o retorno da centro-direita. No dia que o PT venceu a terceira eleição presidencial seguida, começou a tormenta irracional e destrutiva para tirá-los do poder. Nós todos vimos o que aconteceu depois, o ódio descontrolado por Dilma Rousseff, que muito ajudava o processo de destruição com sua incompetência quase assombrosa.

  2. Nas eleições quem escolhe livremente é o eleitor e o eleitor queria o pt pela terceira vez : PSDB , PMDB, PP babavam pelo neoliberalismo ..! O erro inexplicável do pt e lula foi a Dilma Rousseff que nem petista era e,teve o primeiro governo no cabresto petista ; aí,na segunda eleição de Dilma Rousseff,sem o cabresto petista ,foi só traição..!

  3. Eu acrescentaria também Daniel Dantas, com a Satiagraha; ali o governo Lula piscou, recuou, abrindo o flanco para os posteriores ataques renovados da mídia. E José Serra, com sua campanha de ódio e religião nas eleições de 2010, rebaixando o nível da disputa e abrindo a caixa de Pandora. Tudo isso contribuiu, junto com os desdobramentos dos casos cachoeirescos, para se ir ressuscitando o Mensalão – que na primeira rodada havia fracassado como aríete contra o governo. Já a posição pusilânime da base governista na CPI do Cachoeira mostrou talvez pela primeira vez que o governo Dilma era um Poodle banguela no Congresso – afora as próprias tentativas ingênuas da mandatária de compor com o “PIG”, que deixaram transparecer seu medo de sofrer a mesma campanha de difamação sofrida por Lula. Hienas sentem cheiro de medo.

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