“Aqui não tem ninguém com condições para julgar ninguém”, diz Gleisi ao Senado

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Nesta quinta (25), antes de se iniciar a audiência com testemunhas de defesa e acusação do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), o Senado foi palco de um bate-boca entre aliados do interino Michel Temer (PMDB) e da presidente afastada.

Gleisi Hoffmann (PT) começou a discussão fazendo uso da tribuna para dizer que estava cansada de ver a defesa ser acusada de fazer “chicanas” para atrasar o julgamento. Ela disparou contra a Casa, afirmando que ali ninguém tem moral para atacar a presidente Dilma nem cercear sua defesa. “Aqui não tem ninguém com condições para julgar ninguém. Qual a moral do Senado para julgar uma presidente da República?”, disse.

Ronaldo Caiado (DEM) tentou silenciar a fala de Gleisi e ouviu devolta que ele é envolvido com trabalho escravo em fazendas. 

Minutos antes da fala de Gleisi, Lindbergh Farias (PT) anunciou que recorreu à Procuradoria Geral da República para afastar Temer da presidência, alegando que ele usa o cargo para obstruir as investigações da Lava Jato.

Por volta das 15h30, o Senado abriu espaço para a audiência das testemunhas. O advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, conseguiu impedir que o depoimento do procurador Julio Marcelo de Oliveira tenha valor de prova. Isso porque Oliveira teria militado contra Dilma junto ao Tribunal de Contas da União. Ricardo Lewandowski autorizou sua fala apenas como informante da acusação. 

“Senado não tem moral para julgar Dilma”, diz Gleisi Hoffmann em sessão tumultuada do impeachment

Da Revista Brasileiros

O primeiro momento de maior tensão nesta quinta-feira (25) no julgamento do processo de impeachment, no Senado, contra a presidenta afastada Dilma Rousseff levou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, a suspender a sessão por alguns minutos para tentar restabelecer a ordem. A confusão começou quando a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) afirmou que nenhum senador tem condições morais para julgar o afastamento permanente de Dilma.

“Aqui não tem ninguém com condições para julgar ninguém. Qual a moral do Senado para julgar uma presidente da República?”, disse, visivelmente exaltada. A declaração foi interrompida pela manifestação indignada de outros senadores longe do microfone, entre eles, Ronaldo Caiado (DEM-GO), a quem Gleisi respondeu acusando: “o senhor é do trabalho escravo”, disse ao microfone.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) interveio chamando o senador do DEM de canalha e citando o senador cassado Demóstenes Torres, que foi aliado de Caiado. O senador do DEM então atacou de volta: “Tem que fazer antidoping. Fica aqui cheirando não”.

Gleisi rebatia o senador Magno Malta (PR- ES), a quem coube colocar o contraponto a uma das questões de ordem apresentadas por aliados de Dilma que afirmaram que o impeachment é defendido para blindar o presidente interino, Michel Temer, e alguns integrantes de seu governo citados em delações da Lava Jato.

Lata e lixo

“É o sujo falando do mal lavado. É a lata e o lixo. Não sou do PMDB, não sou do PSDB,  que são os inimigos declarados do processo eleitoral”, disse. Sobre gravações que estão sendo reveladas ao longo das investigações, Malta atacou:”Se valesse alguma coisa, Aloizio Mercadante deveria estar preso”.

Diante do bate-boca estabelecido, com a volta dos trabalhos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu serenidade nas discussões para que as testemunhas começassem a ser ouvidas.  Ao retomar a sessão, Lewandowski anunciou o indeferimento da questão de ordem da senadora Fátima Bezerra (PT-RN) que voltou a apontar suspeição do relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), pelo vínculo com o partido tucano, a quem aliados de Dilma atribuem a autoria do processo.

“Isto não é democracia. É um tribunal de exceção”, acusou. Aliada do governo Temer, Simone Tebet (PMDB-MS) disse que a alegação revela “medo” dos contrários ao processo e afirmou que a questão já foi decidida por todas as instâncias que receberam recursos no mesmo sentido.

O ministro Lewandowski também indeferiu pedido feito pela senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) que solicitou a impugnação do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, primeira testemunha a falar na sessão de hoje, afirmando que ele teria um posicionamento parcial. Lewandowski negou o pedido dizendo que Júlio Marcelo “possui idoneidade e capacidade técnica para apresentar testemunho”.

A sessão foi aberta por volta de 9h35 e até o momento só foram apresentados pedidos de esclarecimentos sobre a sessão. Ainda hoje, quatro testemunhas serão arroladas pela acusação e pela defesa.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Quando se vende o voto, não se pode reclamar

    “Ferrenho defensor do regime monárquico e crítico fervoroso da Revolução Francesa, o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu seu nome na história ao lançar a expressão “cada povo tem o governo que merece”. Datada de 1811, a frase registrada em carta, publicada 40 anos mais tarde, faz referência a ignorância popular, na visão do autor a responsável pela escolha dos maus representantes. Contrário a participação do povo nos processos políticos, Maistre acreditava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo. Passaram-se exatos duzentos anos e a expressão do francês permanece atemporal por estas bandas. “

  2. impixi político

    Alguém sabe informar se na Constituição Federal consta que um impeachment por razões políticas é legal, tem validade jurídica?

    Se nenhum ilícito foi cometido e comprovado, esse impedimento tem validade?

    Do que serve então um juiz presidindo essa votação no senado? 

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