Do outro lado da reforma, Onyx e Maia não abdicaram de previdência especial

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enquanto Governo e Congresso atuam em conjunto para a aprovação da reforma, o presidente da Câmara e a Casa Civil não abrem mão de suas aposentadorias especiais

Foto: Carolina Antunes/PR

Jornal GGN – A corrida pela aprovação da Reforma da Previdência continua, tanto do lado do governo de Jair Bolsonaro, quanto do Congresso. Mas enquanto os dois lados agora atuam em conjunto para a aprovação das mudanças na aposentadoria dos brasileiros, o presidente da Câmara e a Casa Civil não abdicam de suas aposentadorias especiais.

É o Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC), que manterá os benefícios de uma previdência especial para os parlamentares, que podem se aposentar com o salário integral, que é hoje de R$ 33,6 mil.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzini, também então parlamentar do DEM, estão entre os 175 deputados que decidiram não renunciar do benefício, e hoje estão na linha de frente da defesa da reforma da Previdência.

Os dados foram revelados pela ONG Ranking dos Políticos, após obter as informações da Lei de Acesso à Informação. Mais de um terço (34%) dos deputados federais da atual legislatura optaram por manter o recebimento do plano de previdência PSSC. Boa parte deles (53%) foram os reeleitos e 18% são os novos parlamentares, ou seja, os que assumiram a Câmara este ano.

Já no Senado, também a maioria (75%) dos reeleitos optaram pelo PSSC, e 2 dos 9 senadores que começam uma legislatura nova este ano aderiram ao beneficio. Na segunda Casa Legislativa, o partido que mais tem parlamentares que não abdicaram da aposentadoria especial é o MDB, com 7, seguido do PSDB, com 5. O PT figura também com 5 senadores que não abriram mão, mas proporcionalmente é uma das bancadas que menos manteve o benefício.

Contraditoriamente, até o partido do atual presidente, Jair Bolsonaro, não deixou de seguir recebendo a previdência especial, com uma senadora que aderiu ao PSSC, Soraya Thronicke (PSL-MS). “É descontado mensalmente 11% sobre o valor total do meu salário. Além disso, é exigida uma idade mínima de 60 anos e 35 anos de tempo de contribuição, iguais para homens e mulheres, sem distinção”, assim justificou a parlamentar.

De acordo com o diretor-executivo do Ranking dos Políticos, Renato Dias, muitos dos novos parlamentares, principalmente do PSL, que recém abriram mão do beneficio o fizeram para “ganhar pontuação extra no ranking”, porque logo em seguida enviavam a informação à organização.

“A gente não fez uma comparação com a legislação passada, mas o que a gente percebeu foi um efeito manada em razão da reforma da Previdência. Muitos deles abriram mão do benefício e mandaram a informação para ganhar pontuação extra no ranking”, disse.

Conforme mostrou o GGN no especial “O loteamento de cargos do governo Bolsonaro”, Onyx é a figura chave do governo de Jair Bolsonaro para as articulações da Reforma da Previdência. Como ministro da Casa Civil, ele é a cabeça das nomeações, faz a articulação direta com os parlamentares, pede a aprovação de Jair Bolsonaro e assina o novo integrante da administração federal. A pasta de Onyx tem como principal função martelar todos os cargos e também tem papel nas exonerações, sempre com vistas em manter o bom fluxo dentro do Congresso – a governabilidade do mandatário.

Foto: Agência Brasil

Foi ele quem, em nome da reforma da Previdência e em mecanismos de troca de favores, anunciou a demissão dos mais de 3 mil servidores, boa parte deles de cargos comissionados ou de funções gratificadas nos Ministérios da Fazenda, Planejamento, Trabalho e Indústria e Comércio Exterior. Em sua própria pasta, Onyx demitiu outros 300 funcionários. Todos anunciados como o que seria o fim de uma prática antiética, com base na obtenção de apoio do Congresso para aprovação de medidas de interesse do governo.

Hoje, mesmo estando na linha de frente pela aprovação da reforma no Congresso, não abdicou da sua aposentadoria especial como congressista. Em fevereiro deste ano, chegou a dizer que a reforma “não retira direito de ninguém, ao contrário, há um olhar muito fraterno por conta do processo que está sendo construído”.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Perfeitamente legal. É só promover um acordão: reajustam seus vencimentos em 43,98% numa dessas madrugadas. E depois é só proclamarem aos quatro ventos: “mas, contribuímos como qualquer trabalhador desse país e descontamos 20 a 29% para a previdência. Mais que qualquer trabalhador desse país. É nossa cota de sacrifício para esse amado país”.
    Simples assim.

  2. tanto a deforma da previdenssia
    como esses benefícios deveriam
    ser extintos;
    maria antonieta tb foi parar na guilhotina
    por ter tantos privilegios…

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