Pasadena não era, mas virou um mau negócio, aponta Graça Foster

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – Em depoimento ao Senado ao longo desta terça-feira (15), a presidente da Petrobras Graça Foster admitiu que a compra da Refinaria de Pasadena é analisada, atualmente, como um “mau negócio” empreendido pela estatal. O equipamento, adquirido em 2006, só começou a operar com “saldo positivo” em janeiro de 2014, registrando lucro líquido mensal de 58 milhões de dólares nos primeiros meses do ano.

As perdas desde a compra, entretanto, são da ordem de 530 milhões de dólares, devido às mudanças no mercado internacional após a crise de 2008. “Pasadena é apenas uma parte do projeto da Petrobras de crescimento no exterior com o refino”, disse a dirigente. “Mas é um empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido”, completou.

A presidente da Petrobras explicou, em quase sete horas de audiência, que desde o final do governo FHC a estatal entendia que era necessário investir na expansão do parque de refino no exterior. Pasadena era, portanto, a possibilidade de “capturar grandes margens dos óleos processados nos Estados Unidos”. Em 2006, o Conselho Administrativo da Petrobras, então presidido por Dilma Rousseff, autorizou a compra de 50% da refinaria situada no Texas por 359 milhões de dólares.

O montante foi pago à Astra Oil, empresa belga que desembolsou, segundo estudos da Petrobras, “o mínimo de 360 milhões de dólares pela compra total da refinaria da Crown”, antiga proprietária. Ou seja: ao contrário do que é frequentemente divulgado, Astra Oil não pagou por Pasadena 42,5 milhões de dólares.

Graça despendeu muita energia na tentativa de fazer os senadores entenderem que, por 100% da refinaria, a Petrobras despendeu 885 milhões de dólares, mas que a parcela correspondente ao equipamento propriamente dito é de 554 milhões de dólares. O valor chegou a 1,25 bilhão de dólares em 2012, com a compra do know how da Astra em uma trading que operava a refinaria e após o fim do imbróglio judicial entre a sócia belga e a Petrobras. A diferença diz respeito a honorários advocatícios e outras despesas decorrentes do processo.

Quem errou?

Graça Foster esclareceu que quando a primeira metade da refinaria foi comprada, a Petrobras pretendia fazer Revamp (termo técnico relacionado à renovação do parque de refino de Pasadena para processar outro tipo de petróleo). A intenção não foi aceita pela Astra Oil. Uma cláusula contratual, a put option, determinava que caso os sócios não chegassem a um comum acordo sobre a condução dos negócios, um deles teria de comprar toda a companhia. Foi quando a Astra Oil decidiu fazer uso do seu direito de vencer à Petrobras sua metade da Pasadena e o caso foi parar na justiça.

Em declarações recentes, Dilma afirmou que não tinha conhecimento da put option (e tampouco da cláusula Marlim), embora seja comum no mercado internacional. O problema não era a cláusula em si, explicou Graça, mas as regras para a fixação do preço de saída – prevendo um prêmio de 20% à vendedora.

A presidente da Petrobras defendeu Dilma e afirmou que em um resumo executivo há a necessidade de apresentar todas as cláusulas relevantes, pontos fortes e vulnerabilidades do projeto, e isso não foi feito pelo ex-diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró (foto), então responsável por apresentar detalhes do negócio aos membros do Conselho.

A punição a Cerveró aconteceu dois anos depois da compra de Pasadena, quando ele foi afastado do cargo que ocupava na Petrobras e transferido para a subsidiária BR Distribuidora. Após desdizer Dilma sobre o acesso a todos os termos do contrato com a Astra Oil, Cerveró foi exonerado.  

“Essas cláusulas não estavam escritas [no resumo executivo] e não foram verbalizadas [em reuniões do Conselho Administrativo da Petrobras]. A put option é comum, mas justamente por isso é preciso apresentar sua equalização. Existe um preço, o put price. Isso precisava ser mostrado com a clareza que o Conselho exige. O Conselho aprovou um bom negócio naquele momento, sobre 50% de Pasadena, sem nenhuma consideração sobre os outros 50% [preconizado na put option]. O tempo transformou o bom negócio em um projeto que tem baixa probabilidade de recuperação de investimento”, disse.

Com o passar dos anos, a Petrobras descobriu novas possibilidades de negócio, como o pré-sal, e expandiu seu sistema de refino em território nacional. Na avaliação de Graça Fostes, estes são alguns dos fatores que retiram Pasadena da lista de prioridades da estatal hoje.

Investimentos

Durante a audiência no Senado, Graça também falou sobre a compra de outros equipamentos, do plano de investimentos da Petrobras até 2020, da situação financeira da empresa (denotando desempenho positivo se comparada a outras empresas exploradoras de petróleo no mundo) e respondeu às acusações de senadores da oposição que tentam emplacar uma CPI para investigar eventuais irregularidades na gestão da estatal. Ela chegou a dizer que a Petrobras não pode responder pelo erro de uma pessoa, se referindo ao ex-diretor Paulo Roberto Costa.

Graça também foi instigada a fazer uma avalição política sobre a forma como a oposição, encabeçada pelo PSDB de Aécio Neves, tem tratado da questão Pasadena, mas se recusou a abordar assuntos que não fossem técnicos e inerentes à gestão da Petrobras.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Desde as primeiras atitudes

    Desde as primeiras atitudes dessa “senhora competencia” ao entrar  na Presidencia. Pensei, so justifica a escolha de Dilma, se foi mais um osso que teve que engolir dos “aliados” com os, apenas, 20% do Congresso que detem o PT.

    Se essa fdp foi escolha livre de Dilma, PQP……

    1. PETR4

      alianca,

      Esqueceram  da petrobras bolívia, assim como também esqueceram de mencionar as reservas já confirmadas, 18 bilhões de boe, não é o cúmulo ? 3,6 trilhões de dólares brutos, maior que o PIB, não é cifra prá ser ignorada em um dia como o de hoje. 

  2. Pq fugir do enfrentamento político?

    Graça também foi instigada a fazer uma avalição política sobre a forma como a oposição(…) tem tratado da questão Pasadena,  mas se recusou a tratar de assuntos que não fossem técnicos e inerentes à gestão da Petrobras.

    Sei lá, tenho as minhas dúvidas se não fazer o enfrentamento político é correto, até mesmo pq já vimos este filme, para quem tem boa memória se recorda que, enquanto a mídia tratava o “mensalão” com  sensasionalismo, o PT ficava preso a elucubrações judiciais, talvez por acreditar que os juizes do STF agiriam como técnicos, o que não foi o caso, pois o tal julgamento virou palco politico, perseguição de opositores, etc. E sempre foi assim desde o início, quando a mídia vinha com todo aquele sensasionalismo para passar a bola para o MPF e STF agirem politicamente e o resultado tá ai. Recentemente Lula disse que o grande erro do PT foi tratar o mensalão como uma questão judicial quando deveria ter feito o enfrentamento político. Sei lá, achei estranho Graça ter-se limitado a explicações técnicas quando há um pesado jogo politico-partidário nisso ai. Corremos o risco de mais uma vez vermos a judicialização da politica.Desvalorizar é uma forma de comprar barato, acorda Brasil.

  3. Graça Foster.

    Ela é muito técnica, só isso não é suficiente para ser presidente da Petrobrás. A estatal é uma empresa extratégica para o Brasil. A  fala dela deveria ser em outros termos. Como o Gabrieli fazia. Em um mundo educado ela seria perfeita, mas aqui no Brasil o que vai repercutir na mídia é que hoje a refinária é um mal negócio. Falta esperteza para esses técnicos, jogo de sintura. Sou a favor da troca da presidente Graça Foster.

    1. A propaganda eleitoral tucana no JN deitou e rolou

      A fala de Graça foi uma graça para o JN deitar falação, agora me convenci de que de nada adiantou Graça ter tentado dar explicação técnica, fiquei pasmo diante do que vi, se Graça falou que Pasadena foi um bom negócio que se tornou um mau negócio, o JN disse apenas que Pasadena foi um mau negócio e mais: Culpa da Dilma! Gabrielli já falou em CPI e simplesmente deixou a oposição na lona pq não se ateve nessas explicações contábeis que só interessam à quem faz dela um belo jogo de desinformação. Foi esse tal tecnicismo que transformou o Blog da Petrobrás numa espécie de túmulo do silêncio diante dos ataques da imprensa quando o espaço deveria ter sido como era antes de 2012: Quando a imprensa mentia a companhia mandava o esclarecimento para o jornal e publicava no blog. Quando alguma entrevista era dada, a mesma era publicada com antecedencia no blog…Enfim, continue técnica Dona Graça. Para se ter uma idéia, a própria oposição reconheceu a competência técnica de Dona Graça. E agradeceu de coração a incompetência política. Foi assim no filme chamado “Mensalão”. Viva o Mensalão II.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador