Boletim do Ministério da Saúde reconhece que nenhuma criança ou adolescente morreu por reação à vacina contra covid

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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Informe contradiz argumentos que o presidente Jair Bolsonaro usou entre dezembro e janeiro passados, quando impulsionou uma campanha midiática para levantar suspeitas sobre os efeitos da vacina em menores de idade

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Foto: Thinkstock

O Ministério da Saúde divulgou esta semana um boletim epidemiológico especial que apresenta o resultado das investigações de 38 mortes de crianças e adolescentes notificados por estados e municípios como suspeitos de efeitos colaterais gerados pela vacina contra a covid-19, e mostrou um cenário bastante claro: em nenhum deles o óbito foi provocado pelo imunizante que ataca o coronavírus.

O informe esclarece que foram 3,4 mil eventos adversos reportados em todo o Brasil até o dia 12 de março, entre as milhões de crianças e adolescentes vacinadas até aquele então. Entre eles, apenas 419 (12% do total) foram casos graves, todos os quais foram investigados.

Desses 419 casos graves reportados, 38 terminaram em óbito. As investigações precisaram que 36 dos casos estavam relacionados com a vacina da Pfizer, e em apenas dois foi utilizada a CoronaVac. No entanto, em todos eles a causa da morte não se relacionam com os efeitos colaterais da vacina, um dos motivos pelo qual se descarta a possibilidade de que exista alguma relação entre os falecimentos e a imunização.

Outro fator que foi considerado na investigação é que muitos dos casos ocorreram semanas depois da aplicação das doses – em quatro deles, o início o falecimento ocorreu mais de um mês depois.

A informação vem à tona pouco mais de dez meses após o início da vacinação em menores de 18 anos: adolescentes entre 12 e 17 anos tiveram sua imunização autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 11 de junho de 2021, enquanto as crianças entre 5 e 11 anos só puderam receber as primeiras doses a partir de dezembro do mesmo ano.

A questão é polêmica porque, justamente em dezembro de 2021, quando as crianças começaram a ser vacinadas, o próprio presidente Jair Bolsonaro, e também o ministro da Saúde Marcelo Queiroga, iniciaram uma espécie de campanha de desinformação, que tentou instalar suspeitas sobre o tema, a qual consistia principalmente em divulgar supostos casos de crianças que teriam morrido logo após a vacinação.

O próprio presidente Jair Bolsonaro, em declarações feitas durante uma de suas lives, chegou a questionar a Anvisa por ter autorizado a vacinação de crianças: “Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso? Qual é o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? Pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças, e não estão. Quando se trata de criança, não se deixe levar por propaganda”, afirmou, em janeiro deste ano.

Antes disso, Queiroga fez declarações que serviram de justificava para a postura do presidente: logo após a autorização da vacinação de menores de 11 anos por parte da Anvisa, o ministro afirmou que “não existe um consenso na comunidade científica sobre a eficácia das vacinas em pessoas dessa faixa etária” – o que não é verdade.

Por causa disso, algumas figuras aproveitaram a divulgação do boletim epidemiológico especial do Ministério da Saúde para alfinetar o presidente. Uma delas é o influenciador e doutor em Microbiologia Átila Iamarino, que comentou a notícia fazendo outros questionamentos: “e quantas deixaram de ser vacinadas pelo pânico que o ministro da saúde alimentou? E sarampo? E pólio?”.

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Victor Farinelli

Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN

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