Por Felipe A. P. L. Costa [*].
RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 16 e 22/8, essas taxas ficaram em 0,1444% (casos) e 0,1367% (mortes). Este último é o valor mais baixo desde o início da pandemia. Apesar disso, preocupa perceber que a taxa de crescimento no número de novos casos não só parou de cair como dá sinais de que pode vir a recrudescer. Não seria a primeira vez. Embora 60% da população brasileira já tenham sido vacinados com ao menos uma dose, solavancos nas taxas de crescimento (casos e mortes) – geradores e gerados por múltiplos surtos locais – ainda devem atormentar e assombrar o país.
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O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.
Anteontem (22/8), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 14.404 casos e 318 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 20.570.891 casos e 574.527 mortes.
Na comparação com as estatísticas da semana anterior (9-15/8) [1], o número de mortes (mas não o de casos) declinou.
Foram registrados 206.792 novos casos – um aumento de 4% em relação à semana anterior (198.427).
Desgraçadamente, porém, foram registradas 5.469 mortes – queda de 7,4% em relação à semana anterior (5.907). Foi a semana com menos mortes desde 28/12-3/1.
TAXAS DE CRESCIMENTO.
Os percentuais e os números absolutos referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [2]. Para tanto, sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.
Vejamos os resultados mais recentes.
Em comparação com os valores da semana anterior (9-15/8), as médias da semana passada (16-22/8) exibiram comportamentos distintos (ver a figura que acompanha este artigo).
A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,14% (9-15/8) para 0,1444% (16-22/8) [3]. A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,1492% (9-15/8) para 0,1367% (16-22/8).
O valor da taxa de mortes (mas não o de novos casos) é o mais baixo desde o início da pandemia (ver a figura que acompanha este artigo) [3, 4].
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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 21/2 e 22/8/2021. (Valores acima de 1% não são mostrados.) O gráfico no canto superior direito mostra as mesmas séries desde o dia 28/6/2020. A campanha de vacinação teve início em 17/1. A chamada CPI da Covid foi oficialmente instalada em 27/4.
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CODA.
Preocupa perceber que a taxa de novos casos não só parou de cair como dá sinais de que pode tornar a recrudescer. Embora 60% da população brasileira já tenham sido vacinados com ao menos uma dose [5], solavancos nas taxas de crescimento (casos e mortes) – geradores e gerados por múltiplos surtos locais – ainda devem atormentar e assombrar o país.
De resto, não custa repetir: Quanto mais gente a circular ou quanto mais lenta a vacinação [6], maior será o número de mortes. E mais: maiores serão as chances de que surjam variantes ainda mais infecciosas ou letais.
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NOTAS.
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[1] Na semana passada, excepcionalmente, eu não publiquei artigo comentando sobre o comportamento das taxas.
[2] Insisto em afirmar que a pandemia chegará ao fim sem que a maior parte da imprensa brasileira (grande ou pequena; reacionária ou progressista) se dê conta de que está a monitorar a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, em escala mundial e nacional, ver a referência citada na nota 3.
[3] Entre 19/10 e 22/8, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4), 0,54% (5-11/4), 0,48% (12-18/4), 0,4026% (19-25/4), 0,4075% (26/4-2/5), 0,4111% (3-9/5), 0,4114% (10-16/5), 0,4115% (17-23/5), 0,38% (24-30/5), 0,37% (31/5-6/6), 0,39% (7-13/6), 0,4174% (14-20/6), 0,39% (21-27/6), 0,27% (28/6-4/7), 0,2419% (5-11/7), 0,21% (12-18/7), 0,23% (19-25/7), 0,1802% (26/7-1/8), 0,1621% (2-8/8), 0,14% (9-15/8) e 0,1444% (16-22/8); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4), 0,91% (5-11/4), 0,80% (12-18/4), 0,66% (19-25/4), 0,60% (26/4-2/5), 0,51% (3-9/5), 0,45% (10-16/5), 0,43% (17-23/5), 0,40% (24-30/5), 0,35% (31/5-6/6), 0,4171% (7-13/6), 0,4175% (14-20/6), 0,33% (21-27/6), 0,30% (28/6-4/7), 0,23% (5-11/7), 0,23% (12-18/7), 0,20% (19-25/7), 0,1785% (26/7-1/8), 0,1613% (2-8/8), 0,1492% (9-15/8) e 0,1367% (16-22/8).
Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (sete dias depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.
[4] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
[5] Fonte: ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).
[6] Como escrevi em artigos anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.
Como também escrevi anteriormente, os efeitos da vacinação só seriam percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tivesse sido vacinada. (O que só será possível agora no segundo semestre.) De resto, devemos continuar tomando cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).
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