Exclusivo: governo testou antiparasitário Nitazoxanida em pacientes com pneumonia e não divulgou resultados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Paralelo ao estudo feito em pacientes com sintomas leves de Covid-19, governo financiou ensaio clínico do antiparasitário Annita em pacientes com pneumonia

Foto: Reprodução/TV Brasil

Jornal GGN – Exaltado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, como a nova esperança para “salvar vidas” do coronavírus, o antiparasitário Nitazoxanida (também chamado pelo nome comercial Annita), não somente foi comparado com um placebo pela prévia da pesquisa feita pelo governo, como também foi testado em pacientes em estado mais grave da doença, apresentando pneumonia, mas nenhum sinal dos resultados obtidos foi divulgado pela pasta.

A polêmica do novo fármaco tutelado pelo governo de Jair Bolsonaro foi introduzida no início da semana, quando o ministro realizou uma cerimônia, junto ao presidente, anunciando que uma pesquisa financiada pela pasta comprovaria a eficácia em pacientes leves de Covid-19.

“Em resumo, nós temos agora uma ferramenta que o Ministério da Saúde pode utilizar para ajudar a salvar vidas”, comemorou o ministro, que apresentou estes supostos resultados diante de uma imagem de um gráfico não real que indicaria a redução do vírus no paciente. Questionado sobre o estudo, a pasta informou que aguardava a publicação de uma revista científica.

Nesta sexta (23), um pré-print da pesquisa foi disponibilizado na revista científica “medRxiv”, que destacou, junto à publicação que se tratava de “relatório preliminar” que “não foi certificado por revisão” e que, assim, não deveriam “ser usados para orientar a prática clínica ou comportamento relacionado à saúde”.

Com os devidos cuidados, a prévia do estudo ainda revelou mais polêmicas: a de que o antiparasitário tinha efeito, nos 5 primeiros dias, comparável ao de um placebo, ou seja, a nada. “Em pacientes com Covid-19 moderada, não houve diferença na resolução dos sintomas, após cinco dias, entre os grupos que usaram nitazoxanida e os que tomaram placebo”, traz o artigo (acesse aqui).

Ainda, apesar de confirmar a segurança do medicamento, não provocando efeitos adversos graves nos pacientes, após uma semana, a Nitozoxanida obteve redução de carga viral em pacientes leves, segundo o estudo, mas não apresentou a redução dos sintomas nestes pacientes. Assim, o objetivo do estudo -de comprovar a eficácia do medicamento contra o coronavírus- não foi alcançada.

Ao analisar o registro de ensaios clínicos feitos com o mesmo fármaco na “Clinical Trials”, que é hoje a maior base de dados sobre estudos clínicos do mundo, o GGN encontrou não somente o registro desta pesquisa, como também de outra, realizada no mesmo período, pelo governo brasileiro com a Nitozoxanida.

Enquanto que o divulgado publicamente foi intitulado “Efeitos do uso precoce de nitazoxanida em pacientes com COVID-19” (acesse aqui), o segundo chama-se “Terapia com nitazoxanida para pacientes com pneumonia COVID-19” (aqui). A diferença, como o próprio nome diz, é que o teste foi feito em pacientes hospitalizados com pneumonia, ou seja, casos mais graves da doença.

A metodologia aplicada nestes pacientes foi similar à do primeiro estudo: metade do grupo (que neste caso totalizaram 500 pessoas) foi medicado com nitazoxanida de 500mg, a cada 8 horas, durante 5 dias, e a outra metade com um placebo, nos mesmos horários e duração.

E ao contrário do que ocorreu com o estudo em pacientes “precoces”, ou seja, que tiveram sintomas leves, os resultados deste segundo estudo financiado pelo governo Bolsonaro não foram publicados.

As informações registradas na “Clinical Trial” indicam que a pesquisa iniciou no dia 19 de abril deste ano e teria sido concluída no dia 2 de outubro. Entretanto, não há informações nem na “Clinical Trial”, ou na revista científica “medRxiv”, se a pesquisa foi efetivamente concluída e os resultados obtidos.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O mesmo com as vacinas.

    Testaram em crianças e idosos? Não

    Testaram em pessoas com doenças auto-imunes? Não

    Testaram em pessoas que já tiveram covid? Não

    Testaram em pessoas com Covid assintomáticas? Não

    Testaram em pessoas imunodeprimidas? Não

    Testaram em pessoas com problemas cardíacos? Não

    Testaram em pessoas com diabetes? Não

    Testaram em pessoas com obesidade morbida? Não

    Testaram em pessoas com pressão alta? Não

    Testaram em pessoas que tiveram Sars, Dengue, Chicungunya? Não

    Vai dar tempo de testar em todos esses grupos? Não

    Vamos transformar a população em cobaias humanas? SIM

    1. Falou a voz do(a) (des)informado(a) nas fontes das fake-news.
      Que evidentemente nem cita as fontes.
      Mas adora falar qualquer bobagem.
      Com uma convicção bozonariana!

      1. H.khlorico e qual a sua fonte científica?A Globo golpista?O vírus nem foi isolado pra ter vacina,Li de Brusque MANDA UM BELO MUUUU PARA O(A)HIDROXICLOROQUINA CIENTÍFICO AÍ !!!!

      2. Estou esperando vocês mostrarem os testes com esses grupos.
        Ninguém?
        Então vou dar uma canja:

        “O processo que começa nesta sexta envolve o recrutamento e seleção dos voluntários para a vacina. Os pré-requisitos são: ter idades entre 18 e 55 anos – podem se candidatar profissionais da saúde ou pessoas que tenham alta exposição ao vírus, ou pessoas não tenham contraído a Covid-19.”

  2. É uma baixaria a irresponsabilidade e o desespero deste governo, infectado pelo vírus da estultícia pelo irresponsável mór. O ministro, só nominalmente está ligado à ciência, mas a própria carreira recente de “empreendedor” que o trouxe fama é uma baixeza. O Brasil pagou uma fortuna (10 milhões de dólares) para mandá-lo num voo espacial para levar sementes na nave. Quando voltou, se associou a uma empresa pega trouxa e lançaram produtos com o tal travesseiro da nasa, que nada tem a ver com a NASA. Como Bolsonaro, confunde para enganar. Vejam só.

    O que a Nasa tem a ver com o “travesseiro da Nasa”?
    Nada. Ele é tão da Nasa quanto alguém que não passou na OAB é advogado: foi criado para a agência, mas não passou nos testes.

    https://super.abril.com.br/tecnologia/o-que-a-nasa-tem-a-ver-com-o-travesseiro-da-nasa/

    ASTRONAUTA E FUTURO MINISTRO MARCOS PONTES NEGOU POR ANOS SER SÓCIO OCULTO DE EMPRESA. VIROU DONO DELA DEPOIS QUE INVESTIGAÇÃO PRESCREVEU.
    Militares são proibidos por lei de terem negócios. Até setembro, empresa que vendia bugigangas galácticas estava no nome de sua assessora de imprensa.
    https://theintercept.com/2018/11/06/astronauta-marcos-pontes-investigado-socio-empresa/

  3. Apesar das reportagem não se referir aparentemente esse medicamento foi administrado sem autorização expressa dos pacientes o que torna qualquer um de nós alvo de ser utilizado como cobaia.
    E o Mengele que era o anjo da morte!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador