Carreiras que ajudaram no golpe querem sua parte, por Cristina Fernandes

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor, em sua coluna de hoje fala dos tantos atores participantes do grande espetáculo do golpe. Agora todos querem seu quinhão. Da secretária de Fazenda de Goiás ao deputado que virou ministro e foi afastado por ser citado em delação premiada, todos querem o seu. E não adianta regatear. Vai no saco do butim os direitos trabalhistas, a Previdência Social, as dívidas dos estados e a própria Lava Jato. É ajuste fiscal de um lado, Ajufe, truste, lobby, hobby… pode escolher o passa-moleque dos futuros candidatos à presidência. Leia a coluna.

Do Valor Econômico

A nota de R$ 100

Por Maria Cristina Fernandes

Servidora de um governo tucano, ex­-diretora do Itaú e apoiadora de primeira hora do impeachment, a secretária de Fazenda de Goiás teve suas convicções anticorrupção postas à prova pela intransigente defesa das condicionalidades no projeto que renegocia as dívidas dos Estados. Ativa usuária de redes sociais, Ana Carla Abrão não para de responder a críticas que relacionam sua colaboração ao projeto de lei em tramitação na Câmara à tentativa de desaparelhar carreiras de Estado que lideram o combate à corrupção.

O Judiciário liderou o movimento que se estendeu aos servidores dos demais Poderes e desfigurou o ajuste nas contas estaduais. A guerrilha de seus servidores colocou a blindagem de seu funcionalismo como fiadora da Lava-jato, mas o único elo entre o combate à corrupção e a manutenção do auxílio moradia é a imoralidade de um país de 11 milhões de desempregados custear os privilégios de minorias organizadas.

A resistência da casta dos servidores a contribuir com o esforço para tirar o país do pântano fiscal só é comparável àquela que será oferecida pela elite da política nacional com assento no Congresso às 10 medidas de combate à corrupção que deram início à sua tramitação. O projeto patrocinado pelo ministério público corre o risco de sair tão desfigurado quanto aqueles do ajuste fiscal.

O sucesso dos lobbies que lotaram Brasília no início desta semana são um aperitivo do que aguarda a tramitação da PEC dos gastos e da reforma da Previdência. O otimismo do Ministério da Fazenda com o futuro do ajuste fiscal só pode ser explicado pelo desinteresse do titular em não explicitar as goleadas que tem tomado do Congresso e do governo parlamentar que se assentou no país. O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti desaprova a guerrilha da categoria, mas indica o berço da arenga: “Se não havia dinheiro para nada porque passaram um déficit de R$ 170 bilhões?”.

Ao assumir a Secretaria de Fazenda de Goias em janeiro do ano passado, Ana Carla Abrão fez um ofício para todos os Poderes pedindo que se esclarecessem os repasses devidos à folha e aos penduricalhos. Sem resposta até hoje, repassa todos os meses os duodécimos sem conseguir diferenciar um e outro.

Quando o ano termina é que as prestações de contas a permitem saber que o Estado, a despeito de cumprir os 60% da receita corrente líquida destinados à folha, gasta outros 16% com penduricalhos de servidores e terceirizados. De um acesso de franqueza do colega de um dos mais ricos estados da federação, bonito por natureza, colheu que a soma por lá chega a 110%. Talvez seja esta a razão de o senador Ricardo Ferraço (PSDB­ES) sustentar que o governo Michel Temer arrisca­-se a transformar o Brasil num grande Rio de Janeiro.

Como a Temer não interessa que se torne clara a fragilidade da política fiscal, alguma aparência de ajuste há de ser exibida. O saldo pode ser uma renegociação das dívidas estaduais que dê transparência às despesas e uma proposta de emenda constitucional que limite seu aumento à inflação. Essas despesas terão sido ‘congeladas’ na alta dos reajustes recentemente concedidos. Em clima de interinidade do presidente Michel Temer, é o que se avalia como possível. Parece pouco. E é.

Ferraço vê a complacência perto do fim num país que, sem tapar o buraco fiscal, gasta com juro o dobro de sua folha de pessoal. Identifica as imagens de um velho filme, que dá à política cambial uma responsabilidade extra no combate à inflação. A radicalidade do senador tucano contrasta com a moderação do novo presidente da Câmara. O deputado Rodrigo Maia (DEMRJ), já amenizou o discurso do Estado mínimo. Lança mão da constituição federativa do país para se mostrar solidário às dificuldades do Executivo em se impor sobre os Poderes Legislativo e Judiciário nos Estados.

A zanga do DEM com o PSDB está atravessada na garganta do partido desde que Ruth Cardoso explicitou seu dissabor com os aliados que seu marido arrumou para governar, mas o presidente da Câmara passou a semana tendo que se explicar que esta afinação com o interino da República ainda não o transformou em cabo eleitoral de sua reeleição.

Ao sugerir que já tem lado na disputa, o DEM não ajuda na pacificação de um Congresso premido pelo ajuste fiscal, mas explicita as pretensões presidenciais que proliferam na Esplanada e planta a cizânia no núcleo de apoio a Temer. O que está em jogo é a proeminência na aliança que mandará no país, sem condicionalidades, a partir do impeachment. O DEM se posicionou de maneira privilegiada nesta aliança com a eleição de Maia, mas só fica na cadeira até fevereiro de 2017, quando o PSDB espera sucedê­-lo. Ou não.

Se o ajuste fiscal é a única nota que o mercado reconhece nesta sinfonia, as disputas eleitorais ­ a de 2018 e aquela de outubro, que lhe serve de pedágio ­ são o único acorde que, de fato, sacode o Congresso. O ajuste só entra no discurso como aval para a conquista do poder, como foi na natimorta “Ponte para o futuro”, com a qual o PMDB chegou a convencer incautos de que havia se convertido à reforma do Estado. Como o partido não tem vocação suicida, quatro meses depois do lançamento da ponte, na boca da votação do impeachment na Câmara, um dos seus principais defensores, Romero Jucá (PMDB-­RR), arrancou do Senado a transferência, para o cabide da União, da folha dos servidores públicos do seu Estado e do Amapá. A conta de quase R$ 3 bilhões anuais é uma bagatela para um partido para o qual o futuro sempre é aqui e agora.

O domínio de Jucá, eterno relator do Orçamento, sobre a matéria selou uma ascendência sobre seu partido que rivaliza com a do presidente interino, dirá com o ministro da Fazenda. Com lábia e técnica, levou muitos a acreditar que o PMDB fundaria um governo de transição para ajustar o país.

Um ex-­ministro, legendário conhecedor dos escaninhos do poder, a pretexto de definir o PMDB, conta a história de um conterrâneo que perdeu uma nota de R$ 100 durante uma festa. Parou a música e anunciou que daria R$ 50 para quem a devolvesse. Nesse momento, um matuto reparou que a nota estava debaixo de seu sapato. Sem alarde, agachou­-se, agarrou o dinheiro e guardou-­o no bolso. “Besta é quem troca uma nota de R$ 100 por outra de R$ 50”, pensou. E quem troca a perspectiva de reeleição de Temer pelo ajuste fiscal.

Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às quintas­-feiras

E­mail: [email protected]

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Infelizmente o Brasil é o

    Infelizmente o Brasil é o país de oportunistas.  Eu cresci tentando me convencer do contrário, mas aos 45 anos e depois de perceber que ser honesto e honrado no Brasil é sinônimo de muita dor de cabeça concluo que aqui é cada um por si e todos contra quem for contrário a essa lógica colonial.

  2. Os patrões da Da Maria Cristina

    pediram para dar uma de supra-partidária.

    A outra opção seria que ela quisesse receber seu FGTS, mas como nenhum colunista do GAFE tem contrato sobre CLT (a reincarnação de Belzebu segundo eles), esta opção é totalmente irrealista.

    P.S. Incrível como o rastro do Banco ItaúUnibanco é achado em todo o canto do golpe…

    1. Eu não poderia concordar mais

      Eu não poderia concordar mais Está dando uma de supra-partidária e ainda escreve confuso pra caramba. Ou talvez é que a coisa é confusa demais mesmo, uma palhaçada só. Ou sou eu que não alcanço.

  3. Maria Cristina Fernandes

    Muito bom artigo, Nassif. Bem escrito, bem fundamentado, incontestável. Maria Cristina Fernandes é uma jornalista que honra o Recife.

  4. Carreiras que…

    Acho que o Senador Aécio Neves deveria entrar na justiça contra a jornalista pela velada alusão, já espalhada de forma subreptícia pelo submundo da impren… corrijo, da Internet lulopetista, através daquele torpe editorial cometido por engano pelo Estadão que o impediu de concretizar suas aspirações de se tornar Presidente.

    O probo Senador tem um nome a zelar e não deve deixá-lo virar pó.

    Respire fundo, Senador, e vá à luta. Nada a Temer.

     

    1. Atento ao comentario de

      Atento ao comentario de GalileoGalilei -04/08/2016,às 13:07.Defiro tudo que foi dito por você.Só tem um porém,entendo eu.Se o Senador não fizer urgetemente uma plastica nas narinas de hipopótamo,Serra vai continuar a matracar ele,principalmente agora que não está batendo bem da cabeça,com a ideia fixa de querer dominar o mundo como Ministro das Relações Exteriores do Padrinho.

    2.  
      Concordo Galileo. O senador

       

      Concordo Galileo. O senador Aécio, aquele vagabundo que aparece no fim do expediente do Senado, registra presença, pede um aparte pra ser filmado pela TV Senado e aparecer no jornal do porta-recados Bonner da TV Globo. Como se vê, trata-se de um semi-parasita inútil. Gajo desocupado, e militante da vagabundagem. Mesmo após perder o encosto do pai e do avó, dependura-se no rabo da saia da irmã. Até para recolher as propinas eleitorais, passa o encargo a irmã. Também, queriam o que?  A única profissão do cara excersida na vida foi a de neto de Tancredo, atividade que desempenha até o presente. Como podemos ver, o sem vergonha é um homem de negócios, e…que negócios! Em? …O senador e produtor de farinha de mandioca em pó, Perrela, que o diga. 

      Discordo de vosmecê Galileo, apenas, quando diz que o homi tem um nome a zelar e não pode deixar que vire pó. Pois, segundo entendo, Pó é pra cheirar e não para zelar. Para zelar, é o aeroporto de Cláudio. Mas, isso é tarefa pro tio do aecinho, o tio que ganhou um Aeroporto de presente, do Estado de Minas, quando a irmã do Neto de Tancredo dirigia o governo, enquanto o play boy tomava todas, e se banhava nas águas frescas e salgadas da malandragem carioca. Essa é outra estória cabulosa, sem pé nem cabeça, engendrado por esse sujeito. Pra que diabos costruir um aeroporto no fundo do quital do tio? Não pode, isso ai é igual a um jaboti em riba do toco, ai tem coisa.

      Orlando

    3.  
      Concordo Galileo. O senador

       

      Concordo Galileo. O senador Aécio, aquele vagabundo que aparece no fim do expediente do Senado, registra presença, pede um aparte pra ser filmado pela TV Senado e aparecer no jornal do porta-recados Bonner da TV Globo. Como se vê, trata-se de um semi-parasita inútil. Gajo desocupado, e militante da vagabundagem. Mesmo após perder o encosto do pai e do avó, dependura-se no rabo da saia da irmã. Até para recolher as propinas eleitorais, passa o encargo a irmã. Também, queriam o que?  A única profissão excercida pelo cara na vida foi a de neto de Tancredo, atividade que desempenha até o presente. Como podemos ver, o sem vergonha é um homem de negócios, e…que negócios! Em? …O senador e produtor de farinha de mandioca em pó, Perrela, que o diga. 

      Discordo de vosmecê Galileo, apenas, quando diz que o homi tem um nome a zelar e não pode deixar que vire pó. Pois, segundo entendo, Pó é pra cheirar e não para zelar. Para zelar, é o aeroporto de Cláudio. Mas, isso é tarefa pro tio do aecinho, o tio que ganhou um Aeroporto de presente, do Estado de Minas, quando a irmã do Neto de Tancredo dirigia o governo, enquanto o play boy tomava todas, e se banhava nas águas frescas e salgadas da malandragem carioca. Essa é outra estória cabulosa, sem pé nem cabeça, engendrado por esse sujeito. Pra que diabos costruir um aeroporto no fundo do quital do tio? Não pode, isso ai é igual a um jaboti em riba do toco, ai tem coisa.

      Orlando

  5. Relembrando Joel Silveira.Um

    Relembrando Joel Silveira.Um cabra não pode ser mais safado que esse Sarney,por que eu não quero.Falo do  Pai.O filho descende da raça Zebu.

  6. A jornalista individualmente,

    A jornalista individualmente, não sei, mas a empresa onde trabalha, integrante do Grupo Globo de Comunicações, com certeza foi um dos apostadores do Golpe. Compôs o braço midiático na conspiração que desaguou no processo de impeachment.

    Impressiona como alguém ainda pode, ou pôde, se enganar com relação ao PMDB.

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