Crise hídrica e governo Alckmin: escolha seu discurso preferido

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Um período eleitoral no meio de uma crise hídrica. Este cenário foi aquele em que Geraldo Alckmin foi inserido. Antes das eleições, o tucano negou qualquer problema e, no acender das luzes de 2015, resolveu dizer que as pessoas o interpretaram mal, que ele já acenava para o problema a partir do momento em que a Agência Nacional de Águas manda diminuir vazão. A crise existe há muito mais tempo que o período de campanha, ela está sendo anunciada há uma década por especialistas e o governo tucano deixou passar. Agora vivemos a crise em sua plenitude e o discurso mudou, mas mudou somente para que a culpa possa ser jogada no consumidor, que não economiza, ou mesmo no governo federal, que não fez alguma coisa que não foi pedida. Escolha seu discurso preferido em matéria postada no G1.

do G1

Veja o que Alckmin disse sobre racionamento durante crise hídrica

Governador disse ter sido mal interpretado ao falar sobre medida da ANA.
Confira o que o governador afirmou desde o começo de 2014.

Do G1 São PauloAlckmin durante evento da PM. (Foto: Nilton Fukuta/Estadão Conteúdo)Alckmin durante evento da PM. (Foto: Nilton Fukuta/Estadão Conteúdo)

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse nesta quinta-feira (15) ter sido mal interpretado e que tem tomado medidas para garantir o fornecimento de água “sem fechar o registro” para a população. Nesta quarta-feira (14), ele havia admitido que o estado de São Paulo passa por racionamento.

Confira o que Alckmin já declarou sobre o tema durante a crise hídrica:

Em 4 de fevereiro de 2014, ele disse que não haveria racionamento no estado.

“Há uma expectativa de chuva a partir do dia 15 de fevereiro. Essa medida tomada [estímulo à economia de água com desconto na conta] e se tivermos chuvas a partir do dia 15, acredito que será suficiente.”

CONTEXTO: Cantareira estava com 21,4 % da capacidade ainda do volume útil da represa. Governo oferecia desconto na conta para quem economizasse no mínimo 20%.


Em 09 de fevereiro de 2014, ele voltou a negar a possibilidade de racionamento.

“Neste momento não haverá racionamento de água. O que estamos fazendo é uma campanha para evitar o desperdício, então entendo que com essa campanha e todos colaborando, não vai faltar.”

CONTEXTO: Sistema Cantareira havia caído abaixo dos 20% e atingido o menor nível da história. Sabesp classificava o cenário das represas do Cantareira como “preocupante”.


Em 18 de fevereiro de 2014, Alckmin diz que racionamento estava totalmente descartado.

“Hoje está totalmente descartada essa situação [racionamento]. Entendo que essa colaboração da população é crescente.”

CONTEXTO: Cantareira chegou a 18,4%. Governo diz que, em 2 semanas, os moradores atendidos pelo sistemaeconomizaram água suficiente para abastecer uma cidade como Osasco.


Em 25 de fevereiro de 2014, pela 1ª vez, Alckmin não descarta possibilidade de racionamento em São Paulo. (Foto: Diogo Moreira/Divulgação/Palácio dos Bandeirantes)Alckmin durante evento em fevereiro. (Foto: Diogo Moreira/Divulgação/Palácio dos Bandeirantes)

 

Em 25 de fevereiro de 2014, pela 1ª vez, Alckmin não descarta possibilidade de racionamentoem São Paulo.

“Estamos em uma situação excepcional. Estamos trabalhando para utilizar os 400 milhões de metros cúbicos do volume morto, não todo ele, mas uma parte. Não que a gente pretenda utilizar agora, mas deixar tudo preparado para o inverno. Essa [racionamento] é uma decisão técnica da Sabesp que está sendo monitorada dia a dia pela Sabesp e nós vamos decidir mais à frente.”

CONTEXTO: Capacidade dos reservatórios do Cantareira era de 16,9%. Parte da população abastecida pelas represas já recebia água de outros mananciais para diminuir o prejuízo.


Em 26 de fevereiro, governador volta a descartar racionamento de água.

“Na área que o governo atua não há nenhuma possibilidade de racionamento, mesmo tendo registrado a maior seca dos últimos 84 anos.”

CONTEXTO: Volume do Cantareira era de 16,8%, 0,1 ponto percentual a menos do que o dia anterior.


Em 2 de agosto de 2014, ele diz que racionamento de água seria ‘atitude irresponsável’.

“Não pretendemos mudar nossa estratégia. A população tem aderido através do uso racional de água e seria uma atitude irresponsável neste momento fazer racionamento.”

CONTEXTO: Sistema Cantareira estava com volume acumulado de 15,1%, já com a primeira cota do volume morto, que acrescentou 18,5% sobre o volume total em 16 de maio. Em julho, a Arsesp afirmou que iria investigar se a Sabesp faz racionamento.


Em 4 de agosto, já durante a campanha eleitoral, Alckmin disse que a crise estava sob controle.

“Vamos ter agora em setembro novos sistemas entrando em operação e a gente vai tirando [a responsabilidade pelo abastecimento] do Cantareira. Em outubro, novos sistemas estarão entrando em operação. Temos um cronograma todo delineado para assegurar água até a chegada do período das águas novamente. Nós estamos preparados para a seca.”

CONTEXTO: Cantareira estava com 14,9% da capacidade. Regiões inteiras que eram abastecidas pelo Cantareira passam para outros sistemas, especialmente Guarapiranga, Rio Grande, Rio Claro e Alto Tietê.


Em 30 de setembro, no debate do 1º turno na TV Globo, Alckmin disse que não falta e não vai faltar água. (Foto: Arquivo/Caio Kenji/G1)Alckmin no debate do 1º turno na TV Globo. (Foto: Arquivo/Caio Kenji/G1)

 

Em 30 de setembro, no debate do 1º turno na TV Globo, Alckmin disse que não falta e não vai faltar água.

“Não falta água em São Paulo, não vai faltar água em São Paulo. Nós estamos trabalhando com planejamento, obras, investimento. (…) As mudanças climáticas atingiram a Califórnia, atingiram a Austrália. Vinte por cento dos municipios brasileiros estão em estado de emergência ou de calamidade pública e nós aqui, com 22 milhões de pessoas a 700 metros de altitude estamos garantindo o abastecimento e com uma grande reserva para frente e investimentos.”

CONTEXTO: Governo é criticado por opositores por Sabesp repartir lucro com acionistas e não ter feito obras emergenciais e estruturantes.


Em 30 de setembro, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, descartou racionamento mesmo com chuva abaixo da média.

“Não. Nós não precisamos ter chuva abundante. Pode até chover menos do que a média que ultrapassaremos o novo período seco. Por quê? Porque temos as demais represas bem cheias, temos sistemas de substituição crescentes e há mais reserva técnica.”

CONTEXTO: Às vésperas das eleições, candidatos de oposição cobram transparência no alerta sobre a gravidade da crise e avisam sobre risco de racionamento após as eleições.


Em 6 de outubro, já reeleito, Alckmin garantiu que não haverá racionamento.

“[Temos] o bônus [na conta], que vai ser mantido inclusive no período das águas, e temos uma segunda reserva técnica. As obras estão prontas.”

CONTEXTO: Represas do Cantareira chegam a 5,8 % da capacidade, contando o volume útil e a primeira cota do volume morto.


Em 26 de outubro, Alckmin diz que não vai ter racionamento após eleições.

“Uso eleitoral, é óbvio que houve pelos adversários, que tentaram a todo momento tirar proveito político de uma seca que não atingiu só São Paulo, atingiu Minas Gerais e outros estados.”

CONTEXTO: Em 23 de outubro, uma segunda cota do volume morto foi incorporada ao Cantareira e o índice subiu de 3% para 13,6%. Chuva ficou abaixo do esperado.


Em 29 de outubro, Alckmin mais uma vez descartou a adoção do racionamento.

“Não há necessidade. Já adotamos os bônus para quem economizar e não criamos problemas para a população. Se você ouvir os melhores técnicos e professores do país, eles vão dizer que isso não é adequado. Um racionamento é socialmente injusto e tecnicamente inadequado.”

CONTEXTO: Alckmin diz que a utilização da 3ª cota não está nos planos do governo. Volume das represas está em 12,7% da capacidade.


Em 10 de novembro, Alckmin afirma que o abastecimento estava garantido para 2015. (Foto: Arquivo/Joel Rodrigues/Frame/Estadão Conteúdo)Alckmin concede coletiva após encontro com Dilma. (Foto: Arquivo/Joel Rodrigues/Frame/Estadão Conteúdo)

 

Em 10 de novembro, Alckmin afirma que o abastecimento estava garantido para 2015.

“Não há esse risco [de racionamento]. Nós já temos repetido isso desde o início do ano, nós temos em São Paulo um sistema extremamente forte e nós nem entramos na segunda reserva técnica do Cantareira.”

CONTEXTO: Cantareira tem 11,3% da capacidade. Alckmin vai ao governo federal e diz que o estado precisará de R$ 3,5 bilhões para a construção de oito “grandes” obras que servirão a partir de 2015 para o enfrentamento da crise de água.


Em 18 de dezembro, governo anuncia multa para quem aumentar consumo.

“Queremos que os 20% que ainda não reduziram o consumo, que o façam. A medida não tem caráter arrecadatório nem punitivo, mas educativo.”

CONTEXTO: Volume do Cantareira está em 6,9%. Governo acredita que, com multa, haverá mais economia.


Em 14 de janeiro de 2015, Alckmin admite pela 1ª vez que há racionamento.

“O racionamento já existe. Quando a ANA [Agência Nacional de Água] determina que você que tem que reduzir de 33 para 17 [metros cúbicos por segundo] no Cantareira é óbvio que você já está em restrição. Está mais do que explicitado.”

CONTEXTO: Nível do Cantareira está em 6,3%. Sabesp passa a retirar 13 metros cúbicos por segundo de água das represas, contra 33 antes da crise hídrica.


Em 15 de janeiro de 2015, Alckmin agora diz que multa busca ‘evitar o racionamento’.

“Esta tarifa contingenciada [multa] que foi aprovada visa exatamente evitar o racionamento. O objetivo dela é que todos ajudem. (…) Nós estamos evitando o racionamento. O que é racionamento? É você fechar o registro. (…) atendemos à exigência da Ana e evitamos o racionamento para o consumidor final.”

CONTEXTO: Cantareira está com 6,2% da capacidade após esgotar volume útil e o primeiro volume morto.

Ceraldo Alckmin, governador de SP, bebe água em evento no Palácio dos Bandeirantes (Foto: Adriana Spaca/Brazil Photo Press)Alckmin em evento no Palácio dos Bandeirantes (Foto: Arquivo/Adriana Spaca/Brazil Photo Press)

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. É DNA tucano culpar os outros. Para isso conta com a mídia

    Cantei a bola em:

    O problema é grave

     31/03/2014

    (…)

    Problemas de água já foram apontados por estudiosos como motivo de disputa e conflitos.

    Antes de jogarem a culpa na população observem:

    – o gasto de água nas indústrias;

    – o desleixo dos governadores na prevenção de problemas;

    – a permissividade de se projetar (ou não projetar) mega cidades com índices demográficos insustentáveis;

    – a matança de rios e nascedouros.

    1. não é conlúio, é corrupção.

      Destruir essa organização entre certos partidos políticos e mídia em geral, deve ser a meta de todos os cidadãos politicamente correto  desse país, não podemos mais ficar somente nos blogs reclamando, pois o poder que eles conseguiram , usam para intimidar seus idealizadores como o Nassif, PHA  e outros.

  2. GERALDO É UM PRODUTO DO PT

    Nassif & Amigos, a tragédia que foi (e é) a comunicação dos governos Dilma/Lula é responsável pelo discurso de qualquer tucano paulista para os paulistas. O povo de SP em sua maioria foge do PT como o cramulhão (diz a bíblia) renega a cruz. Tudo porque nossos governos sempre foi muito cagão para enfentrar as centenas de mentiras diárias que o PIG publicava (e continua a publicar) sobre quaisquer assuntos de interesse nacional onde os vermelhos pudessem ter uma mínima de parcela de culpa. E se não havia digitais petistas o PIG dava um jeito de enfiar.

    Às dezenas de capas da Veja sobre Lula e o PT eram respondidas com propagandas e mais propagandas do governo federal na própria. Lembro que quando Lula era cobrado para fazer regulação da mídia se saía com:

    “Devo à liberdade de imprensa no meu país ter chegado à Presidência”.

    Em janeiro de 2009 nosso ex-presidente deu uma desastrada entrevista para a Revista Piauí. Entre outras bobagens, sobre o cerco da imprensa ao PT e a Ele próprio disse que não lia jornal e nem revista para não ter azia. Onde já se viu?Nota: a entrevista foi dada para o não menos piguista Maria Sergio Conti, aquele mesmo que, em plena copa, deu a barrigada da entrevista do Felipão num vôo doméstico.

    Íntegra da entrevista patética aqui:  http://extra.globo.com/noticias/brasil/a-integra-da-entrevista-do-presidente-lula-revista-piaui-188864.html

    Então, amigos, o PT foi e continua sendo covarde em relação à imprensa. E isso vai afundar o partido porque, não importa o que o ministro Berzoini venha a fazer, o estrago está feito. 

    Os tucanos podem ficar tranquilos que, falte o que falta para os paulistas, sejá água, energia ou mesmo pizza, a população terá a certeza que foi “coisa do PT”. E os Geraldos da vida continuarão a se eleger.

    Eu cansei!

     

    1. Concordo com você

      A culpa será da Dilma e do PT, o ódio ao PT é tão forte que paulistas pensam assim: se não houvesse risco de elegermos um petista eu até teria abandonado o chuchu, mas tive que votar nele para evitar que o PT ganhasse.

      Quem mais precisa do PT em SP é o próprio PSDB. Uma terceira via de verdade afundaria (na terra seca, claro) os tucanos porque o PT já afundou no estado há muito tempo. Virou volume morto.

  3. Fosse do PT o governador

    Fosse do PT  o governador o termo usado seria APAGÃO HÍDRICO e veríamos todos os dias a Ana Maria Braga com  colar de latas d´agua pendurado no pescoço…E muito menos tais veículos estariam repetindo de graça o discurso do governador, pelo contrário, a população estaria sendo colocada em estado de guerra contra os “desmandos do PT”. Como é bom ser tucano nesse pais, pois o sendo pode-se roubar à vontade, pode-se levar o Estado à falência, não pode um tucano ser investigado pq isso é coisa de estado policial não republicano. Te cuida Pimentel, pois o pig mineiro está apenas em fase de hibernação…rsss

  4. NassifCom a água acabando,

    Nassif

    Com a água acabando, não haverão mais discursos a escolher.

    Como disse outro dia,  “xeque mate” de São Pedro pela incompetência de São Paulo.

    Agora,  é esperar o caos.

     

    1. ACORDA, MARIO…

      …nem precisa a tucanada raciocinar muito, basta por a culpa no governo federal que não liberou verbas em tempo hábil. Aliás, a própria mídia, que é a verdadeira oposição, vai tratar do caso com mais ênfase logo, logo. Os tucanos, como sempre, estarão de braços cruzados, o PIG é que faz questão de dar o tom. Abr.

  5. O discurso não interessa…

    O que quer que seja, culpa do consumidor que esbanja água ou do Governo Federal, qualquer babujada dita será repetida à exaustão pela imprensa e aceita sem questionamentos pela população. E em 2018 Alckmin elegerá seu candidato e se elegerá senador.

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