Moro diz que Bolsonaro é “incoerente” em bandeira anticorrupção

"É incoerente com o discurso", disse o ex-ministro sobre Bolsonaro. Na entrevista à Cruzoé, disse "não pensar", mas não negou intenções de disputar em 2022

Jornal GGN – O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, “atacou” o governo de Jair Bolsonaro, em entrevista concedida à revista Crusué, criticando que a bandeira que o elegeu à Presidência da República, a da anticorrupção, não foi posta em prática. “É incoerente com o discurso”, afirmou.

Entre as críticas dirigidas ao mandatário, Moro disse que a falta de apoio do mandatário ao projeto anticrime e o ex-magistrado da Lava Jato apontou a relação da “incoerência” de Bolsonaro com uma possível tentativa de proteger seus filhos, como as “restrições à prisão preventiva”, justamente no mesmo mês em que o filho do mandatário, Flávio Bolsonaro, foi alvo de buscas e apreensões, em dezembro do último ano.

“Me chamou a atenção um fato quando o projeto anticrime foi aprovado pelo Congresso. Infelizmente houve algumas mudanças no texto que acho que não favorecem a atuação da Justiça criminal. Tirando a questão do juiz de garantias, houve restrições à decretação de prisão preventiva e também restrições a acordos de colaboração premiada”, disse.

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“Propusemos vetos, e me chamou muita atenção o presidente não ter acolhido essas propostas de veto, especialmente se levarmos em conta o discurso dele tão incisivo contra a corrupção e a impunidade. Limitar acordos e prisão preventiva bate de frente com esse discurso. Isso aconteceu em dezembro de 2019, mesmo mês em que foram feitas buscas relacionadas ao [senador Flávio Bolsonaro] filho do presidente”, continuou Moro.

As declarações foram feitas à reportagem “Moro ataca“, da Cruzoé, e foi a capa da revista.

“Me chamou atenção porque é incoerente com o discurso. Assim como são incoerentes com o discurso as alianças recentes que o presidente tem feito com personagens do nosso mundo partidário que não se destacam exatamente pela imagem de probidade. Acho isso um tanto peculiar porque o discurso para os eleitores é um, e a prática é outra bastante diferente”, continuou o ex-ministro.

Ainda, Moro aproveitou o espaço da entrevista para fazer uma espécie de “auto-defesa”, afirmando que tentou “impedir” abusos de Jair Bolsonaro na Polícia Federal, em uma tática para se blindar por “omissão” das próprias acusações que fez contra o mandatário de interferência na corporação.

Também ao tratar de outras polêmicas, Sérgio Moro foi questionado se sabia da existência de uma Agência Brasileira de Informação (Abin) paralela do governo Bolsonaro. “Isso nunca me foi colocado nesses detalhes”, respondeu o ex-juiz, antes de continuar a dar pistas sobre o caso:

“O que houve no começo do governo, no início de 2019, foram solicitações informais para que nós cedêssemos um número até significativo de policiais federais para atuar diretamente no Palácio do Planalto. Mas essa ideia, como foi revelado pelo falecido Gustavo Bebianno, foi abortada. Isso foi cortado. Isso não evoluiu.”

Na mesma entrevista, o ex-juiz que foi o responsável pela prisão do ex-presidente Lula levantou abertamente a tese de que o governo de Jair Bolsonaro tinha interesse em soltar o líder político. Moro disse ter “ouvido” de pessoas de dentro do Palácio do Planalto que a soltura do ex-presidente “era boa” politicamente para Bolsonaro, por ser campo de oposição e tema para Bolsonaro dirigir suas críticas.

“O que se dizia no Planalto era que a soltura do Lula era bom politicamente para o presidente. Isso foi dito. Eu sou um homem de justiça, um homem de lei, e não acho que é um cálculo político deve ser envolvido nisso”, disse.

O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Sérgio Moro foi questionado sobre 2022 e não negou uma possível candidatura para disputar o pleito presidencial. Disse somente que não pensa agora, em momento de pandemia.

“Pensar nisso é um negócio absolutamente inapropriado no momento”, afirmou, completando: “É uma questão que nem passa pela minha cabeça no momento, eu preciso me reinventar, de certa maneira também preciso me proteger de vários aspectos. É uma ilusão pensar pensar neste tipo de situação”.

 

Redação

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