No MP, especialistas questionam obras da Sabesp para enfrentar crise hídrica

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Sugerido por Adir Tavares

Da Rede Brasil Atual

Especialistas ouvidos na sexta-feira (21), em audiência pública sobre a crise hídrica realizada pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual de São Paulo, questionaram a real capacidade de enfrentamento à falta de água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) desde o ano passado. “Essa prática de gestão é a mesma dos romanos, de 2 mil anos atrás. Estamos reproduzindo os aquedutos romanos. E continuamos trazendo água de longe, sem ter como tratar o esgoto gerado”, destacou o doutor em saúde pública e professor de engenharia da USP, Ivanildo Hespanhol.Para o professor, as propostas do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de buscar água em Rio São Lourenço, a 100 quilômetros da capital paulista, e no Rio Paraíba do Sul, que fica a 15 quilômetros e abastece o Rio de Janeiro, como forma de solucionar a falta de água, demonstram que não há planejamento de médio e longo prazos. Essas obras objetivam trazer mais 10 mil litros de água por segundo para atender à Região Metropolitana de São Paulo, que vai totalizar 94 mil litros por segundo no fornecimento.

Hespanhol disse que a única forma de garantir a segurança hídrica na RMSP é o governo paulista e a Sabesp investirem em reúso de água, através do tratamento de esgoto. Hoje, a Sabesp tem capacidade instalada para tratar 18 mil litros de esgoto por segundo, mas trata somente 16 mil litros. No entanto, a região metropolitana produz 67 mil litros, cuja maior parte vai parar nós riachos e córregos, desaguando depois nos rios Tietê e Pinheiros. Com a conclusão dessas obras, a produção de esgoto vai ser ampliada em mais 8 a 12 mil litros de esgoto por segundo.

As duas obras estão estimadas em R$ 4 bilhões. A ampliação do tratamento de esgoto custaria cerca de R$ 1 bilhão e forneceria mais água do que essas obras. Segundo Hespanhol, seria possível ampliar o tratamento de esgoto para 35 mil litros por segundo, destinando-o para as represas, onde passariam pelo tratamento definitivo, com custo pelo menos três vezes menor do que o conjunto das obras hoje existentes.

Bastaria instalar sistemas de membranas ultrafiltrantes nas estações de tratamento de esgoto existentes, ensina o engenheiro. “O que exigiria poucas obras, nenhuma delas de construção civil.” A Sabesp, ao contrário do proposto pelo professor, reduziu drasticamente a verba para tratamento de esgoto neste ano, com objetivo de intensificar as obras para trazer água à RMSP.

Outras obras da Sabesp questionadas na audiência foram a transposição dos rios Guaió e Guaratuba, para o Sistema Alto Tietê, que está em situação crítica. A do rio Guaió, após gasto de R$ 35 milhões, está parada porque o rio está com o volume de água muito baixo. Era esperado retirar 800 litros por segundo, mas o máximo que se conseguiu até agora foram 200. Situação semelhante à do rio Guaratuba, de onde devia ser retirado mais 500 litros por segundo, mas que também está inoperante.

O engenheiro civil e sanitarista José Roberto Kachel afirmou que já se sabia que essas obras não tinham condições de atender aos propósitos anunciados. “Era previsível que as obras do Guaió e do Guaratuba seriam ineficientes. Desde 1948 se sabia que não dava pra retirar mais que 500 metros cúbicos”, afirmou. Ele ironizou a resposta da Sabesp, que alegou que a retirada vai se dar conforme as possibilidades. “Não sei se o governador está sendo mal assessorado, se está entendendo errado. Esse tipo de obra que você tira água quando tem, para mim, é algo totalmente novo”.

As obras, assim como a transposição da Billings, visam a dar mais segurança ao Sistema Alto Tietê. Kachel, no entanto, ressalta que quem colocou o sistema em risco foi a própria Sabesp, para aliviar o Sistema Cantareira. “A retirada autorizada do Alto Tietê é de 12 mil litros por segundo. Mas estão retirando 15 mil litros. Quem autorizou isso ninguém sabe, porque não houve discussão no comitê de bacia da região”, afirmou. O Comitê de Bacia é um grupo formado pelo poder público, empresários e sociedade para gerenciar os recursos hídricos.

Hoje saem 15 mil litros por segundo do Alto Tietê, mas entram apenas 4 mil litros. Como forma de resolver esse problema, a Sabesp vai levar 4 mil litros por segundo da Billings para o Alto Tietê. “Isso vai segurar um pouco, mas se as chuvas não forem fortes, não resolverá o problema”, salientou Kachel.

Porém, o conselheiro nacional do Meio Ambiente e presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, explicou que o governo paulista está se valendo do fato de que pode jogar água do rio Pinheiros na represa Billings para alimentar a usina hidrelétrica Henry Borden. “Por isso, a Billings continua cheia. Quando o governador diz que não haverá falta de água, é porque ele não abre o jogo. Ele vai usar a água do canal do Pinheiros, jogada para decantar na Billings, que vai ser tratada e distribuída. Temos de evitar que esse processo seja levado adiante. É um risco à saúde pública.”

Essa obra está sendo questionada na Justiça pelo Ministério Público Estadual, que pede a sua suspensão. “A obra visa a apenas corrigir um erro de outorga do sistema Alto Tietê (hoje se retira 15 mil litros, mas o sistema suporta 11 mil litros). A medida transfere poluição do rio Pinheiros para a Billings e de lá para o Taiaçupeba, que não é um rio limpo. A obra também não foi avaliada do ponto de vista ambiental, como devia ter sido feita; traz impactos severos ao Parque Estadual da Serra do Mar”, explicou o promotor público Ricardo Manuel Castro.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sonso E esperto

    Até eu que sou sonso já cansei de dizer isso. A Companhia Cantareira começou captando 3 m3/s no século XIX.

    Em 1972 o sistema Cantareira acrescentou mais 31 m3/s.

    Estamos com 72 e pretendemos chegar a 94 m3/s.

    Daqui a pouco Alckmin vai propor a transposição do Amazonas até SP e vai dizer que o PT não deixa!

  2. Eu vivo perguntando quem

    Eu vivo perguntando quem foram os imbecis que elegeram Geraldo “Grotesco” Alckmin governador no primeiro turno e não encontro respostas. Antes da eleição, o motivo para votarem nele era o tal de “nada consta”. Paulistas, vamos muito mal, quando a gente se envergonha de um governadeor com 20 anos de experiência no Estado, ou nesse estado de coisas, é que alguma coisa deve estar cheirando muito mal.

  3. Geraldo “Grotesco” Alckmin.

    Eu vivo perguntando quem foram os imbecis que elegeram Geraldo “Grotesco” Alckmin governador no primeiro turno e não encontro respostas. Antes da eleição, o motivo para votarem nele era o tal de “nada consta”. Paulistas, vamos muito mal, quando a gente se envergonha de um governadeor com 20 anos de experiência no Estado, ou nesse estado de coisas, é que alguma coisa deve estar cheirando muito mal.

  4. Sabem porque os Governos

    Sabem porque os Governos tucanos não aproveitam nada do modelo de Nova York: Porque mexe com a propriedade privada e espalha dinheiro pros pequenos produtores rurais que transforma em protetores de nascentes e riachos , Transformam em Produtores de àgua limpa . aí diminue os gastos com produtos químicos (que significa compras) 

    Eles só pensam em “Obras pra transportar uma água que não existirá”.

    Eles e seus apaniguados estam ganhando nuito dinheiro construindo elefantes brancos.

    Nem pensar em impedir que pecuaristas plantem capim até a beira dos rios.

    Mata ciliar , cercas em torno de nascentes e riachos , tudo isso que combina o direito de propriedade com sustentabilidade ambiental não faz parte da cartilha de seus apoiadores.

     

  5. Numa CPI sobre poluição,

    (nos Estados Unidos, claro!), se diz que  Henry Ford foi convocado para opinar sobre as diversas formas de medição da poluição em rios, para assim enquadrar os sujões. 

    A resposta dele foi algo como “em vez de perder tempo com essas medições, basta obrigar a empresa a colocar a captação da água do rio *** ABAIXO *** do descarte.” 

    Assim a poluição acaba no mesmo dia. 

    Talvez isto sirva de lição à política paulistana de águas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador