O debate entre Belluzzo e “seniores” do FMI, por J. Carlos de Assis

O debate entre Belluzzo e “seniores” do FMI, por J. Carlos de Assis

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo tem feito para os cidadãos  brasileiros, economistas ou não, um fantástico trabalho de profilaxia intelectual no sentido de atirar na lata de lixo as doutrinas ainda em grande parte dominantes do pensamento neoclássico e neoliberal. Talvez por sua notória clareza de exposição, e pela elegância de sua linguagem, Belluzzo tenha parecido ameaçador a dois economistas em particular, Carlos Eduardo Gonçalves e Irineu de Carvalho Filho, que se levantaram em defesa de uma fortaleza já em processo de demolição, o neoliberalismo, atacada não só pelas teorias mais consistentes, mas pelos fatos.

Os dois economistas se apresentam orgulhosamente como “Senior Economist of the Research Department, International Monetary Fund”. Isso é quase um passaporte para a celebridade. Se fosse traduzido – Economista Senior do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional -, soaria algo vulgar e sem muita importância. Afinal, é preciso falar, traduzir, escrever em inglês. Esse é o primeiro mandamento de quem quer ser um economista de valor. Também é preciso publicar em idioma estrangeiro. Isso, porém, requer passar por uma peneira ideológica que apenas os doutrinados lá fora atravessam.

Os dois “seniores” atacaram Belluzzo na qualidade de “pesquisadores” do FMI. Isso é um ótimo sinal. Normalmente, um pesquisador do Fundo não goza de grande liberdade em externar suas opiniões pessoais, sobretudo quando isso implica atacar diretamente um Governo que, formalmente, é seu acionista. Os dois “seniores” não tiveram qualquer escrúpulo em fazer isso. O que significa uma de duas coisas: ou são intelectuais rebeldes, do tipo muito raro entre neoliberais, ou são produto de um desarranjo completo na cúpula do FMI que perdeu totalmente o controle de seu staff e partiu para o vale-tudo.

Prefiro a última hipótese. As duas principais organizações multilaterais na cúpula da arquitetura financeira ocidental estão totalmente perdidas. O FMI, tendo co-patrocinado o monstruoso desastre da economia europeia, não consegue formular qualquer diretiva de política econômica para países em crise. O Banco Mundial tornou-se uma farsa: seu relatório de 2014 é infame. Tendo reunido mais de 200 “especialistas” para realizá-lo, produziu um monstrengo ideológico chamado “Crise e Oportunidade”, de que meus alunos em graduação no curso de Relações Internacionais na UEPB, João Pessoa, fizeram uma autópsia demolidora.

É preciso esclarecer a um dos “seniores” que Belluzzo nunca foi conselheiro de Dilma, neste ou no mandato anterior. Na realidade, e aqui dou meu testemunho, fomos críticos da política econômica do PT desde que Palocci assumiu a Fazenda. Aliviamos a crítica em 2009 e 2010, quando foi feita uma política econômica anticíclica correta, e voltamos a criticar de novo quando, a partir de 2011, reassumimos uma linha conservadora. Entretanto, isso é irrelevante para o debate. Os “seniores” não levantam um único argumento consistente, teórico ou prático, em seus artigos. É só insulto em estado puro! 

Belluzzo se encontra entre os poucos intelectuais em condições de fazer crítica do capitalismo errático de Dilma e do capitalismo mundial. Daí o ódio que suscita entre aqueles que não passam de “economistas vulgares”, como dizia Marx. A propósito, Ele não publicou no exterior, como diz um “sênior”. Mas o exterior publicou Belluzzo, do México à Alemanha. Ele não saiu correndo atrás de revistas especializadas para galgar degraus na academia. Subiu sozinho. A propósito, não é economista. É advogado com pós-graduação em desenvolvimento. Marx também não era economista. Mas deu grande trabalho aos “seniores” da época.

 

P.S. Dedicarei meus próximos artigos, a partir do início de 2016, à difusão da “Aliança pelo Brasil”, movimento liderado pelo senador Roberto Requião e outros parlamentares em defesa do mandato da Presidenta Dilma e pela afirmação de uma nova política econômica.

J. Carlos de Assis – Jornalista, economista, doutor pela Coppe-UFRJ, autor de “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP.

Redação

20 Comentários

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  1. Estudo

    Gostaria do material dos graduandos da UEPB.

    É sempre alentador ler textos acadêmicos sobre o assunto, para que todos possamos embasar nossas posições.

  2. taxas cartão de crédito
    Aproveito o tema do artigo para perguntar porque a presidente Dilma e seus ministros da Fazenda e do Planejamento não põem um limite à taxa de juros cobrada nos cartões de crédito ?

    Conforme estabelece a Lei 4595/64:

    “Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República

    (…)

    IX – Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover”

    Até os Estados Unidos limitam as taxas de juros ao consumidor. Por que a presidente não faz isso aqui ? Isso lhe angariaria suporte político.

    1. Taxas de cartão de crédito

      Lembro ao “servidor público” palavras de Brizola: O BACEN É O SINDICATO DOS BANCOS.

      Agora tambem quer assumir funções do CADE para livrar a cara dos “sindicalizados”.

      Pratica as maiores taxas do mundo num cenário de estagnação isso quando se sabe que a inflação nada tem a ver com a demanda, ladeira abaixo.

      São doutores em fazer política restritiva num governo de esquerda. 

      Primeiro as finanças depois a nação.

      1. contradição

        Você tem razão.

        Um governo supostamente de esquerda (não que eu necessariamente concorde com todas as teses ditas de “esquerda”) dá independência total, de fato, ao Banco Central do Brasil, quando ele tem todos os instrumentos para determinar a política monetária, em conjunto com outros aspectos da política econômica.

        Como nos Estados Unidos de Jimmy Carter, Dilma Roussef também opta por colocar, no seu próprio mandato, um Paul Volcker no rumo da política monetária.

        É por isso que provavelmente Dilma, assim como Carter (não foi só a crise dos refens, o Volcker levou a uma recessão violenta em 1980, ajudando a eleger o Reagan), acabará se dando mal se persistir nessa omissão (será que é só omissão ?)

  3. voto secreto
    Eles querem aprovar mandatos para o BACEN, CONSTITUCIONALMENTE garantidos (o que não existe nem no Federal Reserve Act, onde está previsto que o presidente PODE demitir) e, o que é pior, só podem ser retirados por voto da maioria absoluta e POR VOTO SECRETO (adivinhem o que vai acontecer…):

    Art. 1º Inclua-se no art. 52 da Constituição Federal o seguinte inciso:
    Art. 52. ………………………………………………………………………….
    ………………………………………………………………………………………
    XVI – autorizar previamente, por voto secreto da maioria absoluta, mediante proposta do Presidente da República, a destituição, antes do término de seus mandatos, do presidente ou de diretores do Banco Central do Brasil.

  4. ótimo  post, assis….
    pode

    ótimo  post, assis….

    pode crer, o cara que agride pessoalmente ´é porque perdeu a razão,

    pois já percebeu que o  areguimento dele não convenceu ninguém..

    a tecnica dessas figuras sem caráter é esta de criticar o governo popular,

    pois sabem que qualquer idiota que faça o mesmo,

    terá um grande apoio da grande mídia….

    depois pensam que vão  vender livros e quebram a cara,

    como muitas “personalidades” do show biz e dó próprio pig,

    que foram desmascaradas

    pela própria idiotice e ausencia de argumentos convincentes…

  5. Todo o apoio a Belluzzo pra

    Todo o apoio a Belluzzo pra ele ficar na academia, não ir pra nenhum orgão que lhe dê poder pra implementar as suas ideias. 

  6. ZERO e -2…Que “Dupra”…

    Mais uma PIADA saída da pena tresloucada do Sr. Assis. Assis, de credibilidade intelectual ZERO, escreve sobre Belluzzo, de credibilidade -2.

    Sorte que as pessoas que realmente contam não dão a minima para figuras deste naipe. Mas, verdade seja dita, eles sempre terão seu pequeno público…rsrsrsrsrs…

     

     

  7. No único e curtíssimo período

    No único e curtíssimo período em que o governo ouviu de verdade o Belluzzo, a economia cresceu 7,6% em 2010 e 3,9% em 2011. A relação dívida PIB caiu a 35%. 

    Já com Armínio Fraga, sob os aplausos desses gênios neoliberais, o Brasil teve a segunda maior taxa de desemprego do mundo, a relação dívida-PIB tinha aumentado a 70%, mesmo aumentando a carga tributária de 26 para 34% do PIB. Isso é particularmente vergonhoso, já que para um liberal clássico o Estado deve ser mínimo justamente para baixar os impostos ao mínimo possível. Mas, como diz o Ciro Gomes sobre o FHC, eles podem andar pelados que a mídia não fala um “A”. Mas para vomitar teorias estapafúrdias como a da “nova matriz econômica” o caminho é livre. Para completar, a taxa de falências das empresas era 3 vezes maior do que a média atual.

    Realmente os neoliberais tem muita autoridade moral e intelectual para falar do Belluzzo, o intelectual brasileiro mais respeitado no exterior atualmente em matéria econômica.

     

  8. Saiu na Folha, mas só achei

    Saiu na Folha, mas só achei neste blog: http://maovisivel.blogspot.com.br/2015/12/o-porco-e-o-cordeiro.html

    O Porco e o Cordeiro

     TERÇA-FEIRA, DEZEMBRO 22, 2015  ALEX  26 COMENTÁRIOS

     

    Estava o Cordeiro a tocar o Ministério da Fazenda quando apareceu o Porco, de horrendo aspecto, e perguntou: “Que desaforo é este de reduzir meu PIB?”. Ao que o Cordeiro respondeu: “Mas, seu Porco, como é que eu poderia ter reduzido o seu PIB se só cheguei aqui no começo do ano e a economia vem em recessão desde o meio do ano passado?”. “Ah”, disse o Porco, “mas você cortou o gasto público, o que fez o PIB cair ainda mais”. “Olha”, retrucou o Cordeiro, “desde que estou aqui o consumo do governo aumentou. Só um pouquinho, sabe, mas foi o único componente da demanda doméstica que subiu em 2015”. “Este negócio de argumentar com números não me convence”, voltou o Porco, “porque, em primeiro lugar, só interessa aos esbirros do conservadorismo, na cúspide de uma sociedade submissa ao rentismo, prisioneira da defesa da riqueza estéril e, em segundo lugar, porque eu não conheço as quatro operações e não entendo o que você está falando. Fora isto, o investimento também está desabando, e o multiplicador keynesiano diz que isto vai fazer a renda cair ainda mais”. “É verdade”, confirmou o Cordeiro, “mas o investimento despenca desde o segundo trimestre de 2013, pelo menos, quando ainda o que valia era a tal Nova Matriz Macroeconômica, que, segundo eu soube, veio da cabeça de Porcos que nem o senhor”. “Aliás”, continuou, “pelo que me disseram, os Porcos sumiram quando ficou claro que o investimento seguia em queda e que a recessão viria para valer. Só ficou por aqui um jumentinho italiano, otimista ‘pra’ burro (sem trocadilho, sabe?), que me passou as chaves da casa”. “Não quero saber!” vociferou o Porco. “Quando o jumentinho te deu as chaves a inflação era menor que 6,5%, mas agora já varou os 10%”. “Também verdade”, admitiu o Cordeiro. “Acontece que ao chegar aqui encontrei uma porcaria (sem querer ofender, sabe?): tinha um monte de preço congelado, custando caro para o Tesouro, mais caro ainda para a Petrobras. Só me restou ajustar tudo de uma tacada”. “Inclusive, foi difícil achar um Porco que assumisse a responsabilidade pelo congelamento dos preços. Até o final do ano passado vários deles estavam ainda comemorando que a inflação não tinha estourado o teto da meta e havia até uma Leitoa afirmando que era tudo ‘terrorismo econômico’.”. “Mas vocês clamam pelo aumento do desemprego!”, grunhiu o Porco, “A PNAD diz que já alcançou 9%. Sua culpa, Cordeiro!”. “Aí, seu Porco”, respondeu o Cordeiro, “é que lhe faz falta saber ler os números. A PNAD diz que o desemprego também vem crescendo desde o meio do ano passado e o CAGED revela que a perda de empregos formais também ocorre desde aquela época”. “Você, Cordeiro, quer por a culpa num governo popular, cujo único erro foi ter adotado o programa adversário, que jogou o país na depressão”, guinchou o Porco, já fora de si com a atitude do Cordeiro. “Olha, seu Porco, seus colegas de vara deixaram as coisas aqui em pandarecos. Dívida crescendo, inflação em alta (mesmo com preços congelados), desemprego idem, economia em recessão, um buraco sem precedentes nas nossas contas externas. Tanto estrago que nem Dona Anta aguentou vocês e teve que chamar um Cordeiro para arrumar a bagunça.” E, já que Porco não come Cordeiro, deu-lhe as costas e o deixou chafurdando na lama.

     

    1. O problema é que quem lucra no Brasil são as raposas

      Que comem cordeiros, porcos e antas.

      Pegar raposas exigem matilha de cães bem treinados, uma cavalariça veloz , robusta e técnica, sem isto a vaca vai para o brejo.

      1. Economia e Geometria Contextual

        Será que o Alex têm capacidade para dar uma sugestão deste naipe ou melhor para o Brasil? É um post antigo aqui do blog.

         

        O uso da matemática na economia se dá de forma Lógica com a geometria, uma Geometria Contextual, uma geometria das idéias, um gabarito de trabalho que oferece a construção  de idéias, pensamentos e consciência. A geometria contextual observa que existimos em um Universo de Energia, e tudo neste Universo é composto de Energia.

        Ela também assume que se idéias existem neste Universo, elas também precisam ser compostas de energia. Isto implica que todas as idéias precisam obedecer as Leis da Físicas que governam todas as formas de Energia.

         

        Usando o mesmo raciocínio, se a Consciência é composta de idéias, então a Consciência, ela mesma, é composta de Energia e precisa obedecer às Leis da Física.

         

        Isto implica que as Idéias podem ser vistas como tendo uma forma material (física).

         

        Como a Geometria é o ramo da matemática que descreve a estrutura dos objetos Físicos, assim a Geometria Contextual descreve a estrutura Física das Idéias.

         

        Ai retornamos ao que o Nassif falou, a idéia de mercado brasileiro com regras claras e que inspire confiança. Para isto é preciso entender suas energias e interações, bem como observar a superestrutura geométrica contextual que o informa e se está apta a fornecer equilíbrio e segurança, insuflando a tão necessária confiança ao Brasil.

         

        Quanto à sua afirmação que economia não é matemática, Emilia, até entendo seu ponto de vista, você deve estar se referindo  equações de linhas bidimensionais, que os economistas usam para suas previsões, realmente estas ferramentas não fornecem o instrumental adequado para boas e progressistas políticas econômicas, não que os economistas que as usam sejam pessoas de má-indole, mas é que não lhes forneceram o treino necessário e suficiente para que possam modelar tri-dimensionalmente e muito menos produzir resultados confiáveis que inspirem confiança.

         

        A prova é o os economistas que entram e saem do governo, na fazenda, planejamento, agricultura, turismo e muitas outras pastas, só inovam perfumarias inócuas, pois o Brasil continua no mesmo passo há mais de 500 anos.

         

        A reunião do Barbosa com sua equipe é a prova pronta e acabada do que digo, coisa de neurótico, que junta as mesmas pessoas, para fazerem as mesmas coisas e esperam resultados diferentes.

         

        Não vai acontecer, não no planeta Terra, sinto informar.

        1. Ordem no Caos

          The Universe including nature is Electromagnetic and follows a certain geometric pattern.  The true structure of the electron is shown by 12 curved dodecahedral structures surrounding one.  Once we realise this pattern we can then start to use mathematics to define our universe.
          Mathematics is the language of Nature.  You, yourself have identified a key function of the matrix, the square function between scales.  Everything around us can be represented and understood through numbers and function.  If you graph the numbers of any system certain mathematical patterns emerge.  There are, for example, patterns everywhere in nature from planetary and galactic orbits to the cycling of disease epidemics, sunspots and tidal flows even the fruit distribution in a pineapple can be mathematically represented.
          Pythagoras loved the shape of the Golden Spiral, for he found it everywhere in Nature.  Pythagoras Healer, Mathematician, Cult Leader.  His major belief, the Universe is made of numbers.   These patterns are hidden in plain sight you just have to know where to look. Things most people see as chaos actually follow several laws of behaviour, Galaxies, Plants, Seashells the patterns don’t lie, but only few see how the pieces fit together.  It is the relationship of interconnecting parallel and distributed systems, systems that strive for the equilibrium and completeness that permeates all structures, forms and proportions,  that are cosmic or individual, organic or  inorganic, acoustic or optical, they are all OF the Electro magnetic matrix.

           

          The shape of the base structure can better be described as truncated polyhedral scalar fractal with faces consisting of curved hexagons and squares (with 8 curved sides – like the base of the Great Pyramid)

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