O funesto império mundial das corporações, por Leonardo Boff

Enviado por Demarchi

Do Correio do Brasil

O funesto império mundial das corporações

por Leonardo Boff

Os bons votos de um ano feliz são rituais. Não passam de simples votos, pois não conseguem mudar o curso do mundo  onde os super-poderosos  seguem sua estratégia de dominação global. Sobre isso é que precisamos pensar e até rezar pois as consequências econômicas, sociais, culturais, espirituais e para o futuro da espécie e da natureza podem ser nefastas.

Muitos como J. Stiglitz e P. Krugman esperavam que o legado da crise de 2008 seria um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Erraram feio. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor. Richard  Wilkinson, um dos maiores especialistas sobre o tema desigualdade  foi mais atento e dissse, há tempos, nums entrevista ao jornal Die Zeit da Alemanha: ”a questão fundamental é esta: queremos ou não verdeiramente viver segundo o princípio que o mais forte se apropria de quase tudo e o mais fraco é deixado para trás?”.

Os super-ricos e super-poderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte e que se danem os mais fracos. Mas comenta Wilkinson: “creio que todos temos necessidade de uma maior cooperação e reciprocidade, pois as pessoas desejam uma maior igualdade social”. Esse desejo é intencionalmene negado por esses epulões.

Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra (eufemisticamente se diz que se fizeram fusões). Quando se chega a um ponto em que só restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: ao invés de se guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como  cordeiros. Assim articuladas detém mais poder, acumulam com mais certeza para si e para seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.

A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fracos que elas, é extremamente constrangedor, interferindo no preço das commodities, na redução dos investimentos sociais, na saúde, educação, transporte e segurança. Os milhares que ocupam as ruas no mundo e no Brasil intuíram essa dominação de um novo tipo de império, feito sob o lema:”a ganância é boa” (greed is good) e “devoremos o que pudermos devorar”.

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporaçõesmultilaterais. Conhecido é o de David Korten”Quando as corporações regem o mundo”(When the Corporations rule the World). Mas fazia falta  um estudo de síntese. Este foi feito pelo Instituto Suiço de Pesquisa Tecnológica (ETH)” em Zurique em 2011 que se conta entre os mais respeitados centros de pesquisa, competindo com MIT. O documento envolve grandes nomes, é curto, não mais de 10 páginas e 26 sobre a metodologia para mostrar a total transparência dos resultados. Foi resumido pelo Prof. de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor em seu site. Baseamo-nos nele.

Dentre as 30 milhões de corporações existentes, o Instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados: de um,  são as corporações que compõe o núcleo e do outro, aquelas que são controladas por ele. Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Essse pequeno núcleo (core) constitui uma super-entidade(super entity). Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.

Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda rede de corporações. São apenas 737 atores, presentes em 147 grandes empresas. Ai estão o Deutsche Bank, o J.P. Morgan Chase, o UBS, o Santander, o Goldes Sachs, o BNP Paribas entre outros tantos. No final menos de 1% das empresas controla 40% de toda rede.

Este fato nos permite entender agora a indignação dos Occupies  e de outros que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.

Foi esta absurda voraciade de acumular ilimitadamente que gestou a crise sistêmica de 2008. Esta lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aquenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite nem a economia é tudo. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro. Como diz Dowbor: ”A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”.  Ele está quebrando tudo, critais, louças e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a super exploração, a mentira e a anti-vida.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

18 Comentários

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  1. Boff toca bem

    Boff toca bem superficialmente no maior problema do nosso tempo. As grandes corporações são as principais inimigas da democracia e da liberdade no mundo em que vivemos. Devem se divertir demais com os embates acalorados e às vezes sangrentos entre os seus testas de ferro (governos, imprensa, FIFA, políticos) enquanto moldam a sociedade e as leis ao seu bel-prazer.

    1. Liberdade tem onde não há

      Liberdade tem onde não há grandes corporações, como na Coreia do Norte. Já na França, como lá tem grandes corporações, não há liberdade, que coisa heim.

      1. Lógico que onde há grupos

        Lógico que onde há grupos unidos – de rua, de empresas , de bancos – estes dão a ordem no pedaço – é  lei da vida, o bando, o coletivo é que manda.  O capitalismo e selvagem se não houver regras . Corporativismo acaba com a vida se não houver regras.

         

        DEUS AA – não é desqualificando as opiniões contrárias as suas que o blog se engradecerá.

         

        Para desqualificar   as opiniões do Leonardo Boff tem que ser muito bom ou muito deus preseunçoso. Te enxerga !

        1. Leonardo Boff? Faça-me o

          Leonardo Boff? Faça-me o favor. Se vc gosta, maravilha mas o tipo está longe de ser uma unanimidade, especialmente na Igreja onde seu esquerdismo radical ficou de tal forma deslocado que a Instituição teve que pedir sua saida.

          Eu respeito Hobsbawn que é muito mais marxista do que Boff, mas a diferença é que Hobsbawn não deixou o marxismo influenciar a perfeita visão de realidade que seus livros expõe.

          1.   Você pode não gostar de

              Você pode não gostar de Marx e outros, mas o próprio Hobsbawm, citado por você vira e mexe, dizia que “na análise da realidade somos todos marxistas”.

              Não seja tão preconceituoso e leia, aos seus setenta e poucos anos, algo escrito pelo próprio Marx.

      2. Desculpe seu Motta, mas que

        Desculpe seu Motta, mas que argumento mais fraquinho. Quer dizer que liberdade é sinônimo de democracia?

        A gente tem a liberdade de ser manipulado igual na Coreia do Norte, acredita que tem liberdade de se tornar um ser medíocre consumista, que está convencido de que pode se tornar um ser humano melhor pelo fato de ter mais. De que ser subdesenvolvido faz parte do destino.

        Uma amiga minha esteve agora em Paris e disse que sair na noite, fora do roteiro turístico tradicional careta, está tão ou mais perigoso que sair no Rio de Janeiro.

        Em geral respeito seus comentarios, mas sempre me vem à lembrança uma música de minha juventude dos Mutantes que dizia assim:

        Essas pessoas da sala de jantar…

    2. Andre e na China , esta tese

      Andre e na China , esta tese do Leonardo Boff, esta valendo, a imprensão que tenho que é um projeto de governo e não de empresas.Penso que qq tese hj em dia , deveria mencionar a China,que sofreu transformações gigantescas nestas 3 decadas.

      1. As transformações na China se

        As transformações na China se dão no sentido OPOSTO ao marxismo leninismo, as transformações são na direção da ECONOMIA DE MERCADO, hoje a China deveria comemorar os 120 anos do nascimento de Mao, as coememorações estão sendo MODESTISSIMAS porque a atual liderança não sabe onde encaixar Mao na Nova China.

        Outro Pais com um capitalismo vibrante e globalizado é o Vietnam, simbolo da esquerdização do mundo nos anos 60, hoje inteiramente integrado a economia de mercado, a esquerda na Asia não tem espaço algum, esta confinada na Coreia do Norte.

  2. Só faltou esclarecer, que

    Só faltou esclarecer, que todo este esquema, que alguns preferem chamar de sistema, é ferrenhamente difundido, estruturado e defendido pela grande mídia internacional, pois sem ela, sem a comunicação, nada disso seria possível. No meu simplório modo de pensar, o calcanhar de aquiles desse império é a desinformação difundida pelos meios de comunicação. Portanto, a batalha principal tem que se dar nesse campo. Ou alguém acha que os poderosos querem as cabeças de Snowdem e Assange à toa.

    1. Voce precisa informar Eric

      Voce precisa informar Eric Hobsbawn, historiador do Seculo XX, sobre essa tese. Quem manda no mundo não são os Governos, é a imprensa, ele nunca foi informado disso, coitado, escreveu 35 livros sem saber desse segredo fenomenal.

  3. Essa tese de que grandes

    Essa tese de que grandes corporações controlam tudo é falsa há 200 anos, tanto que grandes corporações vão a falencia, desaparecem. De 1950 para cá dois terços da grandes corporações anglo-americanas desapareceram.

    No Brasil há 200 grupos empresariais nacionais de grande porte que não são controlados por corporações americanas ou da União Europeia, na India a mesma coisa, na China mais ainda, há grandes grupos na Turquia, Indonesia, Russia.

    Essa tese MARXISTA dos anos 50 é totalmente FURADA, é baseada numa leitura do capitalismo anglo-americano-alemão,

    esqueceu que existem hoje outros poderosos capitalismos não incorporados na tese, como o chinês, o russo, o indiano, o brasileiro, o indonesio, o turco, o sul coreano.

    Teses tolas como essas me lembram meus anos de curso secundario, lá vão 55 anos, os livros de Paul Baran difundindo essas bobagens. O capitalismo é DINAMICO, não é estatico, ele se recicla a cada decada, Lehman Brothers quebrou, os donos do dinheiro em todo mundo mudam numa alta velocidade, hoje novos ricos não herdeiros são o grosso das grandes fortunas.

    O mundo muda, só não muda o cérebro dos marxistas de sacristia que não sabem absolutamente nada de economia de mercado, como ela funciona e se regenera a cada ciclo.

     

  4. o maior mal é o sistema financeiro

    Não sou economista, mas acho que o que tratarei pode ser dito por um leigo. As grandes corporações industriais e de serviços foram um importante motor do progresso desde a Revolução Industrial. A fim da escravidão foi principalmente obra dessas corporações, que tornaram não competitivo o trabalho braçal dos escravos. Uma colheitadeira de grãos faz o trabalho de 400 pessoas. Um trator, o de várias dezenas. O ultrabook no qual digito este texto é quase cem mil vezes mais poderoso do que o “supercomputador” da IBM no qual realizei os cálculos da minha tese de doutorado na California nos anos 1971-1972 e custa dez mil vezes menos. Uma caneta esferográfica de um real á melhor do que uma caneta Parker 51, o meu sonho irrealizado de consumo da juventude. A AT&T mudou  o mundo com a invenção do transistor e mais tarde das telecomunicações ópticas.  A Google fez com que quase toda a informaçao publicada ficasse acessível às pessoas em questões de segundos. Claro que é preciso um controle social das corporaçoes. O primeiro passo para isso talvez seja evitar que o poder econômico seja o grande definidor das eleições dos governos. Se as corporações elegem quem querem, com certeza nunca serão controladas pelo Estado: ocorrerá justamente o contrário.

    O que na minha limitada visão é o pior fenômeno econômico e social dos nossos tempos é o quase completo descontrole das instituições financeiras. Isso já foi apontado por Lee Iacocca há uns 30 anos. Trilhões de dólares podem atravessar o oceano com a velocidade da luz em busca de uma oportunidade de melhores lucros. E quando os bancos fazem besteira e se vem em dificuldade, os governos os socorrem, pois o mundo não sabe mais funcionar sem esses sanguessugas.

  5. Aonde está o inevitável? Se

    Aonde está o inevitável? Se vc à deriva em alto mar é puxado para o fundo pelo “grande branco” –
    como agir? Lutar? Tentar ferir seu assassino ? Seguir até o último grito de desespero rezando?
    Pensarás no desequilíbrio dos ecossistemas?

  6. Monsanto e o poder do veneno

    Monsanto e o poder do veneno

    …a empresa estadunidenses foi mencionada, inúmeras vezes, com uma ativa coautora do golpe de Estado paraguaio, em junho de 2012, que afastou o presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo…

    Do “Diário Liberdade”

    http://www.diarioliberdade.org/mundo/consumo-e-meio-natural/44641-monsanto-e-o-poder-do-veneno.html

     

    Estados Unidos – Brasil de Fato – Os ratos alimentados, a vida toda, com o milho transgênico da Monsanto desenvolveram câncer, problemas hepático-renais e morte prematura em índices bem superiores aos que receberam outro tipo de alimentação.

    Um estudo publicado em 2012, liderado pelo pesquisador francês Gilles-Éric Séralini, mostrou que 50% dos machos e 70% das fêmeas morreram de forma prematura, contra, respectivamente, 30% e 20% dos do grupo que não comeram o milho do Monsanto.

    Se não bastasse a gravidade da denúncia, uma vez que o milho é um dos principais alimentos dos seres humanos, o caso explicitou a outra face da gigante empresa estadunidense do agronegócio: a sua ingerência política nos âmbitos científicos.

    A revista Food and Chemical Toxicology, mesmo reconhecendo que o artigo de Séralini é sério e não apresenta incorreções, se retratou da sua publicação, dizendo que o estudo não é conclusivo. A retratação ocorreu depois de uma agressiva campanha contra o trabalho do pesquisador francês e, pasmem, após a revista ter contratado como editor especial Richard Goodman, ex-funcionário da Monsanto!

    Não faltaram espaços nos meios de comunicação para cientistas, dos centros de pesquisas financiados pela Monsanto, pela Syngente e pela Bayer, repetirem críticas – parciais e inexatas – apenas horas depois da publicação do artigo. A agência de notícias Adital, que publicou essas informações, não esqueceu de lembrar que o mesmo tipo de perseguição sofreu o mexicano Ignacio Chapela, quando publicou na revista Nature um artigo em que denunciava que o milho camponês da região de Oaxaca/México havia sido contaminado pelo transgênico da Monsanto.

    A repetição dessa prática fez com que a Unión de Científicos Comprometidos con la Sociedad emitisse um comunicado condenando a pressão que as empresas transnacionais fazem para que as revista científicas se retratem dos estudos que confirmam danos à saúde pelo consumo dos seus produtos.

    O Prêmio Nobel de Medicina em 2013, Randy Schkman, já havia alertado sobre a promiscuidade das revistas científicas com os grandes grupos empresariais, causando danos à ciência.

    Em Julho, a ONG europeia, protetora do meio ambiente, Amigos da Terra e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza Deutschland (BUND) se prepararam para apresentar um estudo sobre os efeitos do herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato são carros-chefe da Monsanto. O estudo seria apresentado em 18 países. Misteriosamente, dois dias antes da publicação do estudo, um vírus paralisou o computador do principal organizador do evento. Em nenhum momento se responsabilizou a Monsanto pelo ocorrido.

    No entanto, não são desconhecidas as estreitas relações que essa empresa mantém com serviços secretos estadunidenses, com as forças armadas, em empresas de segurança privadas e, principalmente, junto ao governo dos EUA.

    É possível que as relações que a empresa mantém com esse poderoso aparato, com inimaginável capacidade investigativa e repressiva, tenham vínculos com os numerosos relatos de ataques cibernéticos regulares, com padrão profissional, que sofrem os críticos da Monsanto. Com todo esse poderio políticoeconômico, a empresa estadunidenses foi mencionada, inúmeras vezes, com uma ativa coautora do golpe de Estado paraguaio, em junho de 2012, que afastou o presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo.

    O educador Juan Diaz Bordenavce, falecido em novembro de 2012, escreveu que, entre os dez fatores que serviram como detonadores do golpe, estava o “aumento da proibição de sementes transgênicas, o que poderia afetar os enormes lucros da multinacional norte-americana Monsanto”.

    Com o passar dos dias, evidenciou- se ainda mais a participação das transnacionais Monsanto e Cargill, em conluio com a oligarquia latifundiária, as elites empresariais e sua mídia, na execução do golpe.

  7. A mentira pela omissão e o papel da desinformação

    A mentira pela omissão e o papel da desinformação

    Do “Resistir.info”

    http://resistir.info/jf/omissao_desinformacao.html

    Nada do que é importante no mundo é hoje reflectido pela comunicação dita “social”, os media empresariais que arrogantemente se auto-intitulam como padrão de “referência”.

    Para quem pretende uma transformação do mundo num sentido progressista isto é um problema, e problema grave. Significa um brutal atraso na tomada de consciência dos povos, cuja atenção é desviada para balelas, entretenimentos idiotas, falsos problemas e outros diversionismos.

    Omissão não é a mesma coisa que desinformação. Vejamos exemplos de uma e outra, a começar pela primeira.

    A mais actual é a ameaça da instalação de mísseis Iskander junto às fronteiras ocidentais da Europa. Isso é praticamente ignorado pelos media ocidentais, assim como é ignorada a razão porque eles estão a ser agora instalados: o cerco da Rússia pela NATO, que instalou novos sistemas de mísseis numa série de países junto às suas fronteiras. É indispensável reiterar que tanto os da NATO como o da Rússia são dotados de ogivas nucleares.

    Outro exemplo de omissão é o apagamento total de informação quanto ao terrífico acidente nuclear de Fukushima, que tem consequências pavorosas e a longuíssimo prazo para toda a humanidade. Continua o despejo diário de 400 toneladas de água com componentes radioactivos no Oceano Pacífico, o equivalente a uma disseminação igual à de todos os mais de 2500 ensaios de bombas nucleares já efectuados pela espécie humana. Caminha-se assim para o extermínio de uma gama imensa de espécies vivas – da humana inclusive – pois tal poluição entra no ecossistema que lhes dá suporte.

    Outro exemplo ainda é o silenciamento deliberado quanto às consequências do desastre com a plataforma de pesquisa da British Petroleum (BP) no Golfo do México. Tudo indica que a gigantesca fuga de petróleo ali verificada ao longo de meses (100 mil barris/dia?) não está totalmente sanada, pois este continua a vazar embora em quantidades menores. A política activa de silenciamento conta com o apoio não só da BP como do próprio governo americano. Este, aliás, já autorizou o reinício da exploração de petróleo em águas profundas ao longo das costas norte-americanas.

    Este silenciamento verifica-se com o pano de fundo do Pico Petrolífero (Peak Oil) , que também é deliberadamente escondido da opinião pública pelos media corporativos. Pouquíssima gente hoje no mundo sabe que a humanidade já atingiu o pico máximo da produção possível de petróleo convencional , que esta está estagnada há vários anos. Trata-se do fim de uma era, com consequências irreversíveis, cumulativas, definitivas e a longo prazo. Mas este facto é ocultado da opinião pública.

    A maioria dos governos de hoje abandonou há muito a pretensão de ser o gestor do bem comum: passou descaradamente a promover os interesses de curto prazo do capital – em detrimento das condições de sobrevivência a longo prazo da espécie humana. Trata-se, pode-se dizer, de uma política tendente ao extermínio. Veja-se o caso, por exemplo, do fracking, ou exploração do petróleo e metano de xisto (shale) através de explosões subterrâneas e injecção de produtos químicos no subsolo – o que tem graves consequências sísmicas e polui lençóis freáticos de água potável. O governo Obama estimula activamente o fracking, na esperança – vã – de dotar os EUA de autonomia energética.

    Mas há assuntos que para os media corporativos dominantes são não apenas omitidos como rigorosamente proibidos – são tabu. É o caso da disseminação do urânio empobrecido (depleted uranium, DU) que o imperialismo faz por todo o mundo com as suas guerras de agressão. Países como o Iraque, a antiga Jugoslávia, o Afeganistão e outros estão pesadamente contaminados pelas munições de urânio empobrecido. Trata-se do envenenamento de populações inteiras por um agente que actua no plano químico, físico e radiológico, com consequências genéticas teratológicas e sobre todo o ecossistema. A Organização Mundial de Saúde é conivente com este crime contra a humanidade pois esconde deliberadamente relatórios de cientistas que examinaram as consequências da invasão estado-unidense do Iraque. Absolutamente nada disto é reflectido nos media empresariais.

    Um caso mais complicado é aquela categoria especial de mentiras em que é difícil separar a omissão da desinformação. Omitir pura e simplesmente a crise capitalista – como os media corporativos faziam até um passado recente – já não é possível: hoje ela é gritante. Portanto entram em acção as armas da desinformação, as quais vão desde o diagnóstico até as terapias recomendadas. Os economistas vulgares têm aqui um papel importante: cabe-lhes dar algum verniz teórico, uma aparência de cientificidade, às medidas regressivas que estão a ser tomadas pela nova classe dominante – o capital financeiro parasitário. As opções de classe subjacentes a tais medidas são assim disfarçadas com o carimbo do “não há alternativa”. E a depressão económica que agora se inicia é apresentada como coisa passageira, meramente conjuntural. Os media passaram assim da omissão para a desinformação.

    Desde o iluminismo, a partir do século XVIII, a difusão da imprensa foi considerada um factor de progresso, de ascensão progressiva das massas ao conhecimento e entendimento do mundo. Hoje, em termos de saldo, isso é discutível. A enxurrada de lixo que actualmente se difunde no mundo superou há muito as publicações sérias. Basta olhar a quantidade de revistecas exibidas numa banca de jornais ou a sub-literatura exposta nos super-mercados. Tal como na Lei de Greshan, a proliferação do mau expulsa o bom da circulação. E esta proliferação quantitativa não pode deixar de ter consequências qualitativas. Ela faz parte integrante da política de desinformação.

    Os grandes media corporativos esmeram-se neste trabalho de desinformação. Além de omitirem os assuntos realmente cruciais para os destinos humanos eles ainda promovem activamente campanhas de desinformação. Um caso exemplar foi a maneira como apresentavam e apresentam a agressão à Síria. Assim, bandos sinistros de terroristas e mercenários pagos pelo imperialismo — alguns até praticaram o canibalismo como se viu num vídeo famoso difundido no YouTube — são sistematicamente tratados como “Exército de Libertação”. E daí passaram à mentira pura e simples, afirmando que o governo legítimo da Síria teria utilizado armas químicas contra o seu próprio povo. Denúncias públicas de que os crimes com gases venenosos foram cometidos pelos bandos terroristas (com materiais fornecidos pelos serviços secretos sauditas) , não tiveram qualquer reflexo nos media corporativos – foram simplesmente ignoradas. Verifica-se neste caso um padrão misto de omissão deliberada e desinformação/mentira. Tudo orquestrado pelos centros de guerra psicológica do império, que os colonizados media portugueses reproduzem entusiasticamente. A submissão é tamanha que até publicações conservadoras e burguesas dos centros do império, como a Der Spiegel ou o Financial Times, dão uma informação mais objectiva do que os media lusos.

    A par da omissão & desinformação, os media corporativos esmeram-se em campanhas para instilar terrores fictícios. É o caso da impostura do aquecimento global, em que gastam rios de tinta. Nesta campanha orquestrada pelo IPCC e pela UE procura-se instilar o medo com aquilo que poderia, dizem eles, acontecer daqui a 100 anos – mas escondem cuidadosamente o que já está acontecer agora. Os terrores actuais e bem reais devem ser escondidos e, em sua substituição, inventam-se terrores para o futuro, com a diabolização do CO2 erigido em arqui-vilão. Carradas de políticos e jornalistas ignorantes embarcam nessas balelas. Os mais espertos conseguem sinecuras à conta do dito aquecimento global (agora rebaptizado como “alterações climáticas”). Passam assim a sugar no orçamento do Estado português e dos fundos comunitários.

    Este mostruário de exemplos de omissão & desinformação poderia prolongar-se indefinidamente. Ele é o pão nosso de cada dia para milhões de pessoas, em Portugal e no mundo todo. Mas a omissão & desinformação dificulta extraordinariamente a transformação das classes em si em classes para si. A situação é hoje o inverso da que existia no princípio do século XX, quando a consciência de classe dos oprimidos era mais aguda (ainda que o nível de literacia fosse muito menor). Hoje, quem tem maior consciência de classe é a burguesia e a da massa dos despojados é mais ténue. Por isso mesmo a primeira impõe uma lavagem cerebral colectiva e permanente às classes subalternas. Mas a realidade tem muita força e, apesar de tudo, acabará finalmente por se impor. Os povos do mundo já começaram a acordar. Não se pode enganar toda a gente eternamente.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

  8. Dinheiro brasileiro órfão há 40/50 anos

    40 a 50, no Brasil, as pessoas tinham dinheiro associado ao seu nome, ou da sua empresa familiar. O capital hoje não tem pátria e caminha sozinho até as grandes corporações. A virada surge ao tirar o nome das pessoas e ocultá-las em sociedades anônimas. O principal momento das S.A. na história mundial foi no ano de 1867, quando a lei francesa concedeu plena autonomia. No Brasil, apenas em 1976 foi legislado especificamente ao respeito (Governo Militar). Por outro lado, a reforma do sistema financeiro brasileiro teria iniciado no ano de 1965, a partir da criação dos fundos 157, que ofereciam a dedução de investimentos aplicados em ações do imposto de renda, ou seja, parte do imposto de renda recolhido podia ser aplicada no mercado de ações.

  9. Calma, calma

    Elas, através de sua instituição maior, o WB, já criaram a tal da transferência de renda para que você pelo menos não morra de fome quando não estiver mais nas suas folhas de pagamento.

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