Olavo de Carvalho e Militares, de parceiros ideológicos a rivais, por Maria Cristina Fernandes

"Antes de se transformar no principal ideólogo da conspiração militar, Olavo de Carvalho fez carreira como conferencista em colóquios das Forças Armadas e recebeu estreladas condecorações"

Jornal GGN – Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, também representou setores do Exército brasileiro, inclusive recebendo algumas condecorações. Em algum momento, o brasileiro radicado na Virgínia (EUA), foi útil aos militares, especialmente, na atuação política e revisionismo histórico do que foi o golpe de 1964, mas agora os militares são alvos de ataques do escritor. Por quê? Pelo poder da máquina ideológica. A análise é de Maria Cristina Fernandes, em artigo publicado nesta quinta-feira (25) no Valor Econômico.

“Antes de se transformar no principal ideólogo da conspiração militar no governo Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho fez carreira como conferencista em colóquios das Forças Armadas e recebeu estreladas condecorações”, lembra a articulista.

Há cerca de 20 anos, Olavo despontou para o público em palestras voltadas aos militares lustrando a auto-estima do grupo em um momento delicado, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso tomava as primeiras medidas de reparação aos crimes de Estado que aconteceram na ditadura, e quando se deu início a exumação de ossadas e indenização de familiares vítimas do período, como a filha de Carlos Lamarca.

“Uma de suas primeiras conferências se deu no Clube Militar, no Rio, por ocasião dos 35 anos do golpe e a convite do general Helio Ibiapina. Presidente do clube por quatro mandatos consecutivos, Ibiapina chefiava a repressão em Pernambuco quando o líder comunista Gregório Bezerra, amarrado à corda de uma guarnição militar, foi exibido pelas ruas do Recife como um troféu da quartelada”, conta Cristina Fernandes.

No discurso motivacional direcionado aos militares recebeu o nome de “Reparando uma injustiça pessoal”. O escritor disse que os representantes do Exército deveriam ser orgulhar pela morte de “guerrilheiros comunistas” – “Nunca se deteve uma revolução com tão poucas mortes”, completou.

Uma das coisas ditas há quase duas décadas ele ainda mantém hoje, de que ocorreu um fracasso que “devolveu o país para os comunistas”.

“Não se envergonhem de sua obra. Levantem suas cabeças, tenham orgulho e não permitam que nenhum hipócrita comunista venha se fazer de seu fiscal (…) Nunca, nunca cedam a sua dignidade ao falso moralismo da hora, nunca sacrifiquem aquilo que é elevado e digno em vocês àquilo que é baixo e vil num outro qualquer.”

No mesmo ano em que fez a palestra, Olavo recebeu uma carta do então ministro do Exército, general Gleuber Vieira, elogiando seu trabalho como “inteligente, prudente, equilibrado e de bom senso”. Gleuber lhe concedeu a Medalha do Pacificador, a principal condecoração do Exército.

Mais tarde, em 2001, o escritor participou do “I Simpósio sobre Estratégia da Resistência e Mobilização da Vontade Nacional”, promovido pelo Clube Naval do Rio, e também de uma conferência no Clube Naval do Rio. Nesse mesmo ano recebeu a Clube Naval do Rio.

Em 2002, Olavo palestrou na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e passou a colaborar com o Instituto Histórico e de Geografia Militar, via financiamento da Odebrecht. A proposta do projeto era revisar quatro compêndios de “O Exército na História do Brasil”, publicado pela Biblioteca do Exército.

Ainda em 2002, o escritor participou do projeto “História Oral do Exército Brasileiro na Revolução de 1964”. Com a eleição de Lula, saiu do Brasil e se instalou na Virgínia de onde continuou colaborando com os militares.

“Estariam formadas as bases daquilo que Piero Leirner, estudioso da Ufscar, chama de “arsenal ideológico que repolitizar as Forças Armadas” e seria tão importante para engajar a farda na candidatura de Jair Bolsonaro depois da Comissão da Verdade no governo Luiz Inácio Lula da Silva”, completa Cristina Fernandes.

Após a eleição de Bolsonaro, começaram a aparecer as disputas entre Olavo e seus amigos de farda, especialmente, em três ministérios: Itamaraty (Relações Exteriores, Educação e Comunicação, justamente a “tríade da guerrilha ideológica apregoada pelo conferencista militar”, pontua a colunista.

“O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, nunca militou nas hostes do revisionismo mas entrou na mira de Olavo pelo controle exercido sobre os cargos”.

“Os militares perderam para o guru o controle da comunicação, hoje nas mãos do publicitário Fabio Wajngarten, e para dois olavistas consecutivos, Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub, a Educação. Seguraram as pautas mais alopradas, como a mudança da embaixada brasileira em Israel, mas ainda não foram capazes de tirar do cargo o chanceler Ernesto Araújo”, completa.

Em torno do seu projeto ideológico, Olavo se volta a alimentar os eleitores bolsonaristas de extrema direita, e isso não interessa aos militares no poder, que tem como principal objetivo a reestruturação da carreira, algo que passa pelo Congresso. Por esse motivo, eles têm se aliado a um discurso mais equilibrado. A radicalização .é contraproducente até mesmo para a governabilidade, considerando o sistema político brasileiro que inclui as forças do Congresso e do Judiciário.

“O mesmo se aplica para Mourão, que só se justifica como uma alternativa de poder deixando num passado longínquo sua militância na extrema direita militar para abraçar a moderação. Não foi escolhido como alvo do atirador de Virgínia por acaso”.

Os militares, inclusive, são responsáveis por segurar “as pautas mais alopradas” do governo Bolsonaro, como a mudança da embaixada brasileira em Israel. Cristina Fernandes conclui que a batalha entre olavistas e militares “ainda vai longe”.

“Em algum momento, Olavo lhes foi útil. Não é mais. Hoje tem mais serventia para os Bolsonaro pai e filhos, cujo futuro político depende do enraizamento da guerra cultural de direita”, para ler sua coluna na íntegra, clique aqui.

Redação

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  1. No arsenal dos recursos táticos muito usados pela generalidade das Forças Armadas até o presente nos conflitos convencionais, assim como pelos políticos nas democracias ocidentais, em suas ditaduras caudatárias e também pelos adversários de todos eles, o diversionismo conta com praticantes assíduos, além de devotos experimentados. Tenta-se com ele confundir o inimigo e embaraçar suas iniciativas, quando não anula-las ou mesmo ajudar seu formulador a destruí-lo. Acredita-se, em resumo, que uma boa tática política ou militar deve fazer uso inteligente da mentira.
    É claro que nos tempos atuais, sobre os quais paira o potencial destrutivo das armas nucleares, o diversionismo tem pernas curtas e folego difícil. O que não quer dizer que ele se encontra em vias de extinção. As “fake news”, entidade mítica que outra coisa não é que o velho boato, que sempre teve patente de general nas guerras, cumprem a mesma finalidade ao divertir a atenção do respeitável público para uma versão jornalística, invariavelmente mentirosa.
    No caso concreto tratado pelo artigo sobre o capitão e o general, o plano original ainda em execução possivelmente teve a intenção de aproximar a extrema direita e os civis e os militares conservadores brasileiros com vistas a uma aliança eleitoral de todos os descontentes do país no momento das eleições, amortecendo os eventuais escrúpulos daqueles que se consideram portadores da virtude da moderação sempiterna. A história do século passado está cheia de situações idênticas, sendo o caso mais clamoroso o da Alemanha entre os términos da primeira guerra e da segunda guerra mundial.
    As desavenças entre as pessoas dos filhos do capitão (e do capitão, talvez) e do general parecem comprovar de algum modo as suspeitas de diversionismo político, iniciado na campanha eleitoral passada e ainda em curso.
    Mas, suspeitas à parte, nada disso é decisivo nos tempos atuais. O individualismo de fugitivos dos ricos e endinheirados deste país já não permite um único miserável palpite sobre o comportamento de suas despretensiosas ambições, exceto a sorte de seu rico dinheirinho no exterior, no todo ou em boa parte.
    A questões que contam são o tempo que se esgota e a disposição adversa dos elementos da realidade contemporânea.

  2. Coitado do Exército. Há algumas décadas ele tinha um inimigo como Marighela, único brasileiro citado várias vezes no livro A Guerra Irregular Moderna, de Friedrich August Von Der Heydte. O adversário atual dos milicos é um velho banguela. Quando a foto de Olavo de Carvalho sem dentadura vazar na Internet ocorrerá uma crise no Exército.

    Gilmar Mendes chamou a Lava Jato de milícia. Para mim, é impossível dizer como teria sido aquela operação proto-terrorista se Deltan Dellagnol, Sérgio Moro “et caterva” não tivessem atuado com vários níveis de segredos e verdades fabricadas (Manual do Guerrilheiro, Marighela). Curiosamente, apesar de ter destruído a economia brasileira Moro foi premiado e não combatido pelos generais.

    O Exército não sabe mais escolher seus inimigos ou aderiu à técnica de guerra marigheliana?

  3. O texto bem demonstra o fracasso dos governos petistas que se deixaram engabelar por um falso patriotismo miliquento, quando, na verdade (a minha, pelo menos), os militares nunca deixaram de ser fanáticos seguidores da política ultra-direitista norte-americana. Esse estropício, dito olavete, é algo que foge a qualquer mínima compreensão da realidade, por isso, tão incensado pelo miliquismo-de-quem-fica-de-pernas-para-o-ar sonhando com algum comando mariner e outras catervas. Só mesmo esses bolsonadasnazistóides para dar importância a esse louco-de-atar. Pobre país de merrecas.

  4. O ‘Filosófo’ chamou os Milicos de cagões. Um dos Milicos, aquele que ataca o $TF, disse que não é cagão. Então há dois tipos de Milicos: Os Cagões e os Constipados.

    Quem caga com frequência se livra de um peso morto e pode voar. Quem é constipado vive enfezado. Você prefere ser cagão voador ou constipado enfezado?

    O General que ataca o $TF já escolheu.

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