Os impactos da Lava Jato na Petrobras e na economia

Jornal GGN – Uma tese de doutorado do Instituto de Economia da Unicamp mostra que a Lava Jato tem impactos não apenas nos negócios da Petrobras, mas em toda a cadeia de valor e na economia brasileira como um todo. O autor do trabalho, o economista Marcelo Sartorio Loural mostrou que, apenas em 2013, a Petrobras realizou mais do que o triplo dos investimentos da Vale e mais do que o quádruplo de todas as demais indústrias de grande porte somadas.

No ano analisado, os investimentos da Petrobras foram superiores a R$ 90 bilhões, contra menos de R$ 25 bilhões da Vale e pouco mais de R$ 20 bilhões das demais empresas.

A análise científica comprova o que especialistas já vinham dizendo empiricamente: que a Petrobras é a empresa mais importante do Brasil no que diz respeito à relação investimento PIB. “Os dados a partir de 2014 não estão em minha pesquisa, mas já confirmam acentuada queda da dinâmica econômica – e o revés da petrolífera talvez responda por isso. A tese mostra a relevância da Petrobras para o investimento no país, primeiramente no auge mais recente desta variável em nossa economia, de 2006 a 2008, e depois na crise internacional, segurando o nível de investimento do setor industrial”, explicou Loural.

“No período anterior ao pré-sal, a disparidade não era tão grande: R$ 25 bilhões da Petrobras e menos de R$ 20 bilhões das demais somadas, excluindo a Vale. De 2009 em diante, a petrolífera continuou expandindo seus investimentos, ao passo que as outras indústrias retraíram seus gastos em virtude do cenário de crise. Como esta variável econômica visa uma renda futura, dependendo de expectativas quanto aos ganhos, as empresas não investem”

Do Jornal da Unicamp

Efeito dominó

Por Luiz Sugimoto

Tese mostra a importância da Petrobras para a indústria do país; para autor, Lava Jato deve impactar toda a cadeia produtiva

Embora não tenha sido elaborada com este propósito específico, tese de doutorado defendida no Instituto de Economia (IE) mostra que o revés da Petrobras, por conta do escândalo da Lava Jato, pode ter efeitos muito mais impactantes do que se imagina na economia brasileira. Em “Investimentos industriais no Brasil: uma análise setorial do período 1999-2013”, o economista Marcelo Sartorio Loural constata que no último ano da pesquisa (2013), por exemplo, a Petrobras respondeu pelo dobro dos gastos em investimentos produtivos da Vale e de mais 72 indústrias nacionais de grande porte, somados. A tese foi orientada pelo professor Célio Hiratuka.

“O investimento é uma variável importante da economia, tanto para o progresso técnico como para a geração de empregos. Em torno da Petrobras há toda uma cadeia de indústrias, como a naval e de máquinas e equipamentos, que também seria prejudicada por sua paralisia”, observa Marcelo Loural. “Os dados a partir de 2014 não estão em minha pesquisa, mas já confirmam acentuada queda da dinâmica econômica – e o revés da petrolífera talvez responda por isso. A tese mostra a relevância da Petrobras para o investimento no país, primeiramente no auge mais recente desta variável em nossa economia, de 2006 a 2008, e depois na crise internacional, segurando o nível de investimento do setor industrial.”

O pesquisador informa que, em 2013, os gastos da Petrobrás com investimentos foram superiores a R$ 90 bilhões, contra menos de R$ 25 bilhões da Vale e pouco mais de R$ 20 bilhões das demais empresas. “No período anterior ao pré-sal, a disparidade não era tão grande: R$ 25 bilhões da Petrobras e menos de R$ 20 bilhões das demais somadas, excluindo a Vale. De 2009 em diante, a petrolífera continuou expandindo seus investimentos, ao passo que as outras indústrias retraíram seus gastos em virtude do cenário de crise. Como esta variável econômica visa uma renda futura, dependendo de expectativas quanto aos ganhos, as empresas não investem.”

Marcelo Loural afirma que a variável do investimento geralmente é estudada por uma abordagem macroeconômica e, por isso, o diferencial de sua tese de doutorado está na desagregação por setores da indústria brasileira e mesmo por empresas. “É como adotar uma visão de lupa para identificar diferenças entre os setores. Conceitualmente, o investimento é um gasto realizado (no caso pelo empresário) visando ao aumento da riqueza, a uma renda futura. O investimento que tratamos em economia é aquele que gera capacidade produtiva, promovendo mudança estrutural e progresso técnico; e, principalmente, respondendo pela dinâmica da geração de empregos e impactando diretamente na vida cotidiana.”

O autor da tese escolheu o período de 1999 a 2013, primeiramente, por um fator metodológico, que é a disponibilidade de dados. “Os balanços das empresas foram minha fonte principal, sendo que só obtemos dados confiáveis de empresas de capital aberto. Nesse período temos um maior número de empresas deste tipo. Analisei ainda os dados setoriais fornecidos pela PIA (Pesquisa Industrial Anual), do IBGE. Outro motivo é que 1999 marcou o início de uma receita política pautada no câmbio flutuante, na busca pelo resultado primário positivo pelo governo (superávit primário) e, sobretudo, no regime de metas de inflação. Ocorreram mudanças neste tripé econômico, em especial como resposta à crise, mas ele está presente até hoje nas discussões de política econômica.”

Segundo Loural, de 2006 a 2008 ocorreu no Brasil um ciclo positivo de investimentos, o que não se observava desde final dos anos 1970, quando se começou a desenhar um contexto diferente do capitalismo, com predominância das finanças em relação à produção. “Nos anos 2000, em particular após 2003, experimentamos um período de crescimento econômico que perdurou até os primeiros impactos da crise internacional ao país nos últimos meses de 2008. O crescimento não chegou ao patamar de outras épocas, mas de 2004 a 2008 o Brasil apresentou taxas de aumento médio do PIB de 5% ao ano, o que não ocorria desde a crise da dívida no início dos 80.”

Distorcendo a média

O pesquisador selecionou setores industriais como de alimentos e bebidas, têxtil, vestuário e calçados, metalurgia e siderurgia, máquinas e equipamentos e indústria química. “A ideia de olhar com lupa para o investimento foi com objetivo de buscar disparidades, que no início não imaginava tão grandes. Consegui captar informações de 74 empresas de capital aberto e a conclusão é de que duas delas determinam a dinâmica geral. Embora as outras empresas sejam todas de grande porte, seu peso ao investimento agregado é muito menor que de Petrobras e Vale. Por sua enorme representatividade, ambas acabam distorcendo a média resultante da análise dos dados agregados.”

De acordo com Marcelo Loural, a não ser em 2009, quando a crise mundial chegou efetivamente ao Brasil, não se vê uma queda significativa do investimento nos anos seguintes até 2013. “Na verdade, temos uma recuperação do investimento, em alguns momentos até maiores que no período de auge da economia (2006-2008). Mas, analisando setorialmente, constatamos que esta recuperação se deveu quase que totalmente aos investimentos da Petrobras no âmbito do pré-sal, ou seja, não foi regra geral. A petroleira, também por ser uma empresa de controle estatal, não seguiu a lógica da iniciativa privada e acabou segurando a variável do investimento em patamar mais elevado.”

O economista ressalta que seus dados se encerram em 2013, pois com a operação Lava Jato, tudo ficou comprometido para a Petrobras. Em relação à Vale, informa que o auge de investimentos da mineradora coincide com o período de auge da economia em geral, ficando bem acima das outras 72 indústrias selecionadas. “A Vale é dominante dentro do seu setor no país e um ator muito importante no cenário internacional. Em 2007-2008, com o boom das commodities, foi quando seus investimentos mais cresceram, mesmo em uma fase ruim para a economia global.”

O pesquisador chama de “aquisição líquida de ativo imobilizado” o acréscimo de investimento, descontadas as vendas de ativos fixos e a depreciação. Em grande parte dos demais setores, conforme o autor da tese, o indicador é negativo ou muito próximo de zero ao longo do período estudado. “Houve mais investimento para modernização ou substituição de ativo produtivo do que, propriamente, acréscimo de capacidade produtiva capaz de gerar empregos. Mesmo no setor de alimentos e bebidas, que até 2005 foi o que mais investiu depois de Petrobras e Vale, o indicador é negativo de lá para cá, em que pese a grandeza de uma Ambev, empresa inclusive internacionalizada. No auge da economia com o governo Lula (2006-2008), poucos setores apresentaram indicadores positivos e, ainda assim, bastante tímidos.”

Loural acrescenta que há uma distância muito grande entre os outros setores industriais e Petrobrás e Vale – comparativamente, seria algo como um acréscimo de investimento de 5% dos primeiros contra 30% das duas empresas. “Podemos dizer que no Brasil, historicamente, as empresas nacionais investem pouco – os dados corroboram esta ideia corrente. Há anos em que a Vale também supera a soma de investimentos das demais que vêm abaixo. A conclusão é que Petrobras e Vale seguem lógicas diferentes e distorcem os dados obtidos ao se analisar simplesmente o investimento agregado do setor industrial.”

Uma última questão abordada por Marcelo Loural é o financiamento do investimento, que envolve grandes montantes de capital para um retorno futuro. “Muitas vezes é preciso recorrer a fontes externas de financiamento e o ideal é que esses empréstimos sejam de longo prazo, a fim de que a maturação do investimento ocorra. Daí a importância do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] nos anos 2000, embora nem todos os setores da indústria consigam utilizar os recursos do banco. Em grandes empresas que são ‘menores’, como no setor têxtil e de vestuário e calçados, uma das fontes de financiamento é o empréstimo de curto prazo, o que dificulta a realização de investimentos com longo tempo de maturação.”

Publicação

Tese: “Investimentos industriais no Brasil: uma análise setorial do período 1999-2013”
Autor: Marcelo Sartorio Loural
Orientador: Célio Hiratuka
Unidade: Instituto de Economia (IE)

Redação

14 Comentários

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  1. petrobrás

    Como consequência direta do desmonte da petrobrás pelo Moro, Macaé já virou um faroeste.

    O mais curioso é que qualquer assaltantezinho de van anda armado com Glock 9mm que não se compra no mercado negro (farto) por manos de dez pratas. Quem patrocina esse acesso , e a grana?

    1. Que tal perguntar para PF, outras polícias e as FFAA?

      José Carlos,

       

      Essas perguntas incômodas devem ser direcionadas à PF, às polícias estaduais e às Forças Armadas Brasileiras.

  2. Ajuda muito a explicar a
    Ajuda muito a explicar a crise financeira do Estado do Rio de Janeiro. Em torno da Petrobrás gira uma miríade de empresas de diversos ramos, grandes, médias e pequenas. Quando a empresa entra em crise arrasta para o fundo do poço todas as outras conectadas pela estrutura produtiva. Vira um massacre econômico sistêmico.

  3. O objetivo da direita

    Inviabilizar a Petrobrás para sua privatização e destruir o parque industrial brasileiro para sua submissão ao mercado internacional e desmoralização do governo PT. Quem não sabia disto? Agora tem-se a confirmação acadêmica e estatística. 

  4. O estudo comprova o que observamos.

    Li na diagonal. Mas basta correr os olhos por esse resumo, para se constatar a importância estratégica da Petrobrás, não só para implementar políticas anticíclicas, preservando empregos e investimentos produtivos, que se estendem a toda  cadeia de fornecedores, como para financiamento futuro dos setores essenciais como Saúde e Educação, além – é claro – da Soberania Nacional e do desenvolvimento de tecnologia no País.

    Não é coincidência que os EUA tenham se movimentado para espionar e sabotar o governo brasileiro e a Petrobrás, tão logo foi anunciada a descoberta do Pré-Sal, com informações mais consistentes sobre o volume das reservas medidas e recuperáveis. Jamais haveria sérgio moro e Farsa a Jato, sem a ação do alto comando golpista estadunidense.

  5. Mostremos isso aos coxinhas,

    Mostremos isso aos coxinhas, batendo palmas e parabenizando-os pela situação que eles ajudaram a criar.

    É péssimo, mas não deixa de ser uma justiça poética a demissão de coxinhas das Odebrechts, Engevix, OASs da vida, bem como a demissão de muitos engenheiros de montadoras que foram raivosos pregadores da saída “do petê” (haviam certos diretores executivos que só faltavam pregar agressão à “petistas” via facebook).

    Agora, as montadoras preferem executar projetos na China ao invés do Brasil – mesmo veículo e mercados tão díspares, aonde qualquer um investiria?

    1. O problema amigo que os

      O problema amigo que os coxinhas agora acham que estão desempregados por conta da má gestão do PT, eles não conseguem exergar que para acabar com o PT, a oposição, justiça e a grande mídia  teriam que devastar a economia e joga a culpa em cima do governo do PT.

  6. Se a Petrobrás tivesse dinheiro…

    Se a Petrobrás tivesse dinheiro, estaria hoje simplesmente contratando outras empresas que não estão enredadas na lava jato. O resto fica por conta da imaginação de vocês.

    1. Mal informado

      O que existe é uma PROIBIÇÃO da contratação de serviços e do cumprimento de conttatos já acordados com empreiteiras. Dinheiro há de sobra, pois a Petrobras, como todas as grandes empresas mundiais, utiliza crédito.

  7. Intencional

    Este pessoal da vaza jato queria e quer quebrar a Petrobras e o que de importante houver na economia brasileira. Os contatos (escandalosos) que eles mantiveram (e que mantém) com autoridades norte americanas mostra isto com clareza.

  8. Uma Petrobras ressarcida e

    Uma Petrobras ressarcida e indenizada. É isso que a maioria absoluta da população brasileira espera. Seja de esquerda, centro ou direita. Nada de 20% para orgão investigador, 40% para advogado de delator ou outra coisa pior. Levante Petrobras. Cabeça erguida e fé no futuro.

  9. e os dedos sujos do juizeco

    e os dedos sujos do juizeco de Curitiba que proíbe a padaria do Manoel de continuar fazendo qualquer tipo de pão pois pegou seu gerente do turno da manhã fraudando o recheio do sonho.

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