Quando irá nascer o Lulinha Paz e Amor 2.0?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Quando irá nascer o Lulinha Paz e Amor 2.0?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Aqui mesmo no GGN usei conceitos contábeis para descrever, explicar e entender a prisão de José Dirceu.

“No atual estágio das relações políticas, jurídicas e midiáticas não faz mais qualquer sentido recorrer ao Direito Constitucional,  ao Direito Penal e a Teoria do Direito para explicar a forma como o Judiciário tratou José Dirceu. Ele claramente deixou de ser um ser humano. Ele não é mais um cidadão com direitos que pode invocar contra o Estado e opor contra seus adversários dentro e fora da imprensa. José Dirceu foi transformado em duas categorias contábeis justapostas. Só os conceitos de “ativo” e “passivo” ajudam a explicar o destino cruel deste pobre homem sacudido pelo Mercado e pelos seus serviçais judiciários.  

Em liberdade José Dirceu era um “ativo” do PT. Preso ele se tornou um “ativo” da oposição e um “passivo” do PT. Daí resulta que ele se transformou num “passivo” da oposição no exato momento em que foi colocado em liberdade. A prisão dele ordenada Sérgio Moro reequilibrou a relação contábil entre PT e PSDB. José Dirceu voltou a ser um “ativo” do PSDB e um “passivo” do PT. A imprensa pode novamente explorar a imagem de José Dirceu para proporcionar prejuízo ao PT e lucro ao PSDB.”  (leia aqui)

O mesmo raciocínio pode ser aplicado a Lula, mas o resultado será diferente. A prisão do ex-presidente petista provocou uma reação maior e mais intensa do que aquela que ocorreu quando da prisão de José Dirceu. No Brasil, as intenções de voto em Lula aumentaram de maneira consistente. No exterior, a campanha pela indicação dele ao Prêmio Nobel da Paz ganhou adeptos de peso.

Em menos de um mês a prisão de Lula virou um “passivo” para a oposição e um “ativo” para o PT. O que deveria ser um trunfo se transformou num fardo. E não adiantou nada FHC dizer que Lula é um político preso, pois ele continuará sendo visto como um preso político por dezenas de milhares de brasileiros e pelos jornalistas e juristas estrangeiros.

A credibilidade de Lula não foi abalada pela prisão dele. Muito pelo contrário, o que ocorreu foi justamente o oposto. A injustiça evidente cometida por Sérgio Moro e pelos amigos dele no TRF-4, bem como pelos Ministros do STF que negaram o HC requerido pelo ex-presidente, comprometeram de maneira significativa a respeitabilidade do Poder Judiciário brasileiro dentro e fora do país.

As manifestações de irracionalidade dos juízes (refiro-me aqui tanto ao excesso de rigor da Juíza encarregada pelo cumprimento da pena de Lula quanto à incitação ao crime feita pelo juiz Afonso Henrique Castrioto Botelho) apenas comprovam que há algo de podre no reino dos juízes e que esse assunto precisa ser amplamente debatido como uma questão de Estado no próximo governo. Se for eleito, portanto, Lula reunirá enfim o capital político necessário para implementar uma verdadeira e profunda reforma no Poder Judiciário (algo que não ocorreu nem mesmo quando da proclamação da república).

Pessoalmente não creio que isso seja possível. Lula tem se mostrado um estadista muito cuidadoso, pacífico e generoso. O que pode estar em construção é uma nova versão do Lulinha Paz e Amor. Na primeira Carta aos Brasileiros, Lula disse que não iria socializar os meios de produção. Ele cumpriu o que prometeu.

Numa segunda edição daquele documento, ele poderá dizer apenas que não irá bulir demais no Judiciário. Caso isso ocorra, será inevitável fazer uma pergunta dolorosa: Agradar juízes que deixaram de lado a Lei e que apoiaram um golpe de estado irá pacificar o Brasil ou fragilizar ainda mais a democracia brasileira?

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. Não dá para comparar José Dirceu e Lula

    Eu e a maioria dos que tivemos a curiosidade de ler as acusações, processos e condenações sofridas por José Dirceu temos a certeza de que não ficaram provados os crimes de que o acusaram. Portanto as condenações são injustas. Digo e escrevo isso desde 2012, após o fraudulento, farsesco e midiático julgamento da AP-470. 

    José Dirceu é um animal político, um gênio da formulação de programas, com clara visão de Estado e projeto político-econômico de longo prazo. Nos bastidores ninguém o supera. Lula não seria o que é nem teria sido eleito Presidente da República e governado com sucesso sem o trablaho de José Dirceu.

    Mas José Dirceu não é um líder popular e político carsimático como Lula. Dirceu não tem a origem e a história de Lula, retirante, operário, sindicalista. José Dirceu sabe disso e JAMAIS quis ocupar o lugar de Lula. Os dois se complementam. Mas se José Dirceu foi o responsável por levar Lula à Presidência da República, com seu trabalho de articulação política, a arrogância, o autoritarismo de JD criaram para ele muitos obstáculos e inimigos. Quem é do RJ sabe que foi JD o responsável por destruir o PT no estado, ao impedir, de forma autoritária, de cima para baixo, que Vladimir Palmeira, liderança histórica do partido no estado fluminense, disputasse o governo estadual em 1998, com grande chance de vitória.

    Depois de 1998 o PT de desfez e no lugar dele nasceu o PSOL, com os dissidentes. Nunca mais o PT teve forças para sequer lançar um candidato ao governo estadual ou eleger senador pelo RJ. Na Câmara Municipal do Rio a representação do PT é fraquíssima, assim como na Assembléia Legislativa.

    Em BH aconteceu algo parecido, mas a partir de 2008, quando Fernando Pimentel e a cúpula do PT mineiro costuraram com Aécio Cunha a candidatura de Márcio Lacerda à PBH, em vez de lançar candidato próprio, que era o desejo das bases. a partir de então BH, que desde 1996 era governada pelo PT e em aliança com o PSB, do Dr. Célio de Castro, se tornou um reduto tão anti-petista quanto São Paulo. Fernando Pimentel foi para o PT-BH tão prejudicial quanto José Dirceu foi para o PT-RJ. Pimentel foi eleito governador em 1º turno, em 2014; mas ele perdeu na capital mineira.

    Lula é agregador, conciliador, negociador, não é arrogante e ouve tanto ou mais fala. José Dirceu não é nunca foi assim. Portanto é impróprio comparar Lula e Dirceu assim como a reação dos militantes de Esquerda, dos eleitores e dos cidadãos em relaçaõ aos dois líderes políticos.

    1. Não me parece que você tenha

      Não me parece que você tenha qualquer condição de censurar a comparação que foi feita aqui. Na verdade seu longo e cansativo comentário sugere que você não foi capaz de entender o sentido em que a comparação foi feita.

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