Tá na hora agora é free, dar lugar pro Virgílio entrar, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Tá na hora agora é free, dar lugar pro Virgílio entrar

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A guerra contra a democracia iniciada por Aécio Neves resultou no golpe de estado de 2016. O novo regime se expande como uma guerra institucional permanente contra os pobres (revogação de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários).

Duas outras guerras são toleradas pelo novo Estado: a de “alguns” contra todos os “outros” (policiais, fazendeiros, jagunços, pistoleiros estão aproveitando a ocasião para exterminar índios, pobres, pretos, sem terras, favelados, gays, indesejados, etc…); e a que fere mortalmente a liberdade artística e de expressão (Judiciário e MBL se transformaram em censores).

As patrulhas de baderneiros que policiam as universidades, os museus e as ruas se desdobram na internet, onde os agentes graúdos e miúdos do novo sistema de desinformação espalham mentiras e desautorizam verdades. A mídia construiu o golpe distribuindo fake news, o usurpador quer impedir que as true news manchem sua reputação. A mesma reputação que ele não tem e não faz questão algume de ter. 

O Estado Pós-Democrático quer punir Rubens R.R. Casara, juiz que escreveu um livro sobre o Estado Pós-Democrático. Os juristas são livres, desde que não digam o que não pode ser dito. Quando se espalha pelo cambo de batalha, a fumaça da guerra reduz a acuidade visual dos combatentes e esconde o cadáver que tombou antes do primeiro tiro: a verdade factual tem que permanecer morta.

Sem poder debater de maneira racional, nos resta cultivar os mitos. Quem será o próximo presidente: Lula ou anti-Lula?  Bolsonaro ou o anti-Bolsonaro? Mas esta disputa entre versões mitológicas da mesma eleição pode ser entendida de uma maneira histórica.

Em pleno século XXI o Brasil quer eleger um novo rei, mas não sabe de ressuscitará D. Sebastião ou D. Manuel I, o venturoso. Um morreu jovem antes de reinar porque foi abatido na Batalha de Alcácer-Quibir . O outro construiu um Império, mas morreu velho antes de poder desfrutá-lo.

Na internet a guerra se tornou pós-conceitual: a ministra do presidente que abandonou o combate ao trabalho escravo quer ganhar mais de 60 mil porque acredita que foi reduzida à condição de escrava. Curiosamente ela não noticiou o crime à autoridade policial indicando aquele que a escravizou: Michel Temer ficará impune porque ela é uma escrava da casa grande?

A Lava Jato afundou o submarino brasileiro sem disparar um torpedo. O prolongamento deliberado da crise (taxa de juros elevada, política cambial estimulando importações e congelamento do PAC) abortou a modernização da Força Aérea. As tropas do exército já foram movimentadas, mas para brutalizar favelados e não para salvar o que resta de nossa autonomia política.   

O espaço aéreo brasileiro passou a ser controlado por terroristas rurais que bombardeiam indígenas com defensivos agrícolas tóxicos e cancerígenos. No espaço, perdemos a guerra da comunicação ao abrir mão do nosso satélite. A Base de Alcântara é dos gringos.

Crescemos num país endividado escutando que a solução era alugar o Brasil https://www.youtube.com/watch?v=d3iI-ktX2WI. Agora que o país pagou a dívida externa e é credor do FMI estamos vendo Michel Temer doar tudo: Amazônia, água, petróleo, o território e até a nossa auto-estima.

Duplo de Calígula https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/vidas-paralelas-caligula-e-michel-temer, o usurpador transformou o Brasil num hospício romano https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/uma-breve-pax-romana-no-brasil. Nesse contexto só me ocorre fazer uma coisa. Sair deste inferno dantesco escutando Raul Seixas e lendo Virgílio em latim:

victores victique, neque his fuga nota neque illis.
di Iovis in tectis iram miserantur inanem
amborum et tantos mortalibus esse labores;
hinc Venus, hinc contra spectat Saturnia Iuno.               760
pallida Tisiphone media inter milia saevit.

(P. VERGILI MARONIS AENEIDOS LIBER DECIMVS)

 

Morrem, matam, vencidos e vencedores;

Não se rendem, não cedem, não fraqueiam.

Tanta ânsia nos mortais, e de uns e de outros

O vão furor a Jove e ao céu compunge:

Aqui Vênus atenta, ali Satúrnia.

Pálida a Erínis urra e assanha as turbas.

(Eneida, Virgilio, tradução Odorico Mendes, Ateliê Editorial, Cotia SP, 2005.  p. 227)

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  1. A alienação promovida pelos

    A alienação promovida pelos meios de comunicação, liderada pela Globo, e a escola sem partido, ao longo de décadas, disseminaram a  miséria mental, causa maior da miséria material.  Nesse deserto de nação chamado Brasil, o poder do mercado reina absoluto.

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