Temer recuou ou só tentou limpar a imagem de conspirador?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Após repercussão da carta à Dilma, vice cedeu entrevista ao O Globo afirmando que “sempre disse” que vai com a presidente até 2018. Mas, ao mesmo tempo, disse que tem sido procurado pelos “setores interessados” e se colocou como “alternativa” 

Jornal GGN – Repercutiu como um possível recuo, mas ainda não ficaram claras as intenções do vice-presidente Michel Temer (PMDB) com a entrevista que cedeu à equipe de O Globo, publicada na quinta (17). Na primeira exclusiva após a polêmica carta à Dilma Rousseff (PT), Temer repetiu várias vezes que não é “golpista” nem “conspirador”, como quem tenta limpar as críticas que recebeu após o “desabafo”, mas ao mesmo tempo falou que tem sido constantemente procurado por “setores interessados” no impeachment, e se colocou, ao final como “alternativa constitucional” à presidente.

A própria sequência de perguntas de O Globo favorece o roteiro do vice, que tenta, antes de mais nada, esclarecer que defende a solidez das instituições brasileiras, mas não aceita mais retornar ao segundo plano relegado a um vice “desprestigiado” pela própria presidente.

Temer começou afirmando que “incomoda-me enormemente” o fato de “dizerem que estou tramando contra a senhora presidente da República”. “Jamais o fiz”, disse ele, “ao contrário, (…) sempre afirmava que ela iria, e nós iríamos até 2018.”

Segundo Temer, são inúmeros os agentes que o procuram para debater a saída de Dilma, mas o vice tem resistido porque é um grande defensor da legalidade. “Não foram poucos os setores políticos e da sociedade que me procuraram para dizer que o Brasil deveria tomar outro rumo. Sempre recusei qualquer participação em movimento dessa natureza. Minha fala sempre foi de preservação institucional”, afirmou o peemedebista, que salientou que são os “setores interessados” que divulgam boatos sobre sua “conspiração” contra o governo. Além do próprio governo, emendou.

Rompimento com governo

Temer inseriu nos “setores interessados” no impeachment o PMDB, partido que comanda fazendo uma gentileza ao governo, segundo sugeriu na entrevista: evitar o rompimento precoce da aliança com o governo Dilma. “Não são poucas as ocasiões em que o PMDB me insta, quase me obriga, a convocar uma convenção para o rompimento com o governo. (…) Tenho esticado isso precisamente para a data aprazada da convenção que é março do ano que vem. Digo tudo isto para revelar que, em momento algum tive qualquer inspiração, nem aspiração, golpista”, garantiu.

Alternativa

Para reforçar a ideia de que não aceita mais o papel de “vice decorativo”, Temer fez questão de afirmar que, hoje, o que ele diz nas palestras que realiza desde sempre tem repercussão nacional. “Antes, eu era chamado mas não causava tanto efeito. Hoje, quando sou chamado, as pessoas comentam ‘ele é uma alternativa’, ‘vamos lá ouvi-lo’ — é muito provável que haja isso. E o que eu faço? Vou, e digo um pouco das coisas do país.”

Em outra passagem, ele disse que o recém apelidado Plano Temer chamou atenção porque “alguém disse algo para o País” que não fosse mais do mesmo sobre Lava Jato, impeachment e Eduardo Cunha. “Acho que tenho certa liderança, tenho uma certa audiência, para explicar o fenômeno que nos levou a fazer isso.”

Carta à Dilma

Pela primeira vez, Temer deu algum detalhe sobre o diálogo que teve com Dilma após a publicação da carta que denotou ressentimento do vice quanto à falta de protagonismo político no primeiro mandato. Dilma teria, segundo Temer, ficado “preocupada” com a possibilidade de realmenter ter marginalizado o vice. “Ela foi muito franca comigo, estava bastante emotiva quando nos falamos”, relatou.

Temer afirmou ao O Globo que a carta o tornou “popular” e mais “humano” e que, por isso, não entendeu que a repercussão foi negativa. Ele disse que achou uma “piada curiosa” quando, na internet, viralizou a frase inicial da carta – “verba volant, scripta manent: as palavras voam, os escritos permanecem” – associando o PMDB ao interesse em “verba” em primeiro lugar. 

A entrevista completa está disponível aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

37 Comentários

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  1. temer deve ter recuado para

    temer deve ter recuado para tornar o golpe, digamos, mais palatável, mais legitimo…

    poderia ter dirimido dúvidas e dizer que seira uma boa alternativa

    para 2018, dentro da constitucionalidade…

    mas alternativa, agora é golpe

  2. Dilma mande-o passear ,

    Dilma mande-o passear , literalmente. 

    Dilma estará impossibilitada de se ausentar do cargo ou o missivista tomará conta. 

    Encha a agenda dele de compromissos na Africa, na Siberia, Na China, 

     

  3. Temer muretou

    Deu uma bela muretada. Isso porque ele foi com muita sede ao pote e revelou cedo demais as suas intenções. Agora tenta dar uma limpada na barra pela Globo..

  4. Agora já era, daqui a 50

    Agora já era, daqui a 50 anos, os livros de história constarão que no ano de 2015, o vice-presidente, apoiado pela oposição, conspirou contra a presidenta da república.

    Isso será o seu papel na história.

    Amigo da onça, literalmente, de corpo e alma

  5. Aliado é aliado, traíra é

    Aliado é aliado, traíra é traída. Cargos apenas aos aliados comprometidos com o governo. Os traídas devem ser demitidos e denunciados, chega de ajudar inimigos e tradores. 

  6. A história não costuma ser

    A história não costuma ser gentil com conspiradores, ainda mais quando a conspiração fracassa.

    Conseguiu ser menor que o Café Filho, será para sempre lembrado por sua patética carta na qual alegou sua situação de corno manso para tentar justificar sua traição.

  7. O papel que ele deveria ter

    O papel que ele deveria ter tido era um só: dizer á presidente em particular e ao País, em público que, como era parte do processo, iria ficar calado e se manter alheio. Alguma articulaçaõ de bastidores seria normal, como também o seria o Governo fazer.

    O papel seria esse e naõ cartas ridículas que só geraram mais especulações. Ficou claro que ele passou do limite da responsabilidade institucional que detêm ou detinha.

  8. Imperdoável
    Traição inominável.

    Mais imperdoável ainda na medida do envolvimento com Cunha e Aécio, inimigos figadais e detratores de Dilma. As fotos dos três em conluio circulam pela rede; um escárnio e uma afronta. E continua …

    Trair com o inimigo? Para um temer ladino, alta dose de temerária e descuidada arrogância. Contava com a proverbial impunidade ou com a tolerância de Dilma? Ela é boa; lhe concedeu a palavra e respeita sua posição. Na vida civil receberia indiferença e publicidade em qualquer comunicação para não haver dúvida quanto aos diálogos. Quem apunhalou uma vez, porque não repetiria o gesto? Arrependimento. Arrependimento é só o resultado visível de ter sido pego…

    O muito esperto acaba tropeçando na esperteza.

  9. Vice decorador é golpista

    O papel constitucional de vice no Brasil é decorativo mesmo. Ele está lá só para decorar caso o presidente não possa, não esteja ou seja deposto.

    Se tentar fazer alguma coisa é golpista.

    Foi o que ele fez.

    O constitucionalista Temer não sabia?

  10. Recuou depois que o Senador

    Recuou depois que o Senador Renan pediu para o TCU se posicionar sobre as “Pedaladas de Temer”. Pois, segundo Ciro Gomes, ele é o capitão do Golpe de Estado

  11. Recuou depois que o Senador

    Recuou depois que o Senador Renan pediu para o TCU se posicionar sobre as “Pedaladas de Temer”. Pois, segundo Ciro Gomes, ele é o capitão do Golpe de Estado

    1. MAQUIAVEL

      Eu sei o que a Dilma disse ao Temer:

      Vá e faça a lição,  leia 10 vezes o livrinho O Principe do Maquiavel, depois pense 13 vezes antes de agir.

  12. Entidades da sociedade civil

    Entidades da sociedade civil defensoras do direito à comunicação e da democratização da mídia entregaram, na manhã desta segunda-feira (23/11), ao Ministério Publico Federal (MPF), uma representação denunciando 32 deputados federais e oito senadores por serem concessionários de rádio e TV. A expectativa é de que o MPF, por meio de suas sedes estaduais, entre com ações para cancelar as licenças.

    A ação se baseia no Artigo 54 da Constituição Federal, que proíbe congressista de firmar ou manter contrato com empresa concessionária de serviço público. Ainda, jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) confirma o entendimento: na Ação Penal 5301, o STF afirmou que os artigos 54, I, “a” e 54, II, “a” da Constituição contêm uma proibição clara que impede deputados e senadores de serem sócios de pessoas jurídicas titulares de concessão, permissão ou autorização de radiodifusão.

    Segundo a Ministra Rosa Weber, “a proibição específica de que parlamentares detenham o controle sobre empresas (…) de radiodifusão” visou evitar o “risco de que o veículo de comunicação, ao invés de servir para o livre debate e informação, fosse utilizado apenas em benefício do parlamentar, deturpando a esfera do discurso público.”

    Para ela, “democracia não consiste apenas na submissão dos governantes a aprovação em sufrágios periódicos. Sem que haja liberdade de expressão e de crítica às políticas públicas, direito à informação e ampla possibilidade de debate de todos os temas relevantes para a formação da opinião pública, não há verdadeira democracia”. E “para garantir esse espaço livre para o debate público, não é suficiente coibir a censura, mas é necessário igualmente evitar distorções provenientes de indevido uso do poder econômico ou político”.

    As organizações da sociedade civil requerem que o Ministério Público Federal promova ações para cancelar as concessões, permissões e autorizações de radiodifusão outorgadas a pessoas jurídicas que possuam políticos eleitos como sócios ou associados. Além disso, exigem a responsabilização do Ministério das Comunicações pela falta de fiscalização do serviço público de radiodifusão.

    Na última quinta-feira (19/11), o MPF de São Paulo já havia protocolado ação contra veículos de radiodifusão associados aos deputados federais Antônio Bulhões (PRB); Beto Mansur (PRB) e Baleia Rossi (PMDB), um indicativo de que concorda com o entendimento que políticos não podem ser concessionários de rádio e TV.

    A representação é uma articulação das organizações da sociedade civil que compõe o Fórum Interinstitucional pelo Direito à Comunicação (Findac), que reúne procuradores federais, entidades da sociedade civil e institutos de pesquisa. Diversas outras entidades também assinam a representação, como apoio à iniciativa, solicitando que o MPF tome providências em relação aos parlamentares concessionários de radiodifusão nos diferentes estados brasileiros. Em 2015, o Findac recebeu o Prêmio República 2015 de Valorização do Ministério Público Federal, promovido pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

    O combate aos coronéis da mídia não se limita a deputados federais e senadores. Ele deve chegar também a parlamentares e chefes dos executivos estaduais e municipais, assim como em parentes e laranjas.

    Confira abaixo a relação dos 40 deputados federais e senadores sócios de empresas prestadoras de serviços de radiodifusão que aparecem no Sistema de Acompanhamento de Controle Societário – Siacco, da Anatel:

    Deputados Federais
    1. Adalberto Cavalcanti Rodrigues, PTB-PE
    2. Afonso Antunes da Motta, PDT-RS
    3. Aníbal Ferreira Gomes, PMDB-CE
    4. Antônio Carlos Martins de Bulhões, PRB-SP
    5. Átila Freitas Lira, PSB-PI
    6. Bonifácio José Tamm de Andrada, PSDB-MG
    7. Carlos Victor Guterres Mendes, PMB-MA
    8. César Hanna Halum, PRB-TO
    9. Damião Feliciano da Silva, PDT-PB
    10. Dâmina de Carvalho Pereira, PMN-MG
    11. Domingos Gomes de Aguiar Neto, PMB-CE
    12. Elcione Therezinha Zahluth Barbalho, PMDB-PA
    13. Fábio Salustino Mesquita de Faria, PSD-RN
    14. Felipe Catalão Maia, DEM-RN
    15. Felix de Almeida Mendonça Júnior, PDT-BA
    16. Jaime Martins Filho, PSD-MG
    17. João Henrique Holanda Caldas, PSB-AL
    18. João Rodrigues, PSD-SC
    19. Jorginho dos Santos Mello, PR-SC
    20. José Alves Rocha, PR-BA
    21. José Nunes Soares, PSD-BA
    22. José Sarney Filho, PV-MA
    23. Júlio César de Carvalho Lima, PSD-PI
    24. Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi, PMDB-SP
    25. Luiz Gionilson Pinheiro Borges, PMDB – AP
    26. Luiz Gonzaga Patriota, PSB-PE
    27. Magda Mofatto Hon, PR-GO
    28. Paulo Roberto Gomes Mansur, PRB-SP
    29. Ricardo José Magalhães Barros, PP-PR
    30. Rodrigo Batista de Castro, PSDB-MG
    31. Rubens Bueno, PPS-PR
    32. Soraya Alencar dos Santos, PMDB-RJ

    Senadores
    33. Acir Marcos Gurgacz, PDT-RO
    34. Aécio Neves da Cunha, PSDB-MG
    35. Edison Lobão, PMDB-MA
    36. Fernando Affonso Collor de Mello, PTB-AL
    37. Jader Fontenelle Barbalho, PMDB-PA
    38. José Agripino Maia, DEM-RN
    39. Roberto Coelho Rocha, PSB-MA
    40. Tasso Ribeiro Jereissati, PSDB-CE

    Assinam a representação:

    Artigo 19 (membro Findac)
    Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (membro Findac)
    Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social (membro Findac)
    Andi – Comunicação e Direitos
    AJD – Associação Juízes para a Democracia
    INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos
    Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
    FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
    IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
    Levante Popular da Juventude
    MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
    MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
    Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor

     

  13. é muito fácil deixar de ser vice decorativo…

    seja amigo

    pois aliados decorativos lutam pelos mesmos interesses, já os amigos, ah! os amigos, como são raros

    os amigos não lutam apenas, também ajudam nas realizações

    1. em política não existem amigos, reconheço…

      mas reconheço também que para aliados desse tipo, dos que não contribuem para as realizações, a conspiração nunca deixará de ser uma tentação quase que irresistível, como podemos ver e tirar da entrevista

      1. em política tem o seguinte também…

        quando perdemos, perdemos porque somos de menor número

        mas quando vencemos, vencemos porque somos de melhor qualidade

  14. Papagaio de pirata já estava de bom tamanho.
    Painel da Folha
    Abajur
    Amigos dizem que é hora de Temer submergir: “Chegou o momento de Michel assumir o vice decorativo que há nele e se resguardar”.

  15. Temer sempre deu esperança

    Temer sempre deu esperança aos golpistas.

    Foi durante quando esteve a frente da articulação política que o governo teve as maiores derrotas.

    O Temer sempre fez jogo duplo. 

    Não tem reconcíliação. Depois da traição Temer não serve nem para enfeite.

  16. Quer negar o que o pais inteiro viu?

    Agora ele deve escrever uma carta ao Papai Noel pedindo muitos brinquedinhos para passar o tempo se distraindo no Jaburu.

    Se estava descontente com sua função decorativa, agora terá que assumir o papel de espantalho

    Esse traira podia terminar sua carreira política de forma mais honrosa.

  17. Temer

    O boneco empalhado e plastificado é o ser  mais cordato que existe. Mora em cima de muros e está sempre ao sabor do vento. Não descarta nenhuma opção é está sempre atento aquele que lhe trará maior lucro.É um ser abjeto.

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