
D’artangnan D’ourinol episódio 9
Por Rui Daher
Façam chuva e sol, estejam minhas botinas enlameadas ou pisando em terras estorricadas do agrário brasileiro, esta série de crônicas, por sugestão de minha afável editora, será publicada algumas vezes por semana, quando a obrigação do ganha-pão não me impedir. E a obrigação desta semana foi inclemente. Mudar de um escritório que ocupei por mais de 15 anos para uma fábrica no interior de São Paulo. Eita, tranqueira que a gente junta, sô & siá.
Volto do batente temente das mentes do que a aparente e contente Redação me contaria do demente.
– O quê? Ligou? Mentem. O pretendente juris(im)prudente? O Presidente Insano Primeiro? Ele atormentou todas minhas noites dormentes.
– Não, editor prepotente e decadente.
– Nestor, não estou paciente! Quem?
– D’Artagnan D’Ourinol.
– Deixou recado? Número?
– “Incandescente”.
– Como?
– Marca de uma cachaça de Iperó! O número do telefone tá aí. Sobre sua mesa. Ligue e das babaquices seja remetente.
Pestana, Everaldo e Harmônica apenas balançam a cabeça, afirmativamente.
– Vai de fixo.
– A conta foi paga?
– Não, simplesmente, mas ainda não cortaram, definitivamente.
Tento. Responde.
– DARTA, e aí, tudo mente? Estou retornando sua ligação. Desculpe-me, o mente, tudo bem? Muito trabalho.
– Trabalho é a merda que vocês estão me dando com essa porra de entrevista. Chamaram a atenção de todos. Até a Globo anda me batendo. Eu não sou nada perto deles, uma peça da engrenagem, entende, pronto a arrumar uma graninha com palestras e outras pequenas merdas. Quero meus acólitos e um décimo do que ganham em dízimos. Também um exemplar novo da Bíblia, que o meu já está gasto de tanto emprestá-lo à Raquel Cadillac.
– Calma, DARTA. Pelo que entendi, você ainda está preservado.
– Preservado? Com o TOFFEE-LI no meu encalço, ainda mais, agora aliado àquele grande goleiro do passado.
– Avisamos que a barra pesaria por todos os lados. Você, um sabugo de milho, resto de commodity, caldo pra chupação salgadinha, ainda se metendo a Visconde.
– Porra, Rui, tenho meus valores.
– Quais? Aquele PowerPoint assoprado por seu marreco-chefe para fraudar as eleições. Nem aqui na Redação usamos mais aquela ferramenta ultrapassada. Vale nada.
– Faço o quê?
– Já propus por e-mail: entregue-se, Arisco!
– Já estou entregue.
– Ainda não. Falta uma coisa. Desminta aquele PPT. Você tem todas as informações, os fatos que fizeram de Lula um prisioneiro político. Conte tudo. Confesse. Delate os demais. A todos conhecemos. Aquela figura de bigodinho e cara de charlatão, por exemplo.
– E o que ganho com isso?
– Ainda quer ganhar, Visconde de Sabugosa? Você ajudou para que, apenas em uma semana, demitissem o presidente do INPE por ter divulgado dados reais sobre o desmatamento na Amazônia, o mesmo com a presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, a desfeita ao chanceler francês, a declaração de amor ao insano pele-laranja norte-americano. E você, cagando de medo, sobre trapaças familiares em terras do Centro-Oeste, quer mais o quê?
– Dar a entrevista.
– Ótimo! vamos marcar. Poderemos premiá-lo com um novo exemplar da Bíblia, bento por Dom Pedro Casaldáliga (1928-). Taí mais uma oportunidade para pensar e redimir-se. Tchau!
Nota: a musiquinha de hoje não é brasileira, mas tem tudo a ver. Se aproximem de sua poesia (o Nobel Dylan) e reconheçam o porquê.
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