A Sheherazade da política que engoliu o próprio autor

Confesso que quando você me criou não levei muita fé. Os amigos saudaram seu senso de oportunidade. Afinal, Paulo Francis criou uma marca, morreu e o lugar ficou vago. Você tinha cultura suficiente para ocupar o trono. Conhecia cinema, literatura, mais ainda, conhecia a retórica das esquerdas desde seus tempos de UNE, dominava os clássicos marxistas e fizera autocrítica pública. Quem melhor?

E você me criou para ser o último vagido da modernidade contra o atraso secular brasileiro, a esperança europeia contra a colonização portuguesa, o ideal nunca alcançado de repetir o padrão cosmopolita de Nova York.

Achei uma frescura danada, admito, um excesso de sofisticação que não tinha nada a ver. Mas o que fazer: você era o criador, eu a criatura.

Os amigos saudaram seu senso de oportunidade, os intelectuais elogiaram seu estilo, os leitores gostaram e você conseguiu transitar dos bares de Ipanema aos bistrôs do Leblon. Parabéns!

Mas não gostei, insisto. Perdoe a franqueza, você me criou, me deu forma e eu não devia estar aqui falando mal de sua criação: eu. Mas essa fase inicial – de você autor, eu personagem – positivamente não me agradava.

Eu era um personagem menor, criado apenas para satisfazer seu ego. De que adiantavam os artigos brilhantes iniciais? Só para você se lembrar do intelectual que um dia foi, do cronista que pretendia ser, dar uma chegadinha em Ipanema e receber o tapinha nas costas dos amigos?

Lembro-me o dia em que produziu um épico sobre a Casa da Dinda, pretendendo-se um Nelson Rodrigues redivivo. O texto foi celebrado por intelectuais de todas as cores porque, afinal, não foram apenas o  branco e preto que derrubaram Collor.

Foi magistral, admito, mas era muita frescura para o meu estilo grosso e direto. Tentei mostrar que o buraco era mais embaixo, que a civilização cristã ocidental estava ameaçada por hordas de muçulmanos ululantes, pelo fim da União Soviética e que não seria defendida por almofadinhas construindo cenas de teatro grego ou esgrimindo frases bonitinhas e literárias de salão.

Você olhava para mim e gargalhava. Saía de casa e exibia o cinismo dos que se julgam superiores, caçoando de sua criatura – eu – e vangloriando-se da esperteza de desenhar um personagem de teatro e ser aceito no mundo performático do jornalismo.

Os amigos de Ipanema gargalhavam, mas eu sabia quem iria rir por último.

A cada dia que passava apareciam competidores de escol, alertando para o perigo vermelho com o ímpeto de um Eugene McCarty, com a solidez de um Plínio Correa de Oliveira , sem receio de serem desmoralizados como o foram os intimoratos almirante Penna Boto, Amaral Netto e outros heróis incompreendidos da história – que, aliás, você ajudou a desmoralizar nos seus tempos ímpios de CPC e do Pasquim.

Mas, pouco a pouco, fui fazendo você experimentar o gosto de ser um campeão da ordem, da moral e dos bons costumes perdendo de vez esse sentimento pequeno burguês do medo do ridículo.

No começo você resistiu um pouco. Estava ainda com os fricotes desse intelectualismo babaca. Mas não há nada que resista à verdade nua e crua dos fatos.

O mercado mudou e, agora, a mídia queria um campeão branco, um lutador de UFC capaz de encarar a maré vermelha. Já tinha passado o tempo de cronistas prenhes de literatices e fricotes, era chegada a hora de  homens com H maiúsculo. Entendeu? H maiúsculo.

Não bastava simplesmente falar mal da colonização lusitana, das heranças históricas, lamentar a distância que o Brasil ficava de Nova York, não bastava o pornô-chic das críticas elaboradas: eles queriam a sacanagem crua da rua Aurora, o reality show da vida, o BBB da política.

Pouco a pouco, você foi cedendo. E eu fui tomando conta.

Mas admito que venci pelo cansaço.

Você me procurava com o deadline estourando, faltando minutos para entrar na rádio, entregar o artigo, aparecer na TV. Temas pululavam na sua frente. Mas imagine a trabalheira que daria analisar a geopolítica de Obama, a diplomacia de Lula, a política econômica de Palocci ou de Guido, os fenômenos sociais que explodiam na nossa cara, as mudanças culturais trazidas pelas novas classes.

Você não dava conta, tornara-se o grande campeão de boxe que, vitorioso, já não precisava lutar pelo título. Sem a garra inicial, vinha com ar de enfado pedir minha ajuda. E eu dava. Para quê surpreender o leitor? O caminho é acostumá-lo com o prato feito do tema único, acordando-o para o tema dos temas: a defesa da civilização cristã ocidental.

Comecei a catequizá-lo.

Insisti na ameaça da União Soviética. Você rebateu: se a União Soviética acabou, como poderia ameaçar? E eu lhe expliquei pacientemente que os estilhaços da explosão produziram vírus letais que estão contaminando todo o tecido ocidental, entrando pelos cinco buracos da cabeça dos desavisados, piores que a Aids, mais mortíferos que a Peste Negra, mais letais que a criptonita, mais assustadores que o monstro da lagoa negra, mais alarmantes que a mosca da cabeça branca.

Você foi melhorando dia a dia, aceitando meus argumentos, embebendo-se da minha retórica.

E enquanto você descansava, um novo mundo se entreabria no universo dos seus – aliás, dos meus – leitores. A cada dia desenhava-se um novo perfil de leitor, do jeito que eu gosto, querendo sangue, simplicidade, objetividade, o branqueamento da raça, sem esse sentimento molóide da complacência com temas sociais, com políticas de cota, sem os pecados  da ingenuidade, da crença nas utopias democráticas, sem as fraquezas do igualitarismo.

Um dia você acordou mais bem disposto e elaborou um texto dos antigos, caprichado, intelectual. Quando olhou para seu público, viu uma multidão de leitores diferentes. Você os chamou de toscos, analfabetos, reclamou que não era o público à altura do seu talento. Cadê meus leitores qualificados, os intelectuais que tinham orgasmos com meus artigos, os escritores que enalteciam minhas roteirizações da política, os elogios que recebia até de ícones intelectuais da esquerda, como Antônio Cândido?

Aí, dei uma de Analista de Bagé: é o que você tem; é pegar ou largar.

Nem aí você deixou de lado o orgulho. Apenas entregou-se à nova realidade: essas porcarias de leitores que sobraram não merecem coisa melhor. E me passou definitivamente o bastão.

É o que venho fazendo desde então, catequizando os ímpios, queimando na fogueira as ideias estranhas, alertando para os grandes perigos mundiais. Ajudei meu público a entender que o castrismo estava mais vivo que nunca, que a venezuelização era questão de semanas, que os hereges querem dominar o mundo. Tornei-me a Sheherazade da política.

E você foi cedendo, cedendo, até que achei que era hora da minha alforria.

Aí, assumi definitivamente as rédeas, descobri que era hora de sair dessa posição subalterna de personagem e passar a redesenhar o autor.

Você me deu um pouco de trabalho no início. Mas passei a reescrevê-lo todas as noites, não com os pincéis que você utilizou para me criar, mas com broxas, formões, pás de pedreiro, cimento e tijolo.

E pouco a pouco foi nascendo meu personagem predileto: você.

Convenci-o de que os olhos vermelhos de sua melhor amiga poderiam indicar a presença de um guerrilheiro infiltrado no sótão do cérebro; que os sons  e luzes da televisão ligada, quando termina a programação, poderiam ser uma maneira subliminar do comunismo se infiltrar na santidade do lar; que o barulho da madeira do teto indicaria passos furtivos de algum comuna no telhado; que o olhar de Dilma era sintoma da ingestão de droga hipnótica visando lavar seu cérebro e induzi-la a caminhar em direção ao comunismo.

Fui acompanhando dia a dia o personagem magistral que construía. Tive orgasmos de orgulho no dia em que você avançou sobre o barbudo da banca armado de um crucifixo, julgando que fosse o Lula. Ou quando cruzou com um andarilho do MST e passou a gritar “vade retro, vade retro”.

O preço da liberdade é a eterna vigilância. E estamos aqui, eu criador, você criatura, para zelar pelos valores eternos da civilização cristã ocidental.

 

Luis Nassif

103 Comentários

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    1. Quosque tandém?

      Também lembrei de Arjaldo Nabour. Mas é um chute. No vácuo.

      Pode ser a Canhetede, o Rossi Clóvis, Guerreira Fullar, poeta dos homens bons… Pode ser… sei lá…   Rubaldo Ribeiro, Caretano? Pode ser um desses centenas de antigos esquerdas arrependidas , neocons de oportunidade.

      Nassif deixou todos nós com a orelha atrás da pulga.  

      A troco de quê?

  1. Sheherazade

    Boa tarde Luis Nassif, gostaria de saber para quem mandar a conta dos milhares de brasileiros que são mortos anualmente por criminosos, que tem tantos defensores que os consideram rejeitados da sociedade, e por isso nos roubam diariamente e nos matam, com o apoio de pessoas que como você não cansa de defender esses criminosos. O povo comete excessos sim, mas nesses casos que vocês querem atribuir a conta para um comentário que não incentivou a justiça com as próprias mãos, apenas fez uma analise do ocorrido, falo isso, pois aqui onde moro, Rio Verde-GO, nesse fim de semana bandidos sequestraram um jovem e roubaram seu carro, não antes de amarra-lo em uma arvóre num matagal e assassina-lo, mas antes o torturaram, pois estava com o rosto desfigurado e longe dos acalçe de cameras e policias para poder resgata-lo. Me responda por favor Sr. Luiz!

    1. A conta? uma parte dela a

      A conta? uma parte dela a dona de casa do Guarujá, transformada em bruxa, por uma horda ignara, já começou a pagar. falta o resto da fatura, meu caro. sangue com sangue, e tamos conversado. não é isso mesmo que voces querem? a catarse coletiva….começemos a fazer fogueiras pelas esquinas para queimar os do mal. nós somos tao bonzinhos, não é mesmo? vamos pro céu….o resto é que nao presta, nao merece viver. simples assim, nao é? tá solucionado o problema da insegurança pública, (fogueira em cada esquina, pedras e paus em cada mão: somos tão cristãos, rezamos, vamos a missa). Também desse jeito vamos solucionar o problema da insegurança privada, porque vez por outra uma criança ou uma mulher morre pelas máos de quem devia lhes cuidar e proteger. fogueira e apedrejamento para os seus algozes. quem sabe nao começamos a enviar alguns dos bons para fazer curso de apedrejamento com os talibans no afeganistão? Inclusive podemos usar os estádios, que muitos dizem, vao ficar ociosos,após a copa. podemos até cobrar ingresso e tá feito o espetáculo. diversão garantida. o antigo coliseu de roma vai ser fichinha frente ao espetáculo que podemos oferecer….

    2. Merhi sua indignação é

      Merhi sua indignação é justificavel, mas apesar do titulo o texto não é para assassinar a reputação de  Raquel Sheherazade mais uma vez como de costume nos blogs progressistas.

      O alvo foi outro.

      Entenda que você esta comentando onde só tem cobra criada, esta se metendo num ambiente onde não existe limites morais, tudo se justifica, afinal estão lutando por um mundo melhor, e você esta atrapalhando com sua moral “judaico-cristã-ocidental-burguesa”, você é o mal a ser eliminado.

      Eles não ligam para você e seu sofrimento, não ligam para o sofrimento alheio, a não ser se este for objeto para fatura politica, ai sim talvez seja você de alguma utilidade, caso contrário é descarte para o lixo.

       

      1. O Libe tá…

        … com ciúmes… não quet que o outro cometge… vai que o outro entre aqui e faça concorrência com mais bobogem via Farmácia VonMises.

      2. “…esta se metendo num

        “…esta se metendo num ambiente onde não existe limites morais,…”

        Na boa cara… ele não tá no blogue do soldado ou no Tio Rei.

        Aqui tem ética e respeito.

        Troll a gente não tolera…

        Quer debater? Traga argumentos!

    3. Como ninguém lhe deu

      Como ninguém lhe deu atenção…

      Vou lhe ajudar…

      Estude HISTÓRIA DO BRASIL… desde o descobrimento do Brasil por Cabral…

      Acredito que vc vai encontrar os motivos de tantas desigualdades, violência, corrupção!

      Ou vc acredita que depois de mais de 500 anos de desmandos… a culpa é do PT (esquerda) que está há apenas 12 anos???

      Quem acredita nisso acredita em qualquer coisa!

      E, diga-se de passagem…, a ESQUERDA (Lula) foi eleito pelo POVO que estava SATURADO, ENJOADO, ENOJADO de tantos desmandos, de tanta corrupção, de tanto egoísmo de tanta desigualdade!

      Que a ESPERANÇA venceu o MEDO!

      Sabe aquele pânico IMBECIL que Comunista come criança?

      Pois é… a ESPERANÇA superou essas imbecilidades que nossa direita egoísta, mesquinha e perversa (Lembrei do Joaquim) colocou nas cabeças do povão!

      E agora… vc quer culpar o PT?

  2. Inspirado

    Quando via Paulo Francis falar, novinha, ficava impressionada com aquele rosto de oculos de “fundo de garrafa”, que falava rapido, parecia raivoso, e que com o tempo fui achando engraçado, apenas isso. 

    Ja com os novos “Paulo Francis” não rio, não acho engraçados, irônicos, mordantes ou até um tanto pernosticos, como Francis era. Acho apenas pedantes, às vezes ridiculos, quase sempre patéticos, grotescamente caricatos e terrivelmente egolatras.

  3. Caro Nassif (ou Luis, como

    Caro Nassif (ou Luis, como diz o troll aí de cima…é cada uma!) acho que nunca vou te perdoar um dia ter chamado o Jabor de craque neste glorioso blogue. Para seu desgosto, sou obrigado a lembrar de uma das tiradas do Francis, se referindo a Michael Jackson: “Essa nunca me enganou”

    1. Silvio, até outro dia o

      Silvio, até outro dia o Nassif achava que o falecido Civita não sabia o que se passava internamente em VEJA!

      Acho que é o medo de acreditar na verdade, descobrir que não era nada do que ele pensava…

  4. Texto definidor e definitivo.

    Texto definidor e definitivo. Impecável.

    Deus que não me faça mais cruzar com esse elemento.

    E, alías, nem com os seus assemelhados.

  5. Contra HQ … Nietzsche

    Nietzsche

     

    O racionalismo é a negação da vida

     

    «Da minha vontade de saúde, de vida, fiz a minha filosofia»

     

    «Para o forte, o conhecimento, o dizer sim à realidade é uma necessidade tal como para o fraco, sob a inspiração da fraqueza, também é uma necessidade a cobardia e a fuga perante a realidade — o ‘ideal’»

     

    «Condeno o Cristianismo, lanço contra a Igreja a mais temível de todas as acusações que alguma vez um acusador pronunciou. Ela é a maior de todas as corrupções que pensar se podem.»

     

    «O Super-homem é o sentido da Terra… Eu ensino-vos o Super-homem. O homem é algo que deve ultrapassar-se».

     

    Na segunda metade do século XIX, o pensamento de Nietzsche constitui-se como a crítica mais radical e violenta contra a cultura ocidental estabelecida. Essa contestação atinge a cultura europeia em todas as suas modalidades: filosofia, religião, moral, arte, ciência, etc.

    A cultura ocidental está, segundo Nietzsche, envenenada por uma certa moral, por uma atitude antinatural que desvaloriza o mundo sensível, o mundo do devir, tudo o que é corpóreo, em nome da Razão e do Espírito. Os valores e os ideais que a cultura europeia promoveu são o resultado de uma vontade empenhada em instaurar a racionalidade a todo o custo. Esta sobrevalorização da Razão é, para Nietzsche, um sintoma de decadência, de falta de vitalidade.

    O racionalismo ocidental atrofiou a vida humana porque desvalorizou de uma forma radical este mundo e esta vida, transformando em mundo verdadeiro e superiormente real um mundo artificialmente construído, que nada mais traduz do que a incapacidade e a impotência perante a realidade, isto é, perante o sofrimento, a dor, tudo o que no mundo terreno nos inquieta, desconcerta e ameaça. Esta negação da vida, de tudo o que é sensível, corpóreo, dos instintos, das paixões, produziu grandes obras intelectuais, esteve na origem de brilhantes produções do espírito, mas revela-se, no fundo, profundamente imoral.

    Os valores promovidos ao longo de séculos no Ocidente são valores nocivos, prejudiciais, opostos a uma relação saudável com a vida. Não são o produto de uma Razão pura, mas a criação de uma vontade fraca e impotente, incapaz de enfrentar a realidade e dizer sim à vida na sua totalidade.

    A Razão é o instrumento de uma vontade de vingança contra a realidade sensível, é um meio de a destituir de qualquer valor, de desprezar tudo o que na realidade é difícil de dominar ou controlar: o corpo, os sentimentos, as paixões, o carácter imprevisível do devir, no qual a vida consiste.

    Descobertas as raízes indecentes da cultura ocidental, a imoralidade e os baixos instintos que profundamente a determinam, exige-se o derrube dos valores e ideais que, pretensamente racionais, nada mais são do que a negação de uma racionalidade saudável.

    A decadência, segundo Nietzsche, começa com a filosofia socrático-platónica.

    O pensamento ocidental tem identificado a verdade com o Bem, mas o que se tem considerado verdadeiro representa uma construção artificial que nega a realidade e o que se tem considerado bom corresponde a uma condenação de tudo o que é natural, das raízes profundas da vida. Nietzsche avalia negativamente o pensamento europeu desde Sócrates até aos nossos dias.

    Como o cristianismo, herdeiro do platonismo, ocupa um lugar central no desenvolvimento da cultura ocidental, ele é, aos olhos de Nietzsche, o agravamento e a consolidação de uma atitude negativa perante a vida. O que é comum ao platonismo e ao cristianismo é o facto de julgarem a vida à luz de certos valores que Nietzsche denuncia como niilistas. O que os caracteriza ê a procura do Além, de um mundo que transcende este e que, embora não seja mais do que uma ficção, será considerado como o mundo verdadeiro e como o mundo do Bem.

    O desgosto niilista de viver faz com que o cristianismo não represente uma reacção vital contra a decadência helenística mas a sua continuação lógica. O próprio platonismo tinha afirmado a necessidade de distinguir «mundo verdadeiro» (o mundo das Ideias imutáveis e eternas) do «mundo aparente» (o mundo sensível ou do devir), tendo definido o «mundo verdadeiro» como razão de ser ou fundamento do aparente.

    A inevitável consequência desta distinção será o descrédito e a negação da realidade do mundo sensível ou do devir. Neste sentido, platonismo e cristianismo são manifestações sucessivas de uma atitude fundamentalmente niilista (dizer não à vida, considerar «este mundo» como imperfeito, como uma falsa realidade) que determina inteiramente o curso da civilização europeia.

    Ao criticar a cultura ocidental remontando às suas origens socrático-platónicas, Nietzsche vai revelar que tipo de homem é aquele que tem necessidade de contrapor ao mundo sensível ou do devir um outro mundo e porque razão esse outro mundo é considerado como um «mundo verdadeiro».

    A mentalidade do metafísico, que Nietzsche «considera como uma cobardia perante a realidade», não tolera a imprevisibilidade, a instabilidade e a dor que são características desta: um tal mundo fá-lo sofrer, um tal mundo desgosta-o, um tal mundo é odioso. Determinado por estes sentimentos ou instintos negativos, desejando vingar-se de um mundo que ele é incapaz de suportar e ao qual atribui a causa dos seus sofrimentos, o fraco ou o impotente constrói um mundo artificial à imagem dos seus desejos de segurança e estabilidade, de paz e de continuidade e é de tal modo profundo o seu desejo de que exista esse mundo que o vai transformar em mundo verdadeiramente real ou superior. Ao analisar a génese desse tal mundo, Nietzsche não pode deixar de evidenciar que esse mundo é uma construção da fraqueza perante o único mundo real. Aquilo que o Ocidente se habituou a considerar como a verdadeira realidade, e que em linguagem cristã terá o nome de «reino de Deus» ou «vida eterna», é afinal a miserável invenção de vontades fracas e impotentes, o produto do delírio doentio daqueles que nada mais são do que realidades falhadas, seres impotentes e débeis. Poderíamos comover – nos com este desejo de estabilidade e de paz mas, o «outro mundo» não é inventado simplesmente para consolar mas para satisfazer uma vontade de vingança, um ressentimento mesquinho em relação ao único mundo real. Assim, não se deformou simplesmente a realidade ou esta vida ao sobrepor-lhe como infinitamente superior uma outra. Com efeito, o «outro mundo» ou «a outra vida» são ficções destinadas a desprezar, a caluniar e a destituir de qualquer valor o mundo do devir. São estes instintos baixos que, por paradoxal que pareça, determinam subterraneamente os valores, as grandes construções espirituais (morais, religiosas, filosóficas) de que o Ocidente se orgulha.

    Assim, o combate de Nietzsche contra a cultura ocidental, intoxicada pelo platonismo e pelo seu herdeiro populista que é o cristianismo, é feito com o objectivo de reafirmar a vida, de a libertar de uma moral que a atrofia, a contamina e a nega nas suas raízes mais profundas. Não é de admirar que um dos aspectos mais profundos da crítica de Nietzsche à cultura ocidental seja a crítica à moral.

    Com efeito, ela é a raiz de tudo, isto é, de todos os valores que a cultura ocidental promoveu. Por moral, devemos entender a resposta que o homem dá à questão «Como devo agir?» ou «Como devo viver?» Desde bem cedo se estabeleceu na cultura ocidental que o homem devia agir rejeitando tudo o que é natural ou sensível.

    A atitude moral tem sido o convite à evasão do mundo sensível em direcção ao mundo inteligível, dito perfeito e mais valioso. A moral ocidental tem sido a expressão do ódio e da vontade de vingança própria daqueles que negam autêntica realidade a este mundo, tem sido um produto tóxico (moralina) que envenena a relação do homem com o mundo e com a vida, que impede a entrega plena à existência terrena, que inventa paraísos artificiais que transformam a realidade num inferno. Enquanto o homem não se aperceber de que o «outro mundo» nada vale e que só este é que conta, a sua relação com a vida será doentia, enquanto o homem não se aperceber de que onde cresce a dor e o sofrimento também crescem a felicidade e a alegria, continuará a ser uma realidade doente.

    Numa obra inacabada e somente publicada em 1901, um ano depois da sua morte, obra essa constituída mediante a elaboração e recomposição de fragmentos que Nietzsche deixara dispersos, o autor de Assim Falava Zaratustra define o que sempre foi o objectivo da sua reflexão.

     

    «É preciso destruir a moral para libertar a vida.»

    [Nietzsche, Vontade de Poder, vol I]

     

    Traçado esse plano, estabelece o meio que permitirá cumpri-lo:

    «Basta provar que a própria moral é imoral, no sentido em que até agora se entendeu este termo.»

    [Nietzsche, op. cit.vol. I]

     

    Todo e qualquer sistema moral (há morais e não a moral) é determinado por um conjunto de instintos que para Nietzsche são de dois tipos: afirmativos e glorificadores da vida ou negativos e caluniadores. A moral, seja ela qual for, tem um fundamento psicofisiológico, ou seja, é a partir do corpo do sujeito que julga e da forma como este com aquele se relaciona que se constitui a perspectiva sobre a vida chamada valor. A moral, nas suas diversas formas, é manifestação ou sintoma de uma determinada espécie de vida: ascendente ou descendente.

    «Destruir a moral» significa destruir uma certa espécie de moral, mostrar a sua imoralidade, ou seja, que ela satisfaz instintos de ódio, vingança e ressentimento que são um desmentido dos seus próprios princípios. Veremos mais adiante como essa operação corrosiva se efectua.

    «Libertar a vida» significa libertar uma certa forma de vida de uma moral que a intoxica, a denigre e impede a sua plena manifestação.

     

     

  6. O foco do desconcertante

    O foco do desconcertante texto , tem Cep , RG , CPF e Título de eleitor. É preciso mais …?  –  Creio que não , creio que mais importante que dar nome ao boi , é denunciar a farsa que se esconde sob os belos textos e combater os meios que a esconde e difunde … o que foi cumprido com brilhantismo pelo autor.

  7. Quase extranhei o Nassif.

    Comecei a ler  a “pérola” e por uma pequena fatia de tempo, quase pensei que fosse a entrada do Nassif, no pensamento da mídia de direita, e demorei a associa-lo a algum crítico contumaz da situação, ou alguem da turma que se consideram intelectuais de esquerda, que usaram a pouca(ou quase nenhuma) inteligencia da qual são possuidores, para anarquisar.

     

  8. Muito bom, Nassif. Por que

    Muito bom, Nassif. Por que será que a primeira figura que me veio à mente enquanto lia o seu texto foi o Jabour? Se não for, parece. Quanto à criatura acho que pode ser muitos, inclusive passando pelo Joaquim.

    1. comentário sobre Artigo do Luis Nassif

      Nassif te acompanho há muito tempo e sempre admirei sua postura ética, independente e a clareza de seus artigos, palestras, opiniões e comentários. Desta vez você nos surpreendeu . No primeiro momento, “achei que você estava entregando a rapadura, desistindo de tudo”!

      No decorrer da leitura tive a mesma impressão da Malú, a quem quero cumprimentar. 

      Um grande abraço,

      Helton

    2. comentário sobre Artigo do Luis Nassif

      Nassif te acompanho há muito tempo e sempre admirei sua postura ética, independente e a clareza de seus artigos, palestras, opiniões e comentários. Desta vez você nos surpreendeu . No primeiro momento, “achei que você estava entregando a rapadura, desistindo de tudo”!

      No decorrer da leitura tive a mesma impressão da Malú, a quem quero cumprimentar. 

      Um grande abraço,

      Helton

  9. grande texto, Nassif. Mas é

    grande texto, Nassif. Mas é muita vela pra defunto ruim. Uma vez Chico Anísio disse certa vez que o humor mais fácil de fazer é aquele com personagens homossexuais. Basta imitar os trejeitos e colher as gargalhadas. A maneira mais fácil de se destacar como comentarista é partir para o conservadorismo mais embrutecido. Veja os Datenas. A Sheherazade saiu lá de Joâo Pessoa com um comentário contra os festejos de carnaval. O inominado é tão somente um Datena de marca.  No cinema não deu certo. Na literatura, não deu certo. Na militância política, não deu certo. Resolveu fazer o mais fácil. O único mérito foi ter enxergado a oportunidade.

      1. Do Jabor é esta, muito boa por sinal

        Meninos, Eu Vi…

        VOCÊS VIRAM TAMBÉM, MAS ACHO QUE ESQUECERAM.

        Eu vi as empregadas gritando, a cozinheira chorando, o rádio dando a notícia: “Getúlio deu um tiro no peito!”
        Eu, pequeno, imaginava o peito sangrando – como é que um homem sai da presidência para o nada?

        Meninos, eu ouvi, anos depois, no estribo de um bonde:
        “O Jânio renunciou!”
        Como? Tomou um porre e foi embora depois de proibir o biquíni, briga de galo e de dar uma medalha para o Che, eu vi a história andando em marcha a ré e eu entendi ali, com o Jânio saindo, que os bons tempos da utopia de JK tinham acabado, que alguma coisa suja e negra estava a caminho como um trem fantasma andando pra trás.

        Depois, meninos, eu vi o fogo queimar a UNE, onde chegaria o “socialismo tropical”, em abril de 64, quando fugi pela janela dos fundos, enquanto o General Mourão Filho tomava a cidade, dizendo:
        “Não sei nada. Sou apenas uma vaca fardada!”

        Eu vi, meninos, como num pesadelo, a população festejando a vitória do fascismo, com velas na janela e rosários na mão; vi a capa do “O Cruzeiro” com o novo presidente da República de boné verde, baixinho, feio, quem era?
        Era o Castelo Branco e senti que surgia ali um outro Brasil desconhecido e, aí, eu vi as pedras, os anúncios, os ônibus, os postes, o meio-fio, os pneus dos carros, como um filme de horror; Eu, que vivera até então de palavras utópicas, estava sendo humilhado pela invasão do terrível mundo das coisas reais.

        Depois, vi a tristeza dos dias militares, “Brasil ame-o ou deixe-o”, a Transamazônica arrombando a floresta, vi o rosto patético de Costa e Silva,a gargalhada da primeira perua Yolanda, mandando o marido fechar o Congresso.
        Vi e ouvi Jorge Curi na TV, numa noite imunda e ventosa de dezembro lendo o AI-5, o fim de todas as liberdades, a morte espreitando nas esquinas, a gente enlouquecendo e fugindo pela rua em câmera lenta, criminosos na própria terra;

        Depois, vi o rosto terrível do Médici, frio como um vampiro, com sua mulher do lado, muito magra, infeliz, vi tudo misturado com a Copa do mundo de 70, Pelé, Tostão, Rivelino e porrada, tortura, sangue dos amigos guerrilheiros heróicos e loucos, eu sentindo por eles respeito e desprezo, pela coragem e pela burrice de querer vencer o Exército com estilingues;

        Não vi, mas muitos viram meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, na frente dos pelotões, enquanto, em S.Paulo, Herzog era pendurado numa corda e os publicitários enchiam o rabo de dinheiro com as migalhas do “milagre” brasileiro, enquanto as cachoeiras de Sete Quedas desapareciam de repente;

        Depois eu vi os órgãos genitais do General Figueiredo, sobressaindo em sua sunguinha preta, ele fazendo ginástica, nu, para a nação contemplar, era nauseante ver o presidente pulando a cavalo, truculento, devolvendo o país falido aos paisanos, para nós pagarmos a conta da dívida externa.

        Vi, as grandes marchas pelas “diretas” e vi, estarrecido, um micróbio chegando para mudar nossa história, um micróbio andando pela rua, de galochas e chapéu, entrando na barriga do Tancredo na hora da posse e matando o homem, diante de nosso desespero.

        E eu vi então a democracia restaurada pelo bigodão de Sarney, o homem da ditadura, de jaquetão, posando de oligarca esclarecido;
        Vi o fracasso do Plano Cruzado, depois eu vi a volta de todos os vícios nacionais, o clientelismo, a corrupção, a impossibilidade de governar o país, a inflação chegando a 80 por cento num único mês.

        Meninos, eu vi as maquininhas do supermercado fazendo tlec tlec tlec como matracas fúnebres de nossa tragédia.
        Eu vi tanta coisa, meninos, eu vi a inflação comer salários dos mais pobres a 2% ao dia.
        Eu vi o massacre de miseráveis pela fome, ou melhor, eu não vi os milhões de mortos pela correção monetária, não vi porque eles morriam silenciosamente, longe da burguesia e da mídia.
        Mas vi os bancos ganhando bilhões no over e no spread , dólares no colchão, a sensação de perda diária de valor da vida.

        Eu vi a decepção com a democracia, pois tudo tinha piorado, eu vi de repente o Collor vindo de longe, fazendo um cooper em direção a nosso destino, bonito, jovem, fascinando os otários da nação, que entraram numa onda política “aveadada”, dizendo:
        “Ele é macho, bonito e vai nos salvar…”.
        Eu vi o Collor tascar a grana do país todo e depois a nação passar dois anos “de quatro”, olhando pelo buraco da fechadura da Casa da Dinda, para saber o que nos esperava.
        Eu vi Rosane Collor chorando porque o presidente tirara a aliança.
        Eu vi a barriga de Joãozinho Malta, irmão da primeira-dama, dando tiros nas pessoas, eu vi a piscina azul no meio da caatinga, eu vi depois a sinistra careca de PC juntando o bilhão do butim.
        Eu vi Zélia dançando o bolero com Cabral em cima de nossa cara, eu vi a guerra dos irmãos Collor, Fernando contra Pedro e, depois, como numa saga grega, eu vi o câncer corroendo-lhe a cabeça.

        Eu vi o impeachment , eu vi tanta coisa, meninos, e depois eu vi, por acaso, por mero acaso, por uma paixão de Itamar, eu vi o FHC chegar ao poder, com a única tentativa de racionalidade política de nossa história num antro de fisiológicos e ignorantes.

        E, aí, eu vi a maior campanha de oposição de nossa época, implacável, sabotadora, eu vi a inveja repulsiva da Academia contra ele, eu vi a traição de seus aliados, todos unidos contra as reformas, uns agarrados na corrupção e outros na sobrevida de suas doenças ideológicas infantis.

        E agora eu vejo o estranho desejo de regresso ao mundo do atraso, do erro e das velhas utopias. Vejo a direita se organizando para cooptar a oposição, comendo-a, vejo um exército de oligarcas se preparando para a vingança, vejo ACM, Barbalhos e Sarneys prontos para tomar o Congresso de assalto, para impedir qualquer mudança e voltar aos bons tempos da zona geral.

        Meninos, vocês viram também, mas acho que esqueceram.

        1. Eu ví quase tudo isso, e…
          Nou sou tão velho assim, para ter visto o suicídio do Getúlio, e só conhecí pela história, as “forças ocultas” que derrubaram Jango e Janio, porem ao contrário deste mentiroso do Jabour, que enquanto a estudantada e a intelectualidade da esquerda paulistana e carioca,enfrentava as patas dos cavalos dos militares nas ruas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, ele “escondia-se” nas redações dos jornais, nos quais estagiava, e preparava-se, para ser este abutre de hoje, que só conhece o que descreve, como “meninos eu ví” pelas páginas da história da nossa redemocratização, avanços e retrocessos, e que no final da sua crônica confessa está com medo da volta dos poderosos da direita, como se ele, não fosse o mais fiel representante desta camada social.
          Ele não viu quase nada; Ele esqueceu-se do que leu; Ele torce, pelo “quanto pior, melhor” e se há algum risco, de voltarmos à “zona geral”, este risco atende pelo nome de Rede Globo(sua empregadora) Estadão, Folha, Veja, Band, STF, e uma boa parte de um Congresso, que vendeu-se ao PIG.
          Só espero, que ele não tenha te convencido, de que é uma pessoa séria, Alexandre.

    1. Quem é o autor desta frase?

      “A ‘mídia de opinião’ brasileira carece totalmente de responsabilidade institucional. Não importa qual governo está no poder, ela tem uma tendência permanente para flexionar os seus músculos, fabricando crises, descaroçar factoides para ‘aquecer’ cada notícia, como se fosse o mais recente capítulo na saga Watergate.”

      1. AUTORIA

        Em um site estrangeiro a autoria deste comentário é atribuida ao Mr. Luis Nassif:

        “A ‘mídia de opinião’ brasileira carece totalmente de responsabilidade institucional. Não importa qual governo está no poder, ela tem uma tendência permanente para flexionar os seus músculos, fabricando crises, descaroçar factoides para ‘aquecer’ cada notícia, como se fosse o mais recente capítulo na saga Watergate.”

  10. Perda de tempo

    Nassif, você perdeu seu tempo e sua categoria para falar deste traste de gente.Vou ser curto e gorsso: perdeu seu tempo, este cara não merece nada. Já disse, ele, coitado, adoceu com seu próprio ódio bebido a cada dia. Está caindo aos pedaços.

  11. Não reconheço nossa faces, mas nossas almas são uma só e é essa.

    Excelente texto não só pelo conteúdo, mas também pela mescla de “ficção” e verdade. A face não tem traços físicos, o que é pouco importante, mas a alma está toda no texto, aliás, as almas, pois como o Quosque listou – com a falta do Ferreira Gullar –  são muitas em um ser apenas. Trata-se de uma coleção de criaturas zoológicas a que chamamos de grande mídia, ou mídia gorda ou ainda, PiG. Algumas das células (mais disformes do que as outras) dessa criatura tentam mesmo reviver o original como Mainardi e Jabour. Ridículos.  

    1. Decepcionante como vários

      Decepcionante como vários artistas e intelectuais importantes compraram o discurso hegemônico da mídia de oposição, sem ter noção do que ocorre à sua volta, no mundo real dos mais pobres, que eles não conhecem. Ney Matogrosso fala como a manada dos comentaristas do feiceburro, ou fascistbook.

      1. Falou e disse Jair.
         Isso

        Falou e disse Jair.

         Isso vale também para muitos “revoltadinhos” que pululam nos blogs e redes sociais. Não conhecem absolutamente nada da realidade. Não possuem curiosidade histórica e se guiam acriticamente por certo tipo de mídia. 

        Angustia-me os debates em certos ambientes e com pessoas com esse nível de alienação porque: 1) Tenho experiência de vida(59 anos). 2) Sou egresso da base da pirâmide ainda acompanhei todo o processo de transformação do país, e do meu estado, nesses últimos quarenta e cinco anos.

      2. Jair, em que país morava o

        Jair, em que país morava o Ney Mato Fino até 2002?  Seguramente não morava no Brasil ou não lia nada como deve fazer até hoje. O patrão (Natura) lhe paga para falar essas bobagens

    2. Ele agora conhece “couro de lobisomem”
      Este imbecil, que por falta de dinamismo, tá fora das paradas musicais, e não vende mais discos e nem consegue shows, resolveu aventurar-se na análise do momento político brasileiro, e é claro(manipulado pela grande mídia) criticar o “péssimo” estado de coisas do Brasil.
      É sempre assim, todo artista, quando cai no ostracismo, resolve “vender-se” a quem possa prometer-lhe uma possibilidade de voltar ao estrelato perdido. Foi assim com o Caetano, com o Lobão, e agora com o Ney. Que pena ! E ele que até então, e enquanto estava lúcido, sempre foi tão bom intérprete, agora virou um lobisomem.

      1. Continua a ser um grande

        Continua a ser um grande artista, e a dar muitos shows lotados, apesar de ter 72 anos. O problema é que não tem mais contato com a realidade dos mais pobres, conforme expliquei abaixo, e compra o discurso político da grande mídia da qual ele depende…

    3. CONFORME A ESTAÇÃO E O COSTUREIRO DA HORA

      Fiquei com vergonha por ele e olha que o entrevistador foi camarada, educadamente, por várias vezes, jogou a corda e nada do Ney Matogrosso com o Brasil, sair da ignorância factual-opinativa e da fantasia de coxinha rolabostista replicante em que meteu-se. Fiquei com pena, apesar das convicções, de boa parte dos artistas brasileiros, ser feito moda, muda conforme a estação e o costureiro da hora.  

    4. Esse vídeo merece um post.

      Ney é um grande artista, mas está muito mal informado e exibindo um preconceito atroz contra as classes populares. Isso é uma vergonha!!!

    5. é triste!

      Espera-se que a RTP, emissora séria, dê voz ao contraditório. Mas temos que reconhecer: 99% dos artistas brasileiros repetem o discurso da #MidiaBandida. Mesmo que o show seja baancado pelo ninC, o que vale é a propapaganda na #midiabandida.

      Lamentavel a HORDA de artistas hoje de direita que um dia não teve medo de ser feliz.

      E se tornaram estes arautos do amargor…

  12. Entendi como o processo de

    Entendi como o processo de (de)formação política e intelectual de um indivíduo por força de um sistema(ou superestrutura) político-ideológico-midiático que dá as cartas após o naufrágio das esquerdas pós-maio de 68. 

    Pode ser também a luta ou disputa interior que se dá nesse mesmo indivíduo  inteligente e que de repente se sente “orfão” em termos políticos-ideológicos-existenciais, cindindo sua personalidade. Na luta entre esses dois egos emerge, porque vence, o atual Sherezadade da política. 

    Em ambos os casos o personagem seria o Arnaldo Jabor. 

  13. COMPETENCIA

    SEI QUE NÃO TENHO A MESMA CLASSE QUE A MAIORIA AQUI PARA COMENTAR PORQUE NÃO TENHO CULTURA O SOFICIENTE, MAS POSSO VER O ROSTO DO JABOUR ESTAMPADO NA TELA DO MEU COMPUTADOR AFINAL ESTE É O OFICIO DELE JA DESCRITO AQUI MUITO BEM POR VARIOS COMENTARISTAS, NA VERDADE NÃO SEI RIO OU CHORO POR DENTRO É CLARO PORQUE NÃO GOSTO NADA DA FALA DESTE SR JABOUR.

    1. José Carlos,
      Cultura,

      José Carlos,

      Cultura, escrever bem, aqui não significa nada. O que vale é participar, contribuir, emitir opinião. Sou da terra de um homem simples que nunca frequentou escola, mas que morreu respeitado e admirado até no exterior. O nome dele: Patativa do Assaré.Veja isso:

      Eu sou de uma terra que o povo padece
      Mas não esmorece e procura vencer.
      Da terra querida, que a linda cabocla
      De riso na boca zomba no sofrer
      Não nego meu sangue, não nego meu nome
      Olho para a fome, pergunto o que há?
      Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
      Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

      Faça seu cadastro.

  14. “A hipocrisia da mídia” no

    “A hipocrisia da mídia” no Brasil criticada pela TV argentina. Em 48 horas, Jabor desdiz o que havia dito sobre as manifestações de junho do ano passado. Depois o programa mostra também os jovens protestando: “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”. E o comentarista diz que tudo isso ocorre porque a Globo mente, bem como o jornalismo dominante na América Latina, inclusive na Argentina. Imperdível!

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=98qNEqHkZgw%5D

    1.  
       
      Para quem tinha alguma

       

       

      Para quem tinha alguma dúvida da canastrice desse individuo esses dois videos são o “smoking gun” de sua mediocridade.

  15. Genial,
    Lúcido até onde não

    Genial,

    Lúcido até onde não pode mais ir.

    No começo fui tomando pé parecendo gato escaldado, depois concluí que tenho que voltar correndo pro Nietzsche pra me lembrar de mim.

    Gente cadê o sabido das leis? este assunto aí não mexe com os brios dele.

     

     

     

  16. Inspirado!

    Texto bastante forte e inspirado Nassif…

    Na vida tem a hora de conciliar e a hora de bater, e a sabedoria é saber qual é a hora de usar um ou outro.

    Um abraço.

  17. Só os bons e corajosos, sobrevivem.
    Ás veses, chego a temer pela segurança e/ou integridade física, de alguns jornalistas, que a exemplo do Nassif, não temem os poderosos, e chegam a provocar a ira dos poderosos.
    Têxtos provocativos e corajosos como este, do Nassif, as últimas crônicas do Paulo Moreira Leite, as costumeiras “conversas afiadas” do PHA, as corajosas colunas do Eduardo Guimarães no seu blog, o Blog dos sem cultura, o olhar do Azenha, no blog Viomundo, os esculachos desafiadores do Rodrigo Viana, no blog Escrivinhador, os desafios á uma imprensa livre, do Miro do Barão de Itararé, são um “colírio” para os olhos famintos por liberdade de imprensa, por quem acompanha estas feras.
    Tenho um orgulho danado, em ser amigo destas “feras”.

  18. Nassif, está me parecendo um

    Nassif, está me parecendo um Hithcock (xi, esqueci como se escreve, mas vc entendeu, né?) ou Ágata Christie. Desculpe a comparação, mas que vc fez um grande suspense, fez mesmo. Embora a primeira pessoa que me passou pela cabeça tenha sido a mesma de quase todos os que comentaram, penso que vc se refere  ao todo ,  aqueles que se consideram  a “Elite intelectualizada ” brasileira , cujos conhecimentos não contribuiram em nada para entender o que realmente se passa no Brasil após os 12 anos do PT. A dificuldade encontrada em mover um paquiderme de 500 anos não foi percebida por eles, que talvez estivessem esperando um novo Jesus Cristo, o Salvador do Brasil, embora sejam  capazes de jurar de pés juntos que são ateus. Não entenderam que somos latino americanos com tudo o que isto possa significar e pesar em nossa história, interna e externamente. Para falar a verdade,  está me parecendo também que esses seres “superiores” tem abandonado por completo a leitura de bons livros e se fiado em manchetes de jornais, revistas, Tvs, e Blogs limpíssimos. O que dizem em linguagem bonita é a mesmíssima coisa que falam os pobres comentadores desses mesmos blogs.

    Parabéns pelo artigo e desculpe se andei de mal de vc. E andei mesmo !

    1. Nassif esta me parecendo

      Mover um paquiderme de 500 anos.Na mosca.Não estao acreditando que a piramide mexeu com a alavanca de um operario,nessa todos se tornam cegos cegos.Psicologos,sociologos,filosofos e todos os logos estao viajando na maionese e no banditismo de sempre,porque agora percebemos porque somos “obrigados’ a ser  pobres e porque somos obrigados a sofrer mesmo sendo alegres e bonitos por natureza,

  19. O médico e o monstro

    Entendi assim: o médico criou o monstro (para inconfessáveis propósitos). O monstro matou o médico! E o monstro continua com a sua missão supostamente altruísta, mas substancialmente delirante e obscura.

  20. Alguém vai comemorar


    Nassif, em muitos momentos pareceu-me um texto do prof.Hariovaldo de Almeira Prado.

    Os sujeitos são muitos. Os patrocinadores sempre os mesmos.

     

  21. pô, meu!

    maior trabalho para entrar de novo aqui nesta casa, uma verdadeira epopéia para recuperar a senha. consegui. mas meu esforço tinha sentido. precisava dizer que este foi um dos textos mais inspirados que você escreveu. bem no seu estilo, mas adornado de uma beleza literária que você tem cultivado muito pouco.

    parabéns, pois.

    1. Os AJs !
      Texto emocionado que entrou pelos meus olhos , passou pelo meu cérebro e foi parar no meu coração! Parabéns a você!
      Valeu

  22. Que alívio não ter me tornado

    Que alívio não ter me tornado um amigo do Jabor. Seria muito chato perder um amigo assim. Ver a decadência de alguem querido é pior que vê-lo morrer sofrendo. Mas algo me doi ainda : Já admirei este cara . O que faço com as boas memórias ? 

     

  23. ao ler…

    juro que vi uma pena daquelas antigas, belas, leves e suaves, de escrever, cortando ao meio cetros do ouro mais puro  e espadas do aço mais rígido………….

    uau…que escrita maravilhosa……………………….no Japão seria o Samurai mais amado e respeitado

     

  24. Parabéns, Nassif.
    Um

    Parabéns, Nassif.

    Um belíssimo texto que demonstra o quanto mal pode fazer a uma pessoa a desonestidade intelectual.  E você pode, tem autoridade para escrever este texto, pois ninguém pode lhe acusar dessa desonestidade.

    Lamentavelmente, via de regra, aqueles que militam na política são vítimas desta doença, desta praga, desse mal, chamado desonestidade intelectual, levados que são pela necessidade primeira de enaltecerem sua obra perante o povo, afastam-se tanto da realidade deste, distanciam-se tanto, mentem, escondem, disfarçam, tal qual narrado em seu texto, que acabam por ser dominados pelo personagem político que eles próprios criaram para si. 

    E o grande problema decorrente dessa desonestidade pregada dia após dia, é uma horda de seguidores acrítcos, uma enorme massa de fiéis. 

     

  25. anjos e demônios
    Esses textos rápidos- me fez lembrar de uma coleção de livros que li durante o ginásio que era ” Para gostar de ler”.

  26. Fraternidade!

    Não sei o que dizer!  Escrevi e apaguei, me faz tanto mal.

    Senti a ausência, o vazio enquanto lia. Um filme passava. Ate esqueci que existiu outro Jabor. Não as escuridões e abismos. 

    Fiquei com minha consternação, a ilusão e a dor do contorno humano.

    A maioria dos homens, são bons, salvam a alma desta amargura, deste nojo que se tornam alguns homens velhos em imbecis, selvagens e cruéis. Mandão de si como verdade.  Mesmo com conhecimento, intelecto e gabarito se contornam idiotas, egocêntricos e maus.

    Acaba, na solidão com companhias, pobre de espirito com a riqueza do intelecto e conhecimento.

    Esquecido e esquecendo.

  27. Malvado, o Nassif.
    O turco

    Malvado, o Nassif.

    O turco fez a paródia da paródia. O dito (A. J.) escreveu do mesmo jeitinho, muitos anos lá atrás, na FSP sobre o P. F.

    Bem Feito!

  28. O primeiro texto do Jabor que

    O primeiro texto do Jabor que li foi o excelênte “Choram as quatro damas do baralho nacional”, um texto magistral, difícil de se esquecer mesmo tantos anos após. Hoje, bem…hoje creio que o Jabor já está mais apto e condizente para voltar ao Manhathan Connection. Mas, ouso dizer que mesmo após a lamentável metamorfose à direita, ainda assim estaria a anos luz da sua versão mais tosca, Diogo Mainardi.

  29. Personagem e Alma, foi ao
    Personagem e Alma, foi ao ponto.A milhares de anos esta questão inquieta o ser humano, quando somos um ou outro. Somos lobos ou cordeiros. Estamos vivenciando o que a mente é ou o que ela contém. Nunca sabemos ao certo, a luta pela sobrevivência, os relacionamentos, nos remetem a uma linha divisória muito tênue.Mas tem estes personagens, que no atacado fazem guerras, promovem a miséria, no varejo estão nas corporações, no cotidiano das famílias para surpresa delas, sempre prontos para o serviço.No varejão do Brasil colônia eram os capitães à caça dos escravos. Sempre houveram estes capangas, prontos para fazer justiça para e pelo patrão. Na política, se algum totalitarismo aberto fosse o poder no Brasil, eles seriam a linha dura do regime. Na imprensa eles são a voz dos patrões. Não é só uma questão de ideologia, é algo mais fundo.Alma que se vende, se perde, ou foi traída, não sabemos.Compreensível a tristeza que perpassa o post, é triste porque parece uma escolha pessoal, uma inflexão na história da vida de alguém. Talvez não, eles brincaram de cinema, de engajados, de rock, eles estavam preparando-se para servir, o “Devil” não os adotou por acaso.

  30. CAcete, és um literato,

    CAcete, és um literato, Nassif! Porque nunca deixa sua veia literária aflorar desse jeito? 

    Queremos mais!

  31. A melhor parte é:
     “Cadê

    A melhor parte é:

     “Cadê meus leitores qualificados, os intelectuais que tinham orgasmos com meus artigos, os escritores que enalteciam minhas roteirizações da política, os elogios que recebia até de ícones intelectuais da esquerda, como Antônio Cândido?

    Aí, dei uma de Analista de Bagé: é o que você tem; é pegar ou largar.

    Nem aí você deixou de lado o orgulho. Apenas entregou-se à nova realidade: essas porcarias de leitores que sobraram não merecem coisa melhor. E me passou definitivamente o bastão.”

     

    É isso mesmo. Alimentam o povo com lixo e depois reclamam do que o povo lhes devolve.

  32. Nassif, nem precisava ler o

    Nassif, nem precisava ler o texto. Os leitores que te seguem, dissecaram tudo o que você escreveu.

    Uns dizem que perdeste tempo com coisa ruim. Nunca é tempo perdido para desmascarar essas figuras,  que vendem sua massa encefálica aos patrões.

  33. Maravilhoso!!!!!!! Gente, o

    Maravilhoso!!!!!!! Gente, o que que há com os nossos artistas? Que alienação!!!!!!!!!!!! É da gente sentir vergonha alheia. Ele diz que vê na tv!!!! Nei Matogrosso, vai te informar, tu estás necessitando urgentemente. Vergonha nossos artistas querendo falar do que não entendem. Sabem o que mais me espanta? Em pleno século XXI, esses artistas se “informam” pela telvisão!!!!!!!!!!!!!! É  por preguiça ou por ignorância mesmo? Mas eles se acham tão, tão, tantões…

  34. Enquadramentos

    O chapéu não serve somente na cabeça do AJ. Tem mais gente que se enquadra.

    No mais, o Nassif já pode escrever romances.

  35. Ele, sempre ele!

    Então, Nassif! 

    Incrível retrato de uma pessoa que se deixa dominar pela personagem. Como estou relendo Dostiévski, faz lembrar o Pável Pávlovich de O eterno marido. Mas como tomada da personalidade, me recordou um filme que vi há muitos anos,  em 1989, Como fazer carreira em publicidade (How to Get Ahead in Advertising). Lembra o furúnculo que toma posse do corpo do seu “dono”, transformando-o no pulha sem sentimentos que vem a ser depois. Perfeito texto, grande retrato! Pena que o retratado já se tornou o retrato, qual Dorian Gray! E o monstro do retrato é o que fala toda noite nos jornais!

  36. Ele, sempre ele!

    Então, Nassif! 

    Incrível retrato de uma pessoa que se deixa dominar pela personagem. Como estou relendo Dostiévski, faz lembrar o Pável Pávlovich de O eterno marido. Mas como tomada da personalidade, me recordou um filme que vi há muitos anos,  em 1989, Como fazer carreira em publicidade (How to Get Ahead in Advertising). Lembra o furúnculo que toma posse do corpo do seu “dono”, transformando-o no pulha sem sentimentos que vem a ser depois. Perfeito texto, grande retrato! Pena que o retratado já se tornou o retrato, qual Dorian Gray! E o monstro do retrato é o que fala toda noite nos jornais!

  37. obrigado nassif
    quanto mais

    obrigado nassif

    quanto mais livres pensamos

    quando menos EMBRULHADAS idéias IMPORTAMOS

    + ouvimos a voz 

    – @ porta que a porta

  38. Qual gigante foi acordado?

    Nassif,

    Estamos passando por um momento muito delicado no nosso país. Infelizmente. Eu pessoalmente fico triste por tudo isso.

    Pessoas estão focadas em travar uma luta política contra UM governo e esquecem que o Brasil é maior que isso. Esquecem que podem estar acordando outros gigantes adormecidos no nosso inconsciente cultural e social. Gigantes que definitivamente não queremos.

    Anos e mais anos de estímulo e alimentação da grosseria, do ódio e da raiva gratuita, da capacidade de se revoltar e se indignar, sem apresentar propostas e saídas, da incompreensão e falta de diálogo. Anos e mais anos de programas policiais grotescos, comentaristas de TV, radio, jornal e blogs animalescos, colunistas e formadores de opinião que regrediram na capacidade de inspirar a sociedade. Infelizmente até pastores e religiosos abraçaram o discurso fácil da grosseria e da incitação a não-tolerância (não se trata de intolerância). Todos pedindo e clamando por atitudes enérgicas, brutas, ríspidas e duras, mas sem muita direção e sentido. Todos sendo lenientes e tolerantes com o crescimento de certos atos repudiáveis. E pedem isso pelo calor do momento e da tristeza por fatos específicos, mas pedem no “ao vivo” e esquecem as consequências.

    Anos a fio, manchetes e mais manchetes se esforçando para mostrar um país (que não é o Brasil de hoje) indo para o fundo do poço. Não levem isso para o lado partidário. Vejam a história recente. Estamos muito melhor hoje, não em todas as áreas, é claro, mas no geral estamos melhores. Mas a insatisfação é incompatível com a realidade. E por quê? Por quê?

    Hoje quando vi os saques em Recife, percebi um bando de oportunistas, como já tínhamos visto nos protestos, nos palanques políticos e midiáticos, e no empresariado. Aí percebi que o gigante que foi acordado na Copa das Confederações, foi o gigante da ira, o gigante do oportunismo barato e aproveitador, da revolta gratuita e sem direção, o gigante obscuro que algumas vezes circula em nossas almas quando ficamos diante de barbaridades e injustiças.

    Os bandidos de ontem viraram bárbaros civis que queimam, decepam, curtem a morte alheia, do “inimigo”, sem piedade. Os cidadãos viram blackblocs, saqueadores, proclamadores da justiça com as próprias mãos, justiceiros, ladrões para manter uma vida fácil, de luxo e luxuria. Nossos funcionários públicos viraram justiceiros institucionais, utilizando-se dos instrumentos do Estado para lavar suas almas, atender a seus anseios particulares e seus cinco minutos de loucura. Nossas referências foram se reduzindo, foram sufocadas por este ar poluído e por este ambiente cada vez mais árido.

    Hoje protesto vira quebra-quebra, greve vira motivo para saques coletivos, prisão de criminoso vira momento para linchamento e deleite (i)moral, disputa política vira guerra de torcidas, jogo de futebol vira rinha de galo. O gigante da ira, da barbárie e da incompreensão foi acordado e espalhou-se como vírus pelo ar.

    O mais irônico disso tudo é que o gigante acordou em plena Capo do Mundo no País do futebol. O futebol é, historicamente, o evento capaz de mobilizar nações para o bem , de unir povos, e que no Brasil tem um significado especial. Pois bem, a Copa virou o palco para o povo brasileiro soltar todos os seus bichos escrotos.

    Depois querem se envergonhar de ser brasileiro.

    Só tenho a lamentar.

    Parabéns Nassif, por ter mantido um mínimo de sobriedade neste campo de batalha.

     

     

  39. artigo do Nassif Sheherazade da política…

    Primoroso! Deixa no leitor a sensação de quero mais, de que é preciso ler de novo para sorver como mais deleite a literatura do texto. Obrigado. 

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