Do homem-deus pastor do rebanho, por Eduardo Ramos

(relato de um ex-seguidor anônimo da religião chamada Lava Jato)

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Do homem-deus pastor do rebanho

por Eduardo Ramos

(relato de um ex-seguidor anônimo da religião chamada Lava Jato)

Olha a multidão ao seu pastor. Estão comovidos, ouvem-se gritos histéricos. Sorri o homem, o gozo do poder o consome, “Quem diria”… – pensa, orgulhoso de si mesmo – “sair de onde saí e chegar até aqui, amado, adorado, admirado por multidões…”

Começa sua pregação, as falas simplórias, sabe o que quer a multidão, seu rebanho cativo. Treme o homem, excitadíssimo, pensando na satisfação que lhes concede, as catarses, os paroxismos, a fé nas crenças que ele lhes ensinara pacientemente ao longo dos anos…

“Bem vindos, irmãos! aleluia!” – grita, eufórico, ovacionado pelo hipnotizado rebanho humano, as mãos se erguendo, como se quisessem tocar o seu ungido.

“É chegada a hora tão esperada! Livremos a terra de toda a presença satânica, limpemos nossa nação do mal, completemos a obra do bem, quem está comigo, grite bem alto um “amém” que suba até os céus!”

E grita enfurecida a turba, e gemem as mulheres, num êxtase quase erótico, urram os homens, choram as crianças e os velhos….

“Sim, meus amados, homens e mulheres de bem dessa linda nação! É chegada a hora, o gozo final nos espera, a celebração, o clímax de todo esse processo…. É como a metáfora do apocalipse, Satanás será derrotado e humilhado, e preso por mil anos…. A vitória é nossa, da luz, do bem…”

E urra mais uma vez o rebanho humano, e exultam, e exaltam ao homem-deus, o justiceiro, a encarnação da verdade, da luz, da justiça….

“Não é pecado odiar aos perversos, meus irmãos! Odiar o mal e os seres malignos presentes nessa terra de Deus…. Celebrai, celebrai! Em breve pisarei em vosso nome, no inimigo de todos nós! Em nome de todo ódio santo, legítimo e justo, um último amém, de todos vós, que amais a justiça, a verdade, a liberdade….

E num orgasmo feito de histerias e catarses inumanas, brutas, animalescas, repete o povo, tomado de todos os paroxismos que pode suportar a alma:

“Em nome de todo o ódio, justo e legítimo, amado pastor, amém, amém, amém, e amém!…..”

E dão-se as mãos os homens de bem… Ao sinal do bom pastor, inicia um maestro, uma música celestial….

(eduardo ramos)

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