Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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“Já não andava bem, agora então”, por Rui Daher

Por Rui Daher

Semáforos

Saúde claudicante, finanças corroídas entre juros do especial e do cartão de crédito, o Santos fazendo a vergonha do litoral e a alegria do interior no Paulistão, um Flamengo miserável contra o Vasco e, segunda-feira, depois da chuvarada, levei duas horas e meia entre Indianópolis e Pinheiros.

No caminho, reparei ciclovias vermelhas completamente vazias. Burro, pensei. Como ainda não me deixei convencer pelo secretário municipal dos Transportes, Jilmar (o goleiro com G era melhor) “Sem” Tatto, a usar minha magrela 7.0 para o ir e vir entre o trabalho e a casa?

Claro que me bateu certo arrependimento, até notar que não foi o dilúvio que causou o congestionamento. Repetia-se o que acontece em qualquer dia de chuva, forte ou fraca. O semáforo entre a João Cachoeira e a Juscelino tinha pifado.

Sim, apesar de toda a modernidade que a cidade de São Paulo vive hoje, aquelas bolas vermelhas, amarelas e verdes teimam em dormir ou piscarem tolas, atraindo-nos com olhos gialos.

Como “estamos construindo uma cidade para o futuro”, temo o passado. Citadinos à boca miúda, taxistas a cada buraco no asfalto, começam a clamar:

“Volta, Dr. Paulo”.

Velhos: Pogrom ou Morte

Percebo um certo quê de nazismo nas companhias seguradoras de vida e saúde, no Brasil.

Consideram-se arianas e tomam os idosos como fossem raças a serem exterminadas rapidamente. Não preciso lembrar as histórias de terror e morte no século passado. Sabemos todos.

Doem-se com nosso envelhecimento. Suas normas, muitas aceitas sem lermos ou eticamente avisados, imitam trechos de “Mein Kampf”, de Adolf Hitler. Seus departamentos jurídicos reproduzem métodos da Gestapo, entupindo com ameaças nossos correios.

Para negociar nossas súplicas indicam atendentes elegantes. “Aviões” que lembram a Luftwaffe no visual, mas demoníacas ao invalidarem nossos direitos legais.

Amigos e amigas idosos, não bobeiem. A Lei assegura-nos vários direitos contra os aumentos abusivos que eles nos impõem à medida que engatamos as 3ª, 4ª ou 5ª marchas da idade (sobre os que conseguem chegar à 5ª, minha mãe se referia terem orelhas grandes). Aposto que muitos correram ao espelho.

Procure, pois, um bom e especializado escritório de advocacia. Poderá ficar caro. Mas você se sentirá um Zagallo, a bradar: “vão ter que me engolir”. Acaba de acontecer comigo.

Blogs embrionários

Vale um reparo nas redes sociais, Facebook principalmente. É cada vez mais notória a presença de jornalistas e colunistas da mídia impressa usando-as como fossem seus blogs particulares.

Não condeno, não. Acho justo e honesto. Apenas peço que botem reparo e opinem se deliro.

Insidiosos assuntos vão além de suas especialidades. Valem ópera, samba, teatro, OVNI, literatura, viagens com fotos reminiscentes, cinema, história, bebês, filosofia, receita de rabada, enfim, até de ursos que comem galinhas já fiquei sabendo. No sentido nutritivo, claro.

Levam uma boa vantagem sobre quem se expõe a um blog, não importa se sujo ou limpo. Estes, são abertos a todo tipo de porrada. Já quem faz do FB seu blog só dá abrigo aos amigos, o que lhes garante refinadas babas de ovos, compartilhamentos, comentários: “Aí, puta sacada! Só você mesmo”.

É fato que, para alguns, isso pode ser apenas um grande divertimento. Ou não. Quem sabe, legitimamente, preparam a transição para um futuro breve diante do caminho que a palavra escrita percorre no planeta.

Temor, Tremor

Bem, quem conhece meus causos passados sabe que, há quase 20 anos, desastre executivo convive comigo e me faz continuar trabalhando, apesar da baita preguiça. Pretendia, ao chegar nesta idade, “deixar a vida me levar” até Xerém, onde estava certo escravo quando não viu Sinhá se banhar. Sempre que estou prestes a me livrar dessa herança maldita, algo me põe atrás. Entenderam, né?

Leio no respeitado, ou melhor, sisudo, jornal Valor Econômico, reproduzido hoje na Folha Frias Filho que a operadora de telefonia Oi instalou uma antena de celular pertinho do sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Lula. Alegam “presente”, hoje abacaxi.

Somarem todas as suspeitas colocadas sobre mordomos nos cinema e literatura policiais elas não se igualarão às aplicadas ao Inácio da Silva, dois mandatos de presidente da República.

Temo e tremo, pois. Nunca fiz questão, nem pedi. Certo dia, puseram uma antena dessas perto de uma terrinha que eu tive em Socorro/SP.

Ferrou! Eles andam olhando o passado de grandes empreiteiros. Eu sou um, de ideias. Fico imaginando o juiz Sérgio “Camicia Nera” Moro mandando o “Japonês da Federal” me investigar pelo privilégio.

A propósito, a propriedade foi a leilão. Perdi. Evidência ou atenuante?

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

11 Comentários

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      1.  
         
        Falando em causos, dia 18

         

         

        Falando em causos, dia 18 me aconteceu um dos bons. Quase idêntico ao do engenheiro bombinha de “relatos selvagens”. Carro do meu filho foi guinchado. Detalhe eh que estava estacionado ha um mês , em local permitido. Quando fui ao órgão de transito, mostraram-me uma foto do carro e misteriosamente apareceu na foto uma placa de estacionamento proibido . Obviamente uma armação. Voltei ao local, conversei com os porteiros e os mesmos me informaram que a tal placa era da outra rua, uma marginal a cerca de 20 Metros e que estava jogada na grama desde que foi atingida por um veiculo a uns 5 meses.. Fui lah, e a tal placa estava jogada na grama. Fotografei a mesma bem como seu buraco original, de concreto. Fotografei vários carros qe ali estacionam diariamente. Peguei todo este material e fui a ouvidoria.Abriram o processo. Duro mesmo foi pagar 500 reais de guincho, estadia , e ainda ter que recorrer. Tomou-me 2 dias este pesadelo.

  1. Evidência

    Evidência na certa se for amigo do Lula.  Mas se for amigo dele, já  se vão anos  de uma vida que valeu a pena.

    Se bem que a velhice ( ou melhor a experiência)  traź consigo algumas diferenças.

     

    Afinal dói as costas o umbigo e o lumbago

    A barriga ja encobre   o velho amigo

    A vida já encobriu  certos sonhos

    Turvou certos caminhos

    E nas ondas  que flutuam e comunicam

    As nóticias vem cheia de ruidos

    Cheio de idéias algumas boas e outras de carcomidos

    Mas valeu mesmo foi o vivido

    Ora doído,  ora gozoso

    Gostoso,  quando a coragem não faltou

    Mesmo para enunciar um dito de amor

    Ou porque não ?  um mal dito

    Mas para que esta maldita  antena? 

    Se de formigas  só temos a pena.

     

    Um abraço de quem gosta de te ler.

    Frederico

     

    1. Desculpe-me,

      somente agora responder-lhe. As velhas andanças, sabe? Bom foi ler seu texto, fez-me pensar em retirar a antena, já que de nós, formigas, as pessoas só têm a pena. Abração 

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