Não é possível cantar enquanto se lê notícias de jornal
por Maíra Vasconcelos
ouça o áudio da crônica 110820_003
Hoje, ao ler os jornais, percebi o óbvio, que não é possível cantar enquanto se lê notícias. Talvez porque as palavras de jornal tenham essa rigidez de quem deve responsabilidade e satisfação sociais. E, ainda, a tal da objetividade. Meu Deus, lemos páginas e páginas de jornal em busca daquilo que preferiríamos não ver. E nem sequer há espaço para cantar. Pior, nos tempos atuais, ler jornal pode ser como participar de um funeral obrigatório.
E hoje, ao ler os jornais, vi a sua cara mais bruta, não era possível cantar, buscar ritmo nem harmonia. Ora, e já existiu algum jornal harmonioso? Os jornais são verdadeiros poços fundos de informação. Por exemplo, desde as informações de uma bula de remédio até para que serve cada peça de um carro, isso interessa aos jornais. Mas, cuidado, não confundir informação com realidade. Ainda que toda informação seja mesmo fundamental. E rígida de dar dó, não canta nadinha. Mas vá viver sem qualquer informação e serás um poço vazio.
Bom mesmo é poder cantar enquanto se lê. Porque, às vezes, no silêncio da leitura de um romance ou de um poema, quem saberá se alguém está cantando, meditando ou apenas fingindo de bobo para não se ater demais as realidades. Ah. Quantas desculpas para camuflar as notícias do dia. Apenas porque alguns precisam cantar diante do horror, cantar enquanto se escreve ou se lê, isso que os jornais jamais podem mentir ou disfarçar. E, além do mais, estão proibidos de fazê-lo. Os jornais não possuem qualquer compromisso com a beleza, afinal, não trabalham para transformar os horrores. Os jornais e sua obrigação de retratar, expor e anunciar cada uma de nossas tristezas, como se não fossem.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Quem canta, deus males espanta
Eu vou cantar, eu vou cantar
Eu sou Maguila, não sou McCartney