Os Cavaleiros do Apocalipse e sua primeira caçada na Amazônia, por Sebastião Nunes

As antas, perdão, os cavaleiros, seguidos pelos oito seguranças, saltaram de paraquedas na clareira em que estava a outra anta, aquela confundida com elefante no capítulo anterior.

Os Cavaleiros do Apocalipse e sua primeira caçada na Amazônia

por Sebastião Nunes

As antas, perdão, os cavaleiros, seguidos pelos oito seguranças, saltaram de paraquedas na clareira em que estava a outra anta, aquela confundida com elefante no capítulo anterior.
Eram paraquedas confiáveis, fornecidos pelo compadre Trump, de modo que os cavaleiros não tiveram receio algum de saltar com seus apetrechos de caça.
Os seguranças portavam submetralhadoras UZI, armas fornecidas pelo compadre Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Altamente letais, são capazes de disparar 600 projéteis por minuto. “Não precisa pagar”, disse Netanyahu ao entregar as belezocas ao cavaleiro Messias. “São ofertas da casa”, acrescentou.
O cavaleiro Messias, como chefe da tropa, tinha o privilégio de portar uma Bolt-Action.338 TP, cujo preço ascende a US$ 50.000,00 – mas isso não é nada para quem sonha com os ovos de ouro da reforma da Previdência. Sem contar os agrados dos fabricantes de agrotóxicos, mais fartos que cocô em bunda de criancinha com diarreia.
As outras antas, perdão, os demais cavaleiros, portavam os seguintes trabucos:
Flávio, o senador, uma AA12 Atchisson Shotgun, de 300 disparos por minuto.
Eduardo, o deputado, um rifle semiautomático Barret M82A1, made in USA.
Carlos, o vereador, um rifle M16AZ (800 disparos por minuto), made in USA.
O escudeiro-Moro era o único desarmado, pois ninguém confiava nele.

COMEÇA A CAÇADA
Afoito, o cavaleiro Carlos disparou seu M16A2, numa rápida rajada, contra uma densa moita, onde alguma coisa parecia se mexer.
– Acertei! – gritou ele, dando um pulo e chacoalhando o rifle.
– Acertou o quê, sua anta? – perguntou o cavaleiro Messias. – E eu por acaso dei ordem de tiro? Quem é o chefe aqui?
O cavaleiro Carlos baixou a tromba envergonhado enquanto o escudeiro-Moro ria à socapa, vingativo como ele só.
– Primeiro eu – disse o cavaleiro Messias, apontando sua Bolt-Action.338 TP para um arvoredo em frente. – Depois de mim vocês podem atirar à vontade.
No que disse viu o alvo: diante dele, saltitando lentamente entre as ramagens de uma carnaubeira, passava uma família de bugios-ruivos, macho, fêmea e dois filhotes já taludinhos. Mais que depressa, o cavaleiro Messias disparou uma rajada.
Seguiu-se um tiroteio medonho, com todos os cavaleiros disparando ao mesmo tempo, mal alguma coisa se movia em frente, fosse o que fosse e onde quer que fosse, na terra, na água ou no ar.
Achando que o chefe tinha autorizado sua entrada na brincadeira, os seguranças seguiram o exemplo e não fizeram feio com suas UZI, gastando bala adoidado.

RESULTADO DA CAÇADA
Durou o tiroteio pouco mais de dez minutos. Uma fumaceira desgraçada impedia que se visse qualquer coisa. O barulho deixou um tanto surdos os atiradores, que durante alguns minutos pareceram indecisos sobre o que fazer.
A mata continuava silenciosa como sempre. Mesmo os mínimos ruídos de ramos pisados ou de folhas amassadas cessaram.
Finalmente, depois de um tempo que pareceu infinito, o cavaleiro Messias disse aos seguranças:
– Vão buscar a caça. Deve ter muito bicho morto nesse matagal aí. Procurem no rio também. Deve ter peixe boiando. Procurem em cima das árvores. Vejam se não ficou algum bicho enganchado nos galhos.
Foi o que fizeram os seguranças. Durante duas horas bateram perna no matagal, vasculharam ramos, esmiuçaram as águas. À medida que encontravam alguma coisa voltavam e colocavam a caça diante dos cavaleiros.
Depois de tudo recolhido e posto numa fileira, lá estavam, mortinhos da silva:
Uma onça suçuarana, aparentemente prenha.
Uma família de bugios-ruivos: macho, fêmea e dois filhotes graúdos.
Um tambaqui, dois curimbatás e um filhote de aruanã.
Cerca de 50 outros peixes que nenhum deles jamais vira.
Meia dúzia de macacos variados, entre pequenos e medianos.
Um bicho-preguiça, duas cobras e três lagartos.
Seis papagaios, quatro araras e grande variedade multicolorida de aves menores.
Algumas orquídeas exóticas, confundidas com bichos.
Uma anta.
Três índios quase nus, sendo que um deles não teria mais de oito anos.

(Disfarçadamente, o escudeiro-Moro fotografou todos os defuntos para o que desse ou viesse, no futuro próximo ou remoto.)

Sebastiao Nunes

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