Os mandarins concursados, por Wilson Ramos Filho (Xixo)

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Os mandarins concursados 

por Wilson Ramos Filho (Xixo)

Na distante China, em outros tempos, os Mandarins, por terem sido aprovados em concursos, achavam-se pessoas especiais. Havia hierarquia entre eles, identificadas nos barretes que utilizavam para esconder calvices ou dominar madeixas.

Uns, de maior dignidade autoatribuída ou em decorrência das carreiras, dispunham de muitos assessores que os endeusavam, elogiavam, paparicavam a tal ponto que, vaidosos, sinceramente se convenciam de seus méritos incomuns. Outros, além do séquito, faziam questão de jamais cortarem as unhas das mãos. Quanto mais longas, maior o tempo de mandarinato. Cresciam retorcidas, algo escurecidas, a ponto de inviabilizar qualquer trabalho manual, por mais simples de fosse. Com elas demostravam seu poder. Tinham quem lhes limpasse os venerandos traseiros, tarefa impossível com tamanhos gadavanhos. A nobre função era aspirada por Mandarins de piso, e pelos asseclas que gravitavam em seus entornos. Não eram coisa pouca, como as unhas atualmente exibidas por alguns cobradores de ônibus. Eram  longas gafas a indicar aos incautos e aos ignorantes que o portador do gatázio se dedicava somente ao labor intelectual.

À quase totalidade não lhes ocorria que talvez não fossem tão excepcionais. O cosmos os havia predestinado ao Mandarinato, obtido por mérito segundo os desígnios da ordem do universo, como prescreviam o Confucionismo, o Taoismo, o Budismo, e todos esoterismos que importavam.

Havia mesmo um imperativo moral na defesa do Mandarinato. Era a ordem natural das coisas. Seus privilégios não decorriam de suas augustas vontades, estavam previstas em leis sobre as quais não caberiam críticas ou cogitações sobre a oportunidade ou justiça intrínsecas.

Assim era na China há muitos anos atrás. Havia sido e haveria de ser assim até o final dos tempos em respeito ao mérito, aos antepassados e à ordem universal. Quem haveria de contrariar o destino?

Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, advogado aposentado, preside o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora – DECLATRA.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Com ordem natural e tudo
     

    Tiveram que cortar o zunhão.

    Eles, que acreditam em reencarnação, carma e outras mumunhas, demoraram mas encontraram um Mao Tse Tung pela frente que quase eliminou a cultura, a história e a tradição chinesa.

    Agora o povo “carmô”, mas não demora, e as unhas dos “escolhidos e concursados” crescem de novo.

    É a roda do carma.

     

  2. Mostra o refinamento da civilização chinesa

    A China inventou o concurso público. Embora houvesse muita corrupção e favoritismo, a China por muito tempo foi o único lugar do mundo onde um jovem despossuído podia almejar tornar-se um alto dignitário apenas por passar em uma prova. Muitos estudavam dia e noite para se preparar. Por esse e outros motivos, a China foi por muitos séculos a civilização mais brilhante do planeta. Criticar isso só mostra despeito e burrice.

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