Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Procura-se criminalista, por Rui Daher

 

darcy-ribeiro.jpg

por Rui Daher

Difícil. O texto que pensei escrever não sai nem a Miles Davis, Cartola e Patativa do Assaré. O charuto de dez mangos também não ajudou. Nem o barato, em todos os sentidos vindo do interior de São Paulo. Passei para o cachimbo e bom tabaco. Antes havia conversado no Messenger com Matheus Pichonelli, o melhor texto jovem do Brasil. Sobre futebol, que bobos não somos. Agora vai, pensei.

Chegaram meu filho, Gabriel, e Darcy Ribeiro:

– Que porra! Como você pode querer acender um fumo dessa qualidade, orgânico, com fósforos? Contamina com agrotóxicos. Use gás.

Mudo o som para Sting e Almir Sater.

– Concorda Darcy? Mas não irão privatizar nosso gás?

– Sim, nem por isso você precisa errar antes deles.

Chega um isqueiro e junto a AK-47.

– Obrigado.

– Mas o que você queria escrever que não sai apesar de tantas inspirações?

– Que eu pensava que o País acabou. Leu o editorial do Mino na CartaCapital? A última coluna do Jânio de Freitas, na Folha?

– Excesso de pessimismo. Assim é há séculos e não acabou.

– Burrice é fatal.

– É não. Acione a AK-47 que viramos o jogo.

– Porra, hoje um empresário me diz que nos ferramos quando a Dilma prejudicou as Petrobras, Eletrobrás, o ajuste fiscal, perdemos o grau de investimento.

– Ah, foi? Tinha? Quer dizer que Getúlio, Juscelino e os governos militares fizeram merda?

– Sei não. Eles leem e ouvem Globo, Veja, IstoÉ, Época, Folha, Estadão. Podem estar certos.

– O tal gajo falou alguma coisa de distribuição de renda, aumento do salário mínimo, programas sociais e educacionais, diminuição da extrema pobreza, política internacional soberana, política agrícola farta de recursos?

– Creio que não. Apenas disse que precisaremos desnacionalizar a economia, diminuir o tamanho do Estado, trazer investimentos estrangeiros, nos alinharmos aos EUA, deixar o financeiro tomar conta da produção, do comércio e dos serviços e aumentar a produtividade do trabalho.

– Esse último me interessou. Como seria?

– Reformas nas legislações trabalhistas, previdenciárias, tributárias …

– Ôpa! Aí sim! Impostos maiores sobre grandes fortunas, heranças e patrimônios? Redução de juros, crédito para o consumo?

– Não. Mais horas de trabalho, menos salários e encargos para as empresas, e nacionalismo.

– Como fizeram Hitler, Mussolini e Stálin?

– Meio que sim.

–  E na política?

– Estadistas do Poder Judiciário e nada de Congresso.

– Com ou sem PowerPoint?

– Tanto faz, desde que com Lula preso.

– Você contra argumentou?

– Sim.

– Como?

– Você conhece um bom advogado criminal para me indicar?

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Meio “deprê”.

    Mas, quem não está assim no momento? Quem sabe temer, temerário, temeroso, psicopatas, banqueiros e donos da mídia.

    p.s. talvez os donos da justiça brasileira

  2. o que?

    A koisa vae mutcho beim!

    O que de melhor “a gente” poderia querer? …………………   :

    O SANGUE AZUL… Em dezembro, o salário do juiz Sérgio Moro foi o equivalente a 120 vezes o salário mínimo. O do procurador geral Rodrigo Janot foi de 160 mil reais – ou seja, 160 vezes o salário mínimo.

    1. Emerson,

      por que se questiona somente as aposentadorias de trabalhadores, mas não se mexe nas de juízes, militares e quejandos. Claro! Sangue azul. Abraços

  3. …ah! mas o carnaval teve

    …ah! mas o carnaval teve ótimas marchinhas!

    cidadão de bem

    o presidento da transilvania

    vc sabe oq é q haagen daz?

    gloubista

     

    quem tiver ouvido outra boa, sugere ai. bj! ótima semana, saude e felicidade!

    não vai levar 21 anos de novo.

    1. ah….

      Não importa este ou aquele. O que importa,  como dizem por aqui, é que alguns receberão 120/150 vezes um salário minimo. O que fizemos em 30 anos de ConstituiçãoEscárnioCaricaturaCidadã? Escrita, redigida em jantares nababescos regados a vinhos franceses pagos com a esmola doada por cada um dos miseráveis brasileiros à sua elite. Se esbaldavam Darcy Ribeiro, Teotonio Vilela, Miguel Arraes, Ulisses Guimarães, Mario Covas, Aluisio Nunes, Brizola, Benedita da Silva, José Dirceu, José Genoinio, Tancredo Neves, Dutra, Tarso Genro, Ciro Gomes, FHC, Lula, Franco Montoro, Serra, Amazonino Mendes, Waldir Pires….Cabralzão, creio que não estava. Passava o tempo ensinando Cabralzinho, o valor da democracia social e que elite neste país, são sempre os outros. Agora, em 2017 depois de Pedrinhas e Alcaçuz e antes que novas cabeças viralizem o escracho do nosso país quinto-mundista, descobrimos que temos que fazer alguma coisa. E finjimos que 30 anos de promessas não existiram. O Brasil se explica.    

      1. Curioso, Zé Sérgio

        estive repassando vários de seus comentários negativistas, nihilistas até diria, sobre os políticos e o povo brasileiros, sobretudo de esquerda, e em todos seus comentários negativos você nunca citou um militar. Demorei, mas talvez tenha te entendido. Abraços

        1. Curioso….

          Caro sr., citei sim. Samuel Pinheiros Guimarães. Talvez o maior dos nossos diplomatas no último meio século. Defenestrado pela Presidenta Dilma depois de extraordinários, excepcionais, fabulosos serviços prestados no governo Lula junto com Celso Amorim. A culpa é de quem? Pero Vaz de Caminha? Almirante Othon Pinheiro, que elevou nossa história e soberania a um patamar de vanguarda com nosso programa nuclear. Se não me engano está preso. Talvez tenham ousado trabalhar pelo país mesmo num governo de esquerda que não condizia com suas biografias e histórias de vida. Será que não foram vitimas da patrulha da Gestapo Ideológica que não aceita outro caminho que não seja o seu? Mas se os militares são os do Governo Militar, como eu disse, não servem mais de desculpas para 3 décadas de corruptos incompetentes que se seguiram depois deste período. abs. 

          1. Zé Sérgio,

            nunca deixaria de argumentar com você. Seus pensamentos e expressão deles me enriquecem. Quando elogio o ideário de esquerda, estou pensando Política e não políticos. Você citou a política externa como conduzida por Samuel Pinheiro e Celso Amorim. Sem dúvida, um trabalho de diplomacia e soberania magistral. Mas nenhum dos dois abandonou seus ideais de esquerda e nem mesmo criticaram ou deixaram de apoiar os dois presidentes do PT. Abraços  

          2. zé….

            Caro sr. Rui, o professor se enriquece mas é sempre o aluno quem aprende e evolui. Se abandonados, então estas figuras citadas foram maiores que o partido que tentaram auxiliar. Absolutamente nada tenho contra a esquerda. Nem contra a direita, nem contra privatizações. Desde que sob controle, critério e benefício do povo brasileiro. Democraticamente e livremente aceitos. Algo que ainda nos falta.  As atitudes corretas, aplaudo. Mas não avalizam os erros nem os crimes. Nem eu, nem o sr. criamos nossas famílias desta forma. Então porque aceitar isto para o país? ( P.S. Por favor fale da região mais pobre do estado de SP, onde ainda existe onça pintada e mais ainda pardas, lobo guará, anta, harpia, queixadas….E principalmente brasileiros precisando de um estado e um país. abs. )  

  4. A criminologia política esclarece!

    O abstract de Criminologia Política foi fundado numa roda de dominó no botequim Realejo, na cidade do Gonzaga, aos pés alterosos de um José Bonifácio que vê sua cidade afundar também pelas mudanças climáticas; o ato acadêmico teve a presença, entre outros, de Darci Ribeiro, Rui Dreher e o camarada do camarada Renato Pompeu, eu, que fiquei responsável pela parte meteorológica do conteúdo do abstract, porque “errava muito”. Discutíamos a ontologia da “jumentalidade” coxinha pela ótica da criminologia política e sob as luzes involuntárias das estrelas vermelhas decorrentes de dor de cabeça das garrafadas de heinikens ianques; o filho artista plástico do Rui comentou que leu num livro de fotógrafos sobre a prática norte americana de convidarem estrangeiros para registrarem o país deles, a fim de realçarem aquilo que os olhos viciados de cotidiano não enxergam e entendi como é sábio atentar para o olhar existencialista estrangeiro, às vezes cruel como Camus, de um Mino Carta. Um amigo que trabalhou em bases antárticas entre cientistas isolados contou que, lá, os brasileiros tem fama de grandes caras de pau, como o Temer; os japoneses tradicionalistas têm diferentes modos de comunicar-se, um deles é mentir sistematicamente, coisa corriqueira na classe média remediada, conforme o registro de uma japonesa dona de uma pensão no litoral norte paulista, escandalizada pela frequência do uso desse “recurso”, o ex-POLOP  Renato Pompeu explicou tratar-se do resíduo feudal subsumido dessa formação social, mas recurso útil na nossa sociedade de castas; lá nos barracões da USP, um professor sino americano, que viera fazer a climatologia para uma vinícola gaúcha e aqui se aposentou, reclamou que nós éramos ainda piores que os europeus, pois ele nunca conseguia saber o que realmente pensávamos, coisa diametralmente oposta aos “grossos e racistas” ianques, que no quesito honestidade, eram melhores do que nós, mas o Liu nos preferiu; um Alberto Caeiro conterrâneo de meu avô, ferroviário e galego, perdeu seu precioso terno numa chuva de verão em Santos e reclamara que, no Brasil, até os céus mentiam! Por aí e os cânones da criminologia política, acho que está explicado a ontologia do terreno propício para a naturalização da atual seletividade cínica da mentalidade coxinha, produzida pelo massacre midiático sobre a massa de analfabetos políticos e motivo de ter-se projetado tanto para além dos, propriamente, coxinhas: da mentalidade de que o mundo é dos espertos e “trapacear legalmente” é meritório quando dá bons resultados, como deve ser na cognição sumária dos esquemas mentais de crianças da idade do Michelzinho. Por isso, Darci achou que foi o caçula do Temer o cérebro por trás do golpe, tal o nível ético e também estético do ministro da cultura; mas vou parar por aqui, porque não quero dar ideias para a criatividade jurisdicional aplicar  o garantismo pós-verdadeiro, uma vez que, do mesmo jeito que colocaram o Moro acima da Constituição, achando que ela era muro de agradar tucano, podem colocar um “dimenor” como chefe para desqualificar a suposta pena do MT, mas que acabará condenado à luz da contribuição revolucionária das criminologias de boteco.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador