
Serão devaneios as receitas de Mangabeira Unger para o desenvolvimento do Brasil?
por Rui Daher
Na coluna anterior, escrevi para este GGN, sobre entrevista para o jornal Folha de São Paulo (17/06) do filósofo Roberto Mangabeira Unger, morador nos EUA, endeusado por ser professor em Harvard. Traz críticas negativas aos planos e medidas tomadas nos primeiros meses do governo Lula. Prometi uma segunda parte.
Mangabeira, conselheiro-mor de Ciro Gomes, no entanto, na entrevista não se limitou a falar mal de Lula. Isto já era de se esperar. Apenas olhou para nossa realidade se ela fosse fácil de lidar. Uma fadinha Sininho, e não um Capitão Gancho que se aliou ao tenebroso Jacaré. Ele, Unger, um Peter Pan, com explícitos poderes mágicos.
Assim, ao indicar o que se deve fazer para tornar esta uma nação mais feliz, Unger desconsidera grande parte de nosso cabedal de inteligência progressista, e copia e cola providências frequentes em nossos anseios e propostas de esquerda.
A crer em seu ‘arcabouço’ político, econômico e social, ou ele nos acha cagões, poltrões, medrosos, numa escala decrescente de qualificativos para covardes ou, então, mercenários à soldo do complexo financeiro.
Na essência, o filósofo de Harvard propõe uma “ruptura dentro da elite endinheirada, entre o rentismo financeiro e o produtivismo, com a formação de uma contraelite”.
Ah, vá! E não é isso, justamente, o que a esquerda quer, razão de ser taxada de comunista pelos Godzillas das classes mais ricas e, também, os Kongs da manada pobre e da classe média que sonha emergir?
Romper com a elite endinheirada, arrefecer o rentismo financeiro a favor dos setores produtivos, de comércio e serviços, e jogar, dentro da elite capitalista, um pingo de lucidez, que a faça entender seus riscos com a formação de um proletariado rebelado. Seria essa a contraelite?
Então tá. Lembrem-se, aqui estamos mais para uma Federação de Corporações do que para um Estado-Nação.
Talvez impressionado com o terceiro mandato conquistado por Lula, considera termos uma “maioria popular e [a ela devemos] oferecer alternativas (…) na economia, envolvê-la numa nova dinâmica de produtividade (…) sem abandoná-la ao egoísmo familiar materialista”.
Simples assim, doutor? Quanto tempo? Lutas endógenas, banhos de sangue, ou milagres de pães e circos (cultura) que se entronizem na sociedade e substituam séculos de formação de corações peludos pulsando dentro de bichinhos de pelúcia?
“Essa realidade social não produziria automaticamente o milagre de crescimento se não for combinada com uma cisão dentro das elites [parte dela seria produtivista e nacionalista] que foi necessária em todos os episódios de milagre econômico da história moderna”. Seus eixos.
- “Economia do Conhecimento – vanguarda produtiva objetivando escalada de produtividade includente, densa em tecnologia e práticas científicas experimentalistas permanentes”;
- “Evitar que nos ‘segmentos’ onde essa vanguarda existe, ela não apareça apenas de forma insular, franjas excludentes. Deve ser multissetorial e para muitos”;
- “Institutos como os do Sistema S (Sebrae, Sesc, Sesi, Senai) e os bancos de desenvolvimento poderiam tomar as tecnologias, como a inteligência artificial, transformá-las e simplificá-las para que estejam ao alcance das pequenas e médias empresas e dos agentes econômicos da imensa retaguarda brasileira”;
- “Casar o sistema agropecuário produtivo com a inteligência humana”: pastagens em terras degradadas e recuperadas a baixo custo (sic) abrem espaço para lavouras diversificadas e exportações de produtos manufaturados, e não em estado natural, como commodities e minérios;
- Para a Amazônia, “NÃO ao extrativismo primitivo e artesanal (Marina Silva) e SIM à economia do conhecimento, regularização fundiária e zoneamento agrícola. Vínculo do complexo verde com o industrial urbano e mobilizar sua biodiversidade”;
- “Transformação radical na educação, com substituição de um enciclopedismo raso por uma visão analítica (…) isso exige muitos avanços nas políticas públicas”.
Conclui. “Precisamos de uma grande anarquia criadora. Em vez de suprimi-la ou colocar uma camisa de força nela, deveríamos turbiná-la.
Nosso problema maior não está no lado da demanda, mas no da oferta; não no lado do consumo, mas no da produção. Aí vem o debate sobre o financismo fiscalista, que também pauta o governo. Essa discussão está mal posta no Brasil. A tese pseudo-ortodoxa é que nós precisamos de responsabilidade fiscal para ganhar a confiança financeira, que traria o investimento, que, por sua vez, traria o crescimento. Na verdade, nós precisamos, sim, de responsabilidade fiscal para que o Brasil não tenha que se ajoelhar diante dos interesses financeiros. E que possa ousar na construção de um projeto rebelde de desenvolvimento, como esse que eu acabo de esboçar. Então precisamos desse escudo fiscal, de muitas reservas, para ter margem de manobra”.
Estariam Mangabeira Unger e a intelligentsia nacional disputando quem inventou a roda? Enquanto não chegamos na roda, vamos nos divertir.
Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Tenho um livro dele com o Ciro Gomes, o dinheiro mas mal gasto que já fiz.
Esse moço aí… é o famoso quem, mesmo?
José Bispo, um Olavo de Carvalho que se faz de lunático para enganar a esquerda. Abração.
Paulo, mais valia um almoço no Ton Hoi. Abração