Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A tecnologia deixou de ser uma extensão humana em “Upgrade”, por Wilson Ferreira

Por Wilson Ferreira

A crítica vem definindo a produção australiana “Upgrade” (2018) como alguma coisa entre a série britânica “Black Mirror” e o clássico “Robocop” de 1987: em um futuro próximo, um tecnofóbico (alguém que sempre gostou de “fazer as coisas com as próprias mãos”) tem sua vida virada de ponta cabeça ao ficar tetraplégico e receber o implante de um chip de computador que o fará andar novamente, porém com algumas “atualizações”. Tudo que deseja agora é vingança contra os assassinos de sua esposa, quando descobre estar em um plot conspiratório envolvendo algum tipo de espionagem industrial. “Upgrade” é um filme que revela o atual imaginário que anima o desenvolvimento computacional – Inteligência Artificial e Singularidade, o momento em que a tecnologia deixa de ser a extensão do corpo humano para se tornar sua própria negação.

Upgrade (2018) é um melodrama sangrento de ficção científica que acompanha um homem comum que passa o tempo consertando um antigo carro esporte em sua garagem. Ele e sua esposa sofrerão uma emboscada fatal por um grupo de ciborgues que se acham superiores aos seres humanos – ela morre e ele acaba tetraplégico mas um implante de um microchip trará para ele uma perigosa “atualização”.

A partir dessa sinopse o leitor poderá pensar que o diretor e autor Leigh Whannell tem muito a dizer sobre as relações do homem com a tecnologia. Mas Upgrade não tem a paciência necessária para desenvolver a maior ideia do filme: como a tecnologia moderna domina muito mais os usuários do que nós imaginamos. 

É um sci-fi B que lembra alguma coisa surgida do cruzamento entre Black Mirror e Robocop – como o próprio título informa, o protagonista de alguma forma será regenerado por uma intervenção cirúrgica high tech e partirá numa missão de vingança.

O mais importante nessa produção australiana é como ela figura o atual estágio do imaginário tecnológico: o chamado “pós-humano” – versão 2.0 da humanidade, o seu estágio superior por meio da transmutação dos nossos corpos em máquina, imagens e informação. Porém, há algo mais: a singularidade – informática, nanotecnologia e robótica evoluem em um ritmo tão acelerado que desencadeará o surgimento de uma super-inteligência (a Internet senciente, por exemplo) e a absorção do próprio homem. Que faria um upload final para essa super consciência, restando uma questão ontológica que jamais seria respondida: será que migramos para a imortalidade as nossas almas ou apenas pálidas réplicas digitais de nós mesmos?

 Ficções científicas B como Upgrade (assim como o clássico Robocop), pelo seu próprio exagero “gore” de máquinas e sangue, explicita ainda mais esse atual imaginário tecnológico. Assim como Robocop representava todo o imaginário ciberpunk daquela década, Upgrade é um sintoma do atual imaginário tecnológico, cujo epicentro está no Vale do Silício. Engenheiros e cientistas computacionais à espera da singularidade final.

 

O Filme

Upgrade começa com a velha dualidade homem versus máquina. Grey Trace (Logan Marshall-Gree) é o “homem que gosta de fazer tudo com as mãos”: um diletante mecânico que passa horas mexendo no motor do seu velho Mustang – ou coisa parecida. Enquanto suas mãos estão sempre sujas de graxa, sua esposa Asha (Melaine Vellajo) trabalha numa empresa de tecnologia e volta para casa em um carro autônomo dirigido apenas pelo comando de voz – como, aliás, quase tudo na residência do casal.

Gray é um cara que nutre certa desconfiança com a inteligência artificial e máquinas comandadas pela voz. Até que um dia as suas desconfianças são confirmadas. À bordo do carro autônomo, sem perceberem que o veículo foi hackeado e alterado o caminho para um perigoso subúrbio, são emboscados por uma gangue que por algum motivo estão determinados a executar um único propósito: matá-los. Asha morre e Grey fica tetraplégico pensando apenas em dar um fim à sua própria vida – ironicamente terá que terminar os seus dias dando ordens a máquinas que tanto desdenhava.

Até que recebe uma oferta de Eron (Colin Clave), um milionário e recluso cientistas e dono da Vessel Computers, uma gigantesca empresa de tecnologia: Grey se tornará uma cobaia para “Stem”, um micro chip de computador que será implantado em sua vértebra, reconectando os impulsos cerebrais com a medula. 

Com o sucesso do implante, logo o impulso suicida de Grey é substituído pela sede de vingança: encontrar os assassinos de sua esposa e mata-los. Mas também logo descobrirá que Stem não é um mero implante: é uma inteligência artificial que se transforma numa voz que dialoga com sua mente, permitindo algumas “atualizações” em seu corpo – velocidade, força, performance etc. Claro, desde que Grey dê autorização para Stem assumir o controle do seu corpo.

 

Naturalmente Grey usará essas habilidades super-humanas para encontrar os assassinos de sua esposa. Ou será que Stem é quem está manipulando Grey para alcançar algum obscuro propósito? 

Tudo fica ainda mais sinistro quando Grey descobre que a gangue de assassinos na verdade é formada por entidades biocibernéticas – seres humanos que receberam “upgrades” e que estão em algum “plot” conspiratório que envolve espionagem entre empresas de tecnologia.

De extensão humana ao pós-humano

Upgrade é um filme que carrega as tintas em um tema já tratado em filmes blockbuster como Transcendence e Lucy com as estrelas Johnny Deep e Scarlet Johansson, respectivamente. O tema do Pós-humano.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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