Copa inclusiva leva emoções de Brasil e Bélgica a pessoas com deficiência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Copa inclusiva leva emoções de Brasil e Bélgica à deficientes em São Paulo

Copa inclusiva leva emoções de Brasil e Bélgica à deficientes em São Paulo – Foto: Ludmilla Souza/Agência Brasil

Da Agência Brasil

Por Ludmilla Souza

Os tapinhas nas costas de Carlos não são apenas cumprimentos. Foi assim que Vinicius Alves mostrou, por meio da interpretação áptica (tátil), para Carlos Junior, de 31 anos, deficiente auditivo desde o nascimento, que ficou cego aos 27, os lances do jogo entre Brasil e Bélgica e os números dos jogadores em campo.

Carlos contou com a ajuda de Renato Rodrigues, que, segurando suas mãos, interpretou, em Libras – a linguagem brasileira de sinais – os lances do jogo, acompanhado de uma tábua em formato de campo de futebol, o campinho tátil. 

“Já consegui enxergar, mas, com a perda visual, eu precisava do auxílio de outra pessoa, e o Hélio [seu guia intérprete anterior] teve esse ideia do campinho tátil. E, com ele, sinto a mesma emoção e alegria que milhões de brasileiros, na íntegra, naquele exato momento. Hoje, outros surdocegos têm a mesma sensação e é muito importante que sintam isso”, disse. 

Carlos não é um espectador passivo, ele é crítico e tem opinião formada sobre os jogadores. “O Marcelo, sei que ele é um dos melhores jogadores do mundo, sempre está em conexão com Neymar, eu sei quando um jogador é bom ou ruim através da mensagem que o guia intérprete passa. Eu sei que a defesa do Brasil está bem fechada e tem essa variedade de bons zagueiros também”, opinou.

Para Renato, ser intérprete não tem preço. “Além de sentir a emoção de ver o jogo, é um prazer imensurável saber que outra pessoa, por meio de minhas mãos, está tendo acesso, naquele mesmo momento, aquela mesma sensação, naquele exato segundo. Estou muito feliz por poder proporcionar essa informação na íntegra para outra pessoa”. 

É assim, com a ajuda de audiodescrição e intérprete de libras, que diversos deficientes auditivos e visuais acompanharam o jogo entre Brasil e Bélgica, no Memorial da Inclusão, em São Paulo.

Copa inclusiva leva emoções de Brasil e Bélgica à deficientes em São Paulo
Com a ajuda de audiodescrição e intérprete de libras, deficientes auditivos e visuais acompanharam o jogo entre Brasil e Bélgica, no Memorial da Inclusão – Foto: Ludmilla Souza/Agência Brasil

“A ideia de ter acessibilidade aos jogos surgiu em Carlos, junto com seu guia, o Hélio. A ideia foi crescendo, as pessoas surdocegas também querendo ter o mesmo acesso, e como boas ideias precisam ser difundidas, hoje estamos aqui, fazendo essa Copa inclusiva em que pessoas com ou sem deficiência podem estar juntas, curtindo o jogo. O futebol movimenta o Brasil e a Copa, o mundo todo, e as pessoas com deficiência não podem ficar de fora”, defendeu a coordenadora de desenvolvimento de programas da Secretaria do Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Lara Santana.

O professor Edvaldo Paes da Gama acompanhou o jogo, pela primeira vez, com o auxílio da guia com o campinho tátil. Deficiente visual desde os dois anos de idade, ele gostou da inovação.

“Foi algo ímpar, fantástico. Vim para conhecer como seria a transmissão do jogo com o recurso da audiodescrição, acompanhei um pouco. Pelo pouco de acompanhei, percebi que a audiodescrição é melhor do que a narração esportiva televisiva, mas ainda não chega aos pés da aproximação que o campo tátil traz daquilo que acontece de fato no campo. Faz com que a gente consiga sentir as emoções dos quase gols, toda a vibração, dá para perceber isso de forma muito clara”, descreveu o professor. 

Gama contava com uma virada do Brasil, mas gostou da atuação da seleção brasileira. “Apesar do Brasil ter perdido acho que foi um bom jogo, especialmente no segundo tempo o Brasil foi para cima, fez várias tentativas, só não foram concluídas porque o goleiro belga é muito bom, mas foi um bom jogo.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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