Ícone do samba, referência na política brasileira e uma das vozes mais atuantes na luta contra desigualdades e em defesa das minorias, Leci Brandão celebra seus 80 anos nesta quinta-feira (12/09), consolidando uma trajetória de pioneirismo, resistência e engajamento social. Assista abaixo à entrevista de Leci Brandão concedida ao jornalista Luís Nassif, na TV GGN.
Pioneira no samba e voz das minorias
Leci começou sua carreira musical em 1974 e, desde o início, enfrentou barreiras impostas por um mundo do samba dominado por homens, tendo sido a primeira mulher negra a fazer parte da ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira, fruto da convivência com sua madrinha, e o que contribuiu para romper com tradições excludentes.
Mesmo enfrentando resistências como a perda de um contrato com uma grande gravadora em 1980 devido ao seu tom de protesto na música, Leci nunca abandonou suas convicções. Com 26 discos lançados e um estilo que mistura celebração e denúncia, ela se destacou com músicas como “Zé do Caroço”, um hino contra a desigualdade social. Além de outras letras que abordam questões sociais e raciais, à luz das populações marginalizadas.
Apesar de optar por uma vida amorosa discreta pela intolerância escancarada da época, Leci foi pioneira ao abordar a homossexualidade em suas músicas, como em “As Pessoas e Eles” (1976), e reforçou seu apoio à causa LGBTQIA+ com a regravação de “Pra Colorir Muito Mais” em 2019.
Dona Lecy, mãe de Leci Brandão, teve um papel crucial na vida pessoal da artista, especialmente ao incentivá-la a fortalecer sua religiosidade. Durante um período de depressão, após anos sem gravar, foi a mãe quem sugeriu que Leci frequentasse o terreiro do Caboclo Rei das Ervas, em São Gonçalo, vivência espiritual que renovou sua carreira e resultou em um disco de ouro dedicado a Ogum, seu orixá de cabeça.
Da música para a política: “não adianta só cantar, tem que agir”
Nos anos 2000, Leci ampliou sua atuação para o cenário político. Eleita deputada estadual por São Paulo em 2010, pelo PCdoB, foi a segunda mulher negra a ocupar um cargo na Assembleia Legislativa paulista. Desde então, tem sido uma defensora feroz das causas que sempre pautaram sua vida: igualdade racial, direitos das mulheres, comunidades LGBTQIA+ e religiões de matriz africana.
Ao longo de quatro mandatos consecutivos, fez valer o lema “não adianta só cantar, tem que agir”, para além da música. Ainda, na TV, interpretou a líder quilombola Severina na novela Xica da Silva.
Sua vida e obra foram homenageadas em 2023 no musical “Leci Brandão – Na Palma da Mão”, que retrata sua trajetória de luta e superação.
Ao Globo, no ano passado, Leci falou sobre o que sente como representante política. “Meninas pretas me dizem que estão sendo candidatas porque me viram chegar lá”.
“Sempre digo às pessoas: “Eu tenho lado”. Pega os meus LPs, desde o início… Sempre me coloquei, defendi os menos favorecidos nas minhas letras, peguei temas ousados, falei de situações, lá em 1970, que hoje estão nas pautas. Sempre briguei por quem não podia falar”.
Assista abaixo à entrevista de Leci Brandão concedida ao jornalista Luís Nassif, na TV GGN.
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