O mais bonito Social Club
por Felipe Bueno
Numa época em que o soft power anda soterrado pela violência e pela intransigência nas relações internacionais, temos a oportunidade de celebrar o aniversário de 25 anos de uma das mais belas manifestações artísticas dos últimos tempos, numa união tão improvável quanto inesquecível de pessoas, países e culturas.
Era uma vez um cineasta alemão que resolve documentar a (re)descoberta feita por um músico norte-americano de artistas cubanos havia muito esquecidos em seu próprio país. Os concertos principais são realizados em Amsterdam e Nova York. O filme que resulta de cerca de três anos de trabalho traz as bandeiras dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Cuba, Brasil, Espanha e França.
Ainda havia Fidel Castro; do “outro lado”, Bill Clinton. Aos olhos de hoje parecem tempos tão remotos que à frente da Rússia estava Boris Yeltsin.
Mas a arte é maior que qualquer embargo.
Buena Vista Social Club: primeiro, o lugar fantasma – uma casa de shows da primeira metade do século passado, situada em Havana; depois, o grupo reunindo os talentosos músicos locais; consequentemente, o álbum, lançado em 1996; finalmente, o filme, que entrou em cartaz em 1999. Wim Wenders, que entre nós dispensa apresentações, e Ry Cooder, notório guitarrista, compositor e pesquisador, são os artífices que mostram ao mundo o talento de Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Omara Portuondo, Eliades Ochoa, Barbarito Torres e tantos outros.
Estava próxima a virada do século XX para o XXI; época difícil, mas mal poderíamos imaginar o que ainda haveria de terrível por vir nas relações entre os países e as pessoas. Buena Vista Social Club, especialmente para quem teve a oportunidade de acompanhar à época, soava então como uma pausa quase sagrada na aridez daqueles tempos.
Filme e álbum estão disponíveis em streamings e são indispensáveis como informação e fruição. Obras de arte da música, do cinema e do soft power, três pilares da civilização tão frágeis e violentados nos dias atuais.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.