Para além do trio A(lcione), B(eth Carvalho), C(lara Nunes)
por Daniel Costa
Quando paramos para fazer uma pequena revisão da trajetória do samba na indústria do disco, é consenso entre críticos, estudiosos ou simplesmente apreciadores do gênero que a década de 1970 ficou marcada por representar um salto em relação à vendagem de discos e acesso do ritmo aos meios de comunicação. Cabe ressaltar que desde o registro daquela que é considerada a primeira gravação oficial do gênero, a composição de Donga e Mauro de Almeida, Pelo Telefone, o samba emplacou inúmeros sucessos e revelou diversos compositores e cantores. Porém, será nos anos 1970 com a chegada de Martinho da Vila (RCA) e Clara Nunes (Odeon) ao topo da listagem de artistas com maior vendagem de LPs que outros intérpretes também ganhariam espaço e destaque no mercado fonográfico, e aí podemos colocar em evidência ao lado de Clara Nunes, duas outras intérpretes, Alcione (Philips) e Beth Carvalho (RCA).
Ao abordar a trajetória daquelas que ficariam conhecidas como o “Trio ABC” do samba, expressão cunhada ainda na década de 1970 pelo crítico e jornalista Tarik de Souza, a professora da UFBA, Marilda Santanna, afirma que: “Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes. Essas três artistas-intérpretes, cada uma a seu modo, escreveram o seu nome no panteão das intérpretes do samba, construindo singularidades que vão desenhar em versos e canto o samba como gênero legítimo da música popular brasileira”.
Para além das três intérpretes, basta dizer que o período em questão marca a estreia de grandes cantoras e compositoras no disco. Nomes como Leci Brandão (Discos Marcus Pereira, depois Polydor), Dona Ivone Lara (Odeon), Giovanna (RCA), Aparecida (CID), Georgette da Mocidade (Tapecar), Sabrina da Imperatriz Leopoldinense (CBS), Renata Lu (Continental), Sonia Santos (Som Livre) e Clementina de Jesus (Odeon), entre outras.
É nesse contexto que apresentaremos a seguir dez intérpretes que, assim como aquelas que formaram a já falada trinca informal, deixaram seu nome registrado na história do samba.
O tempo pode ter colocado parte delas na prateleira de cantoras injustiçadas pelo mercado, que caíram no ostracismo ou em uma prateleira considerada cult. Porém, acima de qualquer classificação, nossas personagens deixaram sua marca na trajetória desse ritmo que há mais de um século segue resistindo e brigando por seu espaço.
1.Aparecida
Maria Aparecida Martins, conhecida no mundo do samba como Aparecida, nasceu em 1939 na cidade mineira de Caxambu. Ainda criança, interessou-se por música, aprendendo com os mais velhos da família os ritmos africanos. Na infância, muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1952, já compunha suas primeiras músicas. Pouco tempo depois, Salvador Batista a levou para o programa “A Voz do Morro”, incluindo-a em seu grupo como passista, no qual atuaria por dez anos.
Em 1965, Aparecida venceria o “Concurso de Música de Carnaval do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro”. No mesmo ano, também venceria o “III Festival de Música de Favela”, com o samba “Zumbi, Zumbi”, representando a favela da Cafúa, de Coelho Neto.
Entre participações em festivais, rodas de samba e apresentações na mítica “Noitada de Samba”, realizada às segundas-feiras no Teatro Opinião em Copacabana, nossa personagem seria uma das autoras do samba apresentado pela Caprichosos de Pilares no carnaval de 1968. Com “A sonata das matas”, Aparecida, seria após Dona Ivone Lara, a segunda mulher a compor um samba-enredo vencedor em uma escola de samba.
Em 1974, participou do LP “Roda de samba”. No disco, lançado pela gravadora CID, que reunia Darci da Mangueira, Sidney da Conceição, Sabrina e Chico Bondade, gravou pela primeira vez uma composição de sua autoria, “Boa-noite”. Neste mesmo ano, a gravadora lançaria o álbum “Roda de samba nº 2”, onde interpretaria “Proteção” de David Lima e Pinga e “Rosas para Iansã”, samba composto por Josefina de Lima. Participaram ainda do disco coletivo nomes como Nelson Cavaquinho, Sabrina, Roque do Plá, Rubens da Mangueira e Dida. No ano seguinte, também pela CID, lançaria seu primeiro álbum individual, intitulado “Aparecida”, com repertório autoral. Destacamos músicas, como “Talundê”, em parceria com Jair Paulo, a atemporal “Tereza Aragão”, “Meu São Benedito”, “Segredos do mar”, também parceria com Jair Paulo, e ainda uma adaptação do folclore “A Maria começa a beber”, que seria regravada por Clementina de Jesus.
Em 1976, gravou ainda na CID o LP “Foram 17 anos”, lançado pela CID, no qual seguia apresentando composições de sua autoria, entre elas “17 anos”, “Grongoiô, propoiô”, em parceria com João R. Xavier e Mariozinho de Acari, e a ancestral “Diongo, mundiongo”. Nos anos seguintes, gravou pela RCA os álbuns “Cantigas de fé” (1978) e “13 de maio” (1979), no qual interpretou, além da canção título, “Aleluia Dom Miguel”, “Mussy gatana”, “Ceará” e “Indeuá matamba”, todas de sua lavra.
2.Dila
Ao contrário de Aparecida, nossa próxima personagem surgiu no mundo da música e do samba como um cometa, lançando também pela CID um álbum que entraria anos depois para a seleção daqueles discos considerados cults e disputados a peso de ouro por colecionadores e djs. Produzido por Durval Ferreira e contando com arranjo do grupo Os Grilos, o álbum de 1971 é uma obra de samba como poucas, apresentando ao ouvinte uma excelente cantora de samba-soul, transitando entre o swing de Elza Soares e a densidade de Elis Regina. O disco conta com interpretações inesquecíveis para clássicos como “Madalena”, de Ivan Lins, gravada no mesmo ano por Elis, a já clássica “O morro não tem vez” composta por Tom Jobim e “Refém da solidão”, da dupla Baden Powell e Paulo César Pinheiro.
O disco também trazia inéditas como “Fim de papo”, parceria de Arnoldo Medeiros com Fred Falcão. Segundo Fred Falcão: “Meu saudoso amigo Durval Ferreira pediu uma música para um LP que estava produzindo com uma cantora nova cheia de suingue. Pediu um samba funkeado na mesma levada do ‘Sem essa’, composição que eu tinha feito para o Simonal e tocava nas rádios sem parar. Fiz a melodia e dei pro Arnoldo Medeiros, meu letrista mais constante, por acaso autor do texto da contracapa do disco. Nos reunimos no estúdio com Durval, Sidney Marzullo, excelente pianista, e Celinho, trompetista do conjunto do Ed Lincoln, mais o Fernando, baterista. O arranjo foi escrito pelo baixista Romildo. Dila chegou no estúdio, senhora da melodia – eu havia mandado uma fita demo cantando ao violão. O resultado final ficou maravilhoso”, lembra.
Na contracapa, Dila era apresentada por Arnoldo Medeiros como “uma sambista de primeira”: “Dila, aquela que não vacila no som. Uma sambista de primeira, com grande domínio rítmico e vocal. Assisti às gravações e senti a força contagiante com que envolve as suas interpretações, deixando impressa a sua personalidade em tudo o que canta. Conheci a pessoa, a figura humana simples, simpática e comunicativa que ela é. E sei que desde Leni Andrade estávamos esperando por alguém assim. E ela está aí agora, todinha pra você ouvir, prontinha pra deixar sua cuca cheia de “Grilos”, pois são todos eles, “Os Grilos” que estão ouriçando esta bolacha: a guitarra sensacional de Durval Ferreira, o piano espetacular de Sidney, o embalo de Romildo no contra-baixo, e a pauleira comendo solta lá atrás, com o Fernando na bateria e o Horácio no ritmo.
Podes crer, bicho, tá tudo aí… e essa moça vai dar o que falar.”
Do álbum sairia também um compacto, que inclui uma intocável versão de “Wave” do maestro soberano Tom Jobim, que não foi incluída no disco. A cantora ainda lançaria pela CID um compacto com as gravações de “Roda da vida”, composição assinada por Zé Katimba que na época começava a despontar na Imperatriz Leopoldinense, e “Gimbaruê”, assinada pela dupla J. Canseira e Gimba.
Feito um cometa, Dila percorreu os caminhos do samba e da música popular brasileira no começo dos anos setenta. De acordo com alguns pesquisadores, a cantora teria falecido pouco depois do lançamento do álbum em um acidente de carro. Porém, não encontramos informações consistentes que comprovem o fato, além disso, ainda encontramos uma gravação do samba “Menino velho” da dupla Romildo Bastos e Toninho Nascimento, lançada em 1976 no álbum “5º Encontro Nacional do Compositor de Samba”, produzido pela Philips. Desde então, dessa magnífica cantora restaram sua voz e a imagem que é capa do seu único disco.
3.Georgette da Mocidade
Ligada a agremiação verde e branco de Padre Miguel, Georgette seria outra cantora com passagem efêmera pelo mercado do disco, emulando as figuras de Clara Nunes e Elza Soares e a estética das religiões de matriz afro-brasileira. A intérprete lançaria em 1976 pela Tapecar seu primeiro álbum, “A Moça do Mar”. Contando com arranjos e produção de Ed Lincoln, o disco com doze faixas apresentava um repertório evocando o sincretismo cantado por Clara na rival Odeon. Destaque para “A Moça Do Mar”, faixa-título do álbum composta por Raquel da Bahia, “Chão Da Bahia” da dupla Vicente Matos e Carlito Cavalcanti, “Sufoco Do Meio-dia” assinada por Tião Valentim e Sergio Fernandes. “Agô” de Sidney Martins e Branco da Mangueira, a engajada e festeira “O Samba Desce O Morro”, assinada por Haroldo, “É Pra Quem Tem Fé” de Cardosinho da Portela e “Kiriê”, assinada por um ainda iniciante compositor e futuro cantor Agepê.
No ano seguinte, lançaria também pela Tapecar o disco “A Moça Vestida de Branco”, com destaque para as faixas “Festa De Santana” e “Aluandê”, da citada Raquel da Bahia, “Sol da Bahia”, de Gilberto de Andrade e Hélio Simões, “Pauleira” também de Hélio Simões, agora em parceria com Ari Guarda e o “Samba de Teleco-Teco” do veterano João Roberto Kelly.
Após o lançamento dos dois álbuns pela Tapecar, a cantora seguiria com gravações esparsas, como o compacto lançado em 1983 pela Fermata, com a saudação ao senhor Tranca Ruas em “Salve ele, Seu Tranca Rua das Almas” composta por João Machado e “Clarea aí”, samba de Adilson Silva.
4.Janaína
Idê Marques Machado, ou simplesmente Janaína, foi outra intérprete com voz potente, porém de carreira efêmera no disco. Além de crooner de conjuntos e orquestras de baile, ao longo da década de 1970 a cantora era ouvida com frequência em programas de rádio e televisão, entre os quais o programa “Rio dá samba”, “Sambão” apresentado por Osvaldo Sargentelli e o amigo da madrugada Adelzon Alves.
No início da década, lançaria pela Tapecar um compacto com a melancólica “Reencontro”, assinada por Cardosinho da Portela. Já em 1976, também participaria do “5º Encontro Nacional do Compositor de Samba”, defendendo “A Beleza do Amanhecer”.
Em 1978, lançaria seu primeiro álbum “Quem tem… tem” pela gravadora Polydor, no qual interpretou “Sicrano e beltrana” de Totonho e César Santos, “Tanto faz” do trio formado por Luiz Grande, Toninho Nascimento e Jurandir, o gaiato “O tema é dinheiro”, partido alto da melhor qualidade assinado pelo bamba Gracía do Salgueiro, “Correnteza” e “Para com isso”, do futuro compositor de clássicos do neo sertanejo das décadas de 80 e 90 Paulo Debétio com Marcelo, e a faixa-título “Quem tem… tem”, de autoria do imperiano Avarese.
Em 1980, lançaria pela RCA o LP “Arvoredo”, com produção e arranjos de Rildo Hora, onde interpretou várias composições que se tornariam clássicos do samba anos mais tarde. No repertório do disco constaram clássicos como “Meu perdão” de Catoni e Bira, “Lado esquerdo”, do canhoto ‐ politicamente ‐ Noca da Portela e Daniel Santos, “Gato e sapato” do multifacetado Nei Lopes, “Não me mate de amor” do refinado Ruy Quaresma. Destacamos ainda a clássica “Malandro procurado”, assinada por Oswaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho da Mangueira, “Ou tudo ou nada”, da dupla Martinho da Vila e Paulo César Pinheiro, a mareada “Sereia Guiomar” de Dona Yvone Lara e Délcio Carvalho, “Giro no passado” da trinca salgueirense formada por Geraldo Babão, Hélio Rocha e Branco. Ainda das bandas da vermelho e branco da Tijuca viria a lírica “Nosso amor terminou”, do decano Djalma Sabiá e parceria com Espada, resta ainda citar “Felicidade é ser gente” de Candeia e a faixa-título “Arvoredo”, de Paulinho da Viola.
5.Renata Lu
A cantora Renata Lu gravaria seu primeiro álbum em 1971 pela gravadora Copacabana, com um repertório que flertava com a efêmera pilantragem, a recém-falecida jovem guarda e a nascente black music. O disco traz composições do “cafajeste” multimidiático Carlos Imperial, do balançado Hélio Matheus e do radialista e dublê de compositor José Messias. O resultado do álbum foi aquele esperado para tamanha mistura, o limbo.
Em 1976, com “Sandália de Prata”, lançado pela gravadora Continental, surge enfim para o público uma cantora com voz e personalidade, algo muito diferente da triste experiência produzida na Copacabana.
Com um disco de samba, e feito por sambistas, Renata interpretou clássicos como “Afirmação” da dupla Candeia e Wilson Moreira, “Onde a cobra é bicho manso”, assinada por Noca da Portela e Edinho Biólogo, o compositor apropriado para tratar do tema. “Criança louca” de Candeia, “Arremedo de um nada”, composição pouco lembrada de Cartola e Nuno Veloso, a baudelairiana “Erva daninha” da dupla Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, “Pense bem” do citado Padeirinho da Mangueira e a faixa-título “Sandália de prata”, de autoria do multicampeão em disputas de sambas de enredo David Corrêa e Bebeto di São João completam o repertório.
Finalizando a década, em 1979, gravaria pelo selo América o disco “Tô voltando”, no repertório do álbum, destaque para as composições “Paciência” de Noca da Portela e Piteira, “Mil reis”, da dupla Candeia e Noca da Portela, “Quero sim”, de Leci Brandão e Darci da Mangueira, “Sou mais você” do trio Totonho, Alex e Cabral e “Fotonovela”, parceria insólita entre o radialista Renato Barbosa e Nei Lopes.
6.Sabrina
Representando a Imperatriz Leopoldinense, agremiação de Ramos e da então Zona da Leopoldina, Sabrina estreou em estúdios de gravação no ano de 1974, participando do álbum “Roda de samba”. Ao lado de nomes como Aparecida, Darcy da Mangueira, Sidney da Conceição e Chico Bondade, a cantora interpreta o balançado “Peixeiro Grã-Fino”, partido alto do portelense Candeia.
Em 1978, lançou “Eu sou eu”, seu primeiro disco, pela gravadora CBS. Neste álbum, a cantora interpretou sambas inéditos, como o “Samba da Poeira” de Murilão da Boca do Mato, “A favor do vento” de Jorginho Pessanha, o partido gaiato “Pé-de-galinha não machuca pinto” da dupla Marinho da Muda e Heraldo Faria e “Vou me valorizar” e a faixa-título “Eu sou eu”, ambas de autoria de Rubens Gerardi. No álbum, ainda incluiu de sua autoria a composição “Só uma vez”.
7.Sonia Lemos
A cantora e compositora desde a juventude esteve ligada ao samba e ao universo cultural carioca, pois era irmã do poeta e letrista Tite de Lemos e sobrinha do jornalista Carlos Lemos, integrante da diretoria da Portela.
Seu lado intérprete tem início em 1967, quando gravou um compacto simples com músicas de Geraldo Vandré. No ano seguinte, lançou o primeiro álbum pela gravadora Philips, “Sonia Lemos e sua viola enluarada”.
Em 1975, gravaria pela Continental o disco “7 Domingos”. O álbum foi apresentado pelo poeta e letrista Sérgio Fonseca e incluiu as composições “Toda prosa” e “Sete domingos”, da dupla Agepê e Canário. Destaque ainda para “Baiana do rosário” da dupla Romildo e Toninho Nascimento, “Meus outros anos” do quase onipresente Noca da Portela e Sérgio Fonseca, a visionária “Grêmio Recreativo e Escola de Samba” de Leci Brandão, “Oferendas aos orixás” da dupla formada por Dida e Everaldo Viola. O álbum, com primoroso repertório, contou com o acompanhamento do conjunto Nosso Samba e com a direção musical de Genaro.
No ano seguinte, chega ao público “Pérola de Agonitá”, também pela Continental, destaque para a faixa título “Pérola de Agonitá” de Gérson Alves e Mariazinha, “Bambeia” da dupla Noca da Portela e Edinho Biólogo, “Primeiro botequim”, dos portelenses Dedé da Portela e Sérgio Fonseca, “Amor inesquecível”, de uma Dona Ivone Lara sem seu constante parceiro Décio Carvalho, “Prezado amigo”, assinada pelo maestro Rildo Hora e pelo jornalista Sérgio Cabral e uma composição de sua autoria, “Contratempo na contradança”, em parceria com Gérson Alves.
Fechando a década, a cantora lança em 1978, “O amor seja bem-vindo”, pela Polydor, com repertório menos constante que os discos anteriores, cabe destacar as versões para “Canto nenhum”, de Dedé da Portela e Sérgio Fonseca, a clássica “Autonomia” de Cartola, “Coração vadio” dos baianos, Edil Pacheco e Paulinho Diniz, “Momento exato”, de Leci Brandão e “Amor a três”, do portelense Noca em parceria com Joel Menezes.
8.Sonia Santos
Sonia Santos iniciou sua carreira em 1974, participando da trilha sonora originalmente criada por Raul Seixas e Paulo Coelho para a novela “O Rebu”, da TV Globo, interpretando a faixa “Porque”, incluída no álbum lançado pela Som Livre. A repercussão da gravação, somada aos planos de expansão da gravadora carioca, renderia o convite para a produção do seu primeiro álbum. Lançado em 1975, o disco que tem seu nome como título conta com a faixa “Madeira de Lei”, assinada por Wilson Moreira e Lino Roberto.
Com um repertório eclético, abraçando desde o samba, a black muisic e uma ainda incipiente disco music, a cantora lança, ainda pela Som Livre em 1977, “Crioula”. Entre os sambas presentes no álbum que merecem destaque, cito a lírica “Quando nasce o filho de um sambista”, de Paulinho da Viola, e “Distância”, do também portelense Dedé da Portela.
9.Sosó da Bahia
Em um mercado dominado pelas grandes gravadoras (RCA, Philips, CBS, Odeon e a nascente WEA), restavam as gravadoras nacionais apostar em artistas ainda sem projeção. Nesse processo, cabe destacar que a Som Livre ao longo da década de 1970 revelou nomes como Alceu Valença e Novos Baianos, além de produzir joias para Rosinha de Valença e Sidney Miller. Na esteira dessa busca por novos nomes, é lançado em 1978 o álbum de Sósó da Bahia. Produzido por Waltel Branco, o disco traz uma verdadeira seleção de sambistas baianos.
“Conclusão”, parceria de Nelson Rufino e Mapin; “Comidinha Boa”, de Adilson Gavião e Tolito, são os destaques. Com apenas um disco lançado, a intérprete participaria ainda dos coletivos “Canto de Fé”, lançado pela Som Livre em 1977 aproveitando o sucesso das canções com temática afro, e Carnaval 77 Convocação Geral, uma tentativa das organizações Globo de reviver os antigos concursos de música de carnaval interpretando “O samba é você”, da duplaLula e Batatinha.
10.Zaíra
Cantora com timbre grave, Zaira foi mais uma daquelas cantoras que tiveram poucas oportunidades em adentrar os estúdios de gravação. Porém, quando entrou, acabou deixando registros seminais. Com “Samba sensacional” lançado em 1974 pela paulistana Chantecler e hoje vendido a peso de ouro no mercado japonês, a cantora interpretou com maestria e balanço o samba “Acende o candeeiro” de Walter da Imperatriz e “A festa dos deuses afro-brasileiros”, samba enredo composto por Baianinho para a escola Em Cima da Hora desfilar no carnaval daquele ano. A cantora gravaria ainda “Simplesmente Zaira”, disco lançado pela RGE em 1979, onde destacamos sua interpretação para “Dona moça” de Aluísio Machado e “Palavra de um preto velho” de Dedé da Portela.
Com esse breve percurso, apresentamos ao público grandes intérpretes, que apesar da efemeridade, ou “desinteresse” do mercado fonográfico, deixaram seu nome marcado na história do samba e da canção popular brasileira, apresentando diversos compositores que talvez não teriam a chance de ter suas canções registradas por um “grande nome”, ou que registraram sambas que depois seriam alçados a condição de clássicos das rodas, país afora.
Daniel Costa é historiador, pesquisador e compositor.
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Falou de 10 cantoras que muitos nunca ouviram nem falar e esqueceu de citar Elza Soares, uma das maiores intérpretes de samba do país. 😥