Exclusivo: Nicolelis alerta para as crises política e da razão humana

Neurocientista avalia crise política, papel do Estado como indutor da ciência, o imperialismo norte-americano na internet e os efeitos do cyber mundo sobre a capacidade de reflexão
 
https://www.youtube.com/watch?v=1_Dx9DDt6QE width:700 height:394
 
Jornal GGN – Na Sala de Visitas com Luis Nassif, uma entrevista exclusiva com o neurocientista Miguel Nicolelis.
 
No início dos anos 2000, Nicolelis foi listado entre os vinte maiores cientistas do mundo, pela revista “Scientific American”. O brasileiro foi responsável pela descoberta do sistema que possibilita a criação de braços robóticos controlados por sinais cerebrais. Em 2014, a revista The Verge (premiada cinco vezes pela International Academy of Digital Arts and Sciences) apontou o achado da equipe de Nicolelis entre os maiores destaques cientificos daquele ano, retratando o neurocientista entre as 50 personalidades mundiais. 
 
Nicolelis recebeu nossa equipe na sede do Projeto Andar de Novo, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Durante a entrevista, que durou um pouco mais de 50 minutos, ele falou do projeto educacional que incentiva a produção científica de crianças na periferia de Natal, tocado pelo Instituto Internacional de Neurociências – Edmond e Lily Safra (IINN), avaliou o desenvolvimento no Brasil, elogiando o programa Ciências Sem Fronteiras e seu impacto na auto estima de estudantes brasileiros que encontrou em outros países, além da necessidade de uma política pública de descentralização da ciência e tecnologia no país, hoje concentrada na região Sudeste.
 
Num segundo momento, Nicolelis contou o início da sua carreira, nos Estados Unidos, abordou a dificuldade de desenvolver ciência no Brasil, e o importante papel do Estado na promoção de conhecimento, lembrando que o governo norte-americano investe cerca de 5% do Produto Interno Bruto anual em ciência.
 
O neurocientista avaliou, ainda, a forma como a mídia nacional desvaloriza os avanços brasileiros, com destaque para a pífia cobertura do funcionamento do exoesqueleto em um paciente há dez anos paraplégico, durante a abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. “O governo japonês nos chamou para repetir a nossa demonstração nas Olimpíadas de Tóquio, já criaram um comitê para ter uma demonstração de robótica nos mesmos termos que o nosso, com todo apoio da sociedade japonesa”, rebateu.
 
O pesquisador enxerga com preocupação o desmonte recente da indústria nacional, decorrente da crise política, criticando fortemente a desvalorização da Petrobras, que deveria ter seus ativos protegidos, e não vendidos, como está ocorrendo por conta dos desdobramentos da Operação Lava Jato. 
 
Por fim, Nicolelis entrou na sua área de conhecimento, sobre o potencial intuitivo do cérebro humano, condição que jamais um computador será capaz de emular, porém ressaltou a preocupação do fenômeno de sincronização de pensamentos, por conta do uso cada vez mais constante da internet e redes sociais. Esse novo modelo de comunicação, rápido o suficiente para acompanhar o funcionamento cerebral, estaria trazendo prejuízos à capacidade de reflexão dos indivíduos, lembrando que, na obra “Understanding Media”, dos anos 1960, o teórico da comunicação, Marshall Mcluhan, já alertava para isso.
 
“Ele previu que os grupamentos sociais iam começar a fragmentar a sociedade, porque os grupos de interesse iam começar a se auto referenciar no momento em que houvesse um meio de mídia capaz de ser rápido o suficiente para sincronizar as pessoas na ordem da magnitude de funcionamento do cérebro”. 
 
O cientista indicou, também, que o imperialismo norte-americano continua atuante, agora em movimentos cibernéticos, com alcance sobre vidas e mentes sem precedentes na história da humanidade. 
 
O Instituto de Neurociência em Natal-RN 0:15
O modelo educacional do Instituto de Neurociência 04:09
Como o instituto conseguiu atrair cientistas 10:17
O impacto do Ciências Sem Fronteiras na auto estima do estudante brasileiro 12:12
Descentralização da ciência no Brasil 16:06
Carreira nos Estados Unidos 17:58
Ciência no Brasil 20:39
O exoesqueleto na Copa de 2014 25:18
Crise brasileira e o desmonte industrial 26:14
Cérebro humano e intuição 31:54
Sincronização de cérebros e a fragmentação social – Black Mirror 35:03
Imperialismo norte-americano e a vitória de Trump 42:51
 
Redação

13 Comentários

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  1. Em 1984, em conferência na

    Em 1984, em conferência na Universidade de Harvard, contida na série 6 propostas para o próximo milênio, que virou livro com esse nome, Ítalo Calvino alertou para o mesmo risco.

  2. “A intuicao eh

    “A intuicao eh nao-computavel”:  Nicolelis

    “O que esta fora dos sistemas formais so se resolve pela intuicao”:  Godel, via Nicolelis

    Esse “endeusamento” (ok, exagerei!) da intuicao nao bate comigo.  Eu tou acostumado a pensar que tenho um oraculo aa base da consciencia, e que ele, sendo uma maquina, nunca erra;  eu, sendo um oraculo, nao sou O oraculo, que eh perfeicao.  Entao quando ele entra na incapacidade do campo magnetico cerebral gerar informacao “enviavel” suficientemente forte por ser 10 mil vezes menor que o da Terra…  ai ele ja ta falando besteira.  O oraculo cuida disso.  Todos Os oraculos cuidam disso.

    A ciencia pra isso nao existe ainda exceto na minha cabeca.  Quase abordei esse assunto outro dia, alias, com demonstracao de origem de sombras espectrais e penduricalhos barrocos e rococohs.  Vai com letras do DNA e tudo mais que eu ja mencionei antes nos meus brainstorms.

    Nao da pra expor nem aqui nem em qualquer outro lugar.

  3. Quanto ao que ele chama de

    Quanto ao que ele chama de “pessoas comecando a pensar como maquinas”, eh so mecanizacao do pensamento mesmo.  As teorias de mentes das pessoas estao sendo intencionalmente aleijadas.  Estao fabricando uma populacao mundial de evangelicos que nem sabem que sao evangelicos por nao terem teoria de mente suficiente sequer pra isso.

  4. presente de fim de ano

    O GGN brinda seus leitores com o melhor presente de fim de ano do jornalismo brasileiro. Custa a acreditar que neste país de tantas desgraças ainda há pessoas levando ciência e educação de qualidade às comunidades carentes, ainda mais no nordeste brasileiro. Tivesse a pesquisa e divulgação cientifica a mesma repercussão que os escandalos politicos no Brasil e nossos problemas seriam soluções e caminhos para futuras gerações de brasileiros. Parabéns ao GGN e ao Miguel Nicolelis .

  5. gostei muito…

    como demonstra preocupação com a sincronização de pensamentos na internet, deve acreditar, ou desconfiar, ou deve estudar, se já não está, que a consciência pode, talvez, ou nunca, migrar para outros objetos e formas de expressão ou movimentos

    gostei muito do controle do braço mecânico diretamente do cérebro do macaquinho…………………………

    seria interessante, acredito, colocar 5, mas não braços mecânicos, 5 macaquinhos afetados com demais formas de sentir-se num mesmo ambiente………………………todos tentariam saciar uma só sensação, e só a sede, ao mesmo tempo?

    1. que diabos é a consciência…

      do que veio primeiro, do que veio depois ou do que nunca veio………………………

      o que veio primeiro, a água ou o braço mecânico? discernimento às cegas?

  6. milhões de vezes paralelas…

    para quem não está nem aí, se fora ou se dentro, perto ou longe, aumenta ou diminui?

    triste aqui, depois de lembrar do laboratório de campo elétrico e magnético onde me trabalhei…………………………

    americano chegou com FHC, disse que ía modernizar tudo, e tudo desmontou…….que fdp de americano

    desmontou a porra toda e caiu fora, e não ficou só nisso, levou tudo com ele, até trapizongas sem identificação nenhum, que dirá número de série patrimonial

  7. Member?

    Lembram da “greve dos caminhoneiros”?

    Governo queria alguém com quem negociar.

    Judiciario, alguém a quem multar.

    Havia?

    Lembram das passeatas de 2013?

    – Queremos atender! Qual é a pauta de demandas?

    E lá os “líderes” eram o Diabo que apareceu depois?

    O treco virou guerrilha há tempos. Coisa que lembra feudo de barras ou bolhas de sabão.

    Socialização da opressão. Formação de milícias virtuais.

    Cada cidadão bem feliz com o seu quinhão de opressão.

    Cadê os oprimidos? Dizem que hay… 

    Coalizões meramente pragmáticas. Com objetivos definidos. Depois, retorno à multidão.

    Vem inimigo? Coalizão ou castelo. Sitiante é quem acaba por desistir.

    E a gente de esquerda perplexa. Que não havia socialismo na Idade das Trevas. Nem inimigo claro. Pois o opressor agora são todos.

  8. Interessante que o mesmo

    Interessante que o mesmo argumento que usaram para vender a Vale (ferro se encontra em todo canto e não tem valor, não se sabe se no futuro próximo vai-se usar o aço) estão usando hoje para desqualificar o pré-sal e vender ou doar por valor simbólico tudo o que se refere à petróleo e gás. Hoje dizem que logo o petróleo será substituído por outras fontes de energia, etc. sempre afirmaram que esse negocio pré-sal é inviável por isso não tem valor. Esquecem e não vêem que hoje se mata – maioria das guerras hoje existe é devido ao petróleo – é sempre se matou pelo petróleo.

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