Por Rodrigo Medeiros
Nas últimas semanas foi intensificada a interessante e complexa discussão pública sobre a qualidade da recuperação econômica norte-americana. As controvérsias persistem, é claro, e números recentes da Markit Economics, por exemplo, revelam que essa recuperação pode ser mais frágil do que se imaginou.
O blog da “The Economist”, o Free exchange, trouxe o dilema a ser enfrentada pelo Fed (o banco central dos EUA) [1]. A inflação está praticamente no mesmo nível do ano anterior, algo que mostra um não aquecimento da economia, que foi beneficiada pela queda dos preços do petróleo e de outras commodities recentemente, e há previsões de que a inflação para 2016 e 2017 ficará abaixo de 2%. Portanto, um aperto monetário em setembro poderia provocar a revisão para baixo dessas expectativas inflacionárias.
O principal argumento dos falcões diz respeito à redução da folga no mercado de trabalho. No entanto, essa redução não se traduziu, até o momento, em uma pressão altista sobre os salários nominais. Argumenta-se ainda que haja uma “folga escondida” no mercado de trabalho por conta de uma taxa de participação não inspiradora de 63%.
Alguns analistas têm apontado que a China já poderia estar crescendo 3,2% anualizado, sendo que a queda dos preços internacionais das commodities desde 2014 impactou na América Latina e vem pressionando a inflação na região por conta do repasse das desvalorizações cambiais. Para se ter uma rápida ideia da fragilidade do modelo que priorizou a inserção internacional através da exportação de commodities, essa queda mencionada dos preços internacionais das commodities pode estar retirando algo próximo de 2% do crescimento brasileiro neste ano e, segundo as estimativas de mercado, o nosso PIB potencial seria de um crescimento da ordem de 1%. Não há, portanto, perspectiva de forte recuperação no horizonte próximo para o Brasil [2].
Do ponto de vista das exportações brasileiras, é fato bem conhecido que a sua base perdeu complexidade econômica nos últimos trinta anos. A sobrevalorização cambial crônica do real desde 1994 e a desindustrialização prematura integram esse processo regressivo de inserção internacional. Segundo recomenda a literatura sobre desenvolvimento, leis de Engel e Thirwall, por exemplo, o Brasil deveria ter trabalhado efetivamente para elevar a elasticidade-renda da demanda das suas exportações. No entanto, a participação da indústria de transformação atingiu 10,9% do PIB em 2014, algo comparável ao peso da mesma em 1947.
Incertezas globais persistem, principalmente quando não se tem uma estratégia clara e consistente de desenvovimento.
Rodrigo Medeiros é professor do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo)
[1] http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2015/08/american-interest-rates
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Sardenberg x Krugman
Paul Krugman tem denominado essas ´´recuperaçoes´´ ( EUA ,Espanha ) como voo da galinha enquanto Sardenberg aponta como exemplos a serem seguidos em especial as politicas de ajuste fiscal adotadas pela Espanha mas impossiveis de serem adotadas pelos EUA !
Sobre o Krugman…
Segue o link de um interessante artigo dele:
http://outraspalavras.net/capa/krugman-politicas-atuais-aprofundarao-a-crise/
Cordialmente,
Dois conselhos do Paul
Dois conselhos do Paul Krugman para a Dilma e o Levi:
Não culpe a China por novos terremotos financeiros. Fragilidade da economia global tem causas profundas. Resposta convencional – cortar gastos públicos e elevar juros – é a pior possível
Políticos e tecnocratas gostam de se enxergar como pessoas sérias, que tomam decisões difíceis – como cortar programas populares e elevar taxas de juros. Eles não querem ser informados de que estamos num mundo em que políticas aparentemente rigorosas irão tornar as coisas piores. Mas nós estamos, e elas vão.
Talvez seja uma ignorância de minha parte.
Não entendo muito a lógica do mercado das Commodities, logo coloco minha dúvida.
Vamos imaginar que a economia internacional fique em banho maria, crescendo algo em torno de 1%. Os preços das commodities caindo certamente a produção das mesmas também irá cair por falta de investimentos ou por simples redução na produção baseada no preço das mesmas.
Passado o primeiro surto de queda por mercados inflacionados a tendência é de se manter o mesmo grau quantitativo das mesmas em termos de volume de consumo. Se o consumo se mantém constante ou segue um fraco aumento seguindo o fraco aumento da economia, por que os preços das commodities irão despencar?
Quanto a taxa de câmbio, não enxergo mais nada do que estarmos voltando um pouco a realidade do país sem artificialismos, logo o mesmo de sempre.
O fim da euforia…
Escrevi esse artigo:
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Ciclos-de-euforia-decepcao-e-reflexao/4/34133
Cordialmente,