Há 19 meses, GGN já antecipava o fim da guerra da Ucrânia

O resultado óbvio seria a tentativa de acordo no qual a Ucrânia abriria mão de parte de seu território

Não há nada de mais deprimente que os movimentos de manada da mídia. Desde o início era possível prever o desfecho da guerra Rússia-Ucrânia. Todos os elementos estavam à mesa:

  1. Houve um impacto inicial, com as cenas da guerra, que levaram governantes europeus a aderir rapidamente à ideia do “delenda Rússia”. Seria a maneira de se aproximarem de seus eleitores, depois do distanciamento imposto pela nova realidade das redes sociais.
  2. O impacto inicial, das cenas de guerra, se diluiria com o tempo. Ficariam os efeitos nefastos da guerra.
  3. Seria impossível qualquer pretensão de vitória da Ucrânia. Primeiro, pela diferença de tamanho entre os dois países. Depois, porque não se acua uma potência atômica, como a Rússia. No limite, explode uma guerra mundial nuclear.
  4. Por isso, o resultado óbvio seria, depois da fase do impacto, a tentativa de um acordo no qual a Ucrânia abriria mão de parte de seu território e a OTAN pararia de tentar acuar a Rússia.

Foi a previsão que publicamos há 19 meses.

Publicado originalmente em 27 de abril de 2022.

Os idiotas da objetividade e a guerra da Ucrânia, por Luis Nassif

Na 3a feira passada, o índice Dow Jones recuou mais de 800 pontos. A Nasdaq, onde são negociadas empresas de tecnologia, caiu 4%. Há uma queda generalizada. Abril pode fechar com Nasdaq caindo mais de 10%.

A razão secundária é o aumento das taxas de juros do FED. A razão dominante é o aumento da inflação. O fator novo é a guerra da Ucrânia, pressionando preços de energia e de alimentos. E, agora, os bloqueio da China, em função da nova rodada de Covid.

Voz mais respeitada pelo mercado, Martin Wolf, editor do Financial Times, percebeu um mundo paralisado pela guerra, cujo exemplo mais notório foi na reunião do FMI, quando Ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Canadá se levantaram e saíram quando o Ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, começou a falar.

A guerra é uma tragédia global. E os idiotas da objetividade dominam a mídia mundial e a nacional, e governantes dos países ocidentais, ao defender a guerra de extermínio contra a Rússia e enaltecer o “heroico comediante”, Volodymyr Zelensky. Não há nenhuma diferença entre Putin, Biden, Zelensky e os idiotas que, por aqui, criticam o Itamaraty por condenar a Rússia, mas defender uma saída negociada para a crise.

Não há nenhuma dúvida de que, no final da linha, a Ucrânia terá que aceitar o acordo de paz com a Rússia, cujas condições já estão dadas: manutenção da autonomia do país em troca do compromisso de não entrar na OTAN e no desmembramento das duas regiões separatistas, Donetsk e Luhansk;

Por que, então, esse prolongamento da guerra? Simplesmente porque é de interesse da OTAN/Estados Unidos, que a Rússia saía da guerra com o maior índice de perdas possível. É por isso que, em vez de pressionar pela paz, alimentam a guerra enviando armamentos para a Ucrânia, com o único propósito de prolongar a guerra e as mortes de ucranianos. Todos são cúmplices iguais no martírio do povo ucraniano, a começar do presidente que deveria poupar seu povo de mais mortes.

E não venham os idiotas da objetividade falar em heroismo. Seria heróico se fosse para a linha de frente dos combates, não atrás de selfies e lives.

No começo da história, lembrei aqui a lógica dos movimentos de opinião pública.

Sob o impacto das cenas iniciais da guerra, todos clamam por vingança, sem pensar nas consequências no dia seguinte. A bandeira é imediatamente empunhada por governantes, em crise generalizada com suas respectivas bases políticas – em função do desgaste das democracias ocidentais. E, com isso, acirra-se a guerra e as mortes.

No momento seguinte – que já chegou – a guerra deixa de despertar a mesma comoção dos primeiros momentos. E chega a conta pesada, na forma de mais inflação, mais endividamento, menos crescimento econômico.

Ontem, o Deutsche Bank alertou que uma grande recessão está chegando. No início do mês, ele havia sido o primeiro banco a prever uma recessão, embora suave. Agora, prevê uma grande recessão. A razão é a aceleração da inflação e a constatação de que levará bom tempo até que a inflação recue para a casa dos 2% ao ano. Até lá, o FED acelerá a alta dos juros.

“Consideramos altamente provável que o Fed tenha que pisar no freio com ainda mais firmeza, e uma recessão profunda será necessária para controlar a inflação”, escreveram economistas do Deutsche Bank em seu relatório com o título ameaçador, “Por que a próxima recessão será pior do que o esperado”, segundo a CNN internacional.

Em março, os preços ao consumidor subiram 8,5%, o ritmo mais alto em 40 anos. A Moody´s Analytics prevê uma taxa de desemprego no nível mais baixo desde o início dos anos 50 – o que é interpretado como mais inflação.

Luis Nassif

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