O sistema x Conrado Hubner, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Se a importância de um colunista pode ser medido pelos inimigos que ele faz, podemos dizer que Hubner é um dos maiores colunistas brasileiros nesse momento.

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O sistema x Conrado Hubner

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A Folha de São Paulo parece uma quimera, pois é capaz de combinar um jornalismo desinformativo anti-petista pró-terceira via quanto abrigar o excepcional colunista Conrado Hubner. 

Se a importância de um colunista pode ser medido pelos inimigos que ele faz, podemos dizer que Hubner é um dos maiores colunistas brasileiros nesse momento. Ele fere o orgulho senhorial das autoridades brasileiras sem ofender moralmente seus adversários. E a cada ferida que abre ele coleciona processos dos homens de toga na algibeira de Jair Bolsonaro.

O colunista da Folha, que também é professor de Direito Constitucional, já foi processado por Augusto Aras https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/aras-pede-que-colunista-da-folha-seja-condenado-por-chama-lo-de-poste-geral-da-republica.shtml. Agora está sendo novamente perseguido pelo PGR a pedido de um ministro do STF https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/kassio-nunes-aciona-a-pgr-contra-professor-da-usp-por-textos-que-atingiriam-a-honra/. O crime dele é colocar em xeque o sistema. 

Obviamente Conrado Hubner não pode ser acusado de atacar o sistema constitucional, pois o que ele tem feito é defendê-lo contra os ataques que ele sofre daqueles que justamente são pagos para protegê-lo. Ele chamou Augusto Aras de Poste da República, sim. Mas a Ministra Rosa Weber também fez isso ao proferir uma decisão obrigando-o a cumprir sua obrigação funcional https://jornalggn.com.br/editoria/justica/em-decisao-sobre-bolsonaro-rosa-weber-avisa-que-nao-cabe-a-pgr-o-papel-de-espectador/

Nunes Marques ficou ofendido porque foi chamado de “juiz mal-intencionado e chicaneiro”. O único crime cometido por Conrado Hubner no caso foi criar um pleonasmo, pois todo juiz chicaneiro é mal-intencionado. Importante mencionar aqui um fato curioso: também pode ser considerado mal-intencionado um juiz que usa o PGR para atingir seu adversário com o intuito de não se expor à acusação de abuso de autoridade. Afinal, se o assalto contra a liberdade de expressão e de imprensa ricochetear, Nunes Marques obviamente poderá se defender dizendo que exerceu seu “direito de petição” e que o abuso criminoso foi cometido pelo PGR que atendeu seu requerimento. 

Augusto Aras está sendo usado? Sim. Mas ao que tudo indica, ele também se deixou usar. Talvez porque seu orgulho foi ferido em razão de Rosa Weber ter confirmado a acusação feita pelo colunista da Folha. O Brasil caminha para as 600 mil mortes, mas o sistema que produz o genocídio está mais preocupado em se defender do que em interromper a matança. Mas de que sistema estamos a falar?

O Brasil é um moedor de gente desde que começou a produzir riqueza exportando açúcar feito com mão de obra escrava em terras conquistadas à força dos índios. Apesar das upgrades econômicas e constitucionais (e das camadas de verniz modernizantes), esse é o verdadeiro sistema que foi preservado.

O que nesse sistema monstruoso não é capaz de causar ressentimento? Nada. Logo, esse sistema não pode deixar de gerar produzir coisas: genocídio e censura. Isso explica tanto o texto ácido de Conrado Hubner quanto sua consequência inevitável (a reação do ministro do STF).

Curiosamente, o Ministro Nunes Marques não fez absolutamente nada comigo em virtude de eu ter escrito em manifestação dirigida a  ADPF 866, processo relatado por ele, que “… é uma injustiça acusar somente o Presidente da República pelo estado de coisas inconstitucional na política da saúde brasileira. Tanto o PGR quanto o STF são sócios desta anarquia constitucional, pois deram ao genocida ‘carta branca’ para causar quase 600 mil mortes.” https://www.linkedin.com/posts/f%C3%A1bio-de-oliveira-ribeiro-272376155_incidente-de-amicus-curiae-activity-6822177314466525184-MZOT/ 

Eu acusei o Tribunal inteiro e, portanto, o Ministro Nunes Marques, de agir de maneira mal-intencionada para possibilitar um genocídio. A diferença entre o que eu fiz e o que foi feito por Conrado Hubner é essencial para compreender porque apenas ele foi processado. 

O que eu fiz ficará enterrado num processo que foi rapidamente arquivado https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:ugcPost:6823325299858558976/.  Meu post original no Linkedin foi lido por apenas 32 pessoas. Mas nenhuma autoridade do sistema de injustiça pode arquivar o texto jornalístico do colunista da Folha. Ele continuará circulando e sendo lido por milhares de cidadãos.

Do que foi dito acima, podemos concluir que o sistema não se preocupa tanto com a verdade. O que realmente o incomoda é a circulação da informação verdadeira, pois responsabilidades podem ser apuradas e eventualmente gerar consequências jurídicas indesejadas. 

Não no Brasil, por certo. Aqui a morte está acima de todos e o lucro acima da morte desde que os negros eram moídos fazendo açúcar e os índios exterminados para liberar os territórios cobiçados pelos colonos. Mas no exterior as coisas podem ser diferentes… então convém revogar a liberdade de imprensa mediante a opressão policial/judicial de um colunista que ainda não compreendeu que a Constituição Cidadã foi assassinada pelos juízes regiamente pagos para protegê-la.

Num país sério, a inconstitucional perseguição do colunista da Folha acarretaria o Impeachment de Nunes Marques e do PGR. Entre nós, o mais provável é que Conrado Hubner se torne apenas mais um homem justo corroído pelo ressentimento. Isso ocorrerá no momento em que ele for abandonado pelo jornalão paulista, pois aquela quimera que também faz parte do sistema.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  1. Leio a Folha após conhecer Aloysio Biondi e Vladimir Safatle. Tenho observado que os profissionais que não se venderam só conseguem espaço na mídia independente. Longa vida a todos os hackers do bem e “sopradores”, como Ellsberg, Assenge, Snowden, Delgatti, Patrícia, etc… Graças a eles se descobriu que não só os inconformistas são atacados, mas também “pessoas do bem”. Devemos a eles a revisão da justiça unilateral e o retardo da marcha em direção à longa noite das trevas fascistas!

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