Defesa diz que golpe foi “legítima aspiração” dos brasileiros e imprensa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Texto será lido nas comemorações do golpe de 1964 pelos Comandos Militares do país: "As Forças Armadas assumiram o papel de estabilização daquele processo"

Jornal GGN – O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, escreveu a ordem do dia que será lida nas celebrações dos Comandos Militares ao golpe que instaurou a ditadura do regime militar no país. No documento, a Defesa chama o golpe de “episódio simbólico” de participação das Forças Armadas nas “legítimas aspirações” dos brasileiros e da imprensa brasileira.

“Enxergar o Brasil daquela época em perspectiva histórica nos oferece a oportunidade de constatar a verdade e, principalmente, de exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender”, escreveu o ministro, tentando recontar a história do Brasil como se o regime militar não tivesse sido uma ditadura e como se o golpe fosse uma “revolução”.

Nessa linha, o ministro apontou o golpe como um ato “contra esses radicalismos”, em referência ao comunismo, que, na visão da Defesa, passou “a constituir as principais ameaças à liberdade e à democracia”.

“O 31 de março de 1964 estava inserido no ambiente da Guerra Fria, que se refletia pelo mundo e penetrava no País. As famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha. Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo”, continuou.

Nos últimos parágrafos, Azevedo e Silva, com a assinatura dos comandantes das três Forças Armadas, o Exército, Marinha e Aeronáutica, tentam amenizar os ataques ao “comunismo” e a defesa do golpe que instaurou a ditadura no país, para então dizer que a Lei da Anistia foi “um pacto de pacificação” que “viabilizou a transição para uma democracia”.

“Cinquenta e cinco anos passados, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira”, concluíram no texto.

Abaixo, a íntegra do texto que será lido nas celebrações ao golpe de 64:

 

MINISTÉRIO DA DEFESA

Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964

Brasília, DF, 31 de março de 2019

As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação, dando ensejo ao cumprimento da Constituição Federal de 1946, quando o Congresso Nacional, em 2 de abril, declarou a vacância do cargo de Presidente da República e realizou, no dia 11, a eleição indireta do Presidente Castello Branco, que tomou posse no dia 15.

Enxergar o Brasil daquela época em perspectiva histórica nos oferece a oportunidade de constatar a verdade e, principalmente, de exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender.

Desde o início da formação da nacionalidade, ainda no período colonial, passando pelos processos de independência, de afirmação da soberania e de consolidação territorial, até a adoção do modelo republicano, o País vivenciou, com maior ou menor nível de conflitos, evolução civilizatória que o trouxe até o alvorecer do Século XX.

O início do século passado representou para a sociedade brasileira o despertar para os fenômenos da industrialização, da urbanização e da modernização, que haviam produzido desequilíbrios de poder, notadamente no continente europeu.

Como resultado do impacto político, econômico e social, a humanidade se viu envolvida na Primeira Guerra Mundial e assistiu ao avanço de ideologias totalitárias, em ambos os extremos do espectro ideológico. Como faces de uma mesma moeda, tanto o comunismo quanto o nazifascismo passaram a constituir as principais ameaças à liberdade e à democracia.

Contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados. Em 1935, foram desarticulados os amotinados da Intentona Comunista. Na Segunda Guerra Mundial, foram derrotadas as forças do Eixo, com a participação da Marinha do Brasil, no patrulhamento do Atlântico Sul e Caribe; do Exército Brasileiro, com a Força Expedicionária Brasileira, nos campos de batalha da Itália; e da Força Aérea Brasileira, nos céus europeus.

A geração que empreendeu essa defesa dos ideais de liberdade, com o sacrifício de muitos brasileiros, voltaria a ser testada no pós-guerra. A polarização provocada pela Guerra Fria, entre as democracias e o bloco comunista, afetou todas as regiões do globo, provocando conflitos de natureza revolucionária no continente americano, a partir da década de 1950.

O 31 de março de 1964 estava inserido no ambiente da Guerra Fria, que se refletia pelo mundo e penetrava no País. As famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha. Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo.

Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis. As lições aprendidas com a História foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações. Como todo processo histórico, o período que se seguiu experimentou avanços.

As Forças Armadas, como instituições brasileiras, acompanharam essas mudanças. Em estrita observância ao regramento democrático, vêm mantendo o foco na sua missão constitucional e subordinadas ao poder constitucional, com o propósito de manter a paz e a estabilidade, para que as pessoas possam construir suas vidas.

Cinquenta e cinco anos passados, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira. Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História.

  FERNANDO AZEVEDO E SILVA
Ministro de Estado da Defesa
 
 ILQUES BARBOSA JUNIOR
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha
  Gen Ex EDSON LEAL PUJOL
Comandante do Exército
Ten Brig Ar ANTONIO C. M. BERMUDEZ
Comandante da Aeronáutica

                                              

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Um texto profundamente ridiculo, hipocrita, anti-democråtico e extremo escårnio perante uma geraçao de pobres que sofreram extremamente na misęria e fome devido as politicas economicas daquele tempo, uma geraçao amordaçada e acuada , ameaçada de por uma suspeita qualquer serem monstruosamente torturados, mulheres desnudas e torturadas na frente de seus filhos pequenos, e tantas centenas de assassinatos a mando dos presidentes-ditadores. Que todos democratas, desde FHC , renan, passando pela esquerda e chegando a associaçoes comunitarias , igrejas, escolas, artistas , redes sociais, reajam numa só voz contra essa perversa defesa de crimes de Estado bestiais, monstruosos, atos de lesa-humanidade incompatíveis com padroes civilizatorios, selvageria agora reafirmada com veemencia por aqueles que deveriam defender o pais e o povo e é o povo que paga-lhes o salário e sua estrutura , o povo com seu salário de fome paga-lhes pra que impeçam que haja justiça social e o povo continue sofrendo. A maioria do povo apoiava? Apenas uma parcela da classe media que detestava o povo, e uma parcela de pobres iludidos pela mídia oligopolizada, pró-imperialista e anti-povo mas lideres igual brizola e arraes tinham grande apoio popular e inclusive todo exército do sul dispunha-se a esmagar os golpistas e só nao fizeram isso porque jango desistiu sabendo que a frota americana estava chegando. Tenham um mínimo de respeito pelo povo e parem com esse escarnio perverso defendendo a barbarie e o cruel e monstruoso ataque contra o povo. Que o 64 nunca mais seja gritado em todos cantos do Brasil com Lula livre e Marielle vive

    1. Poeta Atual

      O nacionalismo dos militares se resume a cantar o hino, pois estão vendendo tudo a preço de banana em fim de feira. O patriotismo se resume a ser colônia americana e proteção se resume em manter c017uPT0s no poder.

  2. O ardil cafajeste por onde se busca encontrar uma narrativa que justifique a ação criminosa segue a mesma linha dos seus senhorios do Norte. Todos os crimes de pirataria e genocídio praticados pelos EUA sempre são explicados pelo Governo como uma ação necessária, em defesa da Democracia, da Liberdade e em favor da maioria da população. Demonstra-se, assim, que até no discurso a saúva oliva de Pindorama é submissa aos EUA.

  3. Uma grande falácia dizer que o golpe de 64 foi apoiado nas “legítimas aspirações” dos brasileiros…

    Pesquisa do IBOPE realizada pouco antes da derrubada de Jango, indicava 70% de aprovação ao seu governo.

    Mas o que esperar de militares que misturam e confundem campanhas políticas feitas em bloco pelas grandes empresas de comunicação, com “legítimas aspirações” dos brasileiros” ?!

  4. A valorização dos salários é uma aspiração legítima dos brasileiros. Porque os Militares não dão um golpe e atendem a essa legítima aspiração popular?

    Esse bando de cagões deviam era abrir mão das pensões para suas filhas solteiras, que nunca se casarão para não perderem a mamata.

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