A crise inflacionária ainda não acabou

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Queda dos preços é apenas uma parte do processo de recuperação da economia global após a pandemia de covid-19

Imagem aumentada de uma nota de dólar [Bankshop]

A inflação nos Estados Unidos e no resto do mundo começou a desacelerar após mais um ano de ciclo de aperto monetário, mas analistas acreditam que a economia global ainda não está completamente imune a novos riscos.

“Ao contrário da crença popular, as raízes da crise inflacionária de hoje são mais profundas do que a crise da COVID-19”, diz artigo publicado no site Project Syndicate, assinado por Mario I. Blejer, ex-presidente do Banco Central da Argentina e ex-diretor do Centro de Estudos Bancários Centrais do Banco da Inglaterra, e por Piroska Nagy Mohácsi, professora visitante da London School of Economics and Political Science.

“Embora o aumento da inflação e os subsequentes aumentos das taxas de juros sejam frequentemente atribuídos ao excesso de demanda desencadeado pela resposta fiscal e monetária à pandemia, essas medidas apenas exacerbaram os desequilíbrios criados pela resposta política à crise financeira global (GFC) de 2008-10”, dizem os acadêmicos.

Além disso, nem mesmo as projeções dos modelos macroeconômicos habituais foram suficientes para causar perdas significas do produto ou um nível de desemprego expressivo – a desinflação é considerada “relativamente indolor”, mesmo com os erros cometidos pela política monetária norte-americana que levaram vários bancos à falência.

Os chamados mercados emergentes foram responsáveis por liderar o combate à inflação no período, por iniciarem seu ciclo de aperto monetário um ano antes do Federal Reserve e de outros bancos centrais, evitando os estresses que os atingiram durante os ciclos anteriores.

Economia global não está fora de risco

Na visão dos acadêmicos, os números recentes podem ser animadores, mas a economia global não está fora de risco. Embora uma inflação menor seja parte do processo de retomada após a pandemia de covid-19, não se sabe se essa tendencia será mantida.

“Embora o aumento da inflação e os subsequentes aumentos das taxas de juros sejam frequentemente atribuídos ao excesso de demanda desencadeado pela resposta fiscal e monetária à pandemia, essas medidas apenas exacerbaram os desequilíbrios criados pela resposta política à crise financeira global (GFC) de 2008-10”, ressaltam.

A pressão política por um maior envolvimento do Estado na economia também é um ponto a ser destacado – vale lembrar que, em diversas economias, a resposta do governo gerou uma demanda cada vez maior por uma intervenção mais ampla.

“Embora isso seja necessário em algumas áreas, particularmente quando se trata de acelerar a transição para a energia verde por meio de políticas industriais direcionadas, a abordagem de outros problemas importantes, como a desigualdade ou a infraestrutura desatualizada, deve ser realizada dentro dos processos governamentais existentes e das restrições orçamentárias”, ressaltam Blejer e Piroska.

O maior envolvimento do Estado na política também aumentou as expectativas por mais apoio público, alimentados por governos populistas de direita ou de esquerda.

“Independentemente de suas inclinações políticas, nenhum governo parece disposto a aceitar mesmo pequenas dificuldades econômicas nos dias de hoje. O GFC e a crise da COVID-19 institucionalizaram resgates que implicam risco moral de longo alcance”, alertam os acadêmicos.

“Em um momento de maior tomada de risco e incerteza macroeconômica e geopolítica, qualquer celebração de progresso no combate à inflação deve ser cautelosa. Ainda há um longo caminho pela frente”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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